Rubens
A emoção de ver o Antônio cantando uma música para mim é algo que nunca pensei que sentiria. Ele é tão lindo e apaixonado em cima do palco, sua presença magnética encanta a todos que estão lhe ouvindo.
— Ele é incrível né amigo? — Gessika está tão emocionada quanto eu.
— É sim.
— Então, tenho uma boa notícia, aquilo que você me pediu vai sair antes do que pensamos.
— Sério? — Nem acredito que vai dar certo.
— Sim, até o final do mês vai está tudo no ponto.
— Nossa, só tenho a te agradecer — sem ela a surpresa que estou preparando para o Antônio não aconteceria.
— É meu trabalho e também fico mais do que feliz em fazer parte disso.
— Estou ansioso para contar a ele, mas quero está com tudo certo primeiro.
— Eu te entendo Rubens, mas pode acreditar que quando o Antônio souber ele vai pirar de felicidade.
Antônio finaliza seu repertório e é ovacionado pelo público, entre palmas e assobios ele se despede.. Aproveito para ir ao banheiro, não queria ir durante sua apresentação, mas agora estou muito apertado e não dá pra segurar. Na saída do banheiro dou de cara com Luana.
— Rubens, tudo bem? — Me cumprimenta com um sorriso.
— Oi Luana, estou bem e você? — respondo com a mesma simpatia.
— Estou ótima, escuta o Antônio e você estão ficando sério mesmo? — A partir daqui minha atenção fica redobrada, não gosto de falar sobre minha intimidade.
— Melhor você conversar com ele sobre isso Luana, não acho que sou a pessoa adequada — ainda tento manter a simpatia.
— Mas engraçado que pra roubar meu namorado você foi a pessoa adequada né? — Seu tom é passivo agressivo, mas suas palavras não deixam dúvidas de sua intenção nessa conversa.
— Realmente acho que você deve conversar com ele.
— Você acha que os seus avós vão aceitar isso assim e me diz uma coisa: Antônio já te contou que o sonho da vida dele é ser pai? — Seu sorriso vitorioso ao perceber sua resposta no meu silêncio — Rubens vou te dar um conselho, não fique muito emocionado não, até porque você deve ter visto o tanto que ele olhou pra mim hoje, eu ainda estou na cabeça dele e nunca que ele vai encontrar em você o que eu tenho.
— Tá certo Luana, mas como eu te falei você tem que conversar com o Antônio e não comigo, seu ex é ele não eu.
Passo por ela e volto para minha mesa, quero dizer que nada do que ouvi me afetou, — mas afetou — Antônio e eu não vamos ficar juntos, no fim cada um vai seguir seu rumo e isso que ela me falou é uma confirmação de que as coisas tem que ser como tem que ser.
Depois de tudo que passei não vou amar de novo, um amor como o que estou sentindo é uma vez na vida. Já fui muito privilegiado por ter tido dois grandes amores, minha história com Mariano teve seus ótimos momentos e nunca vou esquecer. Com Antônio estou nas nuvens, ele me faz sorrir só por estar perto, daqui a um mês e meio tudo isso vai ter acabado e vou viver apenas com as lembranças.
— O que você achou? — Antônio sentado à mesa, me pergunta animado esperando minha opinião.
— Macho tu foi incrível — melhor é afastar esses pensamentos por agora.
— Vai começar a carreira a solo doutor? — Gessika pergunta.
— Parece que sim minha amiga, obrigado Rubens, se não fosse por você não teria aceitado.
— Antônio, para, vou ficar com vergonha — já estou corado.
— Só tô falando a verdade — seu sorriso é a coisa mais linda do mundo — Gessika obrigado por ter vindo, já estamos indo, o Rubens tem que dormir cedo.
— Ah não acredito, gente sério? — ela protesta.
— Foi mal amiga, mas esses dias tenho trabalhado muito e com a auto escola tô morto de cansaço — estou aliviado dele ter tido a ideia de não ficar.
— Tá bom então também vou indo pra casa, vocês vão ficar de molho em casa amanhã?
— Acho que sim, talvez se der coragem vamos ver o pôr do sol no sítio — Antônio responde.
— Amanhã uns amigos meus vão conhecer um Beach Tênis novo que abriu, vocês deviam ir.
— Não sei, você sabe jogar Rubens? — Nunca conversamos sobre isso.
— Sei, mas tem tempo que não jogo — Mariano é bom em diversos esportes e por ser algo que ele curtia muito acabava indo com ele de vez em quando.
— Vamos ver então, qualquer coisa te ligo — Antônio deixa em aberto.
— Ótimo, mas sério Rubens você vai gostar e outra você tem que sair de casa macho — ela insiste.
— Oxe, tem que convencer o Antônio também — digo meio sem jeito.
— Eu conheço o Doutor Vilela, esse daí é pau mandado amigo, prefiro ir direto em quem manda — não estava mesmo esperando por isso, Antônio começou a rir do meu lado enquanto fiquei totalmente sem reação — tô mentindo?
— Não, pior que sou assim mesmo — ele confirma.
— Tá legal, a gente te liga — digo por fim, sempre tive um pouco de medo de me expor, só que a naturalidade com que Gessika está nos tratando me deixa tão confortável, que se não fosse minha timidez acho que teria tido também.
— Vocês não vão se arrepender, eu prometo, o pessoal é super gente boa e o Antônio até conhece alguns.
— Verdade — ele confirma.
Pagamos nossa conta, depois acompanhamos a Gessika até o carro, é bom ter uma amiga. Juh vive dizendo que preciso sair mais e socializar, no fim acho que ela tem razão, talvez não seja tão ruim assim sair com Antônio para fazer algo diferente.
— Amor, você tá chateado comigo? — Antônio me pergunta assim que ficamos sozinhos.
— Não, por que?
— É que você ficou um pouco distante quando encontrei você depois do palco — realmente não percebi, mas ele tem razão — foi por que te chamei de amor na frente da Gessika?
— Amor não foi isso, olha não quero segredos entre a gente eu vi você olhando para Luana e isso me deixou com um pouco de ciúmes — digo me sentindo meio ridículo por isso, mas depois do que ela falou fiquei com isso na cabeça.
— Amor — ele me abraça precisando meu corpo conta o Fuscão, sua proximidade já é o suficiente pra me desarmar — eu fiquei um pouco surpreso por não saber que ela viria.
— Tudo bem eu sei que foi bobeira minha, vocês tem uma história e tá tudo bem — já me arrependi de ter falado, mas ele me pega mais ainda de surpresa ao me beijar, pela primeira vez não estou ligando se tem alguém nos vendo, só consigo me concentrar nele e nós nossos corpos colados um no outro.
— Rubens escuta, fiquei pensativo quando vi ela com outro cara, mas não pelo que você está pensando — agora tô confuso — tenho um carinho por ela, mas amor mesmo estou descobrindo o verdadeiro significado com você.
— Antônio — estou com o corpo em chamas de vergonha e tesão pela sua fala.
— Sério meu amor, olha ciúmes mesmo de verdade eu senti quando eu vi você conversando com Mariano — ele pareceu de boas naquela hora — eu quis voar em cima dele só por ter falado com você.
— Tá falando sério — não estava esperando por isso.
— Vocês foram noivos amor, ficaram juntos por sete anos, fiquei em um misto de preocupação e ciúmes, sei lá passou pela minha cabeça que rever ele mexeria com você — Antônio está sendo honesto e isso só me faz me apaixonar ainda mais pela pessoa incrível que ele é.
— Minha história com Mariano já acabou, amor, fiquei chateado por ter magoado ele, pois era algo que nunca quis fazer, mas assim como você estou descobrindo algo totalmente novo contigo — ele me dá um sorriso satisfeito.
— Eu sei que nosso namoro tem um prazo de validade — não gosto de pensar nisso, porém é a verdade — mas Rubens para mim esses tem sido os melhores dias da minha vida.
— Da minha também — confesso.
— Vamos pra casa, quero passar a noite namorando com você.
— Também quero isso — digo.
No caminho pra casa fico pensando no que Luana disse e no fim não é algo que vai interferir muito no que nós temos, uma hora vou embora e ele estará livre para encontrar uma mulher e montar uma família, no fim meus avós e minha mãe jamais ficaram sabendo do que vivemos.
Antônio vai montar sua família e eu vou viver meus dias me dedicando totalmente ao meu trabalho. Uma coisa é certa e não tenho como me enganar, na minha vida nada vai superar o Antônio, minha vida vai ser dividida em Antes do Antônio e depois dele.
— Amor, daqui não tem mais blitz, tu quer levar o Fuscão daqui? — Sua pergunta me traz de volta a realidade.
— Pode ser — troco de lugar com ele, nossas aulas de direção estão me deixando bem afiado no volante, já consigo dirigir sem ele ter que ficar me dizendo o que fazer.
Na manhã seguinte acordo cedo, o quarto está frio, mas o calor do corpo do Antônio me abraçando me faz não querer sair da cama. Ficamos até tarde namorando então já sei que ele não vai acordar agora. Estou quase dormindo de novo quando meu celular começa a vibrar, na tela vejo o número do Benjamin.
Ele não me liga muito, deve ser algo importante. Levanto da cama tomando cuidado para não acordar meu namorado, mas me arrependo de ter saído da cama no segundo em que o frio me pega. Visto uma camisa, pego meu celular e saio do quarto indo pra cozinha.
— Oi Ben — tive que retornar a ligação.
— Te acordei?
— Não, eu já estava acordado, só que tá frio pra caralho — já que estou de pé começo a fazer um café enquanto falo com ele — aconteceu alguma coisa?
— Não, só queria te avisar que estou indo pro Rio passar a semana em uma missão, acho que não vou conseguir ir no fim de semana.
— Tá tudo bem — fico meio chateado com a situação, estava feliz com a ideia dele vir me ver.
— Mas eu queria te pedir um favor.
— Claro irmão, o que foi?
— Chama o José Filho pra ir, ele tá afim, mas você conhece ele.
— Tranquilo, falo com ele mais tarde, qualquer coisa ele vem com a Júlia, se ela ainda quiser vir — mesmo sem o Ben ainda vai ser legal ter meus irmãos aqui — e você está legal?
— Tô levando, as coisas com a Vanessa ainda andam meio complicadas.
— Ela ainda não aceitou o acordo?
— Não, e agora ela começou a falar que quer voltar e que não precisamos ter filhos — sua voz está ainda mais cansada — por isso também que aceitei essa missão no Rio, pra ficar longe dela uns dias.
— Você não quer mesmo voltar com ela?
— Não, essa semana sai para beber com o Andrey que estava por aqui, ele chamou umas amigas dele pra ir com a gente e acabei ficando com uma delas.
— E ai?
— Foi legal, sei lá, foi fácil e até bom sabe, na manhã seguinte tomamos café juntos, depois deixei ela em casa e fui trabalhar.
— Ainda está saindo com ela? — Pergunto.
— Não, a gente nem trocou telefone para falar a verdade, é o que estou querendo dizer, acho que estou melhor assim, sem compromisso e podendo fazer as coisas que sinto vontade sem me sentir culpado.
Ben mudou muito, fiquei tão longe dele que nem percebi o quanto ele estava mau, mas estou com ele agora nessa nova fase da vida. Ele não é o único que mudou, ontem Antônio me beijou no estacionamento do bar e não me senti estranho, pelo contrário, com meu namorado é tão fácil não se importa com essas coisas, ele torna tudo mais leve com seu jeito apaixonado.
— Se você não acha que voltar seja o melhor então estou com você irmão.
— Obrigado Rubens, tenho que desligar agora porque tô no quartel, fala com o José.
— Pode deixar, se cuida irmão.
— Você também, manda um abraço pro Antônio.
Levo o café na cama pro Antônio que nem ele fez comigo ontem, tá muito frio de verdade hoje, acho que desde que cheguei aqui o tempo não tinha ficado assim. Meu namorado lindo está em um sono pesado e sem camisa — não sei como ele aguenta esse frio, deve está acostumado.
Seu sono parece tão gostoso que desisto de acordá-lo, volto pra cozinha para tomar meu café sozinho mesmo, depois escovo bem os dentes e volto para o quentinho da cama. Nem o café conseguiu tirar minha preguiça, foi só me chegar nos braços do Antônio que peguei no sono de novo.
O Antônio é quem me acorda agora, vejo no relógio que já são duas da tarde, nem acredito que dormi tanto, lá fora está caindo um mundo de água. Sair da cama agora é um desafio maior, para minha sorte meu namorado já tinha levantado e providenciado nosso almoço, agora me chama para comer.
— Vamos almoçar amor.
— Ai até tô com fome, mas aqui tá tão gostoso que não quero sair — me permito um pouco de manhã agora.
— A gente come depois volta para cama, que tal? — A fome acabou me vencendo.
— Tá bom, pode ser, mas Antônio vem cá você não sente frio não? — Pergunto pois ele está usando um calção de jogar bola e uma camiseta verde.
— Sinto, mas gosto do frio e também já estou acostumado — ele rir da cara que faço.
Assim como o planejado levanto da cama e ele ainda conseguiu me convencer a tomar banho com ele antes de comer — Deus sabe o chuveiro elétrico. A água quente até que ajudou um pouco. Ele preparou um macacão com carne para gente, de quebra ainda fez um suco de laranja no capricho, Antônio é muito melhor do que eu não cozinha, mas até que consigo me virar bem.
Mal acabou o almoço e já faço questão de voltar pra cama, Antônio se ofereceu para lavar a louça para mim para que eu pudesse voltar o mais rápido possível pro calor das cobertas. Quando se juntou a mim escolhemos um filme para vermos juntos agarradinhos e trocando carícias. Antônio me deixou tão relaxado que dormi de novo, não sei se onde tá vindo tanto sono, nunca dormi tanto assim, mas a verdade é que ando tão cansado e sobrecarregado com o trabalho e a auto escola. O novo cargo é bem estressante às vezes, tem muitas coisas que estão sob minha supervisão agora é trabalhar com outras pessoas sempre é um desafio, não importa a área.
Acordo novamente no fim da tarde, estou me sentindo tão relaxado e descansado, parece até que renovei minhas energias depois de passar o dia dormindo com meu namorado. Antônio está me fazendo carinho e vendo outro filme na tv, ele também parece relaxado e descansado.
— Bom dia — ele me fala quando percebe que estou acordado.
— Boa noite né, porbque você deixou eu dormir o dia inteiro, agora não vou conseguir dormir à noite — minha fala sai um pouco mais manhosa do que pretendia.
— Você nunca dorme amor, achei melhor deixar você descansar — ele tem um ponto — a Gessika acabou de mandar mensagem querendo saber se vamos ou não.
— O que você acha? — Em sua antiga relação ele não tinha muito poder de escolha, não quero que se sinta assim comigo também.
— Eu quero ir, gosto de jogar e também acho legal você conhecer novos amigos.
— Tá bom então, a gente vai — recebo um beijo e um abraço quentinho, Antônio sabe o que estou indo por ele e de alguma forma isso o deixa feliz.
O que mais gosto no Antônio é que as coisas são muito naturais entre nós, não que a gente não converse bastante, afinal a sinceridade total é algo que faz parte desde que nós conhecemos. Com ele não preciso me sentir mal por trabalhar tanto e ele também não precisa ceder o tempo todo. Ele é um cara simples de lidar, se quer algo ele fala, se quero algo basta pedir para ele, também o acho bastante maduro, Antônio é uma dessas pessoas que serve de porto seguro, com ele sinto que posso fazer ou enfrentar qualquer coisa.
Quando me chama de amor meu coração acelera como se fosse a primeira vez, quando transamos só me sinto completo quando o tenho dentro de mim, nós conectamos de uma maneira muito gostosa. Namorar o Antônio é como tem uma relação de adolescente cheia de fogo e paixão ao mesmo tempo em que ele é maduro e responsável. Em meio a tantas qualidades é difícil focar em defeitos. Ele é ciumento já reparei nisso, mas até que tem se controlado bem, também não sou muito do tipo que dá motivos para isso, mas sempre vejo seus olhos atentos em mim e como ele mesmo disse ele ficou puto quando me viu com Mariano naquele banheiro, assim como todas as vezes que nós falamos por telefone.
Não posso culpá-lo por ter ciúmes porque também tenho, odeio quando Luana está perto dele, mesmo que ele diga que superou, foi uma relação intensa durante dois anos, é difícil de acreditar totalmente que ele não sinta nada quando está com ela, tem as coisas que ela me disse também, nunca dariamos certo, seria muito difícil minha família aceitar e também tem a questão de que não íamos poder ter filhos — sei que existe adoção, mas fa forma que Luana falou ele deve quer ter seu sangue correndo na veia dos seus filhos.
Antônio toma seu banho primeiro depois é minha vez, de novo obrigado Deus pelo chuveiro elétrico, eu sei que é insano ter água e energia elétrica em uma mesma situação, mas um banho quente em um dia frio faz toda a diferença. Colo meu tênis e visto uma roupa confortável. Antônio segue aproveitando o frio ao máximo, ele está com um calção de jogar bola preto e outra camiseta dessas de basquete, com os braços musculosos a mostra.
— Você tá muito gostoso com essa roupa — digo morde do os lábios.
— Gostou?
— Gostei — ele me agarra e me beija tirando meu fôlego — melhor a gente ir, quando voltar a gente termina isso, se não vamos ficar em casa.
— Tá bom — ele concorda, mas não para de me beijar, suas mãos apertando minha bunda me fazendo gemer baixinho.
Depois de nos pegar por uns minutos finalmente nos recompomos e seguimos para nosso compromisso. Gessika fica radiante quando chegamos, ela vem nos receber com um sorriso enorme no rosto, Gessika não estava botando fé que íamos vir mesmo, mas está feliz em nos ver.
— Que bom que vocês vieram, pensei que o Rubens ia dar uma desculpa — ela se diverte me provocando.
— Até que foi fácil convencer ele — Antônio comenta rindo e me pega de surpresa com um beijo na bochecha.
— Você são tão fofos que me dá vontade de arrumar um namorado também — ela diz ainda se divertindo com minha timidez — vem vou apresentar o pessoal pra você.
Gessika nos guia para dentro do clube, que é bem moderno e agitado, com quatro quadras de areia e muita gente jogando e se divertindo. Ela nos chama, apontando para um grupo que está batendo bola em uma das quadras. Caminhamos até lá, e Antônio já começa a cumprimentar algumas pessoas, visivelmente à vontade, ele já conhece algumas dessas pessoas inclusive.
Nos dividimos em dois times, com Antônio no meu time e Gessika no time rival. Para minha surpresa, consigo me soltar um pouco e até acerto algumas bolas. O tempo em que jogava com Mariano me veio à mente, mas dessa vez, não com tristeza, e sim com uma estranha sensação de que as coisas estão no lugar certo agora. Antônio é um ótimo jogador, ele não mentiu quando disse que sabia jogar, Mariano é muito competitivo, ele sempre amou esportes então jogar com ele era diferente de jogar com Antônio que está me incentivando e rindo das minhas tentativas desastradas. Ele é tão leve que me contagia.
— Nossa amigo nem parece que você está a muito tempo sem jogar — Gessika reclama com Antônio quando a partida acaba.
— Ele sempre jogou muito bem — uma amiga dela entra na conversa — devia vir mais vezes jogar com a gente Antônio.
— Que nada gente tô muito enferrujado — ele se enche de modéstia.
— Se isso é você enferrujado, Deus me livre de jogar com você em forma — brinca outro amigo deles.
Estou me divertindo mais do que pensei em me divertir, tenho que admitir que Gessika não mentiu, seus amigos são gente boa mesmo. Estou já me preparando para segunda partida quando ouço uma notificação no meu celular, pela notificação já sei do que se trata antes mesmo de ir verificar no aparelho. Olho pro Antônio e já começo a me sentir mau, quando isso acontecia com Mariano era sempre uma briga.
— O que foi Rubens — ele vem até mim percebendo minha mudança de humor.
— Trabalho — digo levantando o celular e mostrando meu email.
— Agora? — Ele parece mais preocupado do que irritado.
— Eu sinto muito, mas preciso verificar isso — passei o fim de semana livre tinha que me acontecer justo agora.
— Tá bom, vamos nos despedir e voltar pra casa — sua compreensão tão rápida me deixa um pouco desnorteado.
— Espera, eu posso resolver daqui, acho que só vou precisar de um tempo pra mandar uns emails e entender a demanda, se não der mesmo pra resolver daqui ai a gente vai pode ser? — Mesmo que ele não esteja zangado comigo, não quero atrapalhar sua diversão.
— Tem certeza?
— Tenho sim, vai lá jogar que vou ficar vendo daqui enquanto trabalho — ele sorri e faz que sim com a cabeça — te amo.
— Também te amo.
Fico na mesa pedi um refrigerante pra matar a sede e começo a me pôr a parte do dessa demanda que me enviaram, o pessoa estranha um pouco, mas Antônio apenas fala que é trabalho e isso basta para que eles voltem a jogar com outra formação. Se de tempos em tempos desvio o olhar do celular para o Antônio que está voando no jogo, ele tem tanta garra. Ainda não acredito que um cara lindo, atlético e músico gosta tanto de mim, ele toca violão, joga vôlei e salva os animais, como que eu que só sei consertar computadores pude ganhar o amor de um cara desses?
— Você é programador né? — Leo um dos amigos da Gessika se aproxima de mim sentando na mesa comigo.
— Sou sim — respondi sendo educado, meu trabalho envolve muito sigilo já que trabalho com a segurança da minha empresa, não posso entrar em detalhes com ninguém, tenho contrato e essas coisas de confidencialidade.
— Também sou programador, trabalho para uma empresa nova no mercado no Rio Grande do Sul — ele diz todo animado.
— Massa, eu já tive uns clientes de lá que eles pagam muito bem.
A área da programação não é tão grande então meio que somos bem unidos, foi só ele começar a falar que o assunto foi fluindo, inclusive conheço o chefe dele, já fiz uns freelancers para ele também. Conversa vai conversa bem Antônio brota do meu lado e em uma forma demonstrar seu território ele pega meu copo com refrigerante e bebe um gole sem nem me pedir antes.
— E ai deu certo? — Ele me pergunta.
— Deu sim, estou esperando um retorno aqui, tava conversando com o Léo sobre programação ele tá trabalhando para um colega meu.
— Ah que legal, quer dizer Leonardo que você é programador também? — Antônio se refere a ele pelo nome e não pelo apelido, outra forma de afugentar o cara eu presumo.
— Sim, não tenho tanta experiência como o Rubens, mas um dia eu chego lá — ele responde simpático — você é veterinário né?
— Cirurgião Veterinário, trabalhava na ong com a Gessika — ele responde igualmente simpático.
— Que massa, eu não daria conta, sou que nem o Rubens meio nerd mesmo — Antônio estreita os olhos pro cara, ele está com ciúmes, isso já deu pra perceber, agora não sei se o Léo está mesmo dando em cima de mim ou só sendo simpático.
— Então vocês vieram jogar ou conversar? — Gessika os chama pra voltar pro jogo.
— Já vou, amor pede uma água pra mim — Antônio me chama de amor de propósito, o que faz Léo finalmente entender a situação aqui.
— Tá bom amor — nem Antônio esperava que eu fosse chamá-lo de amor, tanto que seus olhos se voltaram para mim com surpresa, quero tranquilizá-lo e mostrar que não tem porque ter ciúmes então lhe dou um selinho rápido, o que me enche de vergonha, mas até que foi bom.
— Vai lá ganhar por mim.
— Sim senhor — Antônio volta saltitante pra areia, só agora percebo que todos estão olhando pra gente menos Gessika que já sabia. Ela chama atenção de volta pra ela e o jogo recomeçar.
No final da partida todos vamos juntos comer uma pizza e jogar conversa fora, Léo contínuo por perto conversando sobre o trabalho e sobre a cidade, ele é um cara jovem e bonito isso deve ser o que está incomodando o Antônio, mas pelo menos depois do beijo que dei nele, parece ter ficado mais relaxado agora — mas ele fica o tempo todo se referindo ao Léo pelo nome e não pelo apelido.
— Gostou amor? — Antônio me pergunto quando estamos saindo.
— Gostei sim, estava precisando disso.
Ele me beija com carinho, e por um momento, as palavras de Luana sobre o futuro, sobre a família, sobre meus avós, somem da minha mente. Nesse instante, tudo o que importa é o calor do abraço de Antônio, a sinceridade do seu sorriso e a certeza de que, com ele, cada dia é um presente, mesmo que com um prazo de validade que eu tento ignorar. Saímos do clube de mãos dadas, com Gessika tagarelando sobre os próximos planos, e eu me pego pensando que talvez Juh esteja certa, e talvez eu precise mesmo sair mais. Especialmente se for com Antônio.