AS PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO
Uma coisa eu aprendi logo cedo: nem tudo o que parece fofoca é só fofoca. E nem toda história mal contada é mentira.
Durante muito tempo, quase 15 anos, eu achei que essa história não era minha — porque não era sobre mim. Mas também não dá pra fingir que não tem nada meu aqui.
Eu também estava lá. Às vezes como testemunha.
Perto o bastante pra ouvir e longe demais pra entender tudo de verdade.
Parte da história eu vi. Parte, eu ouvi. Parte… adivinhei. (inventando?).
Mas garanto: o que realmente importa, aconteceu.
Essa história veio chegando do jeito que chega a confusão em cidade pequena: devagar, abafada, meio sussurrada.
Veio nos intervalos das aulas, nas pausas do café e dos cigarros na república, nas confissões bêbadas no fim de noite, nos boatos da cantina, nos olhares desviados.
Principalmente nos prints de mensagem e nos áudios que nunca deveriam ter sido enviados.
Ninguém nunca soube tudo. Ninguém contou tudo.
Cada um dizia uma parte — como sempre acontece, todo mundo acha que sabe, mas ninguém tem certeza de nada.
É clichê dizer, mas sim: troquei os nomes, troquei a cidade, troquei quase tudo.
Por segurança. Por respeito. Especialmente por ela — a Bya.
Mas os sentimentos, os jogos, as intenções… esses eu não mudei.
E não pense que é uma história mirabolante. Nem sofisticada.
É a mais velha do mundo: a garota que conheceu o cara.
Só que a garota era a Bia — com Y, porque alguém achou que isso ia deixar tudo mais divertido.
E esse cara… era o Diogo.
Eles se encontraram no calor sufocante de uma primavera, num cenário onde a esperança e o desejo andavam lado a lado, mas o destino parecia entediado demais, ansiando por novidade.
Não foi amor.
Não foi só sexo.
Até hoje, não sei exatamente o que foi.
Foi outra coisa.
Confusa. Tensa. E quente.
Diogo era aquele tipo de cara que nunca precisou fazer esforço pra ser notado.
Bya era tudo o que o mundo ainda não tinha percebido, exceto ele.
Uma página em branco.
Talvez, assim como eu também fosse.
E é talvez por isso mesmo que eu tenha ficado.
Aqui, juntando os cacos da história deles.
Talvez por saudades do que nunca vivi.
Com isso, aprendi outra coisa: existem histórias que não precisam ser nossas pra arrebentar a gente por dentro.
Às vezes a gente inveja o que não teve. E nem sabe bem por quê.
E tem histórias que, mesmo mal contadas, grudam na gente e não saem mais.
O que você vai ler a seguir é isso: uma história mal contada.
Mas real.
Real como a fantasia ignorada de um garoto confuso.
Real como a inveja de quem não é escolhido.
Real como a dúvida do que acontece depois que a luz apaga.
Real como o silêncio que fica depois que tudo acaba.
Porque, pra mim, não terminou.
Não se explicou.
Não desapareceu.
Ficou.
E agora eu conto.