Cristine sentou-se à minha frente, as mãos cruzadas no colo, e respirou fundo. “Teo,” começou, a voz baixa, quase suave, “tô grávida.” A palavra caiu como uma bomba. Dei um pulo do sofá, o coração disparado, os olhos arregalados. “Grávida?” repeti, a voz mais alta do que pretendia, incrédulo, como se ela tivesse falado outra língua.
Minha mente girava, tentando processar a informação. “Bem, gente não transa há cinco meses, então, esse filho não é meu. Deve ser do Renato, ou do Rafael, ou de qualquer um que você levou pra cama. Se vire, que eu não vou carregar essa responsabilidade!”
Cristine não se alterou. Permaneceu sentada, as mãos ainda cruzadas, a expressão calma, quase sobrenatural, como se estivesse um passo à frente de mim. “É do Renato,” disse, a voz firme, sem hesitação. “Há meses, só transo com ele. Com os últimos, usei camisinha.” Ela fez uma pausa, inclinando a cabeça levemente, um brilho enigmático “Mas não se preocupa, esse assunto será resolvido hoje, nada muda.” Ela se levantou lentamente, alisando o moletom, e caminhou até a janela, olhando para o quintal onde o fim de tarde pintava uma tela bonita no céu.
A calma dela me desarmou, mas a raiva só crescia. “Você tá admitindo que tá grávida de outro cara e acha que eu vou ficar aqui, bancando o trouxa?” gritei, parando no meio da sala dela. “O casamento acabou, Cristine. Acabou! Você abriu as pernas pro Renato, pro Marcus, pro Rafael, pra sei lá quem mais, e agora quer que eu engula essa? Não dá!”
Ela virou-se, o rosto com um leve sorriso, não de alegria, mas de quem segura uma carta na manga. “Você vai assumir esse filho sem reclamar,” disse, a voz tranquila, certa, cada palavra carregada de uma convicção que me fez congelar.
“Você tá grávida ou tá xarope das ideias? Assumir filho? Nem fodendo! Te amei para caralho, talvez ainda ame bem pouco, mas a mágoa é maior e meu nível de trouxice chegou ao limite”. Apesar de bravo externamente, a culpa, que já me consumia por causa de Melissa, agora se misturava a um medo crescente. O que ela tinha nas mãos? Uma prova? Uma ameaça? Ou era só blefe?
Cristine se sentou com calma novamente. “Descobri a gravidez há uma semana, estou de nove semanas” começou como se contasse uma história trivial. “Fiquei apavorada, sabe? Pensei: ‘Será que meu maridinho aceitará mais essa humilhação?’ Afinal, você já engoliu tanta coisa...” Ela fez uma pausa, o sorriso crescendo, os olhos brilhando com algo que parecia prazer. “Fiquei nervosa, chorei, achei que seria o fim. Mas o destino é curioso, não é? Justamente hoje, descubro sua traição com aquela putinha do trabalho.”
Minha garganta secou. Ela continuou, a voz ainda tranquila, cada palavra escolhida com precisão. “Agora, posso sair por aí contando uma verdade alternativa, Teo. Especialmente pro seu avô, que te acha o homem mais correto do mundo. Vou dizer que você quer me deixar, grávida, por causa de uma vadia do escritório. E sabe o que é melhor? Tenho provas. Vizinhos viram o show no portão aí mais cedo. Dona Sandra, que tava na janela, cuidando da vida alheia como sempre. Seu Bernardo, parado na calçada. Até a costureira, que passou com o cachorro. Todos ouviram o Enzo gritando que você tava fodendo a noivinha dele. O que acha que vão pensar de você, Teo? O cara que trai a esposa grávida e ainda a abandona?”
O sangue subiu à cabeça, uma mistura de pânico e fúria. Ela estava me encurralando, usando minha traição como uma arma, e a calma dela só tornava tudo mais assustador. “Você tá blefando, Cristine,” disse, a voz tremendo, tentando me convencer tanto quanto a ela. “Acha que pode me manipular com essa história? Pois eu também tenho o que contar. Vou espalhar que você leva homens e mais homens pra dormir em casa, que nossa cama virou um motel! E que o Renato, seu amante fixo, é o pai desse filho. Peço uma exame de DNA e tua casa cai. Como acha que vão te olhar, hein? A mulher que abre as pernas pra qualquer um?”
Cristine não piscou. O sorriso permaneceu, e ela inclinou a cabeça, como se minha ameaça fosse uma brincadeira infantil. “Mesmo que acreditem nessa loucura aí,” disse, a voz quase melódica: “O que acha que pensarão de você? Um homem que, por quase um ano, tomou chifre de mais de 10 caras, sendo um fixo, tocou punheta, chupou a boceta melada da esposa e até o cu depois deles. Pensa bem, o desgosto do seu avô, coitado.” Ela fez uma pausa, os olhos me perfurando, o sorriso agora com um toque de pena. “Imagina ele, com aquele orgulho todo de você, sabendo que você se humilhou assim, que deixou sua mulher virar um brinquedo de outros, e ainda se excitava com isso.”
Minhas pernas fraquejaram. Sentei-me no sofá, o peito apertado, a respiração curta. A imagem do meu avô, um homem rígido, de valores antigos, veio à mente como um soco. Eu o vi, na varanda da casa dele, o rosto enrugado se contorcendo de decepção, os olhos marejados ao ouvir que seu neto, o “homem de família”, não só foi corno, mas se rebaixou a ponto de se excitar com isso. Vi Dona Sandra, Seu Bernardo, a costureira, cochichando na rua, rindo pelas costas, a notícia se espalhando como fogo pelo bairro. E pior: vi meus colegas de trabalho, os amigos, até Melissa, sabendo dos detalhes sórdidos – eu chupando Cristine depois de outros, ou no glory hole da casa de swing, onde ela chupou vários estranhos enquanto eu assistia, consumido por tesão e ciúme. O pior cenário se formava na minha cabeça, uma humilhação pública que eu não suportaria.
“Você... você não faria isso,” gaguejei, a voz fraca, quase implorando. “Você também sairia queimada, Cristine. Não é só comigo.” Mas ela apenas riu, um som baixo, controlado, que me fez sentir ainda mais encurralado. “Pode ser, Teo,” disse, levantando-se, alisando o moletom. “Mas quem tem mais a perder? A mulher grávida, vítima do marido traidor, ou o homem que aceitou tudo isso e ainda caiu nos braços de uma garota de 20 anos, com carinha de moleca? Pensa bem.”
Minha mente girava, procurando uma saída, mas cada caminho parecia levar a mais humilhação. “Por que você não fica com o Renato, então?” as mãos gesticulando no ar. “Ele é o pai da criança, Cristine! Por que continua me torturando? Não basta tudo que você já fez? Comecem uma vida a dois, quer dizer, a três” Eu a encarei, buscando algum sinal de fraqueza, mas ela permaneceu imóvel, a expressão serena, como se minha pergunta fosse irrelevante.
Ela suspirou, cruzando as pernas na poltrona, e respondeu. “Renato só serve pra cama, Teo,” disse com uma certeza fria. “Ele é bom pra foder, mas jamais ficaria com um traste daqueles, ainda mais com um filho. Ele não tem nada a oferecer além de uma transa decente.” Fez uma pausa, inclinando a cabeça, o sorriso voltando, agora com um toque de desprezo. “Você acha que eu trocaria nossa vida por um cara vive de bicos?”
Outra memória me veio à tona, uma que ainda doía. “Mas e aquele dia que eu bati no Renato? Você o defendeu, Cristine! Chamou ele de ‘amor’ na minha frente, porra! Como explica isso?”
Ela riu “Eu chamei ele de ‘amor’ pra te castigar, Teo,” disse, os olhos fixos nos meus, sem um pingo de remorso. “Você quase matou o cara, perdeu a cabeça, e eu quis te fazer sofrer. E, pelo jeito, funcionou.” Ela ergueu uma sobrancelha, o sorriso agora cruel, como se saboreasse minha dor.
Coloquei as mãos no rosto, desesperado, os dedos apertando as têmporas. A sala parecia girar. Cada palavra dela era uma nova porrada de um lutador de MMA e a ideia de que ela manipulava até os momentos mais crus do nosso casamento me deixava sem ar. “Você é um monstro, Cristine,” murmurei. “Por que tá fazendo isso comigo?”
Ela se levantou e caminhou até mim, parando a poucos passos. “Porque podemos chegar a um acordo, Teo,” disse, a voz agora mais suave, mas ainda carregada de certeza, como se me oferecesse uma tábua de salvação. “Não precisa ser assim, com ameaças, com todo mundo sabendo dos nossos podres.” O brilho nos olhos dela era diferente agora, menos cruel, mais calculado, como se ela estivesse prestes a revelar sua verdadeira cartada.
Arregalei os olhos, tirando as mãos do rosto, o coração disparado. “Qual? Que acordo, Cristine? Fala logo!” Eu a encarei, buscando qualquer pista, qualquer sinal do que ela planejava. Era uma saída? Uma armadilha?
Ela sorriu, de maneira quase maternal, que me fez estremecer. “Vamos conversar direito, Teo,” disse, virando-se para a cozinha. “Mas não agora. Você tá muito abalado, e eu quero que você pense com calma. Tome um banho. Hoje à noite, na janta, a gente resolve isso.”
Tentei saber logo, mas fui ignorado. Com a calma de uma seria killer, Cristine foi para a cozinha, passou a pegar panelas, alimentos e temperos e se pôs a cozinhar, cantarolando!
Durante o banho pensei no quão absurda seria a proposta de Cristine. Cheguei a imaginar que estava no meio de um pesadelo e iria acordar.
Às oito da noite, o cheiro de frango assado com batatas e arroz temperado encheu a casa, apesar do dia caótico, minha esposa ainda encontrou tempo para cozinhar divinamente, talvez isso a anestesiasse. Cristine estava na cozinha, cortando salada, o rosto concentrado, sem o sorriso enigmático e provocador da tarde. “Senta, Teo,” disse, a voz neutra, enquanto colocava os pratos na mesa. Serviu uma taça de água para ela e abriu uma cerveja para mim, sentando-se em silêncio. O clima era diferente, mais pesado, como se ela tivesse deixado de lado o jogo de manipulação.
Comemos sem trocar palavras, o som dos talheres contra os pratos amplificando a tensão. Meu estômago estava fechado, cada garfada um esforço. Finalmente, Cristine pousou o garfo, respirou fundo e me olhou nos olhos. Não havia mais aquele brilho cruel, apenas uma seriedade que beirava a aflição. “Teo, a gente precisa conversar sobre o que vai acontecer. Se a gente se separar agora, você sabe como vai ser. Você fica queimado com sua família, com seu avô, com os vizinhos e até no trabalho. O cara que traiu a esposa grávida por uma putinha bonitinha. Mas eu...” Ela engoliu em seco, os dedos apertando o guardanapo. “Eu também não saio inteira. Você vai contar pros meus pais tudo o que eu fiz, quem eu sou, e isso... isso seria devastador. Minha família me admira, Teo. Meus pais me veem como a filha perfeita. Se souberem dos meus vários casos, me cortam da vida deles ou, na melhor das hipóteses, me deixam visita-los, mas me olhando com tristeza e decepção, até porque, você sabe, eles te acham o marido perfeito, sem vícios, educado, caseiro e trabalhador.”
O tom dela me pegou desprevenido. Pela primeira vez, Cristine parecia vulnerável, como se o peso da própria vida a estivesse alcançando. Eu a encarei, o coração disparado, tentando entender o que vinha a seguir. “Então, qual é a sua ideia, Cristine?” perguntei, as mãos suadas segurando a lata de cerveja. “Eu não quero ficar com você. O que tá propondo?”
Ela endireitou a postura, os olhos fixos nos meus, a aflição dando lugar a uma determinação contida. “A gente espera,” disse, a voz mais firme agora. “Espera a criança nascer, e espera ela completar 1 ano. Aí, a gente se separa. Cada um fica com metade do dinheiro da casa – a gente vende, divide, faz o que for preciso. Metade pra você, metade pra mim, sem briga.” Ela fez uma pausa, respirando fundo, como se a próxima parte fosse a mais difícil. “E eu nunca vou te cobrar pensão, Teo. Nunca. Até porque, se eu tentar, você pode pedir um exame de DNA, e eu seria desmascarada. Todo mundo saberia que o filho é de outro não seu.”
Minha mente girava, processando cada palavra. Teria que esperar toda a gravidez dela quase sete meses e depois um ano após o nascimento da criança? Era tempo para caralho. Dividir o dinheiro da casa? Bem, até que isso era razoável, ela também ajudou a pagar, mas o peso de continuar vivendo com Cristine, fingindo normalidade por mais de um ano, me sufocava.
“E se eu não aceitar? Se eu decidir contar tudo agora, deixar a verdade explodir, pros seus pais, pros meus, pra todo mundo?” Minha tentativa de soar firme falhou, e ela percebeu.
Cristine baixou os olhos por um momento, como se pesasse a pergunta, depois me encarou de novo, o rosto sério. “Aí a gente se destrói, Teo. Se você se lembra bem das aulas de História, sabe porque na Guerra Fria EUA e URSS nunca se atacaram diretamente. Os dois se destruiriam totalmente não haveria vencedor. No nosso caso, “você perde sua família, sua reputação, o respeito do seu avô. Eu perco meus pais, minha imagem, os dois se fodem”. Ela se levantou, começando a recolher os pratos, o movimento mecânico, como se quisesse encerrar a conversa. “Pensa com calma. Não precisa responder agora. Mas sabe que é o melhor pra nós dois.”
Passei a noite quase em claro pensando nos prós e contras. Entendi a mudança de comportamento de Cristine da parte da tarde para a para da noite. Era como aqueles filmes policiais que a gente se cansa de ver: o detetive ameaça o suspeito com prisão perpétua, descreve os horrores da cadeia, mas no final oferece um acordo se ele colaborar. Cristine fez o mesmo, primeiro, veio com terrorismo psicológico, depois com uma proposta mais razoável, dura ainda, mas não destruidora.
No domingo de manhã, decidi confrontá-la. O sol entrava pelas cortinas, iluminando a sala onde Cristine tomava café. Sentei-me no sofá à sua frente, respirando fundo. “Tá, Cristine,” comecei, a voz firme, apesar do nó na garganta. “Eu pensei no seu acordo. Posso aceitar, mas tenho condições.” Ela ergueu os olhos lentamente, o rosto sério. “Que condições, Teo?” perguntou, a voz cautelosa, como se esperasse um ataque.
“Primeiro, você despacha o Renato. Imediatamente,” disse, apontando para a edícula pela janela. “Não quero ele aqui, nem na sua vida, enquanto a gente fingir que tá tudo bem. Segundo, eu quero liberdade pra... sair com outras. Discretamente, claro, sem ninguém saber. Mas não vou ficar sem sexo por mais de um ano e meio, preso nessa casa com você.” Minha voz saiu mais dura do que pretendia, mas eu precisava marcar território, mostrar que não era só ela quem ditava as regras.
Cristine ficou em silêncio por um momento. Então, ela riu, um som amargo, quase sarcástico. “Você quer que eu pare de ver o Renato, mas o Don Juan quer ficar pegando por aí?” disse, o tom cortante, com um toque de mágoa disfarçada. “Que foi, Teo? Gamou no cheirinho da boceta da magrinha? Porque eu senti naquela noite, sabe? Você chegou cheirando a ela, e eu reclamei, mas deixei passar. Devia ter investigado.” Ela cruzou os braços, o rosto agora com uma mistura de raiva e vulnerabilidade.
Eu me inclinei para frente, tentando manter a calma. “Não tô dizendo que vai ser com a Melissa. “Eu nem sei o que será depois do rolo de ontem. Mas eu não vou ficar sem sexo, Cristine. E não quero nem pensar em tocar em você. Não depois de tudo, fora de cogitação.” As palavras saíram como uma rajada de metralhadora e eu vi o impacto delas. Cristine piscou rápido, os lábios tremendo por um instante antes de ela endurecer a expressão, tentando disfarçar. Mas o golpe a feriu, eu sabia. Por trás da fachada, ela ainda se importava, mesmo que fosse só orgulho.
Ela respirou fundo, descruzando os braços, e olhou para o chão por um segundo, como se estivesse se recompondo. “Tá bem, Teo,” disse quase resignada, mas com um tom de quem engole um veneno. “Eu paro de ver o Renato. Já tava pensando nisso mesmo, ele não é nada além de... diversão. Mas você transar por aí?” Ela ergueu os olhos, o olhar agora mais duro. “Se for fazer suas safadezas, que seja bem longe. Longe dos nossos conhecidos, da nossa rua, de qualquer um que possa abrir a boca. Não quero outro homem chorando na minha porta, tipo esse bobinho rico que veio aqui ontem, gritando que você papou a noiva dele. Entendeu?”
Eu assenti, o coração ainda disparado, mas sentindo um alívio cauteloso. “Entendido,” respondi, a voz mais calma.
Na segunda-feira, o escritório estava mais carregado do que de costume. Cada olhar dos colegas, cada cochicho nos corredores, me fazia questionar se o escândalo com Enzo no sábado tinha se espalhado. Minha cabeça ainda girava com o acordo selado com Cristine no domingo. Mas, antes de qualquer coisa, eu precisava saber de Melissa. Durante o intervalo do café, encontrei-a na copa, sozinha, mexendo no celular. Ela parecia cansada, os olhos castanhos sem o brilho sapeca de antes, o cabelo preso num rabo de cavalo.
“Melissa,” chamei, a voz baixa, hesitante. Ela ergueu os olhos, surpresa, e guardou o celular. “Como você tá?” perguntei, tentando soar casual. Ela suspirou, cruzando os braços. “Terminei com o Enzo,” disse com um toque de tristeza. “Ele não quis nem conversar depois do que rolou. Disse que não confia mais em mim e pior que ligou para cá cedo e deu com a língua nos dentes, já estão cochicchando.” Fiquei agoniado, “E você?” ela perguntou, erguendo uma sobrancelha. “Como tá com a Cristine?”
Engoli em seco, escolhendo as palavras com cuidado. “Tá... complicado,” respondi, esfregando a nuca. “Ela veio dizer que tá grávida, sabe? A gente tá tentando resolver as coisas, mas não tá fácil.” Não podia falar do acordo, de Renato, ou do fato de que eu sabia dos casos dela. Melissa arregalou os olhos, claramente surpresa. “Grávida?” repetiu, a voz subindo um tom. “Nossa, Teo, isso é... sério”. “Tá tudo desabando” respondi.
Na terça-feira, a situação piorou. Durante o almoço num bar ali perto, Saulo, um colega de setor conhecido por sua falta de filtro, sentou-se à minha frente com um sorriso escancarado. “E aí, amigo,” começou, em tom pastelão, inclinando-se como se fosse contar uma piada. “Tá todo mundo sabendo que você traça a Melissa, caralho! Diz aí, quero detalhes. A Melissa trepa legal? Como é a bocetinha? Deve gemer alto, a putinha.” O sangue subiu à cabeça, a raiva queimando. “Que porra é essa, Saulo?” explodi, a voz alta o suficiente para chamar atenção de algumas mesas próximas. “Isso é tudo mentira! O noivo dela era uma babaca e imaginou coisas”. Saulo ergueu as mãos, rindo, como se fosse uma brincadeira. “Acho que ele sentiu coisas e foi uma baita coceira na testa ahahahahah. Mas o pessoal tá comentando, viu?” Ele se levantou, ainda rindo.
Em casa, o clima era insuportável. Cristine tentou puxar conversa enquanto preparava o jantar, perguntando sobre meu dia, comentando sobre o tempo, talvez tentando manter a fachada do acordo. “Você viu que a Dona Sandra tá reformando a casa dela?” disse, mexendo uma panela de arroz, o tom forçadamente leve. “Vi,” respondi, seco, sem olhá-la, focado na TV. “Tá tudo bem no trabalho?” perguntou, sentando-se à mesa com um copo d’água. “Tá,” murmurei, mudando de canal. Cristine suspirou, o som carregado de frustração, mas não insistiu.
Entretanto, após dois meses, sem que eu notasse, as coisas mudaram. Comecei a responder Cristine com mais do que monossílabos, trocando frases sobre o dia, o mercado, até rindo de um comentário bobo sobre a TV ou o trabalho. Era estranho, quase natural, mas ainda assim, a tensão pairava, um fio invisível que podia se romper a qualquer momento e havia algo maior, um erro de cálculo que só agora, com a barriga de Cristine crescendo, começava a me assombrar: a alegria das nossas famílias.
Minha família e a de Cristine estavam radiantes. Meus pais, que sempre sonharam com um neto, ligavam quase diariamente, perguntando sobre ultrassons, sugerindo nomes, planejando o enxoval. Minha mãe, com lágrimas nos olhos, me abraçou numa visita, dizendo: “Você vai ser um pai incrível, Teo.” O avô, meu ponto fraco, estava mais animado que todos. Apesar da saúde frágil, ele falava da criança com um brilho nos olhos, contando histórias de quando eu era bebê, dizendo que mal podia esperar para segurar “o pequeno Teo” ou “a pequena Teo”. Os pais de Cristine, que a viam como a filha perfeita, também estavam eufóricos, enviando presentes – um carrinho, um berço, roupas minúsculas com laços cor-de-rosa –, certos de que seria uma menina, e o nome “Sofia” já circulava entre eles, como se fosse oficial.
Essa felicidade, porém, era uma armadilha. Não considerei o apego que a minha família desenvolveria pela criança. Mesmo após a separação, eu teria que manter a mentira de ser o pai, ou a revelação destruiria tudo: a confiança dos meus pais, a saúde do meu avô, a imagem de Cristine com os dela. Seria um escândalo. Esse ponto cego me sufocava.
No trabalho, a situação com Melissa marcou esses meses com uma luxúria intensa, mas fugaz. Transamos cinco vezes, cada encontro um mergulho em desejos reprimidos. Após a última, Melissa me puxou de lado, os olhos castanhos sérios. “Teo, isso tá me consumindo,” disse, a voz firme, mas trêmula. “A gente tá brincando com fogo. Não dá mais.” Concordei, relutante, sabendo que ela tinha razão, mas sentindo o vazio de perder aquele escape.
A terceira dessas transas foi um momento de intensidade tão crua e insana que ainda me faz fechar os olhos para reviver. Era uma quinta-feira à noite, num motel discreto. Um espelho ocupava metade da parede, refletindo cada movimento. Melissa chegou primeiro, num vestido leve branco. Sem palavras, ela me puxou pela camisa, seus lábios colando nos meus com uma urgência faminta. Sua língua dançava contra a minha, quente e insistente, enquanto suas mãos desabotoavam minha calça com destreza.
Nossos corpos se entrelaçavam no chão acarpetado, o calor da pele dela contra a minha, os beijos descendo pelo pescoço, pelos seios, até a cintura. Eu a levantei, ainda agarrados, e caminhei em direção ao banheiro, o azulejo frio contrastando com o calor dos nossos corpos. Uma ideia súbita, quase inexplicável, tomou conta de mim. “Melissa,” murmurei, a voz rouca, hesitante, “quero que você faça uma coisa... uma chuva dourada.” Ela parou, os olhos arregalados, a respiração suspensa. “Mijar? Você tá falando sério?” perguntou, a voz misturando estranheza e curiosidade. “Não sei por que, mas... quero,” confessei, sem entender o impulso. Ela hesitou, mordendo o lábio, mas então assentiu, um brilho sapeca voltando aos olhos. “Tá, mas você pediu,” disse, com um meio-sorriso.
Deitei-me no chão do banheiro, o azulejo gelado contra as costas, e Melissa se posicionou de cócoras sobre meu peito, as coxas abertas, a pele pálida contrastando com a luz fraca do ambiente. Ela respirou fundo, o corpo tenso por um instante, e então relaxou. Um jato quente e descontrolado escapou, caindo sobre meu peito, meu pescoço, respingando no rosto. Olhei, espantado, o fluxo irregular saindo da vagina dela, o líquido dourado escorrendo quente pela minha pele, um misto de choque e fascínio me prendendo à cena. Meu pau deu trancos de tesão. O som do jato contra meu corpo, o calor, a entrega dela – tudo era cru, quase primal. Melissa, ainda de cócoras, me observava, o rosto corado, uma mistura de vergonha e excitação nos olhos. “Tá gostando, seu louco?” perguntou, rindo baixo, antes de terminar.
Levantei-me, ainda atordoado, e a puxei para o chuveiro. A água quente lavou tudo, mas a intensidade daquele momento ficou gravada. Transamos ali mesmo, sob o jato d’água, ela de costas contra a parede, as pernas envolvendo minha cintura, os gemidos dela ecoando no banheiro. Era mais do que luxúria – havia uma conexão que tornava parar tão difícil.
Já na cama, beijei sua boceta na altura dos pelos, e ela gemeu, um som baixo e visceral, como se estivesse se desfazendo. Fiquei em pé, minhas mãos apertaram suas coxas, a pele macia e quente sob meus dedos, enquanto eu chupava seu pescoço, descendo até os seios pequenos, liberados do vestido. Os mamilos pequenos, respondiam à minha língua, e ela arqueava o corpo.
“Quero tudo hoje,” sussurrou, a voz rouca, os olhos brilhando com desafio e rendição. Levei-a para a cama, deitando-a de bruços. Beijei a curva da sua nuca, descendo pela espinha, cada vértebra recebendo um toque lento, até a base das costas. Ela estremeceu, o corpo reagindo a cada carícia. Melissa respirava rápido.
Entrei nela devagar, primeiro na boceta, sentindo o calor apertado que me envolvia, o ritmo crescendo com cada estocada. Ela empurrava o quadril contra mim, sincronizando nossos movimentos, os gemidos abafados contra o travesseiro. Então, com um aceno, mudei. Posicionei-me com cuidado, a ponta do meu pau pressionando a entrada do cuzinho, entrando milímetro por milímetro, atento a cada respiração dela. “Vai,” murmurou, a voz firme, e obedeci, movendo-me com lentidão torturante até sentir que ela relaxava, aceitando-me por completo. O ritmo aumentou, firme, mas controlado, e Melissa começou a se tocar, os dedos rápidos entre as pernas, o corpo tremendo enquanto se aproximava do clímax. Quando gozou, foi com um grito abafado, o corpo convulsionando sob mim, e eu a segui, o prazer me cegando por um instante.
Caímos na cama, ofegantes, o suor misturando nossos cheiros. Melissa virou-se, o rosto corado, um sorriso fraco nos lábios. “Você não tem limites, Teo,” disse, antes de se levantar para o banho. Naquela noite, transamos mais uma vez.
Em casa, Cristine, agora com a barriga visível, descobriu que esperava mesmo uma menina, sua família tinha acertado. A gravidez a transformou. Ela se tornou uma grávida absurdamente sexy, com curvas acentuadas e uma confiança que beirava o desafio. Passou a desfilar pela casa em roupas mínimas – camisolas transparentes, shorts que mal cobriam as coxas, sutiãs esportivos que deixavam pouco à imaginação. Eu tentava não olhar, mas era impossível. O modo como ela se movia, lento e deliberado, o jeito que esticava o corpo para pegar algo no armário, revelando a curva da cintura, acendia um desejo que eu lutava para reprimir. E ela sabia. Havia um tesão evidente nela – a forma como mordia o lábio ao me encarar, o toque prolongado ao passar o saleiro, o suspiro baixo ao se espreguiçar no sofá. Era como se estivesse testando os limites do nosso acordo, me desafiando a ceder.
O desejo por Cristine, inesperado e incontrolável, complicava tudo. Uma noite, enquanto ela passava pela sala com uma camisola quase transparente, a barriga arredondada destacada pela luz do abajur, nossos olhos se encontraram. Ela parou, um sorriso leve nos lábios, e perguntou: “Tá me olhando por quê, Teo?” A voz era provocadora, carregada de intenção. “Nada,” murmurei, desviando o olhar, mas meu corpo traía a mentira. Ela riu, baixo, e seguiu para o quarto, deixando-me com raiva e o tesão brigando dentro de mim.
Cristine estava armando um novo jogo ou poderia mesmo estar mudando por causa da gravidez.