A rotina que se instalara era tão silenciosamente eficaz que Dayane quase não notava mais o quanto já havia mudado. Não saía mais sozinha de casa. Suas roupas eram escolhidas por Jenifer — vestidos compridos, tecidos florais apagados, cardigãs que pareciam pertencer a outra geração. Os batons marrons haviam substituído os tons alegres, e sua pele começava a carregar o peso de uma mulher que não tinha mais pressa.
O café da manhã era sempre servido com um toque de carinho: café quente, uma fatia de pão branco com manteiga e um olhar fixo. O aroma do café invadia o ambiente como um veneno doce — Dayane não sabia, mas aquele cheiro era agora uma âncora. Toda vez que inalava profundamente aquele perfume, algo dentro dela se acalmava. O mundo desacelerava. Sua vontade também.
“Bebe tudo, meu amor. Você precisa estar forte pra hoje.” A voz de Jenifer era melosa e controlada, como a de uma mãe que já sabe o que é melhor.
Dayane tomava o café sem pestanejar. No início, ainda havia pequenas resistências, breves tentativas de reafirmar algum controle. Mas agora... agora, ela sentia que obedecer trazia um alívio estranho. Não pensar por si. Apenas seguir.
A sala de estar tornara-se seu novo espaço de afeto e exaustão. Os programas que Jenifer colocava na TV eram sempre os mesmos: novelas antigas, cultos religiosos, entrevistas longas e monótonas. A luz era suave, o sofá era fofo, o cheiro de creme — aquele creme específico que Jenifer passava no pescoço e no colo — já fazia parte do ar. Quando esse cheiro se espalhava, Dayane mal conseguia manter os olhos abertos.
Durante essas sessões, Jenifer sentava ao lado dela, às vezes com a cabeça no colo, às vezes com as mãos no cabelo. Sussurrava palavras de ternura e domínio com a naturalidade de quem já vencera.
“Você fica tão bem assim. Tão quietinha. Quase nem lembro como era aquela menininha barulhenta que chegou aqui.”
Dayane não respondia. O silêncio era confortável. O toque era sempre presente: um cafuné demorado, uma mão que escorregava devagar até a cintura, e às vezes, mais abaixo. Quando o cheiro do café se misturava ao creme, e os dedos de Jenifer começavam a desenhar trajetos sobre a pele coberta de lã, a mente de Dayane parecia evaporar.
E naquela tarde, tudo foi ainda mais longe.
Jenifer a chamou do quarto com a voz suave: “Meu bem, vem aqui. Quero ver você bem de perto hoje.”
Dayane foi sem hesitar. Estava com uma camisola de flanela, abotoada até o pescoço, e os pés descalços. Os olhos tinham um brilho sonolento e úmido, quase infantil. Jenifer a esperava sentada no sofá, com o ar satisfeito de quem observa uma obra-prima prestes a ser tocada.
Ela a tomou pela mão e a sentou no colo, com um movimento firme, mas carinhoso. Dayane se encaixou como se tivesse nascido para aquilo.
“Você tá tão linda desse jeitinho... tão minha.”
Jenifer começou a acariciar seu rosto, os dedos traçando a curva do queixo, descendo até o pescoço. Os lábios seguiram o mesmo caminho: testa, bochecha, queixo, pescoço. Cada beijo era úmido e lento, deixava uma marca quase invisível. Dayane suspirava, entregue.
A camisola se abriu lentamente sob os dedos de Jenifer, revelando a pele branca, macia, vulnerável. A boca dela desceu até os seios de Dayane, primeiro lambendo com lentidão, depois sugando, e por fim mordendo levemente, como quem ensina o corpo a responder. Dayane se contorcia devagar, gemendo baixinho, sem resistência. Os olhos semiabertos, os lábios entreabertos.
“Você vai lembrar desse cheiro toda vez que quiser voltar pra mim. Vai sentir esse gosto sempre que pensar em casa. Você é minha.”
Jenifer desceu ainda mais. Abriu devagar as pernas de Dayane e deslizou os dedos por entre suas coxas. A umidade quente respondeu ao toque. Ela a penetrou com cuidado, mas sem pausa. Dayane se arqueou com um gemido sussurrado, enquanto Jenifer movia os dedos em círculos lentos e constantes, assistindo cada expressão de prazer como quem vê uma cerimônia sagrada.
E então, ela subiu, deitou-se sobre a garota, encaixando seus corpos com precisão. As bocas se encontraram, e os quadris começaram a se mover juntos. O ritmo era íntimo, possessivo. As mãos de Jenifer apertavam os flancos de Dayane com autoridade. Era sexo, mas era também dominação. Um rito. Um pacto silencioso.
Dayane gozou primeiro, tremendo como se algo tivesse sido arrancado de dentro dela. Jenifer a acompanhou logo depois, mordendo o ombro da garota enquanto se desfazia num gemido abafado, abafado como todos os segredos daquela casa.
Quando tudo cessou, Jenifer a abraçou, colando os corpos ainda úmidos de suor e desejo. A TV seguia ligada, falando sozinha sobre política antiga e decadência. Mas ali, no meio do sofá, estava o verdadeiro projeto de destruição e reconstrução — uma jovem dobrada ao conforto, e uma mulher satisfeita com o poder que exercia.
Dayane dormiu ali mesmo, no colo de Jenifer, os olhos entreabertos, o cheiro de café ainda impregnado nas narinas.
Ela estava dentro. E nem percebeu quando a porta se fechou por fora.