No dia seguinte

Da série Minha vida
Um conto erótico de Dave
Categoria: Gay
Contém 1528 palavras
Data: 30/06/2025 23:16:58
Assuntos: Gay, Paixão juvenil

Continuando o último relato e aproveitando pra acrescentar que o que eu estou escrevendo aqui são memórias, não ficção então perdoem se não for o que vocês esperam. Sem mais delongas, bora..

No dia seguinte, fui pra escola como se fosse um outro mundo. O corpo presente, mas a cabeça... em qualquer lugar, menos ali.

A aula passava arrastada. Eu fingia prestar atenção, mas tudo que conseguia era repetir, em looping, a cena do dia anterior. O toque. O silêncio. O olhar abaixado. E o medo. Um medo tão grande que mal cabia dentro de mim.

Eu precisava falar com o Antônio. Precisava entender o que aquilo significava — ou pelo menos saber se ainda tínhamos alguma coisa pra chamar de amizade. Mas ele era de outra sala, e no intervalo, quando finalmente o vi no pátio, ele passou reto. Se me viu, não demonstrou. Nem um aceno. Nem um olhar.

Fui embora da escola ainda com a mente a milhão. No caminho de casa, passei em frente à casa dele. O portão estava aberto, e o pai dele estava varrendo a calçada.

— Oi, David! — ele disse, sorrindo.

Senti meu estômago afundar. Quase gelei.

Será que ele sabia?

— Bom dia... — murmurei de cabeça baixa, sem parar, fingindo não ouvir.

A vergonha colava nas costas como suor.

Cheguei em casa por volta do meio-dia. Joguei a mochila num canto, tirei os sapatos e fiquei deitado no sofá, olhando pro teto, tentando respirar.

Foi então que ouvi.

— David!

Me levantei num pulo. Fui até a janela. Lá estava ele.

Antônio.

Apoiava os braços na grade do portão, com aquele mesmo sorriso que sempre fazia sem perceber — meio torto, meio tímido, mas que por algum motivo mexia comigo.

— Bora jogar videogame?

Não pensei. Nem hesitei. Só corri.

O coração batendo alto no peito, quase como se soubesse que aquele convite valia mais do que só uma partida.

Cheguei na casa dele e ainda tive tempo de ver o pai antes dele sair.

— Oi, David! Tudo bem? Falei contigo mais cedo e tu me deixou falando sozinho.

— Ah, seu Cláudio, desculpa... tava distraído.

— Tá pensando nas menininhas, né? — riu, já pegando as chaves.

— É... isso, rsrs...

— Tá bom. Tô saindo. Tony, tem almoço pra você na geladeira. Tchau, rapazes.

— Tchau, pai.

Assim que o portão bateu, o silêncio voltou — aquele silêncio pesado, cheio de perguntas sem resposta. Ficamos ali, parados, meio sem saber como recomeçar.

Fui o primeiro a quebrar.

— Toni... a gente precisa conversar.

Ele abaixou os olhos por um instante, depois assentiu devagar.

— Eu sei. Olha... desculpa, tá? Eu não devia ter feito aquilo ontem. Juro que não quero estragar a nossa amizade...

Enquanto falava, ele foi se aproximando. A voz falhava um pouco, e os olhos... os olhos tinham brilho. Não era raiva. Nem culpa. Era medo. Medo de perder. Medo de não ser mais visto do mesmo jeito.

— Você é meu melhor amigo... e eu não quero que você pense que...

Ele parou.

Estava perto. Perto o suficiente pra eu sentir a respiração quente batendo no meu rosto. O cheiro do desodorante leve, quase infantil. O som do ventilador ao fundo, de novo, girando lento.

E naquele momento, o medo desapareceu. Não precisava mais de explicação.

Pus as duas mãos na cintura dele. Ele não recuou.

Puxei.

E beijei.

Devagar, com os olhos ainda abertos de surpresa. Mas ele fechou os dele. E retribuiu.

E ali, naquele quarto abafado, entre cartuchos de videogame e almofadas velhas no chão, algo novo nasceu. Algo que ainda não sabíamos nomear — mas que, pela primeira vez, não parecia errado.

O beijo começou tímido, mas logo se entregou à urgência que a gente escondia desde o dia anterior. As mãos dele tremiam um pouco, como se ainda tateassem o espaço entre o que era seguro e o que era novo demais.

Enquanto nossas bocas se exploravam, meus dedos subiram devagar pelos cabelos loiros dele — finos, macios, quentes sob o toque. Senti ele suspirar, e isso me deu coragem pra ir mais fundo.

Minha língua contornou os lábios dele, sentindo o gosto doce que parecia vir direto da infância, como bala que ficou tempo demais na boca. Minha outra mão desceu pelas laterais do corpo dele e entrou por baixo da camiseta da escola. A pele era morna, macia, quase delicada. Toquei suas costas nuas pela primeira vez — um gesto tão simples e, ao mesmo tempo, tão carregado de significado que me deu um arrepio inteiro por dentro.

Me afastei por um instante, ofegante, olhando nos olhos dele. Os olhos azuis estavam mais escuros, marejados de desejo e receio. Eu ri, sem conseguir evitar.

— Eu disse que o meu era maior que o seu — falei com um sorriso debochado.

Ele soltou uma gargalhada baixa, quase aliviada.

— Idiota... — disse, sem conseguir parar de rir.

— Eu adorei o que você fez ontem — falei com sinceridade. — Mas...

— Eu sei — ele interrompeu, o sorriso apagando um pouco. — Não pode acontecer de novo, né?

Parei. Olhei bem nos olhos dele. Vi o medo se esconder atrás daquela frase. Mas ali, naquele momento, eu não queria negar o que sentia.

— Você tá doido? — falei, puxando ele de novo pela cintura. — É claro que pode. Pode fazer o quanto quiser.

O sorriso dele voltou, agora mais largo, mais verdadeiro. E a gente se beijou outra vez, mais firme, mais entregue, como se aquele gesto tivesse sido prometido desde sempre e só agora tivesse encontrado coragem.

O mundo do lado de fora desapareceu. Ali só existíamos nós dois. E tudo que não sabíamos dizer em voz alta estava dito naquele beijo.

O beijo foi se intensificando, ganhando ritmo, ganhando coragem. Já não havia mais dúvidas, só a fome de estar perto, de sentir, de descobrir o outro com todos os sentidos possíveis. Minha língua dançava com a dele, e cada toque parecia acender algo novo, mais fundo. As mãos dele começaram a explorar meu peito por cima da camiseta, e eu fiz o mesmo, sem pressa, mas com intenção. O ar ficou mais quente no quarto, mais denso. A respiração dele, entrecortada, me atingia no rosto como brasa.

De repente, senti os lábios dele se afastarem dos meus, e ele encostou a testa na minha, ofegante. O coração dele batia tão forte que eu quase podia ouvir. E então, com a voz baixa, quase um sussurro, ele falou no meu ouvido:

— Eu... posso mamar de novo?

A frase veio embargada, como se ele estivesse se forçando a dizer algo que o corpo já gritava há minutos. No instante em que terminou, pude sentir o rosto dele esquentar, as bochechas corando de vergonha, como se tivesse revelado um segredo proibido demais.

Eu sorri.

Não de deboche. Foi um sorriso suave, cúmplice. Um gesto de aceitação e desejo.

Levei a mão até o rosto dele, acariciando de leve, e respondi com um tom calmo, quase entre risos baixos:

— É claro. Pode se servir.

Os olhos dele brilharam por um instante — como quem recebe permissão pra respirar pela primeira vez. E sem dizer mais nada, ele começou a descer, com os dedos ainda firmes na barra da minha camiseta, e o coração acelerado como o meu.

Quando a boca dele tocou minha pele, um arrepio me percorreu inteiro. Não havia mais nervosismo — ou se havia, ele já se confundia com a excitação. Ele começou com beijos suaves, lentos, como quem explora algo precioso. A língua passeava com cuidado, traçando caminhos que faziam minha respiração falhar. Fechei os olhos, sentindo cada nuance do toque, cada suspiro abafado que ele soltava entre um gesto e outro.

As mãos dele seguravam firme minhas coxas, e a forma como ele se entregava ali — com devoção, com fome, com doçura — me deixava tonto. Era um prazer que vinha junto de algo maior: a sensação de ser desejado não só pelo corpo, mas pelo que havia entre nós.

Ele não tinha pressa. Se movia com ritmo próprio, aprendendo cada reação minha, cada músculo que se contraía, cada gemido que eu tentava conter e não conseguia. A boca dele me envolvia por completo, ora profunda, ora suave, como se ele quisesse memorizar tudo.

Quando o clímax chegou, não foi só físico. Veio como uma onda quente, intensa, que atravessou meu peito e me fez quase esquecer onde eu estava. Meus dedos apertaram seus cabelos com força e soltei um gemido rouco, impossível de conter.

Ele recebeu tudo com um gesto calmo, natural. Depois, me olhou de baixo com um brilho nos olhos — aquele mesmo brilho da infância, agora misturado com algo novo. Desejo, sim, mas também afeto, cumplicidade.

Eu o puxei pra cima, trazendo-o de volta pra mim. Nossos rostos ficaram colados, nossas testas encostadas.

— Você... é inacreditável — sussurrei, ainda sem fôlego.

Ele riu baixinho.

— Só tô aprendendo com você.

Deitamos lado a lado no colchão, ainda suados, ainda em silêncio, mas agora um silêncio diferente. Um que não precisava ser preenchido com palavras. Ficamos ali, com os dedos entrelaçados, ouvindo o ventilador ranger e o som distante da rua.

E naquele instante, tudo parecia certo. O mundo lá fora podia continuar girando. Mas aqui, entre quatro paredes e dois corpos que finalmente se entenderam, o tempo tinha parado — só pra nós dois.

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Comentários

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Avassaladora essa sua escrita!

Me lembra a de um outro autor foda que eu adoro aqui!

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Lindo e delicioso. Pena que você não se preocupou em fazer ele gozar também.

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