Era fim de tarde quando a rotina silenciosa da casa se instalou mais uma vez. A avó havia saído para um retiro de fim de semana com o grupo da igreja, e pela primeira vez, Lucas e Antonio tinham a casa só para si durante dois dias inteiros. Nenhum pretexto. Nenhum limite.
Lucas estava ajoelhado aos pés do sofá, massageando lentamente os tornozelos do primo. A TV estava ligada, mas nenhum dos dois prestava atenção. O que preenchia o ar era outra coisa: um silêncio pesado, tenso, cheio de antecipação.
Os dedos de Lucas subiam com mais liberdade, tocando os tornozelos com mais firmeza, depois os músculos da panturrilha. Ele sentia cada detalhe da pele de Antonio como se fosse o mapa do mundo que agora habitava. Era ali que existia. Era ali que servia.
Antonio, de olhos semicerrados, observava.
— Notei que não preciso mais mandar você fazer as coisas, não é?
— Não, Senhor — respondeu Lucas, com a voz baixa. — Eu já sei onde é meu lugar.
Antonio ergueu levemente um dos pés e pressionou contra o peito de Lucas.
— E onde é?
— A seus pés.
— E se eu quisesse mais?
— Então me ensine, Senhor.
O sorriso de Antonio foi lento, satisfeito. Ele inclinou-se para frente, apoiou o cotovelo no joelho e olhou nos olhos de Lucas.
— Sobe. Devagar. — A voz era uma ordem disfarçada de convite.
Lucas deslizou as mãos pelas pernas do primo, sentindo os pelos, os músculos tensos sob a pele quente. Subiu até as coxas, depois parou, como se esperasse permissão.
Antonio não disse nada. Apenas reclinou o corpo para trás e afastou um pouco as pernas, o suficiente para abrir um novo território.
Lucas entendeu.
Com os olhos baixos, pousou as mãos sobre as coxas, massageando com firmeza, mas sempre com reverência. Toques largos, cuidadosos, como quem acaricia algo sagrado.
— Sinta — disse Antonio. — Sinta o que é estar aqui.
— Eu sinto. Sinto tudo, Senhor.
A respiração dos dois estava mais lenta agora, mas carregada de eletricidade. Lucas encostou a cabeça sobre a coxa do primo, um gesto que era quase um beijo sem contato.
Antonio levou a mão ao queixo de Lucas e o fez olhar para cima.
— Você é meu. Não só de corpo. De alma.
Lucas assentiu, os olhos cheios de desejo mudo.
— Eu sou. Inteiramente seu.
Os minutos seguintes se estenderam como um fio de seda esticado entre dois corpos. O toque de Lucas tornou-se mais íntimo, mas ainda coberto pelo tecido. Os dedos deslizavam por cima do short de Antonio, com adoração contida. Era uma dança entre o permitido e o desejado.
Antonio suspirou, fechando os olhos por um instante.
— Você aprende rápido. E obedece melhor ainda.
Lucas respondeu não com palavras, mas com um beijo sutil, por cima da roupa, onde o calor do desejo pulsava. Nada explícito. Só intenção. Mas forte o suficiente para selar o que os dois sabiam: havia cruzado mais uma linha.
E ninguém queria voltar atrás.
Naquela noite, dormiram no mesmo quarto. Lucas aos pés da cama, como sempre. Mas desta vez, não por ordem.
Ele escolheu estar ali.
Porque servir já não era um papel.
Era sua natureza.