O internato - Capítulo 10

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 2934 palavras
Data: 30/05/2025 19:23:07
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 10 – Todos Sabem

Théo

Estávamos deitados na minha cama naquela noite, eu com a cabeça apoiada no peito nu dele, enquanto ele acariciava meus cabelos sob a luz fraca que invadia o quarto pela janela aberta. Aninhado junto ao seu corpo, eu quase esquecia tudo o que desabafei naquela tarde — e como revivi, de uma só vez, todos aqueles momentos ruins da minha vida, me golpeando como um taco de beisebol envolto em arame farpado. As cenas passavam na minha mente como se estivessem acontecendo ali, naquele exato instante. Rasgavam minha alma e queimavam minha pele de um jeito que era difícil manter o controle.

Aconteceu há muito tempo, eu tentava me convencer disso. Mas ainda podia ver a cicatriz no meu antebraço, deixada por um dos ferimentos que meu pai me causou... tudo porque confiei nele e contei meu maior segredo. Aquela marca era um lembrete vivo e eterno da humilhação que sofri sem ter culpa nenhuma.

Doía ainda mais saber que meu irmão passaria pela mesma rejeição, os mesmos machucados emocionais que eu. Claro que eu não falava mais com o pai, mas o Daniel ainda mantinha algum contato, mesmo que fosse só de vez em quando. Lembro que ele era o filho preferido. O orgulho do velho. Apesar do jeitão durão do pai, ele e o Daniel sempre tiveram uma ligação especial, desde que me entendo por gente. Saíam juntos, assistiam televisão, jogavam futebol... Me recordo das vezes que o Daniel ia ao quartel com o pai, e a mãe discutia com ele por me deixar chorando em casa.

Lembro das vezes em que meu pai o levava ao cinema com a Fernanda, e a mãe sempre brigava porque ele se recusava a me levar junto, dizendo que eu o envergonharia. O Daniel nunca sofreu nem um terço da rejeição que eu sofri. Para eles, ele era o filho perfeito. E agora, ele ia sofrer muito — e eu sofreria com ele.

O Daniel cuidou de mim, me apoiou quando me assumi, mas foi ele quem ficou mais abalado ao me ver naquela situação. Era ele quem chorava cada vez que me via mal. Era ele quem me abraçava tentando me dar conforto. Meu irmão mais velho era a pessoa mais frágil que eu conhecia. Como uma estátua de vidro: linda por fora, mas fácil de estilhaçar. De certo modo, eu entendia o motivo dele tentar se convencer de que era hétero. No meu caso, eu não tinha mais ninguém pra decepcionar. Ele tinha.

— No que tu tá pensando? — a voz de Nick soou mansa, macia como veludo.

— No Daniel — murmurei tão baixo que, se não fosse o silêncio absoluto, ele nem teria ouvido.

— Tá preocupado com ele — não era uma pergunta, era uma afirmação.

— Ele é meu irmão — respondi com uma pontada de raiva. — Tenho obrigação de ajudá-lo.

— Pedindo pra ele se afastar do Bernardo? — indagou com gentileza. — Teu irmão sofreu demais contigo e agora tá sofrendo pra sair do armário. Tirar dele a companhia do guri que ele gosta não ajuda em nada.

— O Bernardo não merece ele — falei, me sentando na cama. — Tu não viu a forma como ele tratou o Daniel hoje.

— O Bernardo tá machucado — Nick falou, acariciando minhas costas com a ponta dos dedos. — O Daniel brincou com os sentimentos dele...

— Meu irmão não sacaneou ninguém — rebati, levantando da cama e indo até a janela, de onde eu podia ver o pátio vazio lá fora.

— Eu sei que dói pensar nisso, mas ele brincou sim com o Bernardo — disse Nick, sentado nu na penumbra. — Não tô dizendo que foi de propósito, mas aconteceu.

— Eu só não entendo, Nick — falei com as lágrimas voltando a escorrer. — O Bernardo quer que meu irmão se assuma, mas ele mesmo não faz isso.

— Eu entendo o Bernardo — ele disse daquele jeito gentil que fazia meu coração se derreter. — Ele só quer alguém estável. Tá se assumindo agora, abrindo mão de muita coisa, e não quer estar com alguém que num dia quer, no outro foge sem explicação.

— Mas ele tem tudo, Nick — disse, a voz saindo um pouco mais alta do que eu queria. — Tem pais que amam ele, uma vida certinha. Por que é tão difícil pra ele se assumir?

— Tu sente inveja dele? — Nick perguntou, direto.

— Inveja da família dele, sim — admiti, com a voz dura.

Meu namorado se levantou da cama e veio por trás de mim, me envolvendo com os braços. Sentir o corpo quente dele colado ao meu me deu uma segurança que é difícil de explicar. Um alento.

— Teu irmão te disse isso hoje, e eu repito agora — Nick sussurrou no meu ouvido. — A tua família te ama, teus amigos te amam. E eu te amo.

Virei pra ele, que olhava bem no fundo dos meus olhos azuis, e o beijei com intensidade. Nick deslizou as mãos pelas minhas costas até chegar na minha bunda, apertando com força, me fazendo gemer.

Sorri pra ele e o beijei de novo, levando-o comigo pra cama. onde deitei por cima dele. Nick gemia e apertava minha bunda com tesão. Nossos paus duros como rocha esfregavam-se um no outro e em nossas barrigas nos dando cada vez mais tesão.

Desci meus lábios por seu pescoço e por seu peito, demorando-me em seus mamilos arrancando suspiros de prazer de Nick. Ele me pegou pela cintura e rolamos repentinamente na cama. Agora por cima de mim, ele beijava meu pescoço e eu arranhava suas costas de tesão. Adorava a forma ardente como os lábios daquele homem roçavam minha pele. Adorava a forma como seu corpo em chamas inflamava o meu. Adorava ouvir seus gemidos de prazer em meu ouvido.

Nick me virou de costas e começou a esfregar seu pau em minha bunda e logo me penetrou. Ele estocava levemente me fazendo arfar e gemer baixinho, mas o tesão era tamanho que eu pedia por mais. Ele obedecia aumentando a velocidade das estocadas me fazendo gemer cada vez mais auto e a cama ranger. Não demorou muito até que ele gozasse em meu cu e desabasse em cima de mim.

– Eu também te amo – disse a ele quando voltamos a deitar na cama.

Nick me beijou e ficamos de conchinha o resto da noite.

Daniel

– Tu vai se atrasar pra aula – Samuel me acordou naquela manhã de terça-feira.

– Não tô no clima de estudar hoje – respondi, me virando pra parede e cobrindo o rosto com o edredom.

Por um instante, achei que o Samuel tinha desistido de me acordar por não se importar mais comigo. Afinal, ele ainda estava chateado por eu ter beijado ele no domingo à noite. Como é que eu pude ser tão idiota? Me questionei, quase pegando no sono de novo. Ele era meu melhor amigo! Claro que eu admirava o corpo dele, mas nunca seria capaz de fazer nada sexual com ele. Então que diabos foi aquilo?

Foi quando a água gelada me tirou dos devaneios e me fez saltar da cama, caindo no chão com a cabeça toda molhada.

– Sério que tu precisava me jogar água? – questionei, olhando pra Samuel, que gargalhava.

– Precisava! – disse, ainda rindo – Tu não pode ficar aqui te fazendo de vítima. Acorda e bola pra frente!

– Não tô muito no clima de seguir em frente – falei, me levantando do chão.

– Deixa de auto-piedade, Daniel! – Samuel disse, indo até a cômoda e pegando o uniforme – Deixa de ser viadinho!

– Eu não tô entendendo – falei, indo até o banheiro e me secando com a toalha de rosto – Achei que era pra eu assumir que sou um viadinho.

– Tu entendeu – Samuel deu de ombros – Agora te arruma antes que a gente se atrase pra aula.

Olhei pra ele e me lembrei que no dia anterior ele mal tinha falado comigo. Nem me acordou. Fiquei feliz em saber que as coisas entre nós pareciam estar se ajeitando de novo.

– Claro que sim – falei, rindo – É bom ser teu amigo de novo.

– A gente nunca deixou de ser amigo – ele respondeu – Ontem eu só precisava de um tempo pra pensar no que tu fez.

– E a que conclusão tu chegou?

– Que tu teve uma crise de esquizofrenia – ele caiu na risada de novo – Mas relaxa. Vamos esquecer isso e seguir em frente.

– Vamos – falei, desejando que o resto também fosse fácil assim.

O resto do dia seguiu quase como qualquer outro, exceto pelo fato de que agora os outros alunos me olhavam de forma diferente. Até o Léo me encarou de um jeito estranhamente acusador que me deixou desconfortável.

– Não liga pros olhares – Samuel sussurrou do meu lado na sala – Daqui a pouco eles enjoam.

Eu esperava que sim, porque era bem chato ter aquele monte de olho em cima de mim. Não foi uma, nem duas vezes que vi o pessoal cochichando e rindo. Senti uma raiva danada da Amanda por ter gritado pra todo mundo que eu sou gay. Tudo bem que ela tava magoada, mas mesmo assim, não tinha o direito de me expor daquele jeito. Era horrível ser o centro das fofocas no colégio.

– Oi, gente – Léo se sentou comigo e com o Samuel no almoço, tentando ser natural, mas deu pra perceber um certo receio.

– Oi – respondi com um sorriso amarelo.

– Se liga, Léo. Tô pensando em fazer uma social lá em casa semana que vem – Samuel falou como se não tivesse notado o desconforto – Tu consegue levar tua galera?

– Não sei, cara – Léo respondeu, dando uma garfada no bife – Posso tentar.

– Valeu, guri – Samuel disse – Vai ser no próximo sábado, lá na minha cobertura. Espalha pra galera da nossa turma.

– Pode deixar – ele sorriu e ficou em silêncio por alguns segundos – Tá tudo bem contigo, Daniel?

Aquela pergunta podia ser facilmente traduzida como: É verdade o que tão dizendo? Tentei não me irritar, afinal ele tava tentando agir normal, e era natural ele querer saber, já que éramos amigos.

– Tá sim – respondi, dando de ombros. Bebi um gole do refrigerante e observei ele pensar numa forma de perguntar o que queria, sem me deixar constrangido ou puto. Tarde demais.

– Por que tu não pergunta logo se é verdade? – minha voz saiu mais ríspida do que eu queria, e ele se assustou.

– Se acalma, Daniel – Léo parecia assustado – Eu não queria...

– Mas me irritou – falei, me levantando. Minha voz subiu junto com o tom – E quer saber? É verdade sim! Eu sou gay! E tive um caso com o Bernardo! Satisfeito?

– Tá todo mundo olhando – Samuel murmurou, me trazendo de volta à realidade.

Olhei ao redor e vi que todos os olhos do refeitório estavam em mim. E, diferente do resto do dia, eles nem tentavam disfarçar.

– Que olhem! – gritei, sentindo o sangue ferver nas veias – Até parece que não passaram o dia me encarando e cochichando!

– Se acalma, Daniel – Léo falou – Ninguém tava te olhando assim.

– Eu vi, Léo! – disse, me sentando de novo – Vi todo mundo me julgando. Não mente pra mim, que eu não sou idiota.

– Ok! Sem mentiras?

– Por favor – disse, cruzando os braços.

– Eu tava olhando sim, mas não te julgando. Tava tentando achar um jeito de falar contigo e te dar apoio! – ele respondeu, agora com raiva – Eu sou teu amigo, porra! Não importa se tu dá o cu ou come mulher! E sim, tá todo mundo comentando, mas quer saber? Que se danem! Eles não te conhecem de verdade.

As palavras do Léo me cortaram fundo como uma lâmina. Eu tava tão paranoico com o que iam dizer, que nem percebi que ele só queria me ajudar.

– Me desculpa – falei, arrependido – Minha cabeça tá uma bagunça.

– Sem problema, irmão – ele disse, colocando a mão no meu ombro – Ainda sou teu amigo.

Olhei nos olhos dele e vi sinceridade.

– Obrigado – falei, sorrindo.

– Que bom que tá tudo certo – Samuel comemorou – Acho que é uma boa hora pra dizer que eu também sou gay.

– Tu eu já desconfiava – Léo deu de ombros – Nunca pegou ninguém! – Nós três caímos na gargalhada – Mas tô começando a me sentir deslocado aqui. Sou o único que não curte chupar um pinto.

– Relaxa, daqui a pouco tu te descobre – Samuel riu.

– Nem fodendo! – Léo respondeu – Eu gosto é de mulher!

E a gente passou o resto da tarde juntos. Os olhares dos outros alunos continuaram, mas pelo menos eu tava feliz por ainda ter meus dois melhores amigos do meu lado. De certo modo, as coisas estavam começando a melhorar.

Bernardo

Ela disse que eu deveria ficar de castigo, mas minha mãe não parava em casa pra me vigiar. Claro que tinha a Mirian, mas ela podia ser subornada com cinquenta pilas e tudo ficava bem. Acordava cedo e tomava café com os meus pais, que, apesar de terem me aceitado, não tocavam no assunto. Dava pra perceber um certo desconforto da parte deles, como se não soubessem muito bem o que dizer. Isso era normal — afinal, mesmo sendo meus pais, ainda estavam se acostumando com a ideia. Nem digo tanto pelo meu pai, que já sabia, mas pela minha mãe, que teve que encarar o fato de que eu nunca casaria com uma guria. Ela tinha mania de fazer planos pra minha vida, e agora todos eles tinham ido por água abaixo.

Depois que eles saíam pra trabalhar, eu ia correr. Isso me ajudava a aliviar a ansiedade e a colocar a cabeça no lugar. Olhava pro mar e só conseguia pensar em como deixei tudo chegar a esse ponto. Tava apaixonado por um cara que não valia o sofrimento. Um cara medroso e confuso, que nem sabia direito quem era. Um cara que brincava comigo como se eu fosse um boneco de pano. A Giovana tinha razão: aquele guri não me merecia.

Caminhei até a areia e me sentei, observando o mar naquele dia quente de verão. Era tão bonito. Tão bonito quanto ele. O mar bravo vinha de encontro à areia com uma voracidade preocupante — a mesma voracidade com que ele me despia e me dava prazer. O vento soprava sobre o mar com a mesma delicadeza dos lábios dele no meu pescoço. Quando estávamos juntos na cabana do zelador, nada mais importava além dos nossos corpos quentes e suados, entrelaçados, se fundindo. Nada além dos corações acelerados, da respiração ofegante. Lembrar daquilo, de certo modo, me fazia bem, porque me trazia de volta sentimentos maravilhosos. Pena que vinham acompanhados da rejeição. Doía lembrar da forma como ele me magoou. Dilacerava meu coração a maneira como me expulsou, como se eu fosse um cachorro sarnento.

Sacudi a cabeça pra afastar esses pensamentos antes que eu começasse a chorar. Me levantei e corri de volta pra casa.

Passei o resto do dia assistindo Dexter na Netflix e comendo pipoca, até que minha mãe chegou no final da tarde. Ela me perguntou como tinha sido meu dia enquanto tirava os saltos no meio da sala e suspirava aliviada.

— Tedioso — respondi, largado no sofá.

— Que bom — disse ela, pegando os sapatos. — Não saiu pra lugar nenhum, né?

— Não — menti, abaixando o volume da TV. — Passei o dia inteiro jogado nesse sofá, vendo TV.

— Ótimo — respondeu, subindo a escada que levava pros quartos do andar de cima.

E no dia seguinte foi a mesma coisa. Acordava cedo, tomava café com os meus pais e ia correr na praia. Sentava na areia e pensava nele. Voltava pra casa, assistia Dexter e jantava com meus pais. Foi assim a semana inteira. Mas, na segunda seguinte, resolvi mudar um pouco.

Acordei cedo e, depois que meus pais saíram, chamei um Uber. Não queria ir pra praia de novo e ficar lembrando dos momentos bons que a gente teve — que acabaram em dor. Aquilo só me fazia mal. Eu precisava me distrair. Precisava de alguém que me fizesse esquecer. De um lugar onde ele não pudesse entrar na minha cabeça e me desmontar.

— Me leva pra PUC — pedi ao motorista.

Ele disse que estaria me esperando em frente à faculdade onde cursava Medicina. Comentou que estava com saudade e eu me lembrei de que não nos víamos desde o Natal, quando fizemos amor pela última vez, durante a festa que o pai dele dava todo ano. Eu adorava os momentos em que estávamos juntos, dando prazer um ao outro, mas não era como com o Daniel. Não tinha sentimento envolvido. Éramos só dois homens se satisfazendo. E tava tudo certo. Sem dor, sem mágoa, sem arrependimento. Só nós dois.

Talvez fosse disso que eu precisasse. Porque doía se apaixonar. Talvez bastasse ter alguém que me fizesse bem, sem ciúmes, sem cobranças, sem precisar se preocupar se o outro tá pensando em ti. Talvez bastasse ter alguém pra dividir a cama, mas não a vida. Ter a carne, mas não o coração. Pode parecer solitário, mas eu não via assim. Pra mim, era um jeito de não me machucar.

O Uber parou em frente à faculdade e, de cara, eu vi ele ali, de braços cruzados na grade. Tava exatamente como eu lembrava: cabelo cacheado, olhos negros. A pele morena, os braços ainda musculosos da academia. Usava uma camisa preta justa, calça jeans e tênis branco. A mochila vermelha pendia só de um lado, no ombro esquerdo.

Desci do carro e o Gregório logo se desencostou da grade e veio até mim.

— Fiquei surpreso com tua mensagem — disse, com aquela voz grave que sempre me dava arrepios. — Achei que tu estivesse na escola.

— Eu tava — falei, chegando mais perto e lhe dando um beijo ardente naquela boca macia, com gosto de Halls de melancia. — Tava com saudade.

— Eu também — ele me beijou de novo, puxando meu corpo com os braços em volta da cintura.

Continua...

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