Capítulo 11 — O Teatro dos Reis
Passou-se uma semana. Uma semana em que Rafael e Bruno usaram suas metades da coroa e sentiram seu peso em cada decisão, em cada e-mail, em cada olhar curioso dos funcionários. Eles governavam a Omnia Corp a partir de suas jaulas de vidro, dois reis em um trono dividido. Para o mundo, eram o epítome de uma sinergia poderosa: a mente e a força, o estrategista e o conquistador, perfeitamente alinhados.
Mas nos olhares que trocavam através da parede transparente de seus escritórios, ou sobre a longa mesa de reuniões, um teatro inteiro se desenrolava.
A primeira reunião do conselho com a nova liderança era o palco principal. Eles entraram juntos, lado a lado, e sentaram-se nas duas cadeiras idênticas na cabeceira da mesa de carvalho. Eram a imagem espelhada do poder. Rafael começou a apresentação do plano estratégico conjunto para o próximo semestre, sua voz calma e segura, dissecando números e projeções com a precisão de um cirurgião.
Bruno estava ao seu lado, em silêncio, observando. Ele não olhava para a tela da apresentação; ele olhava para a plateia, para os rostos dos membros do conselho, medindo suas reações. Mas sua consciência estava totalmente focada no homem ao seu lado. Ele sentia a energia controlada de Rafael, e lembrava das leves marcas arroxeadas que havia deixado em sua clavícula alguns dias antes, agora perfeitamente escondidas sob o algodão egípcio.
Quando um dos membros mais antigos do conselho, um homem chamado Ricardo, questionou a agressividade do novo plano de aquisição, a tensão na sala se tornou palpável.
— É um risco muito alto, senhores — disse Ricardo, o olhar alternando entre os dois. — Uma manobra hostil desse calibre pode desestabilizar nossas ações no curto prazo.
Antes que Rafael pudesse formular sua resposta polida e cheia de dados, a voz grave de Bruno cortou o ar.
— Com todo o respeito, Ricardo, o que estamos propondo não é risco. É domínio. — Todos os olhos se viraram para ele.
Bruno permaneceu recostado, o retrato da calma letal. — A filosofia da nossa liderança é clara: identificar a fraqueza fundamental do mercado e se enterrar nela tão profundamente que a concorrência não tenha como respirar. É uma tomada de controle total, uma que exige uma... agressividade que esta empresa não tem visto há anos.
Ele fez uma pausa, e seus olhos encontraram os de Rafael por uma fração de segundo.
— Eu confio plenamente na nossa capacidade conjunta de sermos... implacáveis quando for necessário para garantir a submissão completa do alvo.
O silêncio na sala era de admiração pela visão e pela aparente unidade dos novos líderes. Mas Rafael ouviu o que fora dito de verdade. Cada palavra era um eco de seus encontros na penumbra. Domínio. Fraqueza. Enterrar-se fundo. Tomada de controle total. Agressividade. Submissão completa. Bruno não estava defendendo o plano de negócios; estava descrevendo a arquitetura da relação deles, recontando a posse de seu corpo como uma estratégia corporativa. Estava elogiando a parceria em público enquanto o lembrava, em segredo, de quem o havia ensinado a ser um predador.
Rafael sentiu um calafrio percorrer sua espinha, mas não era de medo. Era de excitação. Ele sorriu, um sorriso calmo, de Co-CEO.
— Agradeço a complementação, Bruno. Sua análise, como sempre, é precisa. — A voz de Rafael era suave, mas carregada de uma nova autoridade. Ele se dirigiu ao conselho, mas suas palavras eram uma resposta direta ao seu parceiro.
— A agressividade, de fato, é a chave. Mas o verdadeiro poder não está apenas na força da invasão. Está na arte de fazer com que o outro lado aceite essa nova realidade como se fosse sua própria ideia. Na capacidade de desmontar a resistência de dentro para fora, peça por peça, até que a rendição não seja apenas inevitável, mas desejada. Até que peçam por mais.
O teatro foi uma obra-prima. O conselho aplaudiu a sinergia perfeita. Eles viram alinhamento; Rafael e Bruno viram um xeque-mate duplo, jogado em conjunto.
Naquela noite, na cobertura, a atmosfera era de uma eletricidade quase intelectual.
— Bela performance, parceiro — disse Bruno, servindo dois uísques. Ele entregou um copo a Rafael, os dedos roçando nos dele. — Você está aprendendo a usar as minhas palavras contra mim.
— Eu aprendi que as palavras, como os corpos, podem ser dobradas à nossa vontade — respondeu Rafael, encarando-o sobre a borda do copo. — Você me ensinou a ser implacável. Eu estou descobrindo como ser inevitável.
Bruno sorriu. Era o sorriso de quem finalmente havia encontrado um adversário à altura em todos os tabuleiros. Ele pousou o copo e se aproximou.
— Prove — sussurrou.
O que se seguiu não foi uma foda, foi uma conversa. Uma que começou com beijos lentos e exploratórios e se aprofundou em um emaranhado de corpos que se moviam com um entendimento mútuo, quase telepático. O controle era uma corrente que passava de um para o outro, fluida e imprevisível.
Rafael tomava a iniciativa, usando toques precisos e calculados em pontos sensíveis que ele havia mapeado no corpo de Bruno, arrancando gemidos que eram concessões, provando seu ponto sobre "controle sutil". Em resposta, Bruno não o deixava vencer, respondendo com uma força avassaladora, dobrando Rafael sob seu peso, usando seu poderio físico não para dominar, mas para responder, para dizer "eu ainda estou aqui, ainda sou mais forte". Era um sexo cerebral, uma dança de poder onde cada movimento era uma réplica, cada gemido uma contraproposta. Era a manifestação física do debate que tiveram na frente do conselho.
Deitados no chão depois, o suor misturado, a respiração se acalmando, Rafael olhou para o teto. As duas metades da coroa não pareciam mais tão pesadas. Pareciam... interessantes. Peças em um jogo infinitamente mais complexo do que a presidência de uma empresa.
— O que você quer, Rafael? — perguntou Bruno, a voz rouca no silêncio. Era a pergunta mais honesta que ele já havia feito, desprovida de jogos ou ironia.
Rafael virou o rosto para encará-lo na penumbra, e pela primeira vez, ele também foi completamente honesto, consigo mesmo e com o homem ao seu lado.
— Eu não sei mais se quero vencer você, ou me fundir a você até que não haja mais diferença entre nós.
Bruno ficou em silêncio por um momento, processando a confissão. Então, ele o puxou para mais perto, o corpo quente contra o seu, o abraço firme e protetor.
— Talvez — disse ele, a boca contra o cabelo de Rafael — vencer seja exatamente isso.
Continua...
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