00___AS PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO

Um conto erótico de Thomas Britto
Categoria: Heterossexual
Contém 493 palavras
Data: 20/07/2025 12:00:55
Última revisão: 21/07/2025 18:17:25
Assuntos: Heterossexual

AS PRIMEIRAS COISAS PRIMEIRO

Uma coisa eu aprendi logo cedo: nem tudo o que parece fofoca é só fofoca. E nem toda história mal contada é mentira.

Durante muito tempo, quase 15 anos, eu achei que essa história não era minha — porque não era sobre mim. Mas também não dá pra fingir que não tem nada meu aqui.

Eu também estava lá. Às vezes como testemunha.

Perto o bastante pra ouvir e longe demais pra entender tudo de verdade.

Parte da história eu vi. Parte, eu ouvi. Parte… adivinhei. (inventando?).

Mas garanto: o que realmente importa, aconteceu.

Essa história veio chegando do jeito que chega a confusão em cidade pequena: devagar, abafada, meio sussurrada.

Veio nos intervalos das aulas, nas pausas do café e dos cigarros na república, nas confissões bêbadas no fim de noite, nos boatos da cantina, nos olhares desviados.

Principalmente nos prints de mensagem e nos áudios que nunca deveriam ter sido enviados.

Ninguém nunca soube tudo. Ninguém contou tudo.

Cada um dizia uma parte — como sempre acontece, todo mundo acha que sabe, mas ninguém tem certeza de nada.

É clichê dizer, mas sim: troquei os nomes, troquei a cidade, troquei quase tudo.

Por segurança. Por respeito. Especialmente por ela — a Bya.

Mas os sentimentos, os jogos, as intenções… esses eu não mudei.

E não pense que é uma história mirabolante. Nem sofisticada.

É a mais velha do mundo: a garota que conheceu o cara.

Só que a garota era a Bia — com Y, porque alguém achou que isso ia deixar tudo mais divertido.

E esse cara… era o Diogo.

Eles se encontraram no calor sufocante de uma primavera, num cenário onde a esperança e o desejo andavam lado a lado, mas o destino parecia entediado demais, ansiando por novidade.

Não foi amor.

Não foi só sexo.

Até hoje, não sei exatamente o que foi.

Foi outra coisa.

Confusa. Tensa. E quente.

Diogo era aquele tipo de cara que nunca precisou fazer esforço pra ser notado.

Bya era tudo o que o mundo ainda não tinha percebido, exceto ele.

Uma página em branco.

Talvez, assim como eu também fosse.

E é talvez por isso mesmo que eu tenha ficado.

Aqui, juntando os cacos da história deles.

Talvez por saudades do que nunca vivi.

Com isso, aprendi outra coisa: existem histórias que não precisam ser nossas pra arrebentar a gente por dentro.

Às vezes a gente inveja o que não teve. E nem sabe bem por quê.

E tem histórias que, mesmo mal contadas, grudam na gente e não saem mais.

O que você vai ler a seguir é isso: uma história mal contada.

Mas real.

Real como a fantasia ignorada de um garoto confuso.

Real como a inveja de quem não é escolhido.

Real como a dúvida do que acontece depois que a luz apaga.

Real como o silêncio que fica depois que tudo acaba.

Porque, pra mim, não terminou.

Não se explicou.

Não desapareceu.

Ficou.

E agora eu conto.

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