## **Capítulo 10 – Sob a Sola e o Silêncio**
*(Continuação)*
A manhã seguinte chegou como uma brisa de alívio e promessas. Henrique acordou com o celular vibrando na mesa de cabeceira. Ao abrir a notificação, levou alguns segundos para acreditar.
**Aprovado: Direito - Universidade Federal.**
Ele sorriu, sentindo o peito inflar de orgulho e responsabilidade. Um segundo depois, outra mensagem entrou:
**Luísa também foi aprovada – Psicologia.**
Ele largou o celular, correu até o banheiro e lavou o rosto, encarando o espelho como quem reencontra a própria força. Estavam crescendo. Juntos. Com marcas e lições, mas subindo degrau por degrau.
Na empresa, ele e Daniela passaram a manhã finalizando o plano de absorção da corretora. Ajustaram projeções, consolidaram passivos, criaram fluxos simulados de integração e escreveram, juntos, uma apresentação de alto impacto.
Com tudo pronto, Henrique enviou as cópias para a diretoria e vice-presidência. Fez questão de incluir cada nome relevante — e ainda adicionou uma mensagem discreta ao pai:
**Pai, segue o plano detalhado da integração da corretora. Elaborei com a Daniela. Estou confiante. Dá uma olhada.**
A resposta de Marcelo veio rápida, curta, mas cheia de peso:
**Excelente plano. Mas como é você quem assina, vou me abster na votação. Sugiro que apresente pessoalmente ao Sr. Antônio. Ele precisa ouvir de você.**
Henrique engoliu seco. Respirou fundo e se dirigiu até o andar superior, onde funcionava o gabinete do presidente do conselho. A secretária do Sr. Antônio sorriu educadamente ao vê-lo.
— Ele está te esperando — disse, já pegando o ramal para anunciar. — Pode entrar.
A porta pesada se fechou atrás dele. O escritório exalava o tempo. Livros grossos, painéis em madeira escura, quadros discretos de vitórias silenciosas.
Sr. Antônio, sentado com os dedos entrelaçados sobre a mesa, ergueu os olhos.
— Henrique... o filho do presidente. Vamos ver se carrega a cabeça... ou só o nome.
Henrique abriu o notebook com a firmeza de quem sabia o que trazia. Explicou ponto por ponto: a corretora, os ativos em risco, a estrutura possível, os cenários e os impactos. Usava termos técnicos com clareza e convicção.
Sr. Antônio ouvia calado. Por fim, levantou uma das mãos:
— Um momento.
Pegou o telefone e, sem rodeios, discou dois ramais.
— Guilherme, venha à minha sala. E traga o parecer preliminar que estava fazendo sobre a incorporação.
— Marcelo, seu filho está aqui. Acho que você deveria ouvir isso pessoalmente.
Henrique engoliu seco novamente, mas não recuou.
Minutos depois, Guilherme entrou com sua pasta preta habitual e Marcelo logo após, de expressão neutra, quase severa. Ambos já tinham recebido o plano por e-mail. Guilherme nem esperou sentar.
— Eu estava ligando pro banco esta manhã. Já cruzei os dados com a situação jurídica da corretora. Está viável, desde que o grupo assuma as garantias de dívidas de curto prazo com três ajustes nos contratos.
— E a parte política? — perguntou Sr. Antônio, olhando para Marcelo.
— Ele é meu filho — respondeu Marcelo, direto. — Por isso mesmo, meu voto será de abstenção.
Sr. Antônio se recostou na cadeira, pensativo. Depois, bateu levemente com a caneta no tampo da mesa.
— Convocarei uma reunião do Conselho para quarta-feira. Henrique, você e Daniela vão apresentar o plano à diretoria executiva e ao Conselho. Sem escudos. Quero ver se ela, sua parceira nesse projeto, tem mais do que salto e perfume. E quero ver se você tem mais que o sobrenome.
Henrique assentiu, com a firmeza de quem sabia: aquele era o momento. O seu.
Ao sair da sala, Marcelo passou por ele e tocou levemente seu ombro.
— Orgulho... não é dado. É construído. Você está no caminho certo. Agora, mantenha-se nele.
Henrique sorriu de volta. E no fundo, sentia que a semana, apesar dos tapas de Luísa, das lágrimas de Daniela e dos desafios silenciosos, era sua primeira grande vitória.