Parte I - Capítulo: Entre Séries e Segredos
Lucas tinha o tipo de presença que se fazia notar antes mesmo da primeira palavra. Alto, com cerca de 1,85m, o corpo esculpido pelo tempo e disciplina: ombros largos, braços torneados e firmes, sempre à mostra sob as camisetas justas de treino. A camisa moldava o peitoral definido e insinuava o contorno rígido do abdômen — como se cada músculo soubesse exatamente onde deveria estar.
Os traços do rosto eram tão marcantes quanto seu físico: queixo firme, barba sempre por fazer, olhos escuros e atentos, que passavam a sensação de que ele via mais do que deixava transparecer. O cabelo, curto e levemente bagunçado, dava a ele um ar despreocupado — contraste interessante com o corpo tão controlado e preciso.
Mas havia algo mais. Um magnetismo silencioso. Lucas não precisava forçar charme; ele apenas existia nele. Era o tipo de homem que despertava olhares sem perceber. E quando sorria, mesmo que de leve, deixava no ar uma promessa sutil — daquelas que fazem a imaginação ir além da realidade.
Lucas sempre foi um profissional sério. Aos 30 anos, conciliava a paixão pela musculação com o compromisso com seus alunos. Trabalhava na academia Gaviões, onde atendia uma clientela diversa — entre eles, Clara, uma mulher madura, charmosa e cheia de presença. Sempre bem-vestida, sempre educada, mas com um brilho nos olhos que, por vezes, fazia Lucas perder o fio da explicação.
Após uma breve ausência por dores na coluna, Clara voltou a procurá-lo. Mandou uma mensagem num tom casual, perguntando se ele poderia dar aulas na academia do prédio dela, pois ainda não se sentia à vontade para voltar à rotina pesada da Gaviões.
Lucas aceitou. Era por perto, e o pedido parecia simples.
Na academia do prédio, Clara não estava sozinha. Uma amiga do condomínio também estava presente, o que o deixou mais à vontade. A aula correu com normalidade — alongamentos, exercícios leves, orientações. Lucas se mantinha focado, mas não conseguia deixar de notar os olhares de Clara, mais demorados que o normal, mais... curiosos.
Pouco depois, ela parou o exercício e levou a mão à lombar, reclamando de um incômodo.
— Acho que a dor voltou... pode me ajudar até o apartamento?
Lucas prontamente a apoiou, ajudando-a a caminhar. A amiga dela pegou os pertences e se despediu. No elevador, o silêncio tinha outra textura — densa, como se algo não dito estivesse prestes a emergir.
Dentro do apartamento, Clara sentou-se com delicadeza no sofá. Mas antes que ele dissesse qualquer coisa, ela o encarou diretamente.
— Eu preciso confessar... Eu exagerei um pouco. Na verdade, eu só queria um tempo a sós com você.
Lucas ficou imóvel por um instante, pego de surpresa. A confissão pairou no ar. O sorriso nos lábios dela era sutil, mas havia ali um convite silencioso — elegante, mas firme.
— Clara... — ele começou, hesitante. — Isso é complicado. Você é minha aluna...
Ela apenas assentiu, como quem entende, mas não desiste.
— Eu sei. Só queria ver até onde você deixaria as coisas irem.
Ele se levantou devagar, respirou fundo, e se despediu. Clara o acompanhou até a porta com o mesmo sorriso sereno. E ele saiu com o coração disparado.
Naquela noite, Lucas não conseguiu dormir. A forma como ela o olhou. As palavras. O tom. Era como se algo tivesse se acendido dentro dele — uma dúvida, um desejo, um ponto de não retorno.
No dia seguinte, nova mensagem: “A aula de hoje está confirmada?”
Ele respondeu: “Sim. Mesmo local?”
Ela confirmou. E quando se encontraram novamente na academia do prédio, tudo parecia normal — até demais. Clara o cumprimentou com um sorriso discreto, pediu desculpas pelo dia anterior, e começaram a treinar.
Mas, durante os exercícios, o clima voltou a se transformar. Um gesto, um toque acidental, um olhar prolongado. E quando ela novamente pediu ajuda para subir ao apartamento... Lucas hesitou por apenas meio segundo antes de aceitar.
Lá em cima, ao invés de palavras, houve apenas silêncio. Um silêncio que dizia tudo.
E quando ela o olhou, na porta, com os olhos brilhando e a respiração calma, ele soube: era o momento em que decisões ganhavam peso — e segredos começavam a nascer.
Parte II - Capítulo: Interrompidos
Lucas sentia a pele formigar sob o olhar de Clara. O silêncio entre os dois não era desconfortável; era carregado, vivo, como o ar antes da tempestade.
Ela deu um passo à frente, ficando tão próxima que ele podia sentir o perfume suave que ela usava — algo floral, quente, quase indecente de tão delicado. Seus olhos desciam até os lábios dele, e então voltavam devagar, convidando sem dizer.
Lucas respirou fundo. Ele estava pronto para ceder. Talvez não fosse certo, talvez não fosse o melhor caminho... mas naquele instante, não importava. Ele estava prestes a encostar a mão no rosto dela, quando —
— Ding dong.
O som da campainha cortou o ar como uma navalha.
Os dois se afastaram quase no reflexo. Clara olhou para a porta com uma expressão de irritação contida, depois de volta para ele. Havia um fogo silencioso no olhar, agora misturado com uma pontada de frustração.
— Um minuto… — ela murmurou, tentando disfarçar o tom.
Lucas deu dois passos para trás, os sentidos voltando com força. Sentia o corpo tenso, como se ainda estivesse dentro do gesto que não aconteceu.
Ela abriu a porta entreaberta, apenas o suficiente para conversar com alguém do lado de fora. Ele ouviu uma voz masculina — talvez um porteiro, ou um entregador. Clara agradeceu baixinho e fechou a porta com um suspiro.
Virou-se para ele. O clima já não era o mesmo, mas os rastros dele estavam por toda parte: no calor das bochechas dela, no olhar dele, nas palavras que nenhum dos dois conseguia dizer.
— Acho que hoje… o universo não quis — ela disse, com um sorriso murcho e olhos ainda acesos.
Lucas respondeu com um sorriso discreto, a voz baixa:
— Talvez o universo esteja só adiando.
Ela o acompanhou até a porta. Os dedos dela roçaram nos dele quando o entregou a chave do elevador privativo. Um gesto simples, mas cheio de promessas não ditas.
Enquanto descia, sozinho, Lucas encostou a cabeça na parede metálica do elevador. Estava quente demais. Dentro e fora dele.
Naquela noite, novamente, ele não dormiu.
Mas agora, o que sentia não era só desejo — era antecipação. E um tipo novo de perigo.
Parte III - Capítulo: O Jogo da Resistência
Após aquele encontro interrompido, algo mudou no ar sempre carregado entre Lucas e Clara. Ele tentou, com toda a força da sua disciplina e compromisso, manter a linha profissional. Mas, no fundo, sabia que ela fazia o jogo dela com maestria — e que ele estava cada vez mais preso nessa teia invisível.
Nas aulas seguintes, Clara apareceu com um sorriso misterioso, como se guardasse um segredo que só ele poderia desvendar. O modo como ela se movimentava durante os exercícios era quase um convite silencioso: um leve balançar do cabelo, o olhar que demorava um pouco mais no braço dele quando ele corrigia sua postura.
Lucas sentia o corpo reagir — um arrepio discreto, a respiração que ficava um pouco mais pesada — e tentava resistir. Lembrava de si mesmo que era o profissional, o responsável pela saúde dela, o homem que deveria manter a distância.
Mas Clara não facilitava. Nas mensagens que enviava, o tom era sempre casual, mas às vezes uma frase soava diferente: um elogio sutil, um agradecimento que parecia esconder um duplo sentido. Ele respondia com cuidado, medindo cada palavra.
Em uma das sessões, enquanto ele ajustava o posicionamento dos braços dela, os dedos dela roçaram acidentalmente os seus — ou talvez não tão acidentalmente assim. O toque foi breve, mas suficiente para incendiar uma centelha. Lucas engoliu em seco, desviou o olhar, e continuou a aula como se nada tivesse acontecido.
No intervalo, Clara sugeriu uma pausa para um copo d’água, e os dois ficaram próximos, respirando o mesmo ar abafado da academia do prédio. Ela falou sobre seu dia, suas rotinas, mas havia algo nas entrelinhas, uma provocação velada, um convite implícito para que ele cedesse à tentação.
Lucas saiu dali com a mente girando, cada pensamento um conflito. Queria manter a ética, não queria arriscar sua carreira — mas o desejo, aquele fogo silencioso, só crescia.
O jogo continuava, e ele sabia: cedo ou tarde, um dos dois teria que ceder. A pergunta era: quem seria?
Parte IV: Capítulo: O Toque que Quebra
A aula transcorria normalmente, mas Lucas sentia cada vez mais o peso da presença de Clara — seus movimentos suaves, o perfume que parecia envolver o espaço, e os olhares que ela lançava, carregados de uma promessa silenciosa.
Quando a instruiu a alongar os braços, ele se aproximou para ajudar a ajustar a postura. Os dedos dele tocaram a pele dela, na lateral do braço, num gesto que pretendia ser apenas técnico.
Mas Clara não recuou. Pelo contrário, inclinou-se um pouco para mais perto, o calor do corpo dela quase queimando a pele dele.
O toque que deveria ser profissional se tornou elétrico. Os dedos de Lucas deslizaram, sem intenção — um arrepio atravessou ambos.
Ela levantou os olhos, encontrando os dele, e nesse instante, o mundo pareceu parar.
Por um breve segundo, a barreira entre eles ruiu. O silêncio gritou mais alto que qualquer palavra.
E então, como num reflexo, Lucas recuou, respirou fundo, e disse com voz firme, porém tensa:
— Clara… isso não pode acontecer.
Ela sorriu, triste e provocante, e respondeu baixinho:
— Eu sei… mas é difícil controlar.
O ar ficou denso, carregado de tudo que não foi dito, mas que agora pairava entre eles como uma chama prestes a incendiar.
E naquele momento, os dois entenderam que nada mais seria como antes.
Parte V - Capítulo: A Rendição
O toque acendeu uma faísca impossível de ignorar. Os olhos de Lucas e Clara se encontraram, carregados de tudo o que não tinham coragem de dizer em voz alta. Ele sentiu o calor crescer dentro do peito, uma mistura de excitação e cautela.
Sem que pudesse pensar direito, sua mão deslizou da lateral do braço para o antebraço dela, firme, mas cuidadosa. Clara não recuou. O corpo dela se aproximou um pouco mais, reduzindo a distância, quase eliminando o espaço que ainda os separava.
O silêncio se tornou um convite. A respiração dele acelerou. Ela mordeu levemente o lábio, uma confissão silenciosa de que também lutava contra o que sentia.
Por um instante, tudo que existia era aquele momento, a vibração entre os corpos, o som abafado da respiração.
Então, Lucas inclinou-se lentamente, sentindo o mundo se estreitar até o som do coração acelerar. Os lábios dela estavam tão perto que ele podia sentir o calor da pele dela.
O beijo veio, tímido no início, uma explosão contida que dizia mais do que mil palavras. Foi um toque suave, mas cheio de urgência e desejo.
Porém, a realidade bateu forte. Ele se afastou, os olhos presos nos dela, cheios de conflito.
— Clara… eu não posso — ele murmurou, a voz carregada de arrependimento e desejo.
Ela sorriu tristemente, tocando a face dele com uma mão leve.
— Eu também não deveria, mas… não consigo parar.
O beijo, ainda quente na memória, deixou os dois marcados — conscientes do que tinham entrelaçado ali, e do caminho complicado que teriam pela frente.
Parte VI - Capítulo: Confissões ao Entardecer
Depois daquele beijo roubado, um silêncio intenso pairava entre Lucas e Clara. Não era só o desejo que os consumia, mas o peso das escolhas, das vidas que levavam além daquele espaço confinado da academia.
Naquela tarde, após o treino, Clara convidou Lucas para tomar um café rápido no lounge do prédio — um momento fora do ambiente profissional, um espaço onde as máscaras começariam a cair.
Ela sentou-se com um suspiro, as mãos entrelaçadas no colo, olhando para o horizonte pela janela.
— Lucas... — começou, com a voz baixa, quase um sussurro — eu sou casada há muitos anos. Um casamento que, na superfície, parece sólido, duradouro. Mas por dentro... não sei. Às vezes me sinto presa, como se estivesse vivendo uma rotina que já não me preenche.
Lucas ouviu, atento, respeitoso. Sentiu a fragilidade nas palavras dela, a coragem para abrir essa porta tão íntima.
— Eu amo meu marido — continuou Clara — mas há tanto tempo a paixão se transformou em hábito. E agora, quando estou com você, sinto algo que não sinto em casa há anos. É confuso, doloroso, mas também... é real.
Ele olhou para ela, vendo além da mulher sedutora que conhecia na academia, a pessoa complexa, cheia de dúvidas e desejos que tentava entender.
— Clara — disse ele, com sinceridade — eu não quero ser a causa de sofrimento para você. Mas também não posso negar o que aconteceu entre nós. Acho que precisamos ser muito honestos um com o outro... e, principalmente, com nós mesmos.
Ela assentiu, o olhar marejado.
— Talvez essa seja a primeira vez em anos que me sinto viva — confessou — e isso me assusta tanto quanto me fascina.
Naquele momento, ali, entre o brilho suave do entardecer e o café esquecido na mesa, Lucas e Clara souberam que o que estava entre eles não era apenas desejo ou acaso — era um conflito de almas, e que o caminho pela frente seria cheio de escolhas difíceis.
Parte VII: Capítulo: Entre Dois Mundos
Clara sentava-se sozinha na varanda do apartamento, o vento leve brincando com as cortinas brancas, enquanto sua mente girava sem descanso.
De um lado, estava Lucas — jovem, intenso, o começo vibrante de uma carreira promissora. Havia algo nele que a fazia sentir viva, desejada, um frescor que há tempos não experimentava. Seu corpo respondia a ele como se cada toque despertasse uma chama escondida sob a rotina entorpecente.
Ele era a energia pulsante, o toque inesperado que sacudia suas certezas. Aquele homem ainda em construção profissional, cheio de sonhos e ansiedade, que a olhava com uma mistura de respeito e desejo — uma tentação tão fresca quanto proibida.
Mas do outro lado, havia seu marido. Um homem maduro, seguro, dono de uma vida construída com esforço e sucesso. Ele bancava suas luxúrias, a estabilidade do lar, o conforto que muitos invejariam. Era a base firme que sustentava seus dias, a segurança que lhe permitia viver sem sustos.
Ele não era um amante apaixonado, mas era a certeza, o pilar inabalável em meio à tempestade da vida. Com ele, Clara sabia o que esperar, tinha um porto seguro — ainda que a calmaria muitas vezes a deixasse com um vazio inquietante.
No silêncio daquela noite, Clara sentia as duas forças em conflito dentro de si — o jovem fogo de Lucas que despertava seus sentidos e a sólida proteção do marido que mantinha seu mundo no lugar.
Ela se perguntava, entre sussurros que só ela escutava: seria possível conciliar esses dois mundos? Ou teria que escolher um, sabendo que essa escolha marcaria sua vida para sempre?
E enquanto a brisa noturna acariciava seu rosto, Clara sabia que a resposta não viria fácil — nem rápida.
Parte VIII - Capítulo: O Encontro Clandestino
Clara olhou para o relógio mais uma vez. O coração batia mais rápido do que o habitual, e ela sabia que não era só a ansiedade pela proximidade de Lucas, mas pela situação em si. Algo fora do comum estava prestes a acontecer — um passo para fora da sua zona de conforto, um deslizar pela linha tênue entre o que era certo e o que ela desejava de verdade.
O lugar era discreto, afastado dos olhares curiosos. Um pequeno hotel charmoso na periferia da cidade, escolhido por ele, como se soubesse que era ali que eles poderiam se perder sem ninguém os encontrar. Um local onde o desejo pudesse se desenrolar sem medo de ser descoberto, mas com o peso da culpa pairando sobre as cabeças deles.
Quando ela entrou no quarto, o ar estava carregado. Lucas estava ali, esperando, seus olhos fixos nela, mas algo havia mudado. Ele a olhou com uma intensidade que ela não reconhecia. Não era só desejo — era uma mistura de medo, antecipação e uma sombra de arrependimento.
Clara se aproximou lentamente, sentindo o calor do corpo dele invadir seus pensamentos, as palavras que ela queria dizer presas na garganta. Não havia mais espaço para conversa — apenas o silêncio entre eles, que já dizia tudo.
Ela foi a primeira a quebrar a distância, tocando-lhe o peito com a ponta dos dedos, sentindo a respiração dele se acelerar à medida que ela avançava. O cheiro de sua pele, quente e inebriante, envolveu Clara como uma nuvem de pensamentos proibidos. Ele não se moveu, mas estava visivelmente tenso, quase à espera.
— Você tem certeza disso? — ele perguntou, a voz rouca, as palavras saindo de forma hesitante, como se a dúvida ainda estivesse ali, em cada sílaba.
Clara olhou em seus olhos, a ansiedade se misturando com a certeza de que não havia mais volta. Ela sabia o que queria, o que precisava.
— Nunca estive tão certa de algo na minha vida — ela respondeu, a voz baixa, mas firme.
Sem mais palavras, ela o puxou para mais perto, seus corpos se tocando de maneira tão suave que parecia impossível que os dois já não estivessem se perdendo um no outro há muito tempo.
O beijo aconteceu como uma tempestade silenciosa. Primeiro, suave, exploratório, como se estivessem testando o limite de um desejo proibido. Mas, aos poucos, a tensão entre eles cresceu, e o beijo se tornou urgente, selvagem. Os dedos de Clara se entrelaçaram no cabelo dele, puxando-o para ela com uma necessidade desesperada, como se ali, naquele quarto fechado, tudo o que ela não podia ser fora dali fosse liberado.
Ela sabia que estava quebrando algo dentro de si — a fidelidade que, por anos, havia mantido intacta. Mas o desejo de viver, de se sentir viva novamente, havia superado os limites da razão.
Lucas, apesar da resistência, a segurava com força, como se temesse que ela se afastasse, como se fosse possível que esse momento fosse interrompido por alguma coisa externa.
— Clara... — ele sussurrou, a respiração entrecortada. — Isso vai mudar tudo...
Ela o olhou, os olhos brilhando de desejo e também de algo que ele não conseguia entender completamente. Mas Clara já não se importava com as consequências. Tudo o que ela queria agora era aquele momento, aquele corpo, aquele beijo.
E sem mais palavras, os dois se entregaram àquela intensidade que os consumia, sabendo que, apesar do que acontecesse depois, nada poderia apagar o que acabara de acontecer.
Parte IX - Capítulo: O Charme de Roberto
Nos últimos dias, Clara começou a perceber algo que não sentia há muito tempo: uma leveza, uma energia quase nova em seu corpo, um brilho sutil em seu olhar que ela não lembrava de ter. Como se algo dentro dela tivesse sido despertado, tirando-a da rotina confortável, mas vazia, que vinha levando. A mudança não passou despercebida por Roberto.
Roberto, o marido de Clara, sempre foi o homem ao qual ela se entregou sem questionar. Um homem mais velho, mas ainda em ótima forma. Ele se cuidava. Seus cabelos grisalhos, cuidadosamente penteados para trás, davam-lhe um ar de autoridade e sofisticação. A barba bem aparada e os olhos penetrantes eram a marca registrada de um homem que, por mais maduro que fosse, ainda possuía um magnetismo que atraía olhares por onde passava.
Ele sempre se vestia impecavelmente — ternos sob medida, camisas de seda que realçavam sua figura imponente. Roberto gostava de dar a impressão de que sua vida estava em total controle. E, por muito tempo, ele esteve. Ele era um homem de negócios, de sucesso, e Clara era a esposa idealizada: elegante, discreta, que sabia como manter o lar. Ambos estavam naquilo que pareciam ser os melhores anos de suas vidas. Mas, há algum tempo, algo havia mudado. Clara, sem saber, estava começando a se afastar emocionalmente, e Roberto não entendia o motivo.
Foi numa noite qualquer que ele percebeu que a esposa estava diferente. Clara, que sempre foi contida, agora estava mais leve. O sorriso no rosto, mais frequente. Ela tinha uma energia que Roberto não via há tempos, como se algo a tivesse preenchido de novo. Mas ele não sabia o que era. Talvez ela tivesse se encontrado, talvez estivesse apenas mais feliz com a vida, mas o marido, de olhos afiados, notou a mudança. E isso despertou sua curiosidade.
— Clara — ele disse, com sua voz profunda e imponente, ao entrar na sala onde ela estava, ajustando sua gravata com precisão. — Posso te perguntar uma coisa?
Clara olhou para ele, ainda com aquele brilho no olhar, mas com uma leve apreensão. Não queria ser questionada, especialmente não sobre algo que ela ainda estava tentando entender dentro de si mesma. Ela se aproximou de Roberto e o tocou suavemente no peito, como uma forma de distraí-lo.
— Claro, querido — ela respondeu com um sorriso, tentando disfarçar a intensidade que ele despertava nela.
Mas Roberto não parecia tão fácil de ser desviado. Ele se aproximou mais, agora com um olhar fixo e penetrante, como quem tentava ler o que estava por trás da fachada de sua esposa.
— Eu percebi uma diferença em você, Clara. Tem algo... diferente. Você tem estado mais feliz. Mais... animada. Eu gosto disso — ele disse, seu tom quase provocador, sem deixar de ser sedutor.
Clara engoliu em seco, sentindo seu coração acelerar, mas tentou manter a compostura. Como poderia explicar que a felicidade que ele via em seus olhos não tinha nada a ver com ele, mas sim com alguém que ela nunca deveria ter se aproximado? Como poderia esconder o que se passava dentro dela, a atração por Lucas e a tentação que crescia dentro de seu peito? O que ele faria se soubesse?
Mas Roberto estava cada vez mais presente. O olhar dele não era mais o de um marido ausente, mas o de um homem que agora estava atento, atento a qualquer sinal de mudança. E Clara sentia o peso disso. Sabia que ele não iria deixar essa questão em aberto por muito tempo.
— Acho que estou apenas... redescobrindo algumas coisas em mim mesma — Clara respondeu, com uma voz suave, tentando desviar o foco da conversa.
Mas Roberto sorriu. Não o sorriso gentil e distante que ela costumava ver, mas aquele sorriso que indicava que ele sabia que algo estava acontecendo, mas estava disposto a esperar o momento certo para descobrir o quê.
— Isso é bom, Clara. Eu gosto dessa versão de você. — Ele passou a mão pelo cabelo grisalho, dando-lhe um ar ainda mais charmoso e dominador. — Só não se esqueça de que, por mais que você esteja se redescobrindo, você ainda é minha esposa.
Clara sentiu um arrepio. Havia algo na maneira como ele dizia isso. Era uma afirmação. Uma cobrança. Não havia dúvida na sua voz.
Ele se afastou, ajustando o paletó com precisão, e deu um último olhar para ela antes de sair da sala.
— Só lembre-se de que estou aqui, sempre que você precisar. — Sua voz estava baixa, mas carregada de significados implícitos.
Clara ficou ali, sozinha, sentindo o peso daquelas palavras. Era impossível não notar o magnetismo que Roberto ainda tinha sobre ela. O homem maduro, charmoso, que sempre soubera controlar tudo ao seu redor. Mas agora, ela não sabia se poderia manter o controle sobre si mesma. Ela estava dividida. Sua mente estava um caos de sentimentos conflitantes. E, no fundo, ela sabia que esse equilíbrio poderia estar prestes a se quebrar.
Parte X Capítulo: O Encontro de Destinos
A academia estava mais movimentada do que de costume naquela tarde. Lucas, imerso na rotina de atender seus alunos, mal percebeu a entrada de um homem que se destacou na multidão. Roberto entrou com sua postura imponente, vestindo um terno elegante, mas claramente desconfortável com a ideia de estar ali, em um ambiente tão informal, com pessoas suadas e se esforçando para alcançar seus objetivos.
Roberto sempre fora alguém acostumado a ambientes controlados, com a sua vida profissional moldada por reuniões importantes e negociações de alto nível. No entanto, algo em sua vida tinha mudado nos últimos tempos. Talvez fosse a percepção de que ele estava ficando mais velho, ou talvez fosse o desejo de recuperar o controle sobre algo que ele sentia estar escapando — sua saúde, sua energia, até mesmo o vigor que o tornava tão atraente aos olhos de Clara.
Ele nunca se imaginou entrando em uma academia como aluno, mas sabia que precisava disso. E, ao fazer isso, ao se entregar à rotina de exercícios, ele esperava reacender algo dentro de si — uma força, um poder. O que ele não sabia era que, naquele momento, ele estava prestes a cruzar o caminho de alguém muito mais importante do que imaginava.
Lucas o observou se aproximando, analisando sua postura rígida e o olhar determinado. Não sabia quem ele era, mas algo no homem exalava confiança. Com um sorriso educado, Lucas foi até ele.
— Boa tarde. Está em busca de algo específico hoje ou prefere que eu monte uma rotina para você? — Lucas perguntou, tentando ser simpático e acessível, como sempre fazia com seus alunos.
Roberto olhou para ele, avaliando o jovem. A postura de Lucas era descontraída, mas havia algo nele que despertava o interesse de Roberto. Talvez fosse o modo como ele se movimentava, a confiança com que falava. Era claro que o rapaz sabia o que estava fazendo, e isso agradava Roberto.
— Eu gostaria de trabalhar mais a parte cardiovascular, talvez algo para melhorar minha resistência. — Roberto respondeu, com uma voz firme, mas com um leve sorriso, que mostrava que ele estava começando a se sentir mais confortável.
Lucas assentiu, e os dois começaram a conversar sobre o plano de treino. Durante a conversa, Lucas mencionou que Roberto não parecia ser o tipo de pessoa que frequentemente frequenta a academia, o que fez Roberto se sentir um pouco desconfortável, mas ele rapidamente disfarçou.
— Eu estou começando agora, como pode ver — Roberto disse, com um sorriso que misturava uma pitada de humor com o ego de quem sabia que ainda possuía algo que não se perdia com o tempo: a autoridade.
O treino começou, e Lucas guiava Roberto pelos exercícios. A tensão no ar era palpável, mas não no sentido tradicional. Enquanto Lucas se concentrava no treino de seu aluno, Roberto, por outro lado, não podia deixar de observar o jovem. Havia algo fascinante nele, algo que o atraía, mas ele não conseguia identificar o quê.
A cada exercício, Roberto sentia-se mais à vontade, mas também mais vulnerável. Ele estava ali, exposto de maneiras que não estava acostumado. Por mais que ele fosse forte e imponente, as instruções de Lucas o faziam sentir-se como alguém começando do zero. E, em algum lugar no fundo de sua mente, ele sentia que isso era necessário — se ele queria recuperar sua energia, se queria sentir-se jovem novamente, precisava se entregar àquela nova experiência.
Por outro lado, Lucas, com sua habilidade natural de ler as pessoas, notava que Roberto estava começando a relaxar aos poucos. Algo sobre ele parecia não ser apenas físico, mas emocional também. Ele não sabia o que estava acontecendo com o homem à sua frente, mas havia um magnetismo ali, algo que tornava tudo mais interessante.
Durante a pausa no treino, Roberto se deixou cair em um banco próximo, limpando o suor da testa, ainda com a camisa perfeitamente alinhada, apesar dos esforços. Ele olhou para Lucas, agora com um sorriso mais sincero.
— Sabe... eu não costumo me expor assim. Nunca imaginei que precisaria de ajuda. — Roberto comentou, com um tom de leve confissão.
Lucas sorriu, um pouco surpreso com a vulnerabilidade que Roberto mostrava, mas, ao mesmo tempo, isso o fazia sentir-se mais próximo dele. Não era todo dia que alguém com tanto poder e autoridade se abria dessa maneira.
— Todo mundo precisa de uma ajuda de vez em quando — respondeu Lucas, com a empatia natural que o tornava tão querido entre seus alunos.
Enquanto o treino seguia, algo mais estava se formando ali. Um novo tipo de conexão. Um vínculo profissional, é claro, mas carregado de uma tensão não dita. Lucas não sabia, mas Roberto estava começando a nutrir uma curiosidade sobre o jovem. Ele se perguntava se Lucas sabia quem ele era, ou o que ele representava. Roberto, por sua vez, também não sabia que estava sendo guiado pelo mesmo homem que, até aquele momento, era apenas uma figura distante na vida de sua esposa.
Parte XI – Capítulo: Dois Mundos, Um Corpo Só
A academia do prédio estava silenciosa naquela tarde. O sol entrava pelas janelas amplas, desenhando feixes dourados que cortavam o ar, e Clara já estava lá, com o cabelo preso num coque baixo e a pele levemente brilhante de suor. Lucas chegou em seguida, os olhos buscando os dela como quem procura algo perdido.
— Pronta? — perguntou ele, com um sorriso contido.
— Sempre — respondeu ela, com aquele tom que só ele reconhecia por trás da formalidade.
Os movimentos começaram suaves: alongamentos, respiração controlada, foco. Aos olhos de qualquer um, eram apenas professor e aluna em plena harmonia. Mas entre os toques técnicos e as correções de postura, havia algo mais. O calor dos corpos que se lembravam, o eco do que tinham vivido no quarto de hotel.
Em determinado momento, enquanto Clara mantinha a postura de prancha, Lucas se aproximou para corrigir o alinhamento da coluna. Seus dedos deslizaram pelas costas dela com precisão, mas Clara sentiu o arrepio — e soube que ele também sentiu.
— Hoje... — ele murmurou, baixo, quase sem voz — queria te ver de novo. Fora daqui. Como da última vez.
Clara sustentou a posição por mais alguns segundos, depois se levantou, ofegante. Os olhos nos dele. Não havia hesitação, só desejo contido.
— Me diga onde e quando — sussurrou, sem desviar o olhar.
Lucas assentiu com um meio sorriso, e ela voltou ao treino como se nada tivesse acontecido. Mas o corpo dela já não respondia com o mesmo foco. Estava em chamas.
A segunda noite foi mais intensa. Diferente da primeira, onde tudo era medo e urgência, agora havia familiaridade. Clara se entregou ao toque de Lucas com a consciência de quem sabe que está cruzando a linha — e escolhe cruzá-la mesmo assim. Foram horas onde o tempo se dissolveu. E quando ela saiu dali, o coração estava leve, mas a mente em conflito.
Já em casa, Clara caminhou em silêncio até o banheiro. Ligou o chuveiro quente, deixou que a água caísse por entre os ombros cansados. Estava exausta, mas viva. Aquela sensação que Lucas despertava ainda vibrava em sua pele.
Foi então que a porta do banheiro se abriu devagar.
— Clara? — a voz grave de Roberto ecoou no vapor quente.
Ela se virou, surpresa.
— Chegou cedo...
— Senti saudade — ele disse simplesmente, começando a tirar a camisa.
Ela tentou sorrir. O medo passou como uma sombra por trás dos olhos. Mas quando ele entrou no box com ela, envolvendo-a num abraço úmido e quente, o choque foi emocional. Roberto a beijou com calma, com ternura. Como há tempos não fazia.
E então, ali, naquele banho íntimo e inesperado, os dois se conectaram de um jeito que Clara não esperava mais. Ela se permitiu sentir. Se entregou àquele carinho antigo, quase esquecido. Mas dentro dela, uma frase martelava com força:
"Só não se esqueça de que você ainda é minha esposa."
Quando saíram do banho, Clara vestiu o roupão e, sentada na cama, tomou uma decisão impulsiva — ou seria desesperada?
— Vamos viajar, Roberto. Só nós dois. Um lugar longe... sem trabalho, sem obrigações. Acho que precisamos disso. Como casal.
Ele a observou por alguns segundos. Sorriu, genuinamente.
— Está falando sério?
— Estou. Preciso disso. Preciso de você.
Ele se aproximou, beijou sua testa, e sussurrou:
— Então vamos. Só diga o dia.
Parte XII - Capítulo: O Vazio do Outro Lado
No dia seguinte, Lucas estava mais leve. Depois da noite com Clara, sentia-se... seguro. A presença dela ainda vibrava em seus pensamentos. Chegou à academia confiante, os olhos a procurando como sempre fazia.
Mas Clara não veio.
Nem naquele dia. Nem no seguinte.
Lucas mandou uma mensagem:
"Tudo bem por aí? Aula hoje?"
Nenhuma resposta.
Tentou de novo no outro dia:
"Estou aqui se precisar de mim. Fiquei preocupado."
Visualizado. Silêncio.
A inquietação crescia. Será que ele havia passado dos limites? Será que ela se arrependeu? Será que Roberto descobriu?
Lucas olhava para o celular como se fosse um inimigo. A ausência de Clara deixava nele uma marca fria, como se um espaço tivesse sido aberto — e agora nada o preenchesse.
Ele voltou a treinar, a trabalhar, mas o coração estava ausente. E cada notificação que surgia fazia o estômago revirar com uma esperança vã.
E ele, que até pouco tempo se achava no controle, agora descobria que talvez estivesse só... mais um dos que se perdem ao desejar o que não lhes pertence.
Parte XIII - Capítulo: Caminhos Cruzados
A academia estava vazia naquela manhã de quinta-feira. O som baixo da playlist instrumental preenchia o ambiente com uma tranquilidade quase anestésica. Lucas ajeitava alguns equipamentos, revisando a ficha de um aluno ausente, quando a porta de vidro se abriu silenciosamente.
Ele olhou para o lado, e lá estava Roberto.
— Olha só quem resolveu aparecer... — disse Lucas, com um sorriso enviesado. — Pensei que tivesse desistido. Ou fugido.
Roberto retribuiu o sorriso, mas o olhar ainda carregava um traço de cansaço. Não parecia o mesmo homem que Lucas havia conhecido rapidamente antes.
— Quase — respondeu. — Mas achei que te devia ao menos mais uma tentativa.
— Generoso da sua parte. Vai me dar a chance de te convencer que treinar pode ser menos tortura e mais terapia?
Roberto deu uma risada curta, balançando a cabeça. Lucas aproveitou a deixa e pegou a ficha antiga dele.
— Alguma mudança nos últimos dias? Dor, lesão, arrependimento?
— Só no ego — respondeu Roberto, seco. — Mas isso não se resolve com alongamento, né?
Lucas ergueu uma sobrancelha, surpreso com a resposta mais ácida. Interessante.
— Não, mas endorfina ajuda — disse, começando a ajustar os pesos.
O treino correu em silêncio por alguns minutos. Lucas era profissional, discreto, mas observador. Percebeu a rigidez nos ombros de Roberto, o modo como ele olhava fixamente para o nada entre um exercício e outro, como se estivesse sempre resolvendo alguma equação impossível dentro da própria cabeça.
— Você parece tenso. — Lucas comentou casualmente, pegando o cronômetro. — Tá com a cabeça onde?
— Em lugar nenhum... e em todo lugar. — Roberto respondeu, encarando o espelho à frente. — Acho que tô tentando me reencontrar. Começar de novo.
Lucas assentiu, sem invadir. Era um tipo de resposta que vinha carregada de camadas — e ele respeitava isso.
— Então começa por aqui. Corpo vai na frente. A cabeça segue depois.
Roberto olhou para ele por um segundo mais longo do que o necessário. Havia algo no modo como Lucas dizia as coisas — simples, mas com uma sinceridade desarmante. Era diferente. Leve, mas não superficial. Verdadeiro.
Lucas apenas sorriu de volta, voltando ao treino, como se não tivesse notado aquele silêncio flutuante entre os dois. Mas notou.
Ao final da sessão, Roberto passou a toalha pelo rosto, ainda suando, mas visivelmente mais calmo.
— Valeu pelo treino.
— Sempre que quiser — Lucas respondeu. — Inclusive... tenta não sumir dessa vez.
— Prometo tentar.
Eles trocaram um aperto de mão firme, mas mais demorado que o comum. Quando Roberto saiu, Lucas ficou parado por um instante, olhando para a porta que se fechava lentamente.
Tinha alguma coisa naquele homem. Algo que ele ainda não sabia, mas queria descobrir.
Parte XIV – Capítulo: Entre Dois Mundos
A mala ainda estava encostada no canto do quarto, meio aberta, com roupas dobradas às pressas. Clara acabara de sair do banho. O vapor ainda tomava conta do espelho do banheiro, e a toalha pendurada em seu corpo escorria lentamente pela pele. Sentou-se na beirada da cama, o celular em mãos. Respirou fundo antes de desbloquear a tela.
Uma notificação piscava no topo: Lucas.
"Sumida... tá tudo bem? Espero que sim. A academia sente sua falta e digo que eu também rs.... Quando volta?"
Ela ficou um tempo olhando para aquelas palavras. Simples. Gentis. Mas com algo a mais por trás — ela sabia disso. Ainda sentia.
Foram dias fora, distante da rotina e da confusão. E o que viveu com Roberto durante a viagem foi, de certa forma, redentor. Eles riram. Conversaram de verdade. Fizeram amor como há muito tempo não faziam — com tempo, com olhar, com toque. Era como se o passado tivesse, por um breve instante, voltado para ela.
Mas agora que estava de volta, a realidade parecia mais crua. Clara sentia-se dividida entre dois mundos: o da segurança e o do desejo; o do lar e o do impulso. Dois homens, duas versões de si mesma.
Ela respirou fundo e começou a digitar, sem apagar, sem planejar demais. Deixou o coração guiar os dedos.
"Oi, Lucas... Tudo bem, sim. Desculpa o sumiço. Foram dias bem cheios desde que voltei. Coisas da casa, compromissos pessoais... cabeça cheia também. Mas nada grave, só precisei de um tempo."
"Senti falta dos treinos — e de você também. Quero muito retomar o quanto antes. Você tem horário pra mim ainda essa semana?"
"Obrigada por ter lembrado. Isso... significa mais do que você imagina."
Leu mais uma vez. Sentiu um leve nó na garganta. Estava sendo honesta, mas não sabia se estava sendo justa.
Com Lucas. Com Roberto. Com ela mesma.
Clicou em "enviar".
Deitou-se na cama, deixando o celular ao lado. O ventilador girava preguiçoso no teto, lançando sombras suaves pelas paredes. E ali, naquela meia-luz, sozinha com os próprios pensamentos, Clara não sabia ao certo o que sentia.
Parte XV Capítulo — Mar de Lembranças
O som ritmado das ondas quebrando na areia ainda ecoava na mente de Clara, como se sua pele carregasse o sal da brisa e o calor do sol. O quarto do hotel era amplo, com uma varanda de frente para o mar, e um perfume suave de frutas tropicais pairava no ar, misturado ao cheiro do protetor solar recém-passado por Roberto em suas costas.
Ela lembrava do toque dele — lento, cuidadoso, quase reverente.
— Está diferente, sabia? — ele dissera, enquanto os dedos traçavam seu ombro nu com carinho.
— Diferente como? — ela provocara, com um leve sorriso.
— Mais viva. Mais... mulher. Como se estivesse mais segura de si. Gosto disso.
Aquelas palavras ainda martelavam sua cabeça dias depois, porque ela sabia o motivo por trás daquela mudança. Mas ali, naquele instante, ela apenas virou o rosto para ele e o beijou.
A noite caiu rápida na praia. Na varanda, uma garrafa de vinho quase vazia e dois corpos entrelaçados sob um lençol amassado. A pele de Clara ainda ardia em desejo, o corpo ainda vibrava das mãos de Roberto explorando-a com uma paixão que há muito tempo parecia esquecida.
Ele a olhava diferente agora. Queria desvendar cada parte dela como se fosse nova — e em certa medida, era. Porque Clara, naquela viagem, não era a mesma mulher que ele deixava todas as manhãs em casa. Ela estava mais entregue, mais intensa.
— Senti sua falta, Clara. — ele disse, sussurrando, os dedos brincando com uma mecha do seu cabelo.
Ela fechou os olhos. Queria acreditar. Queria sentir o mesmo com a mesma força.
Fizeram amor outra vez naquela noite, e depois mais uma vez, na madrugada quente, quando ela acordou suada e inquieta, e ele a puxou de volta para os braços. Tudo era tão físico, tão visceral. Como se os corpos buscassem compensar os silêncios, os anos, os dias de rotina que os afastaram.
E por um momento — talvez longo demais — Clara acreditou que ainda havia chance. Que aquilo tudo poderia ser suficiente.
Mas mesmo entre beijos, mesmo nos gemidos abafados no travesseiro, havia algo que não calava dentro dela.
Era como se o corpo dissesse sim, mas a mente não parasse de perguntar: e se isso tudo for só o eco do que já fomos?
Ou pior: e se o que vivi com Lucas tiver acordado em mim uma versão que Roberto nunca conheceu?
Quando finalmente voltou a treinar, a clareza não estava em seus movimentos, mas na ausência deles — na distância que involuntariamente colocou entre ela e o mundo, inclusive Lucas.
Lucas percebeu essa mudança desde o instante em que a viu. Não foi apenas a ausência nas sessões que o inquietou, mas algo mais profundo, uma sombra sutil no olhar dela, uma reserva na postura que antes era tão aberta.
Durante o treino, ele a observava em silêncio, tentando decifrar os pensamentos que pareciam mantê-la presa. Não queria invadir aquele espaço, mas a preocupação crescia como um nó no peito.
— Tudo bem, Clara? — perguntou numa pausa, a voz calma, sem pressa.
Ela desviou o olhar, por um momento sem saber o que dizer.
— Estou... apenas precisando de um tempo — respondeu, hesitante.
Lucas sentiu algo mexer dentro dele. Não era só o compromisso profissional ou a responsabilidade como personal trainer. Era algo mais.
“Será que o que estamos vivendo vai além do treino? Será que eu consigo lidar com isso sem estragar tudo?” — pensou, contendo o impulso de ser invasivo.
Ele sorriu, um sorriso leve, tentando transmitir confiança.
— O tempo que precisar, Clara. Estou aqui.
E naquele instante, entre as palavras simples e o silêncio que se seguiu, Lucas percebeu que a conexão entre eles era mais complexa do que imaginava — um misto de cuidado, atração e respeito que só começava a entender.
Parte XVI – Capítulo: Presenças Invisíveis
Lucas percebeu que a conexão com Clara era mais complexa do que imaginava. Não era só química. Era algo silencioso e fundo, como correnteza sob superfície calma. E, paradoxalmente, era isso que mais o inquietava.
O expediente terminara, o último aluno saíra, e o eco suave da playlist instrumental ainda pairava pela academia, agora quase vazia. A rotina fora puxada, mas o que pesava mesmo era a mente — cheia de interrogações que nem ele sabia onde guardar.
Resolveu tomar uma ducha antes de ir para casa. Entrou no vestiário já despindo a camiseta suada, depois o restante das roupas, num gesto automático de quem conhece o próprio corpo e o espaço ao redor.
Sob o chuveiro, a água quente caiu como anestesia. Lucas fechou os olhos, deixando os ombros cederem. Cada gota parecia lavar não só o suor, mas as lembranças — o olhar perdido de Clara, a distância involuntária que ela colocava entre eles, como se tentasse não sentir o que ambos sabiam que existia.
Pensou se ela havia voltado para algo que fazia mais sentido. Talvez tivesse percebido que o que houve entre eles fora apenas um desvio emocional. Um ponto fora da curva.
Suspirou.
Foi então que percebeu, por entre o barulho da água e o vapor espesso, a porta do vestiário se abrindo.
Passos lentos, seguros. Um leve tilintar de cabide, tecido sendo dobrado com esmero. Lucas não olhou de imediato, mas sentiu a presença. Quando se virou discretamente, enxergou por entre o vapor a silhueta já conhecida.
Roberto.
Um homem de presença. Postura elegante mesmo sem o terno agora cuidadosamente acomodado sobre o banco. O corpo bem cuidado, marcado pelo tempo com orgulho, não com vergonha.
Lucas se lembrou de tê-lo treinado. Poucas sessões, mas marcantes. Era reservado, quase inacessível — e havia algo nos olhos dele, sempre, que Lucas não conseguia decifrar.
Agora, ali, o momento era outro.
Roberto o viu também. Parou por um segundo. Olhos fixos.
Lucas, ainda nu sob a água, sustentou o olhar. Não havia provocação. Mas também não havia pressa em cobrir-se.
— Tarde para treino, não? — perguntou Lucas, enxugando o rosto com as mãos.
— É quando a mente cala, e o corpo fala — respondeu Roberto, tirando lentamente a camisa. A pele à mostra revelava cicatrizes discretas, histórias que o tempo tatuara sem tinta.
Lucas notou o modo como os olhos dele vagaram por seu corpo por mais de um segundo. Não era invasivo. Mas era presente.
— Lembro de você. Fez umas sessões comigo, não foi? — continuou Lucas, puxando a toalha devagar, como quem retoma o controle.
— Lembro, sim. Você... tem um jeito direto, mas tranquilo. Difícil esquecer — respondeu Roberto, agora de frente ao armário, desabotoando o cinto com calma.
Lucas sentiu uma vibração estranha passar pela espinha. Não de ameaça. De algo indefinido. Curiosidade, talvez. Reconhecimento. Ecos de algo não nomeado.
O vestiário estava só para os dois. O vapor fazia o resto: borrava as bordas da realidade, deixava o momento suspenso no ar.
— Voltou com tudo? — perguntou Lucas, tentando manter a conversa casual, mas a voz saiu mais baixa do que queria.
— Tentando. Às vezes, recomeçar é mais sobre o corpo lembrar quem somos do que a cabeça aceitar. — Roberto respondeu, agora vestindo uma bermuda de treino, mas ainda sem camiseta. O peito largo e os ombros firmes contrastavam com a suavidade de sua voz.
Lucas, já parcialmente vestido, passou a toalha pelos cabelos molhados. Observava com o canto dos olhos, sem admitir.
— Bom te ver de volta. Se precisar de ajuda, sabe onde me encontrar.
Roberto sorriu, um sorriso contido, mas com peso.
— Sei, sim. E talvez precise.
Antes de sair do vestiário, Lucas olhou mais uma vez. Havia algo ali que não existira nas sessões anteriores. Algo que não vinha do treino. Não sabia o que era. Mas sentiu.
Quando deixou o vestiário, o ar da noite pareceu mais frio no contraste com o calor daquele encontro.
No fundo, algo em Lucas sussurrava que aquele reencontro com Roberto não era aleatório. Era uma porta. Ele só não sabia ainda para onde ela levava — e o pior: nem com quem.
Parte XVII – Capítulo: Trocas Silenciosas
As semanas passaram como passam as coisas que não têm pressa de acabar — lentamente, deixando rastros.
Lucas já havia aceitado que o que teve com Clara não passou de algo casual. Um instante fora do tempo, intenso, mas fugaz. Ela não o buscava mais com a mesma frequência para as sessões particulares, e quando vinha, não era mais a mesma.
Chegava com uma amiga, malhava na academia Gaviões — e, às vezes, cruzava o salão com um aceno cordial. Um “oi” educado, um sorriso profissional. Sem demora, sem olhar demorado, sem assunto além do necessário.
Lucas também se adequou. Começou a tratá-la como tratava os outros alunos: com competência, respeito... e distância.
Os toques nos ajustes de postura, antes sutis e naturais, agora eram evitados. Os olhares, antes carregados de intenção, passaram a se desencontrar, como se ambos tivessem combinado, em silêncio, de não mais se reconhecer da forma como já haviam sido.
Mas por trás dessa nova frieza havia outra presença que insistia em surgir nos pensamentos de Lucas: Roberto.
O aluno discreto, de fala calma e modos refinados. O homem que ele já havia visto na forma mais despida, não só no corpo, mas no modo como seus olhos o observavam — como se vissem algo que Lucas ainda tentava esconder até de si mesmo.
Roberto não era frequente nos treinos. Aparecia em dias espaçados, quase aleatórios, como se sua rotina não se deixasse prender a agendas. Mas quando vinha, Lucas sentia.
Eles raramente se cruzavam no treino em si. Era sempre nos bastidores — na troca de horários, nos corredores, nas portas do vestiário.
Certa tarde, Lucas saía do banho, cabelo ainda úmido, camiseta justa colada ao corpo pela pressa de vestir-se enquanto a pele ainda evaporava calor. Estava guardando a mochila no armário quando ouviu a voz conhecida atrás de si.
— Está fugindo de mim, né, professor?
Lucas virou-se. E lá estava Roberto, com aquele sorriso que nunca era escancarado, mas sempre tinha algo escondido — charme ou perigo, ele ainda não sabia.
— Não exatamente — respondeu Lucas, desconcertado apenas por dentro. — A gente só tem horários diferentes.
Roberto inclinou a cabeça levemente, como quem analisa algo mais profundo na resposta.
— Sorte minha ou sua?
Lucas riu, curto, ajeitando a alça da mochila no ombro.
— Acho que sua. Já viu meus treinos, não facilito pra ninguém.
— Ah, eu lembro. Você me fazia suar mais do que o necessário — disse Roberto, agora já vestindo a camiseta seca, os olhos ainda fixos em Lucas. — Mas confesso que gostava. Tinha... precisão. Um certo tipo de prazer na dor, entende?
Lucas prendeu o ar por um segundo. Entendia. E o modo como Roberto dizia aquelas palavras tinha um peso que ia além do treino.
— Se quiser voltar, posso montar algo novo pra você — disse ele, num tom neutro. Mas seus olhos diziam outra coisa.
Roberto sorriu, quase de lado.
— Quem sabe. Um dia desses. Quando eu sentir que estou pronto de novo pra... me entregar.
A frase pairou no ar como um sussurro quente entre duas respirações. Lucas assentiu, engolindo em seco, sem conseguir soltar a resposta que estava na garganta.
Saiu do vestiário com passos lentos, sentindo o calor subir pela nuca.
O cheiro do sabonete ainda impregnava a pele. O corpo estava limpo. Mas a mente, não.
E pela primeira vez, ele percebeu: o que mexia com ele agora não era mais a ausência de Clara... mas a presença de Roberto.
Parte XVIII – Capítulo: Desafios Inesperados
O ar estava mais quente do que o habitual naquela tarde. A academia estava razoavelmente cheia, mas, apesar do movimento, Lucas se sentia isolado, em uma bolha que parecia afastá-lo do mundo à sua volta.
Roberto vinha treinando de maneira mais regular ultimamente, mas, ao contrário de outros alunos, não procurava Lucas para um acompanhamento formal. Ele chegava, cumprimentava com um sorriso educado e seguia sua rotina. Mas, mesmo assim, Lucas não conseguia deixar de reparar nele. Não era apenas a aparência que chamava sua atenção, mas a maneira como Roberto se comportava, a forma como o olhava de vez em quando, como se quisesse dizer algo, mas não se atrevia.
Naquela tarde, os dois se encontraram novamente na área de pesos, uma das partes mais movimentadas da academia. Lucas estava ajudando um aluno a ajustar a postura em um exercício, quando notou que Roberto estava ali, observando com um olhar fixo no movimento. A forma como Roberto olhava para o corpo de Lucas, analisando cada gesto, fez com que uma sensação estranha percorresse sua espinha. Eles estavam cada vez mais próximos, mas, por alguma razão, ninguém parecia querer quebrar o silêncio que se formava entre eles.
Roberto, finalmente, se aproximou, com a mão nas costas, como se estivesse tentando relaxar a tensão muscular de um treino intenso.
— Eu ainda não agradeci o último treino. — disse ele, com a voz grave e calma, mas havia algo a mais nela. Algo que Lucas não conseguiu identificar de imediato.
— Não precisa — respondeu Lucas, tentando manter a formalidade. — Você tem sido um aluno dedicado. Só não se esqueça de fazer os exercícios de alongamento corretamente. É fácil se empolgar com os pesos e esquecer de cuidar do corpo.
Roberto sorriu, a expressão tranquila, mas com um toque de desafio. Ele sabia que Lucas estava tentando manter a distância, mas ele não se importava. De alguma forma, ele estava intrigado, como se algo o atraísse naquela figura calma e controlada.
— Eu sei... você é bom em dar ordens. — Roberto disse, a leve provocação nas palavras.
Lucas o olhou, tentando decifrar o que ele queria dizer com aquilo, mas antes que pudesse responder, Roberto deu um passo à frente, mais perto dele do que o necessário. O cheiro do suor de Roberto, misturado com o aroma de um perfume importado em tom amadeirado, preencheu o espaço entre eles, criando uma sensação de proximidade quase palpável. Lucas sentiu seu corpo se tensar, sem saber ao certo o que fazer com a crescente tensão no ar.
— Você tem um jeito de me deixar desconfortável, professor. — Roberto continuou, a voz baixa, como se fosse um segredo entre os dois. — Mas, de certa forma, eu gosto disso.
Lucas sentiu o impacto das palavras como um choque. Não foi apenas o conteúdo da frase, mas o tom. Algo havia mudado. A leve provocação, a maneira como Roberto olhou para ele, fez com que Lucas respirasse fundo. O treino estava longe de ser uma simples troca profissional. Eles estavam ali, quase sem querer, criando uma conexão que ia além da academia.
— Eu não estou tentando te desconfortar. — Lucas respondeu, ainda tentando manter a compostura. Mas, no fundo, ele sabia que a presença de Roberto começava a afetá-lo de uma forma que ele não estava preparado para entender.
— Não sei... — Roberto se aproximou um pouco mais, sua voz quase um sussurro. — A cada treino, parece que você tenta se distanciar, mas... talvez, no fundo, seja você quem se sente desconfortável com isso.
O silêncio entre os dois cresceu. Não era mais o silêncio casual que existia entre treinador e aluno. Era algo mais denso, mais carregado. Lucas olhou para Roberto, com um misto de confusão e curiosidade. Ele nunca havia percebido antes o quanto estava sendo desafiado, e de uma maneira tão sutil.
O que Roberto estava dizendo? Era apenas uma provocação, ou havia mais entre os dois do que simples tensão física?
— Eu não estou... — Lucas começou, mas a voz falhou, e ele teve que se calar. O que ele ia dizer? Que não queria mais esse tipo de proximidade? Que a linha entre o profissional e o pessoal estava ficando cada vez mais embaçada?
Mas Roberto não deu tempo para respostas. Ele se afastou ligeiramente, ainda com o sorriso enigmático no rosto. Ele sabia que havia lançado a dúvida, e isso era tudo o que ele queria. Não havia pressa, não havia pressão. Ele sabia que Lucas ia morder a isca, eventualmente.
— Acho que eu vou seguir com o meu treino. — Roberto disse, jogando um olhar de desafio para Lucas, antes de se afastar.
Lucas ficou parado, olhando para ele, sem saber o que fazer com o turbilhão de emoções que começava a tomar conta de si. Roberto não era apenas um aluno. Ele era algo mais, algo que ele não conseguia entender ainda. Algo que o atraía e o desconcertava ao mesmo tempo.
E, pela primeira vez, Lucas percebeu que talvez estivesse sendo puxado para algo que ele não conseguia controlar.
Parte XIX – Capítulo: Sombras do Passado: A História de Roberto
Roberto cresceu em uma cidade pequena, onde seu charme e boa aparência logo o tornaram o centro das atenções. Alto, musculoso, com um sorriso sedutor e um olhar que deixava as mulheres sem palavras, ele sabia o que tinha e sabia como usar. Desde a adolescência, não havia mulher que resistisse ao seu jeito confiante e à sua beleza física. E ele sabia disso.
Ele era o tipo de jovem que arrastava multidões, o garanhão da escola, o que fazia todos os olhos se voltarem para ele, tanto no campo de futebol quanto nas festas de final de semana. Era o tipo de garoto que se orgulhava de colecionar histórias e corações partidos, sem nunca se apegar a nada ou a ninguém. Suas relações eram efêmeras, feitas de encantos rápidos e promessas vazias. Ele era, sem sombra de dúvida, o rei da sua cidade natal.
Mas atrás desse exterior tão bem trabalhado, existia uma solidão que Roberto sempre preferiu ignorar. Ele nunca se sentiu completamente à vontade em seu próprio mundo, como se estivesse sempre à margem de algo que não compreendia totalmente. Talvez fosse o peso das expectativas, talvez fosse o medo de se mostrar vulnerável. Ou talvez fosse a própria necessidade de ser perfeito para os outros, o que o fazia se esconder atrás de uma imagem que não refletia o que realmente sentia.
Foi durante seu primeiro ano na faculdade de Administração que algo inesperado aconteceu. Roberto, ainda cheio de si, teve que lidar com algo que nunca imaginou: a necessidade de aprender algo para o qual não estava naturalmente inclinado. O inglês. Por mais que fosse bom com números, com negócios, ele não conseguia escapar da obrigação de aprender a língua. Não que tivesse dificuldades, mas era um desafio para ele, que sempre gostou de dominar tudo ao seu redor.
Foi então que ele conheceu Inácio. O professor de inglês.
Inácio era mais velho, sete anos à frente de Roberto, mas tinha algo que o jovem não pôde ignorar: uma aura de experiência. Ele não era o tipo de professor rígido, nem o tipo que seguia as regras tradicionais da academia. Ele era carismático, despreocupado, e possuía uma visão de mundo que encantava qualquer um que estivesse disposto a ouvir. Ele já havia vivido mais do que a maioria das pessoas da idade de Roberto, e suas histórias sobre viagens, culturas diferentes e experiências de vida o tornaram irresistível.
O que Roberto não sabia era que Inácio tinha um segredo ainda mais profundo. Ele estava casado com outro homem, um professor da própria faculdade de Roberto, com quem dividia uma vida fora dos holofotes. O casamento de Inácio, assim como sua relação com Roberto, era uma dança de segredos bem guardados, escondidos sob camadas de sorrisos e olhares furtivos.
Quando Roberto se aproximou de Inácio, não foi apenas pela necessidade de aprender inglês. Havia algo ali que ele nunca tinha experimentado antes. A forma como Inácio olhava para ele, com interesse genuíno, não por sua aparência, mas por algo que estava por trás dela, despertou algo dentro de Roberto. Algo que ele nunca soubera que existia. Curiosidade. Fascínio. E, talvez pela primeira vez na vida, desejo por algo além da superfície.
Durante as aulas, os dois começaram a se aproximar. As conversas se tornaram mais pessoais, mais íntimas, sem nunca ultrapassarem um limite claro. Inácio, com a paciência de quem já havia vivido mais, sentia que Roberto era alguém em busca de algo maior do que o que ele já conhecia. E Roberto, por sua vez, sentia que estava sendo guiado por alguém que sabia o que estava fazendo, alguém que não estava tentando conquistá-lo pela aparência, mas pela mente.
Em um desses encontros mais privados, depois de uma aula particularmente intensa, Roberto finalmente cedeu à tentação. Um beijo. Um toque. Algo que ele não tinha planejado, mas que parecia tão inevitável quanto o curso de um rio. Foi breve, mas intenso, e deixou ambos em silêncio por alguns segundos, absorvendo o peso do momento. Roberto não sabia o que sentia. O que ele soubera até então era o desejo pela mulher, pela beleza, pelo efêmero. Mas aquilo... aquilo era diferente.
Aconteceu mais uma vez, logo depois. Mais encontros furtivos, mais beijos, mais toques, mais palavras que se trocavam em sussurros. Até que, em uma noite, quando o calor da intimidade parecia ter queimado todas as barreiras, Roberto soubera que o professor Inácio, o homem que ele estava começando a admirar, estava casado com o outro professor da faculdade. Algo dentro dele gelou. O que estava acontecendo? Ele estava se apaixonando por alguém que já estava comprometido? Um homem? Ele, um garoto heterossexual, estava experimentando algo que jamais imaginara. A descoberta de sua própria sexualidade, algo que ele nunca havia dado espaço para explorar.
Mas aquilo não durou. Roberto rapidamente cortou a relação. Ele se afastou, talvez por medo, talvez por não querer enfrentar a confusão interna que estava começando a crescer dentro dele. Não era a vida que ele conhecia. E não era o tipo de coisa que ele queria carregar com ele. Ele voltou à sua rotina normal, tentando se enganar de que aquilo havia sido só uma fase. Mas dentro dele, a marca ficou.
Após a formatura, Roberto retornou à sua cidade natal. A vida de "mulherego" continuou por algum tempo, mas de maneira mais tranquila, mais adulta. Sua postura de garanhão foi sendo substituída pela responsabilidade de administrar os negócios da família. Ele queria ser o homem de sucesso que todos esperavam que fosse, aquele que daria continuidade ao legado do pai no ramo imobiliário. Mas no fundo, algo ainda o incomodava.
Foi então que ele conheceu Clara.
Clara era tudo o que ele imaginava que precisava. Linda, encantadora, com uma beleza de passarela e um sorriso cativante. Ela estava em uma feira de negócios para a empresa da família de Roberto, e ele a viu pela primeira vez em meio à agitação do evento. Foi um golpe de sorte, ou talvez o destino. Quando seus olhares se cruzaram, algo dentro de Roberto despertou, algo que ele não sabia explicar. Ela era diferente de todas as outras mulheres. E ao contrário de sua vida anterior, com Clara ele se viu preso, de uma forma inesperada.
O que Roberto não sabia era que ele estava criando uma vida ao lado de Clara, uma vida que, de certo modo, o ajudaria a esconder as sombras de seu passado. Aquela mulher linda e idealizada que ele encontrara era tudo o que ele sempre imaginara para si: alguém com quem construir algo sólido, real, estável. E talvez, apenas talvez, fosse isso o que ele realmente precisava para apagar o que aconteceu com Inácio.
Mas as sombras sempre retornam.
Parte XX – Capítulo: O Peso do Sucesso: A Vida de Roberto
Roberto acordou cedo, como todos os dias. A luz suave da manhã penetrava pela janela do quarto, mas ele já estava vestido para o trabalho antes que o sol estivesse completamente visível. A casa estava silenciosa. Clara ainda dormia, seus cabelos dourados espalhados sobre o travesseiro, mas ele sabia que ela acordaria logo. O trabalho não dava trégua, e as viagens internacionais, as reuniões de negócios, a gestão da empresa da família que agora era exclusivamente dele... tudo isso o consumia cada vez mais.
Ele se olhou no espelho, a expressão cansada refletida na vidraça do banheiro. Estava distante. Sabia disso. As semanas pareciam se arrastar com a velocidade de um trem-bala, e ele mal conseguia parar para respirar. A correria da rotina era implacável. A empresa imobiliária de seu pai, que agora liderava com uma mão firme, exigia sua atenção em cada detalhe. Do crescimento dos empreendimentos à análise de novos projetos, ele não tinha descanso. O peso de ser o herdeiro de um império, manter os padrões de sucesso da família e ainda cuidar da estabilidade financeira que garantiu a vida que ele e Clara levavam agora, tudo isso pesava sobre seus ombros.
Sua vida com Clara, tão idealizada quando se conheceram, agora estava começando a se perder na rotina insustentável. Ela, linda e dedicada, sua esposa perfeita, mas cada vez mais distante. Os momentos a dois eram escassos, marcados por breves almoços em meio a compromissos e um sorriso cansado ao final de cada dia. O casamento, antes uma promessa de felicidade, começou a se transformar em um espaço de silêncio, onde as palavras não ditas se acumulavam, mas não eram mais pronunciadas.
Clara havia, como sempre, entendido que ele estava preso à responsabilidade. Ela não o culpava — Roberto sabia que ela também tinha sua própria vida profissional para tocar. Mas o que ele não conseguia evitar era a sensação de que algo estava se quebrando, como vidro rachando em silêncio. As viagens de trabalho, os encontros de negócios, as festas de gala, tudo isso o afastava dela, e o tempo que ele passava fora de casa parecia esticar cada vez mais.
Foi em meio a esse caos que, por uma razão que ele não conseguia explicar, Roberto decidiu mudar. Não era um desejo de transformação física, mas algo mais profundo. Ele precisava se reconectar consigo mesmo, com o que era, com a sensação de que seu corpo ainda lhe pertencia. Durante anos, o foco fora exclusivamente no trabalho, e o corpo, antes malhado e definido, agora mostrava os sinais do desgaste. Ele não era mais o homem que corria em direção ao espelho para admirar seus músculos, mas isso não significava que tivesse perdido o controle sobre sua vida.
A decisão de começar a treinar foi quase impulsiva. Mas ao mesmo tempo, parecia ser a única coisa que ele poderia fazer por si mesmo, para se sentir vivo novamente.
Então ele encontrou a academia.
Era uma academia comum, longe do glamour de seus negócios, longe da pressão de sua vida profissional. Ali, Roberto encontrou uma fuga. Ele se dedicou à rotina de exercícios com uma disciplina que não usava em mais nada. Cada repetição era um respiro, uma tentativa de controlar algo que parecia escorregar pelas suas mãos, como areia fina.
Foi nesse novo ambiente que ele começou a notar Lucas.
No começo, ele pensou que fosse apenas mais um personal trainer, alguém que estava ali para ajudá-lo a se exercitar e se manter em forma. Mas logo percebeu que havia algo diferente em Lucas. Ele não era apenas técnico; era alguém com uma energia que atraía os olhos de Roberto. Algo na maneira como Lucas o observava, na maneira como ele se movia, fazia Roberto se sentir como se estivesse sendo notado, não como o chefe da empresa, o marido de Clara, mas como um homem comum. E isso, por alguma razão, fez seu coração bater mais rápido.
Lucas era, para Roberto, uma figura intrigante. Ele não sabia o que exatamente o atraía, se era o modo como ele o desafiava fisicamente ou se havia algo mais ali, um magnetismo sutil entre eles. Mas, ao mesmo tempo, o que mais o atraía era o fato de Lucas não saber nada sobre seu passado, sobre a vida que Roberto levava fora dali, sobre o peso de ser o homem que ele era.
Com o tempo, Roberto começou a procurar por mais oportunidades de treino com Lucas. Não era só uma questão de exercícios, mas de conversar, de estar perto, de trocar olhares. Não havia pressa, mas a atração que se desenrolava era palpável, e, ao mesmo tempo, desconcertante.
Mas o que ele mais notava, à medida que os treinos se intensificavam, era que o tempo que passava com Lucas fazia com que as preocupações sobre sua vida com Clara e sobre os negócios desaparecessem por um breve momento. Era como se, ao lado de Lucas, ele pudesse ser algo que não fosse apenas o Roberto empresário, o Roberto marido. Ele se sentia visto de uma maneira diferente, sem os olhares de aprovação ou cobrança que estava acostumado.
E então, numa dessas tardes, após um treino particularmente difícil, Roberto, com o suor ainda visível, soltou uma brincadeira:
— Está fugindo de mim, né, professor? Sorte minha ou sua? Acho que é minha, pois você não facilitava minha vida nos roteiros do meu treino...
O sorriso de Lucas, que já era sutil, foi acompanhado de um olhar mais intenso, algo que Roberto não conseguia entender, mas que o fez questionar se a atração entre eles era apenas física ou algo mais profundo.
O que Roberto não sabia era que, ao se entregar ao corpo e aos treinos, ao tentar encontrar algo para se manter equilibrado, ele estava permitindo que o passado, e talvez até um novo futuro, começassem a se entrelaçar com os próprios desejos mais secretos que ele ainda não compreendia completamente.
A vida que ele levava, com Clara, os negócios da família, o casamento perfeito... tudo isso estava se transformando. E com cada passo que ele dava na academia, mais ele se via se afastando do homem que havia sido, e se aproximando de algo que ele ainda não podia nomear.
Mas o que Roberto não podia negar era o efeito que Lucas tinha sobre ele. Naquela tarde..., após o treino, ele não conseguia tirar da cabeça a imagem de Lucas saindo do chuveiro. Cada curva daquele corpo nu, tão bem definido pelo trabalho árduo na academia, parecia ficar gravada em sua mente. A água escorrendo pelo corpo de Lucas, as gotas deslizando pelo seu peito, pela linha da cintura, tudo aquilo parecia um convite silencioso. Roberto, absorto, não conseguia evitar o pensamento de que havia algo de hipnótico naquela cena. Ele o viu de relance, secando o cabelo com a toalha de maneira casual, despreocupada, mas de um modo que o deixou inquieto por dias. Era uma visão simples, mas carregada de um magnetismo que Roberto não sabia como lidar. O que aquela cena despertou nele, ele não tinha certeza, mas sabia que algo dentro dele se movia, e isso o incomodava — com uma intensidade que ele não conseguia ignorar.
Mas o que ele sabia, era que, no fundo, ele não queria mais voltar atrás.
Parte XXI - Capítulo: Tensão Silenciosa
Com o tempo, a rotina de Lucas e Roberto na academia se tornou mais carregada de algo que não podiam mais ignorar. Os treinos, antes apenas físicos, começaram a ganhar uma intensidade diferente. O toque de Lucas durante os exercícios, que sempre foi técnico e distante, agora parecia mais carregado. Cada palavra dita, cada olhar trocado, parecia significar mais do que apenas uma interação profissional.
Lucas não sabia exatamente o que estava acontecendo consigo. Ele sempre teve um foco claro em seu trabalho, nunca se deixando envolver por nada que pudesse desviar sua atenção. Mas algo em Roberto começava a mexer com ele de uma maneira que ele não conseguia explicar. Os pequenos gestos, os sorrisos tímidos, a troca de olhares discretos que ambos tentavam disfarçar. Aos poucos, a fachada de treinamento profissional foi desmoronando.
Roberto, por sua vez, sentia-se atraído, mas também confuso. Ele sempre se considerou um homem controlado, que sabia o que queria. No entanto, sua atração por Lucas era algo que o deixava fora de controle. Ele tentava se concentrar em sua rotina, em seu casamento com Clara, mas a cada treino com Lucas, a linha entre o que era certo e o que ele desejava ficava mais tênue.
Em um dia mais tranquilo, após uma longa semana de trabalho e viagens, Roberto chegou à academia com um sorriso leve, mas os olhos inquietos. Ele sentia uma necessidade crescente de ver Lucas. Não era apenas pela academia, nem pelos treinos. Ele queria vê-lo, conversar, sentir aquele magnetismo que parecia emanar dele.
Lucas estava indo para a sala de pesos quando o avistou. Um sorriso breve e quase imperceptível surgiu nos lábios de Roberto, que aproximou-se mais do que o habitual.
— Como vai, professor? — Roberto perguntou, com aquele tom suave que sempre tinha, mas com um brilho diferente nos olhos.
Lucas respondeu com um sorriso rápido, mas o tom de sua voz havia mudado. Ele estava mais cauteloso, mas ao mesmo tempo, a conversa parecia mais leve do que nunca. Algo estava diferente. Havia uma tensão no ar, algo que não podia ser ignorado.
— Bem, e você? — Lucas respondeu, sem saber ao certo o que dizer. Algo o fazia ficar mais atento, mais vigilante, mas ele não queria demonstrar muito interesse. Não queria que fosse óbvio.
O treinamento começou, e à medida que os exercícios seguiam, a proximidade entre os dois aumentava. Roberto não hesitava em pedir ajuda para ajustar posturas ou corrigir movimentos, o que fazia com que Lucas ficasse mais perto, mais tocante. A sensação de estar tocando Roberto, de ser tocado por ele, começava a desconcertar Lucas. Cada gesto, cada toque fugaz, parecia ter mais peso do que deveria.
Roberto sentia o mesmo, mas tentava manter a compostura. Ele ainda estava ali como aluno, mas cada treino com Lucas estava se tornando mais difícil de suportar. Ele se pegava pensando, cada vez mais, no que aconteceria se essa tensão fosse rompida.
— Você me disse uma vez que eu não facilitava a sua vida com os treinos. — Lucas comentou durante uma pausa, com um sorriso de canto de boca. — Acho que agora você vai ter que me ajudar.
Roberto sorriu de volta, mas dessa vez o sorriso foi mais enigmático, mais carregado de algo que Lucas não soube identificar de imediato. Algo estava ali, uma reciprocidade que ele não conseguia entender.
— Quem sabe... — Roberto disse, com uma voz mais grave, quase provocante. — Às vezes, o que você chama de "dificuldade" pode ser o que torna as coisas mais interessantes, não acha?
A resposta de Roberto fez com que Lucas ficasse mais tenso, seus olhos se fixando por um segundo mais longo do que o necessário, antes que ele se afastasse para continuar com o treino. O que Roberto queria dizer com aquelas palavras? E por que, agora, ele sentia que essa interação estava se tornando muito mais do que um simples treino?
Após o treino, Roberto se aproximou mais uma vez, como se tivesse algo a dizer, mas hesitou. Ele apenas sorriu e deu um tapinha amigável no ombro de Lucas, como se a tensão que se formava entre os dois fosse apenas um jogo, um desafio. Mas, no fundo, ambos sabiam que o que estava acontecendo não era tão simples assim.
Antes de sair, Roberto se virou mais uma vez, com uma última provocação.
— Nos vemos amanhã, professor... Não vou facilitar mais, prometo. — Ele riu, mas havia algo nos seus olhos que falava mais do que as palavras. Algo que deixava claro que, para ele, esse jogo estava apenas começando.
Lucas observou Roberto sair, o coração batendo mais rápido do que ele esperava. Ele se perguntou, por um breve momento, se aquilo tudo era apenas uma tensão passageira, ou se estava prestes a acontecer algo muito mais profundo entre eles. Algo que ambos estavam, talvez, começando a explorar sem perceber.
Parte XXII – Capítulo: O Jogo da Sedução
Roberto acordou antes do alarme. O relógio marcava 5h30, mas ele já estava em pé, vestindo sua roupa de treino. O som do chuveiro ecoava pela casa, mas ele não queria mais perder tempo. Clara ainda dormia, virada para o lado oposto, sua respiração suave e regular. A imagem dela adormecida foi rapidamente substituída pela de Lucas. Aquela visão, aqueles olhares trocados, os toques casuais e as palavras que agora ficavam ecoando em sua mente... Roberto não podia mais ignorar o que estava se formando entre eles.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, isso teria que ser confrontado.
Roberto terminou sua série de exercícios mais cedo do que o habitual. O suor escorria por seu corpo, seus músculos, que antes pareciam fatigados, agora estavam firmes e quase pulsando com a energia de um treino bem executado. Ele nunca foi de se arriscar em exageros, mas sentia uma necessidade crescente de dar o seu melhor, de se superar. A academia estava vazia, a maioria dos frequentadores ainda não havia chegado.
Com um suspiro, ele se dirigiu para o vestiário, desejando um rápido banho para se preparar para mais um dia repleto de compromissos. O som das gotas batendo na água era relaxante, mas seu pensamento estava distante. Não sabia dizer se estava mais cansado fisicamente ou mentalmente. Talvez fosse o peso das semanas de trabalho que começavam a pesar ainda mais. O casamento com Clara estava em uma fase estranha, como se uma sombra se projetasse entre eles a cada dia. Mas, curiosamente, os treinos com Lucas começavam a oferecer algo diferente. Algo novo, difícil de ignorar, e ao mesmo tempo confuso.
Ao sair do chuveiro, Roberto não se apressou a se vestir. A sua mente ainda estava longe, absorvendo as últimas conversas e compromissos. Ele se olhou no espelho com uma expressão cansada, mas em paz com o corpo que via. Ele sabia o quanto havia dedicado à sua forma física nos últimos tempos, mas nunca se sentira tão à vontade com ela. Hoje era diferente.
Foi nesse instante, enquanto ele começava a se secar, que a porta do vestiário se abriu.
Lucas entrou.
Os passos de Lucas, sempre firmes e rápidos, pararam ao perceber a presença de Roberto. Ele congelou por um segundo. Não era como se ele nunca tivesse visto Roberto sem camisa, claro, mas naquela manhã, naquele momento, a cena diante dele era completamente diferente. Roberto estava completamente nu, sem pressa, com uma confiança silenciosa que contrastava com qualquer expectativa de poder que Lucas associava a ele.
Por um momento, o tempo pareceu parar. Lucas estava paralisado. Ele nunca o tinha visto assim, tão vulnerável, tão real. O corpo de Roberto, os músculos definidos, a pele ainda úmida do banho, pareciam exibir algo mais profundo do que uma mera exibição física. Aquela visão era um convite, um reflexo de algo que ambos sabiam, mas que agora estava mais claro do que nunca: algo estava mudando entre eles.
Roberto, sem perceber o impacto que sua imagem causava, continuou a se secar, alheio ao olhar que o observava. Ele estava tentando manter a compostura, mas sentiu uma tensão crescente quando Lucas não falou nada, quando o silêncio se arrastou por mais segundos do que o normal. Ele virou a cabeça para olhar Lucas, mas algo naquele olhar, algo na maneira como Lucas o encarava, fez sua pele formigar de um jeito inesperado.
"Você… foi pego de surpresa, Lucas?" Roberto perguntou, quebrando o silêncio. A voz saiu mais suave do que ele planejou, como se estivesse testando a reação do outro. Mas a pergunta, em si, parecia carregar uma provocação silenciosa. Ele sabia que havia algo diferente naquele olhar, algo que talvez não fosse simples de decifrar.
Lucas, ainda sem conseguir se afastar completamente da visão, riu de maneira um pouco nervosa, tentando disfarçar a reação que não podia controlar.
"Não… é só que... bem, você não costuma se exibir assim, Roberto." Lucas finalmente conseguiu falar, a voz mais baixa, mas carregada de um tom irreconhecível. Ele estava tentando manter a normalidade, mas as palavras saíam como se ele estivesse se forçando a não ser totalmente honesto com o que sentia.
Roberto não sorriu, mas o olhar entre eles ficou carregado de uma tensão que ambos sentiam. Não era só o corpo exposto de Roberto que mexia com Lucas. Era a percepção de que ele estava ali, vulnerável, em uma situação onde a normalidade da relação de trabalho entre eles parecia ter se distorcido de uma maneira que nenhum dos dois poderia mais negar.
"Eu... talvez esteja começando a me importar menos com isso," Roberto disse, com um sorriso irônico. "Você não deveria estar aqui, né? Não esperava que já tivesse chegado."
Lucas, por sua vez, sentiu uma onda de desconforto e, ao mesmo tempo, uma atração irresistível. Ele sabia que estava sendo observado, mas também sabia que Roberto estava ali de forma inesperada, não planejada, como se algo mais estivesse se insinuando entre eles. Ele afastou o olhar brevemente, como se tentasse dar a si mesmo algum espaço para respirar.
"É... eu devia, não?" Lucas respondeu, mais sério agora. Ele deu alguns passos em direção ao armário, tentando manter o foco, mas a imagem de Roberto continuava em sua mente. "Bom... só não achei que começaria o dia dessa forma."
Mas a verdade era que, ao entrar ali, Lucas já sabia que aquele momento não seria como os outros. Algo havia mudado. A tensão que existia entre eles agora tinha uma nova forma, mais visceral. Roberto, ao se vestir calmamente, não sabia ainda o quanto aquele breve encontro tinha mexido com ele também. Algo dentro dele se agitava, mas ele não podia — ou não queria — admitir o que sentia. Só sabia que não poderia mais ignorar o impacto daquele olhar.
Parte XXIII – Capítulo: A Dúvida Silenciosa
Os dias que seguiram ao encontro no vestiário estavam pesados para Roberto. A cena de Lucas entrando no vestiário justo quando ele saía do banho parecia se repetir em sua mente, como um loop interminável. Ele tentava se concentrar no trabalho, mas sentia-se dividido, como se cada decisão que tomasse agora estivesse sendo medida por uma balança interna que ele nunca soubera que existia.
Em casa, Clara notou a diferença. O que antes eram jantares tranquilos e conversas sobre os negócios, agora se tornavam momentos de silêncio desconfortável. Roberto se afastava cada vez mais, mergulhado em seus próprios pensamentos, e Clara parecia cada vez mais distante, tentando lidar com a crescente ausência do marido.
“Está tudo bem, Roberto?” Clara perguntou uma noite, durante um jantar que ela preparara com tanto carinho, mas que foi consumido em um ambiente gelado de não-ditos.
Ele olhou para ela, sem saber exatamente o que responder. A verdade era que ele não sabia mais o que estava acontecendo dentro de si. Ele a amava, claro, mas algo dentro dele estava mudando. A sensação de estar desconectado de Clara, de sua vida, e até de quem ele era, se intensificava.
“Sim… Tudo bem, Clara. Apenas cansado com o trabalho.” Ele tentou disfarçar, mas sabia que a desculpa não era suficiente. A voz dela estava mais fria, como se soubesse que ele estava mentindo.
Clara não insistiu. Ela já sabia. Algo estava se quebrando entre eles novamente, algo que ela não podia reparar sozinha.
Enquanto isso, na academia, a relação de Roberto com Lucas parecia seguir o mesmo padrão. Treinos intensos, olhares furtivos, palavras mais carregadas de significado do que deveriam ser. Mas, para Roberto, cada treino se tornava mais difícil de suportar. Ele não estava ali só para se exercitar, como antes. Cada movimento, cada aproximação, cada toque... tudo parecia ter um peso diferente.
Naquele dia, Roberto estava de novo na academia, logo cedo. Tinha se forçado a ir, para tentar limpar a mente e colocar o corpo em movimento. Mas sua mente não estava livre. Ele sentia um vazio crescente. Um vazio que parecia, de alguma forma, ser preenchido pelas interações com Lucas.
Foi durante um desses treinos que ele decidiu perguntar a Lucas sobre algo que vinha lhe incomodando. Ele queria saber, precisava entender por que estava tão atraído por ele, o que significava aquele magnetismo tão forte, que nem seu casamento parecia conseguir apagar.
“Lucas, você já percebeu como as coisas mudaram entre a gente?” Roberto disse, enquanto ajustava o peso da barra. A pergunta estava fora de lugar, mas a necessidade de verbalizar aquilo se tornou insustentável.
Lucas o olhou, surpreso. Ele sabia que havia algo diferente no ar, mas não sabia exatamente como reagir. Eles estavam tão próximos, fisicamente e emocionalmente, que qualquer movimento em falso poderia quebrar algo que ainda não estava completamente moldado.
“Não sei do que você está falando, Roberto.” Lucas respondeu, a voz mais suave, quase hesitante. Ele queria evitar qualquer confronto, mas a tensão era palpável.
“Eu quero saber o que isso tudo significa, Lucas. Não consigo mais ignorar.” Roberto falou, com uma sinceridade rara. Ele sentia como se estivesse se desnudo mais uma vez, mas agora não era apenas seu corpo. Era a sua alma, seus desejos. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas não podia mais voltar atrás.
Lucas ficou em silêncio, e o peso da pergunta pairou no ar entre eles. Ele estava dividido, sentindo o mesmo atrito que Roberto, mas também temendo as consequências disso. O que significava essa atração? Eles poderiam realmente ignorar o que estava acontecendo? E se isso fosse o começo de algo que não poderiam controlar?
O treino continuou, mas o clima mudou. As palavras de Roberto ecoavam na mente de Lucas, e cada movimento parecia mais carregado de significado. Depois de algum tempo, Lucas não pôde mais evitar.
“Eu… também sinto isso. Mas não sei o que fazer com isso, Roberto.” Lucas finalmente disse, olhando para ele com uma intensidade que fazia Roberto se perder em seus olhos. Era a primeira vez que eles realmente admitiam o que estava acontecendo.
Roberto se sentiu dividido. Uma parte dele queria afastar-se, voltar para a vida que conhecia, para Clara, para o casamento perfeito que agora parecia uma fachada. Mas, ao mesmo tempo, ele não conseguia mais negar o que sentia por Lucas. O desejo, a atração, e até uma necessidade emocional que ele não sabia como explicar.
Quando o treino terminou, Roberto sentiu uma mistura de alívio e angústia. Ele sabia que algo importante havia acontecido, algo que não poderia ser ignorado. Mas o que fazer com isso? Como lidar com a crescente distância entre ele e Clara, com o vazio que agora se fazia tão presente em sua vida?
Ele se despediu de Lucas com um sorriso forçado, sem saber o que dizer ou fazer. A tensão ainda estava ali, pairando entre eles, mas agora havia algo mais — um entendimento mudo de que as coisas nunca mais seriam as mesmas.
Parte XXIV – Capítulo: O Peso do Poder
Roberto acordou cedo novamente. A rotina era implacável, e ele sabia que cada minuto do seu dia tinha um valor inestimável. A pressão de ser o CEO de um império familiar, de manter os negócios em ascensão e de lidar com a responsabilidade de seu nome, fazia com que ele raramente tivesse tempo para algo além do trabalho. Mas, por mais que a empresa o consumisse, havia algo mais em sua mente, algo que o fazia perder o foco em momentos inesperados.
Lucas.
Cada vez que Roberto pensava no personal trainer, algo dentro dele se agitou. O que começou como uma atração física, algo breve e superficial, agora parecia ter se transformado em algo mais complexo. Ele sentia como se estivesse perdendo o controle, algo que ele não permitia em outras áreas da sua vida. Ele se distanciou de Clara, claro, mas também sabia que o casamento estava se desmoronando de forma silenciosa. E, nesse vácuo, Lucas parecia ter ocupado um espaço que ele não sabia como definir.
Na academia, tudo acontecia com a precisão de uma rotina bem ensaiada. Mas algo mudara entre eles. Quando Roberto se aproximava de Lucas, seu tom de voz se tornava mais firme, suas palavras mais carregadas de poder. Ele não estava apenas ali para treinar, ele estava ali para dominar a situação, para controlar a narrativa. E Lucas, com seus olhos curiosos e hesitantes, começava a ceder sem perceber.
Naquela manhã, após o treino, Roberto estava especialmente determinado. Ele havia terminado sua série mais cedo e se encaminhou para o vestiário, onde iria se preparar para mais um dia de reuniões, mais um dia onde ele precisava manter a imagem de homem de poder. Ele se olhou no espelho enquanto se vestia, ajustando a gravata com a precisão de quem sabe exatamente como deseja ser visto: irresistível e inatingível.
Foi nesse momento que Lucas entrou, sem saber que Roberto já havia terminado. Lucas ficou parado na porta, hesitante, por um segundo. Ele não sabia o que fazer, nem como reagir a essa presença imponente que Roberto exalava. O olhar de Roberto se encontrou com o dele, e algo mudou no ar. A tensão que ambos tentavam ignorar agora se tornava inescapável.
Roberto não sorriu, mas seus olhos brilharam de uma maneira que Lucas nunca tinha visto antes.
“Você está atrasado, Lucas. Ou será que está esperando que eu termine de me arrumar?” Roberto falou, a voz grave e cheia de um poder que Lucas não conseguiu ignorar. A forma como ele se posicionava, a maneira como se vestia com confiança… tudo aquilo exalava controle.
Lucas se sentiu deslocado, como se estivesse em um território que não conhecia, onde as regras eram diferentes. Ele tentava manter a compostura, mas a maneira como Roberto o encarava o deixava inquieto, sem saber se deveria responder de maneira casual ou se aquilo era um jogo no qual ele não tinha controle.
“Eu… Eu não sabia que você já havia terminado, Roberto.” Lucas disse, a voz mais suave do que pretendia.
Roberto se aproximou, agora mais perto do que Lucas imaginava que seria possível em um vestiário. Seu perfume, sua presença dominante, tudo parecia estar no lugar para impor seu espaço.
“Sabe, Lucas…” Roberto continuou, com um tom mais intimidador. “Eu sou um homem que não tem tempo a perder. E você, aparentemente, também não tem muito a oferecer. Então, se você vai continuar aqui, é melhor começar a entender quem realmente está no controle, entende?”
As palavras de Roberto eram como um aviso, algo que deixava claro que, naquele momento, a dinâmica entre eles havia mudado. Não era mais apenas sobre um treino ou um momento de descontração. Era sobre poder, sobre controle, e sobre como Roberto, com todo o seu império e influência, estava disposto a exercer essa autoridade sobre Lucas.
Lucas engoliu em seco. Ele sabia que estava sendo pressionado, mas o que mais o incomodava era o fato de que, de alguma forma, ele estava começando a gostar daquela pressão. Havia algo hipnótico nas palavras de Roberto, algo que fazia seu coração bater mais rápido. Ele queria se afastar, mas o medo de ser dominado, de ser submisso a Roberto, parecia atraí-lo de uma forma que ele não entendia.
Roberto continuou, cada palavra carregada de uma intensidade silenciosa.
**“Eu já disse antes, Lucas: **você não vai me desafiar. Eu faço o que quero, quando quero. E você, meu caro, está começando a entender isso.”
Lucas tentou falar, mas as palavras não saíam. Ele estava diante de uma força que ele não conseguia combater. Algo dentro de si o empurrava para ceder, para se submeter àquela energia que Roberto emanava tão naturalmente.
Roberto o observou, um leve sorriso se formando no canto de seus lábios. Ele estava satisfeito com o efeito que suas palavras causavam em Lucas. Ele sabia que Lucas estava atrapalhado, que ele já não era mais apenas o jovem personal trainer que se sentia em controle. Agora, ele estava dentro do jogo, sem saber como sair.
“Nos vemos no próximo treino, Lucas.” Roberto disse, com um tom final, quase desinteressado, mas a tensão nos olhos de Lucas não passou despercebida. Roberto sabia exatamente o efeito que ele causava.
Enquanto Roberto saía do vestiário, Lucas ficou para trás, tentando entender o que acabara de acontecer. Ele sentia-se perdido, mas ao mesmo tempo, uma parte dele sabia que estava sendo atraído por algo que ele nunca imaginara. Ele estava à mercê de Roberto, e, de alguma forma, isso o deixava excitado e com medo ao mesmo tempo.
Parte XXV – Capítulo: A Luta Interna de Lucas
Lucas estava deitado em sua cama, os olhos fixos no teto. O dia havia sido longo, o treino com Roberto, mais uma vez, havia sido intenso e desconcertante. Ele não conseguia tirar da cabeça o que acontecera no vestiário, nem a maneira como Roberto o havia olhado, como se o tivesse examinado, lido, e decidido. Havia uma energia entre eles, algo carregado de tensão, de poder, de controle. E, em meio a tudo isso, Lucas não conseguia se livrar da sensação de que ele estava, de alguma forma, se perdendo.
Ele sempre foi uma pessoa focada, com um trabalho claro e definido. A academia era o seu mundo, seu espaço. Ele gostava de manter as coisas simples, sem complicações. Com exceção de Clara, nunca havia se deixado envolver por clientes antes, nunca misturara trabalho e desejo. Mas Roberto era diferente. Ele era impossível de ignorar.
Nos últimos dias, ele se sentia como se estivesse sendo puxado por uma força que não podia controlar. Roberto, com seu poder, seu olhar afiado e confiante, estava fazendo com que Lucas questionasse suas próprias certezas. Ele sempre se considerou alguém com controle sobre seus sentimentos, suas emoções, mas diante de Roberto, ele se sentia como se estivesse se afundando, se perdendo nas próprias emoções.
"O que está acontecendo comigo?" Lucas se perguntava, seu coração acelerando ao pensar no que tinha acontecido naquele vestiário. Roberto, completamente nu, imponente, a forma como ele o encarava. Como se o estivesse desafiando a ser mais, a se entregar àquela dinâmica de poder que agora pairava no ar. Lucas sentia uma mistura de medo e excitação, algo que o deixava desconfortável, mas ao mesmo tempo, profundamente atraído.
Ele respirou fundo, tentando se afastar daquelas imagens, mas elas voltavam com força total. O sorriso, o cheiro de Roberto, o jeito como ele se posicionava, como se tivesse controles sobre tudo ao seu redor. Lucas era bom no que fazia, ele sabia disso. Ele era o melhor em seu trabalho, mas com Roberto ele se sentia vulnerável, exposto. E isso o incomodava profundamente.
Mas o que o deixava ainda mais confuso era a sensação de atração. Ele não queria admitir, mas não conseguia mais ignorar. Havia algo em Roberto que o atraía de maneira irresistível. A dominância, a certeza com que Roberto se movimentava, tudo aquilo o fazia querer se aproximar mais, sentir-se mais próximo, mas ao mesmo tempo, a parte racional de Lucas sabia que não deveria. Não deveria se deixar envolver, não deveria se permitir ser parte desse jogo de poder.
A mente de Lucas começava a se perder em um turbilhão de pensamentos. Ele tentava racionalizar, tentava se convencer de que tudo aquilo não passava de uma simples atração física, algo passageiro, mas algo dentro dele não concordava. "Eu estou me apaixonando por ele?" Lucas se perguntou, sem querer dar voz a esse pensamento, que parecia ir contra tudo o que ele sempre acreditou.
Mas não era apenas isso. Não era apenas o desejo. Era o controle que Roberto exercia sobre ele. Cada palavra, cada gesto, cada olhar. Eles pareciam ter uma intensidade própria, como se tudo estivesse sempre se encaminhando para algo mais. Mas o que seria esse algo mais? O que ele queria realmente? Era apenas sexo? Ou havia algo mais profundo acontecendo entre eles?
Lucas se virou na cama, os olhos fechados, tentando afastar essas dúvidas, mas elas continuavam a voltar, mais fortes a cada momento. "Eu não sou desse tipo, não sou alguém que se deixa controlar..." Ele se dizia, mas sabia que isso não era verdade. Ele estava caindo naquele jogo, e não sabia como escapar.
Ele queria manter a distância, mas quando Roberto o olhava daquela maneira — tão seguro, tão imponente — era impossível não sentir algo se mexendo dentro dele. "Eu não sou mais o Lucas de antes." Ele reconhecia isso agora. Algo havia mudado, e ele não sabia mais quem ele era, ou o que estava se tornando.
Mas a maior luta de Lucas não era contra Roberto. Era contra si mesmo. Ele não sabia o que queria, não sabia o que faria se fosse mais fundo nesse turbilhão de desejo e poder. Mas o que ele sabia era que cada momento ao lado de Roberto o fazia questionar tudo sobre si. Ele não podia mais ignorar que, talvez, ele queria perder o controle. Talvez, no fundo, ele desejasse ser submisso àquela força, deixar-se levar pela dominação que Roberto impunha.
"Eu não posso fazer isso." Lucas murmurou, como se isso fosse o suficiente para apagar seus sentimentos. Mas, na verdade, ele sabia que isso não seria tão fácil. Porque, no fundo, uma parte dele queria que isso acontecesse, queria se perder nesse jogo, se render ao que Roberto representava. A excitação e o medo se misturavam, como um campo minado, onde a cada passo, ele se aproximava mais de um destino que não sabia como controlar.
Lucas levantou da cama, dirigindo-se para a janela. Olhou para a rua lá fora, para a vida que seguia normalmente, e se perguntou: "O que acontece quando você não tem mais controle?"
Ele não tinha a resposta. Mas sabia que, ao contrário de qualquer outra coisa, estava prestes a descobrir. E, por algum motivo, isso o deixava com um frio na espinha e, ao mesmo tempo, com uma sensação de expectativa crescente. Como se estivesse à beira de algo grande, algo irreversível.
Parte XXVI– Capítulo: Conflitos de Interesse
Lucas estava com o coração acelerado enquanto saía da sala de seu chefe. Aquela manhã começara como qualquer outra, com o estresse habitual de lidar com os treinos e as demandas da academia. Mas tudo havia mudado quando o chefe o chamara para uma conversa.
Ele sabia que os números da academia estavam crescendo, que o negócio estava indo bem, mas o que não esperava era o reconhecimento tão explícito e direto. O chefe, com um sorriso sincero, elogiara seu trabalho árduo, sua dedicação, sua forma imbatível de lidar com os alunos e com os desafios do dia a dia. E, então, as palavras que seguiram caíram sobre ele como um peso inesperado.
— Lucas, os resultados têm sido extraordinários. E você é a razão de boa parte disso. Eu não posso deixar passar essa oportunidade de expandir. A demanda por saúde e bem-estar está em ascensão, e nós estamos no auge dessa curva. Por isso, estou confiando em você para algo muito maior.
As palavras ecoavam em sua mente. Ele não esperava ser colocado em uma posição tão importante, tão responsável. Seu chefe queria que ele lidasse com a expansão da unidade da academia — uma nova filial seria aberta na região, e Lucas seria o responsável pelas tratativas.
— Estou te promovendo para coordenar isso, Lucas. Acho que você é a melhor pessoa para essa função. Só você tem o comprometimento necessário para dar conta disso.
Lucas sentiu um calor subir por seu rosto. Era o tipo de reconhecimento que ele sempre almejara. Era um avanço de carreira, uma oportunidade de ouro. Ele sabia que estava prestes a dar um grande passo em sua vida profissional. Não pensou duas vezes. Aceitou prontamente, sem hesitar.
Mas mal sabia ele que o destino dessa nova unidade estava interligado a Roberto, o homem que mexia com seus sentimentos e com seu controle de uma maneira que ele ainda não compreendia.
Poucas horas depois da conversa, Lucas se viu entrando em um escritório elegante, em uma das regiões mais caras da cidade. Ele estava nervoso, embora tentasse disfarçar, pensando no que o aguardava. Mas não esperava, de maneira nenhuma, encontrar quem estava esperando por ele ali.
Assim que entrou na sala, seu olhar imediatamente se fixou em Roberto, que estava sentado à mesa, ao lado de seu assessor. A tensão no ar era palpável. Roberto o olhou com um sorriso enigmático, um sorriso que já tinha se tornado familiar, mas agora, com a situação completamente diferente, carregava algo mais — um certo poder, uma dominação que Lucas não podia negar.
O ambiente estava sofisticado, moderno, um reflexo do mundo que Roberto habitava. O assessor de Roberto, ao lado dele, era um homem de aparência calma e focada, que parecia saber exatamente o que estava acontecendo.
Lucas sentiu o sangue lhe subir à cabeça. Ele havia sido chamado para discutir detalhes da nova unidade da academia — a unidade que Roberto estava, de alguma forma, por trás. Mas como? Ele se perguntava. Era uma coincidência? Ou Roberto já sabia de tudo, e estava jogando o jogo dele, manipulando a situação a seu favor?
— Lucas, que bom que você chegou. — A voz de Roberto soou suave, mas carregada de intencionalidade. — Fico feliz que tenha aceitado o desafio. Tenho certeza de que você será uma parte fundamental nesse novo projeto.
"Ele sabia de tudo." Pensou Lucas, sentindo-se ligeiramente tenso. Havia algo nos olhos de Roberto, algo que ele não conseguia entender, mas que fazia com que sua pele ficasse arrepiada. Roberto parecia sempre estar um passo à frente, e isso o deixava desconfortável.
— O prazer é meu, Roberto. — Lucas respondeu, tentando manter a compostura. Mas sua voz estava mais baixa do que o normal, como se estivesse se rendendo a uma pressão invisível.
Roberto olhou para Lucas com um sorriso divertido, como se soubesse de algo que ele ainda não compreendia. O olhar de Roberto parecia explorá-lo, como se estivesse vendo além da sua fachada. "Ele sabe," pensou Lucas. E, ao mesmo tempo, se sentiu vulnerável, exposto.
A reunião prosseguiu, mas o conteúdo parecia nublar na mente de Lucas. Tudo o que ele conseguia pensar era em como Roberto estava sempre presente, de alguma forma. Ele era o elo perdido entre o seu trabalho, sua vida pessoal, e esse novo projeto. Mas o que isso significava para ele? O que Roberto queria, de verdade?
“Está tudo ficando fora de controle,” Lucas pensou, enquanto sua mente girava. A crescente pressão de seu trabalho, a responsabilidade que ele agora carregava sobre seus ombros, e o jogo de poder que Roberto estava orquestrando lentamente ao redor dele.
Lucas olhou novamente para Roberto, e a sensação de atrito interno se intensificou. Não era só sobre trabalho agora. Era pessoal. Era uma questão de controle. E ele não sabia por quanto tempo poderia resistir a isso.
Ao final da reunião, quando Roberto se levantou e se despediu com um sorriso intrigante, Lucas sentiu o peso da decisão que havia feito ao aceitar esse novo desafio. Ele estava no centro de uma rede de interesses, e, embora estivesse em busca de uma nova oportunidade de crescimento, havia algo em seu coração que dizia que ele estava sendo manipulado por forças maiores do que ele mesmo.
Enquanto saía do escritório, Lucas se questionava, mais uma vez: “Onde estou me metendo?”
Parte XXVII – Capítulo: Limites da Resistência
Lucas tentava se concentrar no trabalho. A nova responsabilidade na academia estava pesando sobre seus ombros. Ele passava o dia discutindo detalhes sobre a expansão da unidade, lidando com números, planejando a logística. Mas a mente de Lucas estava dividida, sempre se desviando para o que havia acontecido na reunião com Roberto. Cada vez que ele tentava focar, a lembrança de Roberto, o olhar penetrante e calculista, surgia como uma sombra sobre ele.
Era um jogo perigoso, e Lucas sabia disso. Mas ele não conseguia evitar a sensação de que Roberto estava sempre presente. Era como se ele estivesse sendo puxado para um universo paralelo, onde as regras eram ditadas por Roberto, onde ele não tinha mais controle.
Naquela noite, depois de mais um longo dia, Lucas se encontrou em um bar. Queria algo para aliviar a tensão. Queria desligar a mente. O ambiente estava cheio, com música alta e conversas barulhentas. Ele se acomodou em uma mesa isolada, esperando a bebida gelada acalmar seus pensamentos.
Mas ao olhar para o celular, viu uma mensagem que fez seu estômago se revirar:
Roberto: "Estou esperando você amanhã, Lucas. Precisamos conversar sobre a expansão. Sei que você tem muito a fazer, mas a gente sempre pode encontrar um tempo, não?"
O peso da mensagem parecia maior do que a simples mensagem de texto. Ela estava carregada de uma intenção velada, de um controle que Lucas não conseguia ignorar. Ele deu um gole na bebida, tentando afastar a sensação de descontrole que o tomava.
Mas o que ele mais temia era que, cada vez mais, ele começava a desejar esse encontro. Ele queria ver Roberto novamente. Queria entender o que ele queria. Queria sentir o magnetismo que o atraía, apesar de tudo o que ele sabia que era errado.
No dia seguinte, Lucas chegou à academia com o coração mais pesado do que o normal. Ele estava prestes a enfrentar uma nova reunião com Roberto, e o peso da responsabilidade estava deixando-o tenso. Mas ao mesmo tempo, algo dentro de si o desafiava. Ele queria saber mais. Queria entender o que se escondia por trás daquele olhar penetrante de Roberto.
Quando entrou na sala, Roberto estava sozinho. Não havia o assessor, não havia ninguém além deles dois. O ambiente estava ainda mais intimista do que o normal, e isso fez Lucas se sentir desconfortável.
— Lucas, bom ver você. — Roberto falou, com aquele sorriso enigmático. — Estava pensando sobre a reunião de ontem. Temos tanto a fazer, e eu quero garantir que você tenha todas as ferramentas necessárias para levar esse projeto à frente.
A conversa parecia estar indo no caminho profissional, mas Lucas sabia que havia algo mais ali. A maneira como Roberto se aproximava, como ele falava, havia algo ali que não podia ser ignorado.
Ele tentou manter a calma, mas sua mente estava em conflito. Sabia que estava sendo manipulado, sabia que Roberto estava se aproveitando de sua fragilidade emocional, mas, ao mesmo tempo, não conseguia afastar o desejo crescente que sentia.
— Tudo bem, Roberto. Eu estou pronto para levar isso adiante. Você sabe que pode contar comigo.
Roberto se inclinou para frente, de maneira quase imperceptível. Algo no gesto fez Lucas prender a respiração. Ele estava desafiado, mas também seduzido. Cada palavra de Roberto parecia desenhar um caminho que Lucas não queria seguir, mas que, de alguma forma, ele já estava no meio.
— Eu sabia que você diria isso. — Roberto disse, sua voz baixa, quase como um sussurro. — Mas você sabe o que mais me agrada em você, Lucas? A sua força. Você não se deixa abalar facilmente. Isso é raro. Você tem um futuro brilhante pela frente.
"Isso não é só sobre negócios," pensou Lucas, sentindo o ambiente mudar. "Roberto está me testando. Ele está tentando me fazer sentir que eu não posso viver sem ele."
E, naquele instante, Lucas percebeu que, de algum modo, ele estava começando a precisar de Roberto mais do que deveria.
Parte XXVIII – Capítulo: O Peso da Escolha
A manhã estava chuvosa e cinza, um reflexo perfeito do estado emocional de Lucas. Ele se encontrava, mais uma vez, na sala de reuniões da academia, revisando o plano de expansão da nova unidade. No entanto, seus pensamentos estavam longe dali. Como sempre, Roberto estava em sua mente — a figura imponente, o magnetismo inegável, o poder que irradiava de cada palavra que ele pronunciava.
A reunião estava indo bem, mas Lucas não conseguia parar de pensar no que Roberto havia insinuado naquela última conversa. A cada encontro, o empresário parecia aumentar o jogo, empurrando as fronteiras do profissionalismo para um território muito mais pessoal e perigoso.
"Isso é apenas trabalho, Lucas. Não deixe que ele te faça duvidar do seu valor." Ele tentava se convencer de que estava no controle, mas a verdade era que ele não sabia mais se estava usando Roberto ou sendo usado.
Quando a reunião terminou, Lucas sentiu uma pressão no peito. Ele estava começando a se sentir exausto, como se cada movimento seu fosse observado. E o pior: ele gostava disso. Gostava da forma como Roberto o fazia se sentir importante, como se ele fosse mais do que um simples personal trainer.
Mas ao mesmo tempo, havia uma sensação crescente de desconforto. Ele sabia que Roberto estava empurrando os limites, testando sua vulnerabilidade. Mas Lucas não sabia se estava forte o suficiente para resistir. Ou pior ainda: ele começava a duvidar de sua vontade de resistir.
No dia seguinte, Lucas foi chamado para mais uma reunião. Desta vez, ele sabia que Roberto estaria lá. Quando entrou na sala de conferências, se viu surpreendido pela presença de outro assessor de Roberto — uma surpresa que o deixou ainda mais desconfortável. Mas o que realmente o deixou inquieto foi o olhar que Roberto lhe deu ao chegar, um olhar que parecia lendo sua alma, percebendo que algo dentro de Lucas havia mudado. Ele estava sendo desafiado, mas sem saber como se proteger.
A reunião começou com Roberto elogiando novamente Lucas, mas havia algo de diferente no tom de voz dele. O elogio, antes sincero, agora parecia carregado de um peso quase impositivo.
— Lucas, eu sei que você tem uma visão única para os negócios, mas também sei que você tem muito mais potencial do que está revelando. A expansão não é só um projeto de trabalho, é uma oportunidade para você se destacar de uma maneira que poucos têm a chance. Roberto falou, sem tirar os olhos de Lucas.
Lucas tentava ignorar o fervor em suas palavras, mas não conseguia. Havia algo em sua voz, algo que o fazia sentir-se pequeno, mas também incrivelmente desejado. Ele lutava contra a necessidade de se concentrar no projeto, de entender a missão da nova unidade de academias. Mas, no fundo, sabia que a conversa não se tratava de negócios.
— Eu gosto do que você está dizendo, Roberto. É um desafio grande, mas eu estou pronto para isso. Lucas respondeu, tentando manter a calma.
Roberto então se levantou lentamente da cadeira e deu um passo em direção a Lucas, como se fosse algo premeditado. O assessor de Roberto, percebendo a intensidade da situação, fez o movimento de se afastar discretamente, deixando-os a sós. Lucas sentiu o coração bater mais rápido.
— Eu sei que você está pronto, Lucas. Mas essa oportunidade não será fácil. Roberto disse com um sorriso quase imperceptível. Você terá que fazer escolhas, decisões que nem todos estão dispostos a tomar.
Era como se Roberto tivesse acabado de lançar um desafio velado — e Lucas, inconscientemente, sentiu-se preso a ele.
A reunião terminou, mas a sensação de desconforto não saiu com Lucas. Ele saiu da sala com a mente em um turbilhão. Havia algo em Roberto que ele ainda não entendia completamente, mas algo também dentro de si mesmo que estava se moldando. Ele não estava apenas sendo desafiado no trabalho, mas em sua própria identidade, em seu comportamento e em seus limites.
Mas o momento mais desconcertante aconteceu quando ele recebeu uma mensagem de Roberto:
Roberto: "Eu queria conversar com você mais tarde. Não sobre negócios, mas sobre as suas escolhas. Está pronto para se arriscar um pouco mais?"
Era mais uma provocação. Mais uma tentativa de colocá-lo à prova, de fazê-lo se sentir pequeno e, ao mesmo tempo, desejado.
Lucas sabia o que ele queria. Ele queria forçá-lo a sair da zona de conforto, a questionar suas próprias convicções, e isso, no fundo, estava começando a consumir Lucas mais do que ele gostaria de admitir.
Na noite seguinte, Roberto se apresentou em um local mais intimista, um bar sofisticado onde eles poderiam conversar sem as pressões da academia ou do escritório. A ideia de que aquilo seria algo "profissional" logo se desfez assim que Lucas se sentou à mesa, de frente para Roberto.
— Eu não sou como os outros. Roberto começou, sua voz profunda e quase intimidadora. Eu gosto de ver o potencial nas pessoas, e sei que você é alguém que não se deixa influenciar facilmente. Mas a pergunta que você precisa responder é: você está disposto a ser mais do que imagina ser?
Lucas estava tenso, mas não podia evitar a sensação de que estava começando a entender o que Roberto queria dele. Não era apenas sobre o trabalho, sobre a academia, sobre a expansão. Era sobre o controle, sobre ser manipulado de maneira sutil e sedutora.
— Eu não sei se entendo o que você está sugerindo, Roberto. Lucas respondeu, tentando se manter firme.
Roberto inclinou-se para frente, com um sorriso enigmático.
— Não se preocupe, Lucas. Você entenderá. Logo. Eu sempre consigo o que quero.
Parte XXIX – Capítulo: O Jogo de Poder
A atmosfera no bar era sofisticada e, ao mesmo tempo, intimidadora. As luzes baixas e a música suave ao fundo ajudavam a criar um ambiente de introspecção. Mas para Lucas, o peso das palavras de Roberto parecia quase sufocante. Ele tentava se concentrar em algo mais leve, qualquer coisa para tirar a sensação de opressão que Roberto havia imposto. Mas sabia que não podia fugir da conversa. A última provocação de Roberto ainda ecoava em sua mente: "Você entenderá, Lucas. Logo. Eu sempre consigo o que quero."
Roberto se recostou na cadeira, ainda observando Lucas de uma forma que o fazia se sentir exposto, como se estivesse sendo analisado, minuciosamente. Havia algo em seu olhar que parecia ler os pensamentos de Lucas, penetrando as defesas do jovem. E, mesmo assim, ele não conseguia desviar os olhos. Havia algo irresistível em Roberto, algo que o atraía, o fazia querer responder ao desafio, mesmo sem querer.
Roberto, sempre com um sorriso enigmático, começou a falar de maneira mais suave, mas ainda com aquele tom de poder:
— Eu sei o que você está pensando, Lucas. Ele disse, quase como se estivesse se divertindo. Você está tentando entender como eu faço isso. Como consigo colocar as pessoas em situações que, no fundo, elas sabem que não deveriam estar. Mas aqui está a questão: você tem as respostas, você sabe o que está acontecendo. O problema é que não sabe se deve seguir ou se deve recuar. E é isso que o deixa tenso, não é?
Lucas, um pouco atordoado, tentou manter a postura, mas suas mãos estavam suadas. Ele não sabia o que responder. Sabia que Roberto estava certo, e isso o incomodava ainda mais.
— Não sei se entendo o que você quer de mim, Roberto. Lucas respondeu, tentando parecer calmo, mas a tensão em sua voz era inconfundível.
Roberto inclinou-se para frente, agora mais próximo, e o olhar dele foi direto, profundo, quase penetrante. Ele falou com uma intensidade que quase fazia o ambiente em volta desaparecer:
— Você sabe o que eu quero, Lucas. Não se engane. O que eu quero é que você se entregue. Que deixe de lutar contra algo que já está acontecendo. Você tem o potencial, você sabe disso. E eu estou aqui para ajudar você a alcançar aquilo que você nem imagina ser capaz de fazer.
Lucas sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele não podia negar que as palavras de Roberto tinham peso, que a maneira como ele falava parecia levá-lo a um lugar de vulnerabilidade. Roberto estava certo sobre uma coisa: ele sabia que Lucas estava lutando contra si mesmo. Mas não queria admitir isso. Não queria cair na armadilha que Roberto estava montando, mas, ao mesmo tempo, não sabia como sair dela.
— Eu não preciso de ajuda para ter sucesso, Roberto. Eu já estou indo bem. Lucas tentou se manter firme, mas a verdade era que ele não acreditava completamente no que estava dizendo. Ele estava cansado de sempre ter que ser o forte, o imbatível, o que sempre tomava as rédeas. Ele sabia que Roberto tinha um poder sobre ele. E esse poder não era apenas físico, não era só a atração. Era algo mais sutil, mais profundo. Era psicológico, e isso o deixava desnorteado.
Roberto, com seu sorriso enigmático, se levantou da cadeira lentamente, sem pressa. Ele deu um passo em direção a Lucas, e a distância entre os dois parecia diminuir a cada movimento. Lucas ficou paralisado, como se estivesse preso em algum tipo de jogo psicológico.
— Você pode achar que já tem tudo sob controle, Lucas. Que está no caminho certo. Mas a verdade é que você está apenas começando. O que você pensa que é sucesso ainda está longe de ser o que você pode realmente alcançar. Eu posso te ajudar a chegar lá, mas a questão é: você está disposto a se entregar a isso? Está disposto a perder o controle, a se submeter ao que é necessário para chegar ao topo?
As palavras de Roberto eram como ganchos, que se cravavam no coração de Lucas. Ele sentia a pressão aumentando, a sensação de que não havia mais volta, que ele estava caindo em um abismo sem saber se era capaz de subir de novo.
Lucas engoliu em seco, sentindo o peso do momento. Ele sabia o que estava em jogo. O que Roberto oferecia não era apenas uma chance de crescer profissionalmente, mas algo mais profundo, algo que desafiava sua identidade. Ele não sabia até onde estava disposto a ir. Não sabia o quão fundo ele estava se afundando.
— Eu não estou falando de um simples trabalho, Lucas. Eu estou falando de um estilo de vida. Roberto continuou, agora com um tom mais suave, como se estivesse tentando seduzi-lo de forma sutil. Você quer ser mais do que o que é, certo? Quer se destacar. Quer ter poder. E para isso, você precisa aprender a dominar os jogos que eu domino. E não se engane, Lucas, porque você já está jogando. Já está no meu jogo.
Lucas não conseguia mais dizer nada. A tensão no ar era palpável. Ele sentia que estava em um ponto de decisão. Sabia que, a partir daquele momento, sua vida não seria mais a mesma. Ele estava muito perto de ceder. Mas algo dentro dele ainda resistia. Ele não queria se perder. Mas não sabia mais como lutar contra algo que parecia mais forte do que ele.
Roberto sorriu, percebendo a luta interna de Lucas. Ele sabia que estava quase lá, que estava a ponto de quebrá-lo completamente.
— Eu espero que você pense nisso, Lucas. Porque o que eu tenho para te oferecer é mais do que você já imaginou. Mas lembre-se: você não vai poder sair mais quando decidir entrar.
Lucas permaneceu em silêncio, olhando para Roberto, as palavras ecoando em sua mente. Ele sabia que, a partir desse momento, não havia volta. A única dúvida era: ele teria forças para voltar atrás, ou estava pronto para seguir por esse caminho traiçoeiro?
Parte XXX – Capítulo: A Virada – O Jogo de Lucas
Quando Lucas se levantou, sua postura mudou de uma maneira que Roberto não esperava. Ele estava acostumado a ver Lucas sempre centrado, mas naquela noite, o brilho nos olhos de Lucas era diferente. Era um brilho de poder, de controle — e Roberto, acostumado a ser quem controlava tudo, sentiu-se desestabilizado.
— Roberto, eu trabalho com o bem-estar, com a saúde, com força. E hoje, você vai ver que força de vontade você vai ter que aprender a lidar — disse Lucas, com uma voz grave, carregada de intenção. Ele deu um passo à frente, quebrando a distância entre os dois, desafiando Roberto de uma maneira que ele não imaginava.
Roberto, que sempre se viu como alguém capaz de manter o controle em qualquer situação, agora se via diante de algo que não sabia como lidar. A maneira como Lucas o olhava, como se fosse um homem comum, como se fosse ele quem estivesse no comando, era algo que ele não esperava. E quando Lucas o convidou para ir a um lugar distante, Roberto não hesitou. Algo o atraía naquele convite, algo que ele não entendia, mas não conseguia recusar.
A caminho do hotel afastado, Roberto estava imerso em pensamentos confusos. Ele sabia o que estava acontecendo, mas não queria acreditar. Não queria acreditar que alguém, especialmente alguém como Lucas, fosse capaz de desestabilizá-lo dessa forma. Ele sabia que não podia se deixar levar por isso, mas ao mesmo tempo, algo em sua mente estava gritando para ir em frente.
Quando chegaram ao hotel, o ambiente era completamente desconhecido para Roberto. Tudo ali parecia distorcido, fora do seu controle, e ele sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. Era uma sensação estranha, desconfortável — ele estava em um território em que não sabia o que esperar. Mas Lucas parecia estar em casa.
Ao entrarem no quarto, a tensão era palpável. Lucas não disse uma palavra, mas os gestos que fazia falavam mais do que qualquer conversa poderia dizer. Ele caminhou até Roberto, e com um simples toque, começou a desabotoar a camisa do empresário.
— Você vai ver o que significa perder o controle, Roberto — Lucas disse em tom baixo, enquanto cada peça de roupa caía lentamente no chão. Roberto não sabia o que fazer, não sabia o que dizer. Algo dentro dele queria resistir, mas a tensão era tão forte que ele simplesmente não conseguia. Ele sentiu o calor de Lucas, a força de suas mãos, a pressão do seu olhar. E isso, de alguma forma, o fez querer mais.
Roberto, por mais que tentasse manter sua postura firme, sentiu o corpo reagir à presença de Lucas de uma forma que ele não havia antecipado. Cada movimento de Lucas parecia minar a confiança que ele sempre teve em si mesmo. Ele estava sendo despojado de mais do que suas roupas naquele momento; ele estava sendo despojado de sua mascarada autoridade, daquilo que o fazia se sentir invulnerável.
Quando a última peça de roupa caiu, Lucas o observou de cima a baixo. Os olhos dele estavam fixos, como se estivesse avaliando cada centímetro de Roberto, não apenas fisicamente, mas como se fosse capaz de ver através dele, penetrando em suas fraquezas.
— Você ainda acredita que controla tudo, Roberto? — Lucas perguntou, com uma provocação silenciosa em sua voz. Ele se aproximou mais, sentindo a respiração de Roberto aumentar. A intimidade entre os dois estava se tornando inegável, e Roberto, apesar de sua força e controle, sabia que algo estava prestes a acontecer que mudaria tudo.
Com um simples gesto, Lucas o empurrou levemente para a cama. A tensão entre os dois, que antes estava no campo do psicológico, agora se tornava palpável, real. Lucas se aproximou, colocando as mãos em Roberto, tocando-o de uma maneira que ele nunca imaginou ser possível. Cada movimento, cada toque de Lucas, fazia com que a resistência de Roberto fosse lentamente quebrada.
Os dois estavam agora no limite de algo que era inevitável. Roberto, antes o homem no controle, agora estava completamente submisso ao toque de Lucas, sentindo-se vulnerável, exposto de uma maneira que nunca tinha experimentado antes.
Lucas, percebendo o quanto Roberto estava se entregando, não hesitou. Ele tomou o controle da situação com uma confiança que Roberto nunca imaginou que alguém teria. E, naquele momento, a dinâmica entre os dois foi completamente invertida. Roberto, o homem que sempre teve o poder, agora estava à mercê de Lucas. O impacto daquilo tudo foi tão forte que, por um instante, ele se sentiu completamente perdido, sem saber como havia chegado ali.
À medida que a noite avançava, Roberto sentiu-se imerso em uma experiência única e transformadora. Era como se, a cada movimento, a cada ato de submissão, ele estivesse sendo desconstruído, e algo mais estivesse tomando seu lugar — algo que ele nunca imaginou que seria possível para ele.
Quando a noite terminou, ambos estavam exaustos, mas a tensão entre eles ainda pairava no ar. Lucas se levantou da cama, vestindo-se calmamente, enquanto Roberto permanecia deitado, olhando para o teto, completamente absorto em seus próprios pensamentos.
Ele não conseguia entender completamente o que tinha acontecido. A sensação de perda de controle era avassaladora, e ele se via se lembrando de Inácio, de quando ele também o dominava. Mas o que Lucas havia feito foi diferente. Não foi apenas um jogo de poder; foi algo mais profundo, algo que ele não conseguia entender, mas sabia que havia mudado dentro de si.
Lucas, ao perceber que Roberto estava distante, sorriu de forma discreta, mas carregada de certeza. Ele sabia que aquela noite havia sido decisiva. Ele não apenas havia tomado o controle, mas havia mostrado a Roberto que, por mais poderoso que fosse, ele também poderia ser vulnerável, e que seu império de confiança e controle poderia ser abalado.
Ao sair, Roberto olhou para Lucas com uma expressão distante. Ele não sabia o que dizer, mas sabia que a partir dali, nada seria mais como antes. Ele estava perdido, confuso, e agora tinha que lidar com as consequências daquela noite.
E Lucas, por mais que estivesse satisfeito com o que tinha conquistado, sabia que aquilo ainda estava apenas começando. Ele havia plantado a semente da dúvida em Roberto, e agora só o tempo diria o que aconteceria quando a verdade de seus próprios desejos começasse a emergir.
Parte XXXI – Capítulo: O Eco da Ausência
A manhã estava clara, mas a casa parecia distante e fria. Clara sentou-se à mesa de café com um olhar pensativo, a xícara nas mãos, enquanto Roberto estava apressado, como sempre, terminando sua refeição em silêncio. Ela observou seus gestos mecânicos: o modo como ele pegava a pasta de documentos, o modo como seus olhos passavam rapidamente pelos e-mails no celular, sempre focado nas coisas do trabalho.
A sensação de ausência de Roberto era palpável. Não era apenas física; ele estava ali, mas seu pensamento estava em outro lugar. Em uma parte da casa, em uma parte de sua vida que Clara não conseguia alcançar.
— Roberto... — Clara começou, hesitante, como se estivesse se preparando para algo que poderia ser doloroso. — Eu estava pensando... Que tal uma viagem? Um fim de semana só nós dois?
Roberto parou por um segundo, olhando para ela com o semblante cansado. Ele percebeu a tentativa de Clara de reverter a tensão, mas não soubera como responder. A última coisa que ele queria era estar distante de Clara, mas sua mente estava envolta em pensamentos sobre Lucas, sobre a noite passada, e tudo o que isso significava.
— Eu não sei, Clara... Estou com muito trabalho... Essas reuniões da empresa... O projeto da nova unidade... — ele começou a se justificar, mas logo percebeu o vazio de suas palavras.
Clara, no entanto, não estava convencida. Ela o olhou, com a sensação incômoda de que havia algo acontecendo ali que não estava sendo dito. Algo que ia além do cansaço. Talvez fosse a maneira como ele evitava o contato visual ou a frieza com que se preparava para sair.
— Roberto, você não está mais aqui comigo... Eu sei que você está ocupado, mas você parece estar em outro lugar.
Ele se levantou, pegou a pasta e caminhou em direção à porta, dizendo, de forma quase automática:
— Eu vou tentar, Clara. Prometo que tento.
Clara não disse mais nada, mas sabia que algo estava profundamente errado. Ela sentiu uma angústia crescente, como se uma parte de Roberto tivesse se perdido. Não era a primeira vez que ela sentia essa sensação, mas agora estava mais forte, mais clara. Algo fora do casamento estava mexendo com ele, e ela não sabia o quê.
Enquanto isso, Lucas estava no centro da academia, onde o trabalho parecia nunca parar. Ele estava envolvido nas reuniões sobre a expansão da unidade, agora em pleno andamento. Mas algo estava fora de lugar. Não havia Roberto lá para comandar o processo. Em vez disso, seus assessores estavam tomando as decisões, discutindo os próximos passos, e Lucas sentia uma vazio crescente.
Ele ainda estava surpreso consigo mesmo por como a noite anterior o tinha feito se sentir. Ele se sentia como se tivesse controlado a situação, mas a ausência de Roberto naquelas decisões fazia com que ele se perguntasse se realmente tinha dominado a dinâmica ou se ainda estava sendo manipulado.
Enquanto os assessores falavam, Lucas se sentia deslocado, sem poder de decisão. Roberto não estava mais ali, e agora ele tinha que lidar com o peso da responsabilidade sozinho. Ele havia se acostumado a sua presença autoritária, ao modo como Roberto moldava a conversa com uma simples palavra, um gesto, um olhar.
Agora, no entanto, ele se via em uma posição diferente, em que sua autoridade e poder estavam sendo testados. Ele não conseguia mais se concentrar, o olhar se perdia em algum lugar distante, e sua mente se fixava em uma única coisa: Roberto.
— Lucas, você está bem? — Perguntou um dos assessores, com um olhar curioso, mas sem perceber a inquietação que se passava no jovem.
— Sim... claro. Só... só preciso organizar os detalhes com mais calma. — Lucas disse, tentando esconder sua vulnerabilidade.
Ele havia se sentido seguro nas últimas semanas. Mas agora, com Roberto ausente, ele sentia o peso de não ser mais o centro da atenção. Ele percebeu que, por mais que tivesse se sentido empoderado na noite passada, ainda não sabia como manipular as situações como Roberto fazia com tanta facilidade.
A viagem que Clara propôs se concretizou, mas não da forma que ela esperava. Roberto, com sua cabeça em outros lugares, aceitou a viagem, mas foi claramente desconectado durante todo o percurso. Clara, por sua vez, não conseguiu desviar sua mente da ideia de que havia algo mais acontecendo. Ela passou a olhar para Roberto com mais atenção, percebendo os pequenos gestos de distanciamento, a falta de calor no olhar, a ausência de interesse genuíno.
Ele estava perdido em algo que ela não podia entender. E ela não sabia se deveria confrontá-lo ou esperar que ele se abrisse espontaneamente.
Durante a viagem, Roberto ficou absorto nas mensagens de trabalho e e-mails, e, mesmo com Clara tentando resgatar a conexão deles, o distanciamento foi se tornando cada vez mais evidente. Ele não tinha mais a energia para brincar ou sorrir como antes. Ele estava agora lidando com uma luta interna, dividindo sua atenção entre o casamento, o trabalho e o que havia acontecido com Lucas.
Parte XXXII – Capítulo: O Peso das Decisões
Clara, agora mais consciente da distância emocional que se formou entre ela e Roberto, tenta manter a normalidade enquanto começa a se perguntar o que está por trás dessa mudança. Ela sabia que não podia forçar as coisas, mas a desconfiança continua crescendo. Ela começa a se questionar se Roberto ainda está comprometido com o casamento ou se há algo que ele está escondendo. Ela tenta ignorar, mas cada gesto de Roberto, cada evasão de uma conversa importante, só alimenta a dúvida.
Por outro lado, Roberto continua imerso em seus próprios conflitos. O encontro com Lucas e a experiência que teve com ele começam a consumir seus pensamentos de maneira cada vez mais constante. Ele tenta se reconstituir, concentrando-se nos negócios, nas reuniões de trabalho e nos projetos da nova unidade. Mas cada vez que se vê em uma reunião, ele se pega procurando por Lucas. A ideia de estar perdendo o controle sobre sua vida o perturba profundamente.
Ao mesmo tempo, ele começa a perceber que, mesmo sendo o homem poderoso que sempre foi, há algo inexplorado dentro dele. Ele começa a se questionar sobre o que realmente quer. Será que o casamento com Clara é tudo o que ele sempre quis? Ou será que, ao se envolver com Lucas, ele encontrou algo que estava faltando há muito tempo em sua vida?
Lucas, por sua vez, encontra-se em um ponto de virada. Ao sentir a ausência de Roberto nas decisões de negócios e nas reuniões, ele percebe que talvez tenha subestimado a complexidade do relacionamento que estavam começando a construir. Ele pensou que tivesse tomado as rédeas da situação, mas as inseguranças começam a aflorar. Ele ainda sente o poder de Roberto, mesmo quando ele não está presente fisicamente. A ausência de Roberto na rotina de negócios de Lucas é um vazio que ele não sabe como preencher.
Após a viagem com Clara, Roberto retornou para a rotina com uma sensação de alívio, mas também de cansaço emocional. Durante a viagem, ele teve a chance de se reconectar com Clara e, ao mesmo tempo, se afastar um pouco das tensões com Lucas. Ao perceber que a desconfiança de Clara estava começando a se dissipar, ele tomou uma decisão estratégica: se render ao desejo dela, mostrar-lhe que ele ainda se importava, ainda estava comprometido. Tudo isso para livrar qualquer suspeita de que algo estava acontecendo fora do casamento.
Clara, ao ver Roberto mais atento e presente, deixou as desconfianças de lado. Ela começou a pensar que a ausência de Roberto, na verdade, era devido ao excesso de trabalho e não por outra razão. Ela acreditava que o marido tinha sido consumido pela pressão dos negócios, mas agora parecia mais atencioso, mais próximo. Isso lhe dava um certo alívio emocional, e ela decidiu deixar a questão de lado, pelo menos por enquanto.
Ao retornar da viagem, Roberto se sentiu mais leve, mas também com uma inquietação crescente dentro dele. O que aconteceu entre ele e Lucas ainda o assombrava. Ele não queria ignorar o que sentia, mas sabia que não poderia simplesmente deixar que aquilo se apagasse. Ele precisava de respostas, precisava compreender o que estava acontecendo dentro de si. Não era mais apenas uma atração física; era algo mais profundo, mais intenso, algo que ele ainda não conseguia explicar.
Foi então que ele tomou a decisão: ligou para Lucas. Precisava resolver aquilo, precisava confirmar se o que sentia por ele era algo verdadeiro, algo que poderia ter mais impacto em sua vida. Lucas, por sua vez, ainda estava imerso no mesmo dilema. Ele sabia que o encontro anterior havia mudado tudo, que sua relação com Roberto estava em outro nível agora. Mas ele também sabia que se entregasse de novo, não seria algo simples. Havia muito em jogo, não só para ele, mas para ambos.
Quando Roberto ligou, a proposta foi clara: um segundo encontro, naquele mesmo hotel onde tudo começou. Ele sabia que precisaria de mais respostas e que, com Lucas, as coisas poderiam ser diferentes. Era um ambiente isolado, onde eles podiam ser quem realmente eram, sem as máscaras que usavam no dia a dia. Eles precisavam se entregar ao que estava acontecendo entre eles, sem mais fugas.
Lucas, por sua vez, sabia que a ausência de Roberto em sua vida poeria deixá-lo mais vulnerável. O que ele sentia era algo profundo e, mesmo com o peso da situação, aceitou. Ele sabia que não conseguiria resistir por muito tempo, e também se via como um homem dividido entre o que desejava e o que era esperado dele. Mas, mais uma vez, ele não podia mais fugir.
Parte XXXIII – Capítulo: A Entrega Completa
A luz suave da noite penetrava pelas cortinas pesadas do quarto de hotel. O ambiente era íntimo e silencioso, exceto pelo som suave de respirações e o ocasional farfalhar das roupas. O lugar estava longe do mundo agitado que Roberto costumava habitar – longe dos negócios, das responsabilidades e do peso de sua imagem. Ali, no silêncio do quarto, ele se sentia vulnerável, mas também atraído por uma força que ele não conseguia negar.
Lucas, por outro lado, estava em um estado completamente diferente. Quando chegou ao hotel, o peso das dúvidas e da confusão que carregava no peito havia desaparecido. Ele sabia que havia algo de profundo e transformador entre ele e Roberto. A última vez que estiveram juntos, ele teve a sensação de que algo mudara, e agora, ele estava decidido a se entregar por completo a esse encontro.
Enquanto Roberto se movia pelo quarto, retirando a gravata e a camisa, ele sentiu uma leve tensão no ar, uma expectativa crescente, como se o espaço ao seu redor estivesse carregado de algo que ele ainda não conseguia compreender totalmente. Ele olhou para Lucas, que estava sentado na beira da cama, com um olhar mais intenso, mais seguro. Era um olhar que desafiava o controle que Roberto havia sempre tentado manter em todas as situações de sua vida.
Lucas levantou-se lentamente, e a aproximação dele foi calma, mas impositiva. Seus passos, quase imperceptíveis, revelavam o poder que ele agora tinha sobre a situação. Ele sabia que Roberto estava perdido, mas também queria que ele se sentisse enfrentado, testado. Quando finalmente chegou perto de Roberto, sua mão tocou suavemente o ombro do empresário.
— Você não pode mais fugir de mim, Roberto, — Lucas disse em voz baixa, quase um sussurro, sentindo o poder nas palavras.
Roberto não disse nada de imediato, mas o olhar que trocou com Lucas era suficiente para mostrar que ele estava ciente do que estava acontecendo. Havia um respeito implícito na maneira como ele olhou para Lucas, mas também uma disputa silenciosa. Ele estava sendo desafiado, e isso o fazia se sentir, de alguma forma, vivo de uma maneira que não sentia há muito tempo.
— Você pensa que pode me controlar, — Roberto respondeu, com um sorriso enigmático, mas suas palavras não eram tão firmes quanto ele gostaria que fossem.
Lucas aproximou-se mais ainda, seus olhos fixos nos de Roberto. Ele não estava tentando dominar Roberto no sentido clássico, mas sim, despertá-lo, forçá-lo a enxergar o que estava realmente acontecendo. O toque de Lucas foi firme, mas não agressivo. Ele queria mostrar a Roberto que a verdadeira entrega vinha de um lugar de confiança mútua, e não de controle. Isso era o que ele sentia agora: uma troca genuína.
— Não é sobre controle, Roberto, — Lucas disse, com um sorriso sutil, — é sobre confiar... confiar o suficiente para não precisar manter tudo sob domínio.
O ambiente parecia vibrar com essa troca de palavras, como se tudo estivesse se alinhando para o momento definitivo. Lucas deu um passo à frente, e a distância entre os dois se desfez completamente. Roberto estava agora diante de uma escolha. Ele sabia que não era um jogo qualquer. Ele estava se entregando a algo que jamais imaginara que fosse possível – algo que o fazia se sentir fora de controle, mas ao mesmo tempo, mais ele mesmo do que jamais se sentira.
A cada palavra trocada, a tensão aumentava. Lucas sabia como levar Roberto à beira da vulnerabilidade emocional, e Roberto sabia que, pela primeira vez, estava verdadeiramente à mercê de alguém que não o via apenas como o poderoso empresário, mas como um homem normal, com dúvidas, desejos e inseguranças.
— Eu não sou fraco, — Roberto disse, em um tom que misturava insegurança e desafio. Ele tentava reafirmar seu poder, mas suas palavras estavam vacilando.
— Nunca disse que você era fraco. — Lucas respondeu calmamente, sua mão subindo pelo peito de Roberto. — Mas todos nós temos algo que nos faz perder o controle. Você já perdeu o seu, não é?
Era uma provocação suave, mas a maneira como Lucas se aproximou e tocou Roberto foi como um golpe silencioso no que ainda restava da impenetrável fortaleza que Roberto construiu ao longo dos anos. O empresário sabia que não havia mais volta. Ele já estava ali, entregue ao desejo que crescia dentro dele.
Lucas, com um leve sorriso, começou a se aproximar, a pressão de seu corpo perto de Roberto fazendo o ambiente ainda mais quente. Cada passo parecia impor mais intimidade, e Roberto, por mais que tentasse manter o controle, sabia que aquilo era inevitável.
A entrega mútua aconteceu ali, não apenas física, mas emocionalmente. Roberto se viu totalmente vulnerável, pela primeira vez em muito tempo, não apenas à vontade de outro, mas à sensação de perda de controle que o fascinava, o atormentava e, ao mesmo tempo, o fazia sentir-se mais vivo do que jamais estivera.
A noite se desenrolou com uma intensa troca de emoções e desejo. A sedução não era apenas corporal, mas psicológica. Eles não estavam apenas explorando seus corpos, mas se entregando a uma dança complexa de poder e vulnerabilidade. Ambos se tornaram escravos do desejo, cada um tomando o que o outro tinha para oferecer.
Parte XXXIV – Capítulo: Sintonia Perfeita
A manhã estava nublada, mas a energia de Roberto parecia mais intensa do que nunca. Ele já havia passado o dia revisando os detalhes finais da nova unidade da academia, e agora, com o horário de treinamento marcado com Lucas, sentia uma adrenalina diferente, algo mais íntimo e pessoal no ar. A nova unidade estava prestes a ser inaugurada, e tudo estava se alinhando para ser o maior sucesso.
Lucas estava no campo de treino quando Roberto chegou, com a camisa polo justa e o olhar focado. Havia algo no modo como ele entrava no espaço agora, mais confiante, como se o corpo e a mente estivessem totalmente em sintonia. Lucas observava, e sabia que não era apenas o trabalho que fazia Roberto brilhar dessa maneira, mas a energia entre eles. Algo que nunca havia existido antes, mas que agora estava se tornando palpável.
— Preparado para o último treino antes da grande inauguração? — Lucas perguntou, com um sorriso provocador, se aproximando de Roberto.
Roberto deu um sorriso enigmático, aquele que sempre tinha, mas agora com um toque a mais de mistério.
— Sempre estou preparado para os desafios, professor. E você? — Ele caminhou até Lucas, a presença imponente que costumava ter no ambiente de negócios agora suavizada pela proximidade do treino. Ele sabia que aquele momento estava carregado de mais do que simples exercícios físicos.
Lucas começou a guiá-lo pelos movimentos, ajustando a postura de Roberto com a precisão de um especialista. Cada toque de Lucas em Roberto era uma mistura de profissionalismo e algo mais, algo que ambos tentavam ignorar, mas que não podia ser mais óbvio. A química estava no ar, e nenhum dos dois queria dissipá-la.
Enquanto Roberto levantava pesos, Lucas ficava ao lado dele, observando com atenção, mas também com uma provocação silenciosa.
— Você realmente parece ter o controle de tudo, não é? — Lucas disse, com um sorriso travesso, enquanto Roberto fazia mais uma série. — Não tem medo de perder o controle de vez em quando?
A pergunta era direta, e Roberto, como sempre, não hesitou em responder.
— O controle é algo importante, Lucas. Mas talvez... — Ele pausou, colocando o peso de volta no suporte e se virando para Lucas. — Eu goste de ser desafiado. Talvez o controle seja mais interessante quando se sabe que não se tem ele o tempo todo.
A conversa fluiu naturalmente entre eles, enquanto Roberto começava a perceber que o que antes era apenas uma distração física estava se tornando muito mais complexo. Ele queria mais do que os treinos. Queria algo que ele não podia controlar, algo que fazia seu coração bater mais rápido e sua mente ficar mais inquieta.
— Eu gosto de ser desafiado também — Lucas respondeu com um tom mais baixo, como se estivesse dando um aviso não dito, um convite implícito.
Roberto olhou para ele com mais intensidade, e o espaço entre os dois parecia diminuir. O peso dos exercícios, o suor e o esforço físico eram agora apenas uma desculpa para a tensão crescente. Eles estavam mais próximos, mais conectados do que nunca.
O treino seguiu com mais algumas séries, e a interação entre eles se tornou uma mistura de desafios, brincadeiras e olhares que não podiam mais ser disfarçados. Cada palavra de Lucas, cada movimento de Roberto estava carregado de algo mais, algo que não podia ser ignorado.
Quando o treino finalmente chegou ao fim, ambos estavam exaustos, mas havia uma energia no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer. Eles se olharam, e sem dizer uma palavra, sabiam o que se passava na mente um do outro.
— Grande trabalho hoje, Roberto — Lucas disse, com um sorriso, tentando manter a calma, mas o tom de sua voz estava mais suave, mais íntimo.
Roberto sorriu de volta, mas com um olhar que falava mais do que qualquer palavra poderia expressar.
— Você me desafiou, Lucas. E eu gosto disso. — Ele se aproximou de Lucas, de forma calculada, quase como se estivesse testando os limites de algo que agora estava além do físico. — Acho que esse é o tipo de desafio que a vida me oferece agora.
Lucas sentiu o calor da proximidade de Roberto e, por um momento, a ideia de perder o controle não parecia tão ruim assim. Ele sabia o que estava por vir, mas a tensão entre os dois ainda permanecia sem resolução.
— A nova unidade está quase pronta, não é? — Lucas disse, desviando o olhar por um instante, tentando afastar os pensamentos confusos. — Não posso esperar para ver tudo isso acontecendo.
Roberto assentiu, mas não parecia tão focado no trabalho agora. Ele sabia que a grande inauguração estava chegando, mas a sensação de conexão com Lucas o dominava de maneira inesperada.
— É tudo uma questão de timing, Lucas. E quando o timing é perfeito... bem, tudo acontece como deve. — Ele deu um sorriso misterioso. — A inauguração será um grande evento, mas acho que você e eu temos algo mais a resolver antes disso.
O clima de sedução pairava no ar, mas ambos sabiam que o que estava acontecendo não se tratava apenas de um treino ou de uma simples atração. Era uma luta interna de poder, controle e desejo, e aquela noite prometia ser decisiva para o futuro dos dois.
O telefone de Roberto vibrou em seu bolso, trazendo-o de volta à realidade. Ele olhou para a tela e viu o nome de Clara. Um suspiro escapou de seus lábios. Ele sabia que havia um novo capítulo prestes a ser escrito, não apenas no seu trabalho, mas na sua vida pessoal, e Lucas tinha um papel importante nisso.
— Parece que o trabalho me chama — Roberto disse, olhando para Lucas, seu sorriso um pouco mais cínico. — Mas podemos continuar essa conversa em breve. O que acha de um jantar antes da inauguração?
Lucas sorriu, sabendo que estava lidando com algo maior do que simples negócios ou desejo físico. O jogo entre eles estava só começando, e ele estava pronto para desafiar os limites mais uma vez.
— Eu adoraria — Lucas respondeu, sem hesitar. Ele sabia que aquela sintonia entre eles não poderia ser ignorada.
Ao saírem da academia, com a inauguração da nova unidade prestes a acontecer, ambos estavam cientes de que a noite de negócios seria apenas mais um palco para o jogo de poder, sedução e controle que estavam jogando — e ambos estavam dispostos a ver até onde poderiam chegar.
Parte XXXV – Capítulo: A Noite de Conexão
A noite havia caído, e Lucas sentia a antecipação vibrar no ar. Ele estava no hotel novamente, o mesmo lugar que se tornara palco de tantas emoções. O ambiente estava silencioso, mas dentro dele, uma tempestade de pensamentos e sensações começava a se formar. Ele sabia que Roberto o procurara novamente, dessa vez de uma maneira diferente, como se estivesse se entregando mais, como se a distância que ambos haviam criado começasse a desaparecer.
Quando Roberto entrou no quarto, não havia mais aquela postura rígida de empresário, não havia mais a pressão do chefe ou do marido de Clara. Ele parecia... mais leve. O homem que costumava andar com uma aura de poder agora parecia um pouco mais vulnerável. Lucas sentiu isso, e algo no fundo dele, que sempre esteve guardado, começou a se mexer.
Roberto olhou ao redor, os olhos fixos no ambiente, mas logo se voltaram para Lucas. Ele se aproximou devagar, como se tivesse sido puxado por um fio invisível.
— Você sabe o quanto é difícil para mim, Lucas — disse Roberto, a voz baixa, mas firme. — Eu sempre soube o que queria, mas você... você me desarma de uma forma que eu nunca imaginei.
Lucas não respondeu de imediato. Apenas deixou um sorriso discreto se formar nos lábios, sem dizer uma palavra. A tensão no ar era palpável, mas ele sabia o que precisava fazer. Ele se aproximou de Roberto com um movimento suave, seus passos quase silenciosos no tapete macio do hotel.
— Eu não preciso te desarmar, Roberto. Você já está entregue. Eu só te ajudo a reconhecer isso.
Roberto engoliu em seco, sua expressão desconcertada, como se aquelas palavras tivessem mexido com ele mais do que deveria. O jogo de palavras entre os dois nunca foi tão afiado. Cada frase carregada de significado, cada olhar mais profundo, como se estivessem falando em códigos que só eles podiam entender.
Lucas então se aproximou mais um pouco, agora muito mais próximo de Roberto. Ele podia sentir o calor da pele dele, a leveza do ar que ambos respiravam. E, com uma calma deliberada, tocou levemente o ombro de Roberto, sentindo o músculo tenso sob sua mão.
— Não precisa lutar contra isso, Roberto — disse Lucas, a voz um sussurro, quase um convite. — O que está acontecendo entre nós não é sobre controle... é sobre algo mais... algo que você não consegue evitar.
As palavras de Lucas foram como uma chave, abrindo portas que Roberto nem sabia que estavam trancadas. Ele sabia que estava em território desconhecido, mas a forma como Lucas o olhava, como o tratava com uma suavidade inesperada, começou a dissolver as barreiras que ele tinha cuidadosamente construído.
Roberto não podia mais negar o que estava sentindo. Ele havia resistido por tanto tempo, tentado manter a distância, mas agora não havia mais espaço para a negação. Ele queria. Ele queria Lucas de uma forma que nunca imaginara. E isso o assustava, mas também o atraía.
— Você tem razão — respondeu Roberto, seus olhos fixos nos de Lucas, agora mais intensos. — Eu... não consigo mais lutar contra isso.
Lucas não sorriu, mas sua expressão era de pura concentração. Ele sabia que esta era a noite. A noite que poderia mudar tudo, onde as máscaras que ambos usavam cairiam. E então, com um movimento que foi mais lento do que deveria ter sido, ele foi em direção a cama deitou-se de bruços, estando ali agora nu, mais relaxado, mais seguro.
A tensão entre os dois era quase elétrica. Lucas podia sentir o coração de Roberto acelerando, como se ele estivesse se permitindo pela primeira vez. Era um jogo sutil, de olhares e toques, onde o desejo e a dúvida se misturavam de maneira quase inevitável.
— Você quer isso, Roberto... ou está apenas tentando controlar mais uma vez? — Lucas perguntou, com um tom provocante, mas suave.
Roberto olhou para ele, os olhos brilhando com uma mistura de desejo e frustração.
— Eu não sei, Lucas. Eu só sei que, com você, não consigo controlar nada, após isso, Lucas sentia as gostas de suor caírem da testa de roberto e atingirem o seu ombro e ir deslizando por suas costelas. Entre sussurros, gemidos e suor a noite foi se passando...
E foi nesse momento, quando as palavras não eram mais necessárias, que a distância entre eles desapareceu completamente. Lucas tomou as rédeas da situação com uma confiança que Roberto não conseguia mais ignorar. Era como se, pela primeira vez, ele tivesse perdido o controle completamente. E isso não era mais algo que ele quisesse recuperar.
Ambos estavam conscientes do que estava acontecendo. A tensão estava no ar, mas não de uma maneira sufocante. Era uma dança. Uma troca. Lucas estava dando a Roberto a liberdade de ser mais do que o homem de negócios, mais do que o marido distante de Clara. Ele estava permitindo que ele fosse... humano.
Quando Roberto finalmente cedeu, o quarto parecia ser apenas um palco para o que estava acontecendo, onde as palavras e os gestos se misturavam em um jogo de sedução silenciosa, onde ambos estavam, finalmente, vulneráveis, mas, de alguma forma, isso os fazia mais fortes.
O que aconteceria a seguir? Não havia mais certezas. Mas, naquela noite, havia algo mais importante que qualquer outra coisa: a certeza de que ambos estavam, de alguma maneira, perdidos e encontrados ao mesmo tempo.
Enquanto se preparavam para partir, os dois não podiam deixar de rir da situação em que se encontravam, conscientes da ironia do destino. Em meio a todo o peso de suas vidas profissionais e pessoais, havia algo incrivelmente humano naquele momento. Roberto, com um sorriso sincero, virou-se para Lucas enquanto se enxugava, lembrando de um dos momentos mais constrangedores que ambos compartilharam na academia.
— Você lembra da primeira vez que você me pegou olhando para você no vestiário? — perguntou Roberto com um sorriso travesso.
Lucas riu baixo, ainda secando o cabelo com a toalha, lembrando-se daquelas situações inesperadas. Ele balançou a cabeça, achando graça.
— Sim, e você, sempre tão sério, tentando disfarçar. Achava que eu não tinha percebido, não é?
— Não consegui esconder nada de você, parece. — Roberto sorriu com um toque de ironia. — Mas quem diria, hein? Aqueles olhares desconfortáveis de agora se transformando em... bem, isso.
Eles se entreolharam, compartilhando um sorriso genuíno, como se soubessem que, apesar de todas as tensões e incertezas, aquele momento havia se tornado algo que ambos estavam aprendendo a abraçar. A risada dos dois ecoou pela sala, quebrando o clima denso que os envolvia, e ali, no conforto de seus próprios corpos e de sua companhia, parecia que eles estavam prontos para o próximo passo.
Enquanto terminavam de se arrumar, um certo alívio preenchia o ar. O grande dia estava chegando. A inauguração da nova unidade, o trabalho de meses, as conquistas pessoais e profissionais estavam prestes a se concretizar. Uma vitória não apenas para a carreira de Roberto, mas para ambos, pois, de alguma forma, estavam enfrentando suas próprias batalhas internas e descobertas. Logo, ao se olharem uma última vez antes de saírem, sabiam que aquela noite seria o encerramento de um capítulo e o início de outro, mais profundo e cheio de novas possibilidades.
E assim, entre risos, olhares e uma sensação mútua de cumplicidade, os dois se dirigiram para o descanso necessário, prontos para enfrentar os desafios do novo dia. A jornada deles estava apenas começando, mas, pela primeira vez, sabiam exatamente o que queriam alcançar — em suas vidas, em suas carreiras, e, talvez, um no outro.
Parte XXXVI – Capítulo: Meu Mundo Caiu
A nova unidade estava finalmente pronta para ser inaugurada. O ambiente estava carregado de expectativas e animação. Lucas, ao lado de seu chefe, observava atentamente os últimos detalhes. A equipe estava a postos, os convidados já começavam a chegar e ele, apesar da pressão, não conseguia esconder o brilho no olhar. O trabalho árduo de meses estava prestes a ser recompensado, e ele sabia disso. O nervosismo misturado com a satisfação de ter chegado até aqui era uma sensação nova e intensa para ele.
Mas algo naquele dia estava diferente. Lucas estava mais confiante, mais imponente. Não mais apenas o personal trainer da academia, mas agora um homem que se destacava. Sua roupa esporte fino justa delineava seu corpo jovem e torneado, deixando claro o quão longe ele havia chegado. O tom moreno de sua pele refletia a luz suave do salão, e ele estava ciente de como sua presença estava sendo notada. O sorriso em seu rosto era sincero, mas também escondia um turbilhão de emoções e incertezas.
Roberto, que tinha acabado de chegar, se viu surpreso ao vê-lo assim. Ele não sabia o que exatamente sentia, mas algo havia mudado. O brilho nos olhos de Lucas era algo novo, algo que ele não estava preparado para ver. Quando seus olhos se cruzaram, Lucas sorriu, e Roberto sentiu seu coração dar um salto. Havia algo naquele sorriso que o desarmava, algo mais do que simples simpatia. Ele tentou não se deixar afetar, mas não conseguiu evitar.
A atmosfera no evento estava tensa, com todos conversando e cumprimentando os convidados. Até que Clara entrou. Ela estava impecável, como sempre, com sua presença formal e discreta. Seu olhar atravessou a sala até que seus olhos finalmente se encontraram com os de Lucas. Ela sorriu, como se tivesse uma conexão única com ele, e se aproximou rapidamente.
— Olha só quem é o mais novo astro da academia! — ela disse com um sorriso brincalhão, ao se aproximar de Lucas. — Agora sim, me sinto orgulhosa de te ver aqui, todo elegante. Sabe que sempre achei que o treino não fosse o seu único talento, né?
Lucas sorriu de volta, claramente à vontade com a brincadeira, mas algo na maneira como Clara falava, com aquela intimidade, chamou a atenção de Roberto. Ele se sentiu desconcertado. Não sabia que sua esposa e Lucas eram tão próximos. Ele não imaginava que Clara tivesse esse tipo de interação com seu personal, e aquilo o deixou alerta, com uma sensação estranha que ele não sabia nomear.
Clara, sem perceber o impacto que causava em Roberto, continuou a conversa descontraída com Lucas. Ela se inclinou um pouco mais perto dele e, com uma expressão amigável, lhe disse:
— Parabéns, Lucas. Por seu trabalho sempre incrível! Sabe né que no fim das contas, terei a honra de ser a primeira matricula desta unidade para ser sua aluna novamente.
Lucas riu, o sorriso lindo e simpático no rosto, mas quando Clara se afastou e se dirigiu a Roberto, o sorriso de Lucas mudou. A alegria que ele sentia antes, com as brincadeiras de Clara, deu lugar a uma tensão que ele não podia disfarçar. Ele viu Clara se aproximar de Roberto e, sem hesitar, lhe deu um beijo, um beijo que foi, sem dúvida, um gesto de carinho e familiaridade, mas que para Lucas foi um golpe no estômago.
Ele ficou paralisado, seus olhos fixos na cena que se desenrolava diante dele. Nunca imaginou que Clara e Roberto tivessem uma relação tão íntima, tão natural. Ele se sentiu desestabilizado, como se o chão tivesse sumido debaixo de seus pés. A visão do beijo entre Clara e Roberto o deixou sem palavras. Ele não esperava aquilo, não sabia que eles tinham uma conexão tão forte. E, mais importante, não sabia como lidar com a ideia de que, apesar de todo o envolvimento que ele sentia com Roberto, Clara já estava ali, tão próxima e íntima dele.
Roberto, por sua vez, ficou surpreso, mas de uma maneira diferente. Ele olhou para Lucas, tentando compreender a reação dele. Não estava acostumado a ver sua esposa demonstrar tanto afeto público e espontâneo. Mas, ao mesmo tempo, o gesto de Clara parecia tão natural, tão habitual. Roberto, desconfortável com a situação, olhou rapidamente para Lucas, tentando medir a reação dele, mas não conseguiu entender o que estava acontecendo na mente do jovem.
Lucas se sentiu como se estivesse se afundando em um mar de emoções. Ele não sabia o que pensar, nem como reagir. A presença de Clara, a intimidade entre ela e Roberto, fez com que ele se sentisse vulnerável de uma maneira que nunca imaginou. Ele, que até então havia se sentido seguro em suas interações com Roberto, agora estava questionando tudo. O que ele havia achado ser uma conexão única, algo que transcendeu o profissional, parecia estar se tornando algo muito mais complicado.
Enquanto o evento seguia, Lucas tentou retomar sua postura, mas no fundo, ele sabia que algo havia mudado. A tensão no ar era palpável, e ele não conseguia mais ignorá-la. Ele tinha certeza de que o que sentia por Roberto, e o que parecia ser um caminho crescente de proximidade, estava sendo afetado por algo que ele não podia controlar: Clara, a esposa de Roberto, e os laços invisíveis entre eles.
A inauguração estava apenas começando, mas dentro de Lucas, uma tempestade silenciosa se formava. Ele não sabia como lidar com os sentimentos confusos que agora tomavam conta de seu coração. O que parecia ser um dia de conquistas agora estava carregado de inseguranças e dilemas que ele não sabia como enfrentar.
Parte XXXVII – Capítulo: Confronto no Ar
O evento de inauguração estava se encaminhando para o fim, e as últimas pessoas estavam começando a se retirar. O sucesso do dia parecia estar consolidado, mas dentro de Roberto, uma semente de dúvida começava a crescer. Ele observou cada movimento de Clara, desde o momento em que ela chegou até o instante em que interagiu com Lucas. Algo estava errado. O beijo no rosto de Clara, a forma como ela se aproximou de Lucas, com tanta naturalidade e cumplicidade, não saía da cabeça de Roberto.
Ao longo do evento, ele se manteve o mais distante possível de Clara, até que a última pessoa saiu. O salão estava vazio, e a noite parecia se arrastar lentamente. Roberto não conseguia mais disfarçar o que sentia. Ele a viu de longe, conversando com alguns convidados, ainda com aquele sorriso falso e educado, como sempre. Mas Roberto sabia que havia algo escondido por trás. Algo que ele não sabia exatamente o que era, mas que agora o incomodava profundamente.
Quando os dois finalmente ficaram a sós no carro, a tensão estava no ar, densa e pesada. Clara, ao lado de Roberto, mantinha uma expressão serena, mas sabia o que estava por vir. Ela não havia dado um único passo errado, não havia cometido nenhum erro – ou assim pensava. Mas o beijo de Clara em Roberto e a proximidade com Lucas estavam incomodando mais do que ela queria admitir. A situação começava a sair do controle, e o medo de ser desmascarada estava começando a crescer.
Roberto virou-se para ela no banco do carro, seu olhar penetrante. A voz grave e calma só fazia aumentar a pressão.
— Clara… — Ele começou, pausando para observar sua reação. — Não entendi uma coisa. Hoje, no evento, você e Lucas… — ele hesitou, buscando as palavras certas. — Vocês pareciam… muito à vontade. Muito íntimos. Desde quando vocês têm essa proximidade?
Clara engoliu em seco. Seu coração bateu mais rápido, e ela tentou manter a calma, mas a ansiedade estava começando a transparecer.
— Roberto… — Ela respondeu, com um sorriso que tentou disfarçar o nervosismo. — Lucas foi meu personal há algum tempo. E você sabe como ele é, muito simpático. Somos profissionais, apenas isso.
Mas Roberto não parecia convencido. Ele não tirava os olhos de Clara, tentando perceber qualquer sinal que fosse diferente, qualquer resposta que fosse evasiva.
— Claro… — Ele falou, a palavra saindo de sua boca com uma leve ironia. — Mas há uma diferença entre ser simpático e beijar alguém na frente de todos. Não foi só uma "simpatia", Clara. Foi algo mais. Eu vi a maneira como você se aproximou dele. Vi a forma como você falou com ele. É difícil acreditar que você estava apenas sendo profissional.
Clara, desesperada para manter a calma, desviou o olhar e olhou pela janela, tentando encontrar alguma resposta que fizesse sentido.
— Roberto… — Ela disse, com um tom mais baixo, mas tentando parecer firme. — Você está vendo coisas. Não há nada entre Lucas e eu. Eu já te disse, ele foi apenas meu personal, principalmente naquela vez que me machuquei, foi ele que esteve presente e não abriu mão de todo seu profissionalismo para me ajudar a recuperar e não perder o ritmo. Essa proximidade toda é só um reflexo do nosso trabalho, só isso.
Mas Roberto não estava mais convencido pelas palavras de Clara. Ele já tinha visto o suficiente, e o que ele sentia agora era uma mistura de desconfiança e algo mais: uma sensação de que sua esposa estava escondendo algo dele, algo que ele não estava preparado para enfrentar. Ele se aproximou dela, mais uma vez, e com voz grave, quase sussurrando, disse:
— Clara, eu sei quando você está mentindo para mim. E você não está sendo honesta. Não apenas com relação ao Lucas, mas com relação a tudo. Eu vi o que vi hoje, e não vou deixar passar. Não dessa vez.
Clara ficou em silêncio, o peso das palavras de Roberto começando a esmagá-la. Ela sabia que, naquele momento, seu segredo estava à beira de ser desmascarado, e isso a deixava em pânico. Ela não queria que ele soubesse, não queria que ele visse a fragilidade dela, o medo que ela sentia. Ela se endireitou no banco, tentando manter a postura, mas suas mãos estavam trêmulas.
— Roberto, por favor… — ela começou, a voz mais suave agora, quase suplicante. — Você está exagerando. Eu juro, não há nada entre Lucas e eu. O que você está pensando não tem base, não tem fundamento algum.
Ele a observou com um olhar penetrante, sem expressar qualquer emoção visível.
— Eu espero que você tenha razão, Clara. Porque se você não tiver, as coisas vão mudar entre nós. E eu não sei se será algo que eu consiga consertar depois. — Sua voz agora estava firme, sem espaço para dúvidas.
Clara sabia que ele estava sério. A tensão no ar era palpável, e ela não conseguia mais manter a postura que sempre usara. Ela sentia um nó apertado na garganta. Não havia como voltar atrás. Ela havia dado um passo no escuro, e agora ela tinha que lidar com as consequências.
Mas ela não sabia se Roberto conseguiria lidar com a verdade, caso ela fosse revelada.
Parte XXXVIII – Capítulo: Insonia
A noite estava silenciosa, mas dentro da mente de Clara, um turbilhão de pensamentos não a deixava descansar. Ela olhava fixamente para o teto do quarto, sem conseguir pegar no sono. A luz suave da lâmpada de cabeceira projetava sombras no canto do quarto, mas ela não conseguia se concentrar em nada além dos eventos do dia. O beijo de Clara em Roberto, a risada com Lucas, as palavras de Roberto que ecoavam em sua mente – tudo isso a estava consumindo.
Mas havia algo no olhar dele, algo diferente naquela noite, algo que ela não podia mais ignorar. A tensão que se formava entre eles estava se tornando insustentável. Ela sabia que Roberto a observava com desconfiança, que ele sentia que havia algo mais. Mas ela não podia deixar que isso a destruísse, não agora. O que havia acontecido entre ela e Lucas… era algo que ela não entendia completamente, mas que não podia mais apagar.
"Será que ele já sabe?", pensava Clara, virando-se de lado na cama. "Será que Roberto percebeu? E se ele descobrir tudo? O que vou fazer?"
O peso da mentira que ela carregava parecia crescer a cada hora que passava. Mas o que realmente a assustava não era apenas a possibilidade de Roberto descobrir, mas o que poderia acontecer depois. Clara sabia que se seu casamento fosse desfeito, se as coisas mudassem entre ela e Roberto, ela perderia tudo. O que ela mais temia agora era a perda daquilo que ela construiu com ele – a estabilidade, a vida confortável, o poder. E ela não estava disposta a abrir mão disso. Não por causa de Lucas, não por causa de algo que ela não conseguia controlar. Ela precisava de tempo. Mas o tempo estava acabando.
Enquanto ela se debatia com essas dúvidas, Lucas também estava longe de encontrar paz. Em seu pequeno apartamento, ele se mexia inquieto na cama, os olhos fixos no celular que tinha em mãos. Ele havia visto Clara naquele evento, e o beijo entre ela e Roberto ainda estava fresco em sua mente. Lucas não podia acreditar no que estava acontecendo. Ele sempre soubera que Clara era casada mas não com Roberto.
"Isso não faz sentido...", pensava Lucas, virando-se para o lado e olhando para o teto. "Como assim ela e Roberto têm esse tipo de… de conexão? Será que ela me usou? Será que todo esse tempo foi só parte de um jogo para ela?"
Lucas não sabia o que estava sentindo. A culpa, a confusão, o desejo e a vergonha estavam misturados em sua cabeça. Ele não conseguia entender o que havia se passado entre ele e Roberto, mas a cada momento que passava, ele sentia que havia cruzado uma linha da qual não havia mais volta. Ao mesmo tempo, ele não conseguia afastar os pensamentos sobre Roberto. A atração, o poder que ele sentia emanando daquele homem, o quanto ele se sentia vulnerável, mas também energizado pela tensão que existia entre os dois.
Mas aquela noite, depois de tudo o que aconteceu, Lucas não sabia mais o que fazer com os sentimentos conflitantes que o consumiam. Ele se perguntava se tudo aquilo tinha sido uma ilusão, se ele estava apenas projetando um desejo no que, na realidade, era apenas uma fantasia. Ele não estava preparado para lidar com a confusão de suas emoções, e a dúvida o deixava paralisado.
No entanto, mesmo em meio a esse turbilhão, Roberto também estava imerso em sua própria insônia. Em sua cama luxuosa, cercado pela segurança de sua vida confortável, ele não conseguia afastar os pensamentos que pairavam sobre ele. O que ele viu naquela noite – o sorriso de Clara, a intimidade com Lucas, a maneira como ela se distanciou dele durante o evento – tudo aquilo lhe incomodava profundamente. Roberto não sabia o que exatamente estava acontecendo, mas sentia que havia algo mais ali. Ele sabia que Clara estava escondendo alguma coisa.
"Ela não está sendo honesta comigo", pensava Roberto, virando-se na cama e batendo com os punhos nos travesseiros. "Eu vi como ela interagiu com Lucas. Eles têm uma história. O que mais ela está me escondendo?"
Ele já havia começado a questionar sua relação com Clara, mas agora as dúvidas estavam se tornando mais intensas. Ele se perguntava sobre o que havia acontecido com ele E Lucas. Como é que ele, tão seguro de sua vida e de seu poder, estava começando a perder o controle? Ele sentia que algo estava acontecendo, que o fazia questionar suas próprias escolhas, seu casamento, suas ações. Ele estava começando a perceber que havia algo mais em jogo, mas não sabia ao certo o que. Ele precisava de respostas.
O que Roberto não sabia era que a verdade estava prestes a se revelar de uma maneira que ele não imaginava. Clara, Lucas e ele estavam prestes a cruzar um ponto de não retorno, onde os sentimentos, as mentiras e as inseguranças iriam colidir.
Mas, naquele momento, o que os três tinham em comum era a insonia – o vazio de suas mentes, a inquietação de seus corações. Cada um em seu próprio mundo, sem saber o que o futuro próximo traria, mas cientes de que nada seria mais como antes.
Parte XXXIX – Capítulo: A Verdade no Caos
A manhã estava silenciosa, o sol começava a nascer e a luz suave iluminava o escritório de Lucas na nova unidade da academia. Ele se sentava em sua cadeira, o olhar distante, sem conseguir focar em nenhuma das tarefas à sua frente. Era difícil manter a cabeça no trabalho quando o coração ainda estava tão bagunçado. A verdade era que ele não sabia o que estava acontecendo. Entre ele e Roberto, algo estava além do comum, além do que ele poderia controlar. Ele não podia negar a atração, o desejo e a intensidade do que viveram, mas no fundo, a sensação de ser apenas um "jogo" para reacender a chama de um casamento em crise, o deixava cada vez mais distante de si mesmo.
“Será que fui apenas uma distração para ele?”, pensava Lucas, olhando para o calendário na parede do escritório, como se ele pudesse ver o futuro ali, como se estivesse esperando uma resposta que nunca chegaria. “Será que tudo o que aconteceu entre nós não passou de um jogo de poder? De uma forma de reacender a relação dele com Clara, de restabelecer a ‘ordem’ de sua vida? Eu sou só mais uma peça de uma vida perfeita que ele construiu, não sou?”
O peso do pensamento o esmagava. Ele havia se entregado a algo que, agora, parecia impossível de compreender. O que ele e Roberto tinham era diferente de tudo o que ele já havia vivido. Não era só atração, não era apenas sexo. Era algo mais profundo, mais forte. Mas ainda assim, o vazio que se seguia lhe dizia que ele não passava de uma válvula de escape. E se ele fosse apenas uma solução temporária para Roberto, algo que seria esquecido assim que a chama do casamento fosse reacendida?
Enquanto Lucas se afundava nessas dúvidas, o telefone de seu escritório tocou. Ele hesitou antes de atender, com a sensação de que algo ainda estava por acontecer, algo que poderia mudar tudo.
— Lucas? — a voz do chefe dele soou ao outro lado da linha. — Está tudo pronto para a hoje?
Lucas respirou fundo, tentando se concentrar. A pressão de gerir a nova unidade era grande demais, mas a mente dele estava distante. Ele não podia deixar que isso interferisse no seu trabalho.
— Sim, tudo certo — respondeu com um tom mais firme. Mas ele sabia que suas palavras não refletiam o que sentia. Havia algo a mais, algo que o estava dilacerando por dentro.
Ao mesmo tempo, do outro lado da cidade, Roberto estava na mesma encruzilhada emocional. Ele não sabia se aquilo que ele e Lucas estavam vivendo deveria ser ignorado ou aprofundado. Desde aquele encontro, uma sensação de vazio o perseguia. Ele sabia que havia algo em Lucas que o atraía de uma maneira que ele jamais tinha experimentado antes. Algo que o fazia questionar sua vida, seu casamento e suas próprias escolhas. Mas ele não sabia o que isso significava.
Sentado em sua mesa de trabalho, Roberto mexia no celular, procurando algo para distrair a mente, mas nada funcionava. Ele precisava ver Lucas novamente, precisava entender o que estava acontecendo entre eles. Mas ao mesmo tempo, a vergonha e o medo de se expor de verdade o paralisavam. Ele sabia que se aquilo fosse uma simples aventura, não teria sentido. Ele queria mais. Queria saber o que seria deles, o que ele realmente sentia. Mas a realidade de sua vida complicada, com Clara, com a empresa, com suas responsabilidades, parecia maior do que ele poderia suportar.
“Eu preciso de respostas”, pensava Roberto, enquanto se levantava da cadeira e caminhava até a janela do seu escritório. A vista da cidade não trazia conforto. “Eu preciso ver Lucas. Preciso entender o que eu estou sentindo. Mas como?”
Era impossível ignorar o desejo que ainda queimava em seu peito, algo mais forte do que ele imaginava. Ele não sabia o que iria acontecer, mas sentia que não podia deixar as coisas terminarem assim, sem um fechamento. Precisava de algo mais.
Com uma decisão tomada, Roberto pegou o telefone e ligou para Lucas.
— Lucas, preciso falar com você — a voz dele soava firme, mas com um tom de urgência.
Lucas hesitou ao ouvir o nome de Roberto. A última coisa que ele queria era se envolver mais. Mas, ao mesmo tempo, o desejo de saber a verdade, de entender o que estava acontecendo, também o consumia.
— Sobre o quê? — respondeu Lucas, tentando manter a frieza, mas sentindo sua voz falhar.
— Precisamos conversar. Eu quero ver você hoje.
Lucas, por um momento, pensou em recusar, em desligar e seguir em frente com a rotina que ele havia criado na nova unidade. Mas, ao olhar para a agenda, ele sabia que a conversa era inevitável. O que estava acontecendo entre eles não ia simplesmente desaparecer. Ele precisava de respostas. Então, com um suspiro, aceitou.
— Ok, vamos nos ver — disse Lucas, sem saber exatamente o que o aguardava.
Enquanto ele desligava, sentiu um turbilhão em seu estômago. Não sabia se estava fazendo o que queria ou o que precisava. Mas algo o dizia que essa conversa seria decisiva. E a única certeza que ele tinha era que nada mais seria como antes.
Parte XL – Capítulo: O Refúgio da Alma
O carro deslizou suavemente pela estrada, afastando-se das luzes da cidade e ganhando a tranquilidade da noite. Roberto não falava muito, seus olhos focados na estrada à frente, como se estivesse se preparando para algo, ou talvez fugindo de algo. Ao lado dele, Lucas sentia a tensão do momento pesar sobre os ombros, mas não ousava quebrar o silêncio. Ele sabia que algo importante aconteceria naquela noite, mas o quê, exatamente, ele ainda não podia prever.
Quando finalmente chegaram, Roberto estacionou o carro em frente a uma casa simples, mas encantadora, que parecia estar imersa em meio a um campo aberto. Era uma casa de campo, com grandes janelas que deixavam ver o interior iluminado por uma luz suave, acolhedora. As paredes externas estavam cobertas por heras, e o som da natureza — o canto dos grilos, o farfalhar das folhas ao vento — preenchia o ambiente, criando uma sensação de paz e isolamento.
Lucas olhou para Roberto, sem saber o que dizer, mas algo naquela casa parecia acolhê-lo imediatamente, como se o lugar estivesse esperando por eles.
— Eu venho aqui quando preciso de espaço… quando o mundo lá fora fica pesado demais — Roberto disse, saindo do carro e olhando para Lucas, como se medisse sua reação.
Lucas assentiu lentamente, sentindo a quietude do lugar penetrar em seu peito. Não era o que ele esperava, mas, ao mesmo tempo, a calmaria o atraía. O som do vento, o cheiro da terra, o ambiente silencioso e afastado da rotina frenética da cidade — tudo isso parecia como uma pausa, uma fuga momentânea.
Enquanto Roberto abria a porta da casa, Lucas percebeu que não era só o lugar que carregava uma energia única. Era também a presença de Roberto, que parecia se soltar um pouco mais ali, como se estivesse mais confortável consigo mesmo, mais presente. Era uma sensação estranha, mas reconfortante, e algo dentro de Lucas começou a relaxar, embora ele ainda carregasse a dúvida de que tudo aquilo poderia ser apenas mais uma distração.
Dentro da casa, o ambiente era acolhedor, com móveis rústicos e uma grande lareira que aquecia o espaço. Tudo parecia ter sido cuidadosamente escolhido para criar uma atmosfera de tranquilidade. Roberto foi até a lareira e acendeu o fogo, enquanto Lucas olhava ao redor, tentando absorver a sensação do lugar.
— Fique à vontade — Roberto disse, com um sorriso suave, antes de se dirigir à cozinha. — Vou preparar algo para beber.
Lucas sentiu o convite silencioso no gesto e decidiu explorar um pouco mais o ambiente. Caminhou até uma janela grande que dava para o campo, e pela primeira vez naquela noite, ele se sentiu um pouco mais leve. As preocupações sobre o que estava acontecendo entre ele e Roberto, o que ele deveria fazer, começaram a se dissipar. Ali, no meio daquele silêncio, o tempo parecia desacelerar.
Roberto voltou com duas taças de vinho e ofereceu uma a Lucas, que aceitou sem hesitar. Eles se sentaram no sofá, o olhar de ambos se encontrando sem palavras. O peso das conversas que estavam evitando parecia se dissolver à medida que o tempo passava. Ali, naquele lugar que Roberto escolheu, as tensões pareciam distantes, como se o mundo lá fora não existisse.
— Eu costumava vir aqui para pensar... — Roberto começou, quebrando o silêncio. Ele parecia mais à vontade agora, mais tranquilo, como se o local tivesse libertado algo nele. — Quando as coisas ficavam complicadas, eu vinha para cá, sozinho, para tentar entender o que estava acontecendo dentro de mim.
Lucas o observou, ainda segurando sua taça de vinho. Ele sabia que a conversa estava prestes a tomar um rumo diferente, mas, ao invés de questionar diretamente, se permitiu estar ali, no momento. O vinho esquentava seu corpo e sua mente, e tudo o que ele queria naquele instante era simplesmente... ficar.
Roberto, como se sentisse o peso da pergunta não dita, se aproximou de Lucas e colocou a taça de vinho sobre a mesa. Seus olhos estavam fixos nos dele, e a tensão que ambos compartilhavam estava mais palpável agora, mas de uma maneira diferente. Não era mais sobre decisões, era sobre estar ali, no agora.
— Às vezes, as respostas não vêm em palavras... — Roberto murmurou, antes de inclinar-se ligeiramente para frente. O espaço entre os dois diminuiu.
Lucas não se moveu. Ele sabia que estava prestes a ceder, mas, ao mesmo tempo, não conseguia entender completamente o que estava acontecendo dentro dele. O toque de Roberto, a proximidade, a energia que vibrava entre eles… Tudo parecia conduzi-los para um lugar onde a razão não tinha mais controle.
Sem mais palavras, Roberto alcançou o rosto de Lucas, suas mãos firmes e suaves ao mesmo tempo. O beijo veio como uma resposta silenciosa, uma ação que falou mais do que qualquer explicação poderia. Quando seus lábios se encontraram, tudo ao redor desapareceu. O calor da lareira, o cheiro da madeira que queimava, o som do vento lá fora — tudo foi esquecido. Só restaram eles, ali, no momento.
O beijo foi profundo, carregado de uma necessidade mútua de se encontrar, de se perder. Lucas, por sua vez, não resistiu. Ele se entregou àquele toque, àqueles braços que o envolviam com um cuidado inesperado. A tensão que vinha acumulando, as dúvidas, as ansiedades, tudo isso desapareceu à medida que o corpo de Roberto se pressionava contra o seu. E, por um instante, nada mais importava. Não havia mais a necessidade de decidir, de entender o que eles eram ou o que queriam ser. Só existia o agora, só existiam as sensações.
Eles se afastaram por um momento, ambos respirando pesadamente, sem saber o que dizer. Mas não era necessário. Não naquele lugar, não naquele momento.
Roberto olhou nos olhos de Lucas, como se buscasse uma resposta, mas também como se estivesse se permitindo a não ter uma. Ele não estava mais ali para resolver algo. O que ele queria agora era se perder naquele refúgio — naquele corpo, naquele toque, naquela entrega.
Lucas sentiu algo parecido. Não era a resposta que ele procurava, mas uma forma de encontrar conforto, de se conectar, de se entregar. Sem palavras, sem promessas, só o toque.
O resto da noite passou de forma quase etérea. Eles não discutiram nada. Não tomaram decisões. O corpo a corpo, o beijo, o sexo, o silêncio, tudo isso foi o que preenchia o espaço entre eles. E, por algum tempo, aquele refúgio foi suficiente para ambos. Era uma pausa no caos, uma ilha no meio da tormenta emocional que os cercava.
O amanhecer chegou sem pressa, mas sem que ambos percebessem o tempo passar. Quando a luz suave da manhã invadiu a casa de campo, eles estavam ali, juntos, deitados nu na cama, mas sem a necessidade de entender tudo. Ali, naquele momento, o futuro parecia distante, e o único reflexo era o conforto do agora.
Parte XLI – Capítulo: O Peso do Amor
Clara acordou cedo, com um aperto no peito que não conseguia nomear. Tinha passado a noite em claro, revirando na cama, tentando ignorar a sensação sufocante que crescia dentro dela. Algo estava errado. Ela sabia. Sempre soube quando Roberto estava distante, mas dessa vez era diferente. Era como se ele tivesse desaparecido de vez — não apenas do seu lado, mas de dentro dela.
Guiada por uma intuição que ela mesma não compreendia, Clara dirigiu até o único lugar onde ele ia quando precisava sumir do mundo. O refúgio. A casa que ela mesma ajudou a arrumar, anos atrás, quando ainda eram só os dois, quando aquele espaço ainda era deles. Ele sempre dizia que lá era onde ele encontrava paz. E era exatamente por isso que ela tinha medo do que poderia encontrar.
Ao se aproximar da casa, o coração de Clara bateu mais forte. O carro de Roberto estava lá. Ela desligou o motor e ficou parada, em silêncio, sentindo o vento frio da manhã entrar pela fresta da janela. Por um momento, pensou em voltar. Fingir que nunca esteve ali. Mas não conseguiu. Algo a puxava para dentro.
Com passos lentos, ela girou a maçaneta. Ela entrou em silêncio. O interior estava calmo, aconchegante, e a lareira ainda exalava calor, embora o fogo tivesse se apagado horas antes. Clara respirou fundo e caminhou até a sala. Foi então que viu.
Ali, no sofá largo, estavam os dois. Lucas e Roberto, deitados, envoltos no mesmo cobertor, os corpos entrelaçados com naturalidade. A cabeça de Lucas repousava no ombro de Roberto, e uma das mãos de Roberto repousava sobre o peito de Lucas, como um gesto involuntário de proteção — ou de amor.
Clara parou.
Por um instante, tudo dentro dela silenciou. O mundo ficou mudo, imóvel. Nenhuma palavra saiu de sua boca. Nenhuma lágrima escorreu — ainda. Ela simplesmente ficou ali, observando. E o que viu não foi luxúria, não foi traição no sentido vulgar. Ela viu amor.
Genuíno. Vivo. Pleno.
E não era para ela.
A dor, quando veio, não foi raivosa. Foi um afogamento lento, um nó na garganta que se recusava a desatar. Dois homens. Dois homens que, em momentos diferentes da vida, haviam feito ela se sentir a mulher mais desejada, mais valorizada, mais vista. Agora, estavam ali, juntos, envoltos em algo que ela nunca teve com nenhum dos dois. Um tipo de silêncio que só existe entre aqueles que já não precisam se explicar.
Clara saiu da casa como entrou: em silêncio. Lá fora, o dia começava a nascer com timidez, como se o mundo também sentisse o peso daquela descoberta.
Ela voltou ao carro, abriu o porta-luvas, pegou um bloco de papel e uma caneta. Com mãos trêmulas, começou a escrever. As lágrimas agora caíam sem parar, mas ela não tentou contê-las. Pela primeira vez, ela não queria ser forte.
A carta
Roberto,
Por muito tempo, eu tentei ser tudo o que você precisava. Eu tentei preencher os silêncios, tentei ser a presença constante, o colo, o espelho, a parceira. E por um tempo, nós conseguimos.
Hoje, eu entrei na sua casa — nossa casa de paz — e vi você. Vi quem você é quando está verdadeiramente em paz. E pela primeira vez, não me vi nesse reflexo.
O que eu testemunhei não foi uma traição. Não do jeito que as pessoas costumam entender. Foi algo maior, algo que me deixou sem chão, mas também me libertou.
Você amou. Você ama. E não sou eu.
Isso dói de um jeito que eu não consigo explicar. Mas, mesmo assim, eu estou escolhendo não fazer escândalo, não gritar, não pedir explicações. Porque eu vi. E eu entendi.
Você encontrou algo que é real.
Então, eu estou indo.
Vou levar comigo as lembranças boas. E deixar com você a liberdade de viver esse amor que, por mais que me destrua por dentro, é verdadeiro.
Adeus,
Clara.
Clara dobrou a carta cuidadosamente, ainda molhada por suas lágrimas, e a colocou no pequeno nicho da varanda, onde Roberto sempre deixava a chave ao sair. Ela respirou fundo uma última vez e se afastou, sem olhar para trás.
Naquela manhã, ela partiu sem dizer mais nada. Mas havia deixado tudo o que precisava — nas entrelinhas de uma carta e no silêncio de uma renúncia.
Capítulo XLII – Depois da Carta
A luz da manhã entrava suave pela janela, iluminando o quarto onde Roberto ainda se encontrava deitado, abraçado a Lucas. Eles dormiram juntos, ainda entrelaçados, o silêncio do quarto revelando o peso das horas que haviam passado ali. Mas o que Roberto não sabia era que, naquele silêncio, Clara estava prestes a deixar sua última marca na vida dele.
Quando ele acordou, sentiu o calor de Lucas ao seu lado, mas não conseguia explicar a sensação de vazio que de repente o preencheu. Algo estava diferente, mas ele não sabia exatamente o quê. Foi apenas ao levantar-se, movido por uma necessidade inexplicável, que viu a carta. Estava ali, sobre o pequeno nicho da varanda, dobrada com uma precisão quase dolorosa, como se fosse algo tão pesado quanto o próprio destino.
Com um suspiro profundo, Roberto pegou o papel. A letra de Clara era firme, mas sua alma já carregava tantos sentimentos que as palavras dela se misturaram à dor que se formava no peito dele. Não havia raiva, não havia acusações. Ela partiu em silêncio, sem mais nada a declarar, como quem sabia que palavras poderiam atrapalhar o que já estava além de qualquer explicação.
Ela não o culpava. A carta estava cheia de resignação, como quem entende que o amor, por mais belo que tenha sido, não pode ser forçado. Clara sabia que o que existia ali entre ele e Lucas era algo único. E, ainda que fosse uma dor imensa, ela escolheu sair sem lutar contra o inevitável.
Roberto ficou parado, lendo e relendo as palavras que já lhe pareciam um eco distante. E, enquanto as lágrimas começaram a cair sem aviso, ele não as conteve. Era como se, ao deixar que elas fluíssem, ele finalmente estivesse liberando o peso do que estava acontecendo ali. Clara havia o libertado, mas, ao mesmo tempo, ele sentia uma dor amarga. Ele sabia que, apesar de todo o amor que um dia existiu, ela agora aceitava o fim. E, com isso, ele também se via diante de um fim, mas não um fim de rancor. Clara se foi, mas deixou um espaço vazio, silencioso, entre ele e tudo o que estava por vir.
Lucas acordou pouco depois. Viu Roberto parado na varanda, segurando a carta nas mãos. O silêncio entre eles foi profundo, pesado. O coração de Lucas apertou ao ver o olhar de Roberto. Ele não precisou perguntar o que acontecera. O que viu nos olhos dele era mais do que suficiente.
— Está tudo bem? — a voz de Lucas soou baixa, hesitante.
Roberto virou-se lentamente, os olhos marejados, mas firmes.
— Ela esteve aqui. Viu a gente... e foi embora.
A dor estava visível em Roberto, mas havia algo em seu olhar que não se podia negar: uma aceitação dolorosa. Lucas deu um passo à frente, sentindo uma necessidade de proximidade, de ser o porto seguro que Roberto tanto precisava agora.
— Você está bem com isso?
Roberto apertou a mão de Lucas, quase como se procurasse se apoiar ali, em algo que fosse seu, algo que fosse verdadeiro.
— Ela entendeu que o amor... é maior que qualquer dor. O que eu sentia por ela foi verdadeiro, mas o que eu preciso agora... — Ele levou a mão ao peito, exatamente onde o coração ainda pulsava forte, com uma dor doce e pungente — está aqui. Com você.
O silêncio se instalou entre eles novamente, mas dessa vez, era um silêncio de compreensão, de aceitação. Roberto sentia a dor da despedida, a saudade que se aproximava, mas também sentia a força de um sentimento genuíno. Um sentimento que não pedia desculpas, não pedia permissão. Apenas existia, como o amor deve ser.
— Eu nunca quis magoar ninguém — ele disse, a voz embargada, quase inaudível. — Só queria encontrar um lugar onde eu fosse inteiro.
Lucas segurou o rosto de Roberto, seus olhos brilhando com uma intensidade única. Era como se ele já soubesse, sem precisar de mais palavras, o que aquilo significava.
— E você encontrou. Você encontrou.
Roberto sorriu, uma mistura de tristeza, resignação e uma esperança silenciosa, como alguém que finalmente compreende a complexidade do que sente.
— Amar é isso, Lucas. Amar é a coragem de ser sincero, mesmo quando dói. É saber que o amor, no final, sempre prevalecerá... do jeito que for, na forma que ele tomar.
Enquanto o sol começava a iluminar mais forte o quarto, dissipando as sombras que ainda permaneciam ali, Roberto sentiu uma paz silenciosa. Ele sabia, sem dúvida alguma, que o amor não precisava ser perfeito. Ele só precisava ser verdadeiro. E, finalmente, ele estava vivendo isso.
Epílogo – O Peso do Amor
"Lucas nunca soubera o que seria realmente 'seu' até aquele momento. Não o amor de Clara, não o amor de Roberto, mas o próprio amor que ele, finalmente, começava a entender e a aceitar. O amor que estava ali, com ele, em Roberto, mas também dentro dele, como uma força silenciosa que o atravessava a cada dia.
Ele se sentou na beira da janela, sentindo o calor suave da manhã sobre sua pele, como se o mundo ainda estivesse em movimento, mas ele... ele estava parado. Parado e em paz. Não era uma paz completa, ainda havia algo ali dentro, uma saudade que ele ainda não sabia como lidar. Mas ele não se sentia mais perdido. Não estava mais à deriva.
Ele havia ganhado o amor de Roberto, algo que, por tanto tempo, parecia impossível. Mas o preço dessa conquista havia sido alto. Não pelas palavras ou gestos, mas pela coragem de Clara. Ela o deixara ir, deixara-os viver, com uma compreensão silenciosa e uma despedida que ele sentia não ser só dela, mas de todos os amores não ditos, das promessas que nunca se cumpriram.
Lucas fechou os olhos, absorvendo tudo. O amor de Roberto era sua âncora agora, mas também sua dor. Porque ele sabia que havia algo genuíno naquele amor, algo puro, mas também sabia o quanto Clara, em sua própria dor, havia sacrificado para que ele tivesse esse amor. E isso... isso não era algo fácil de carregar.
Mas ele se permitiu sentir isso. Permitiu-se sentir o peso, mas também a beleza. Porque, no fim, Lucas soubera que o amor de Roberto não era uma fuga ou uma substituição. Não era um amor imposto. Era um amor escolhido, e isso tinha um valor imenso. Era o amor dele, com todos os seus defeitos e acertos, com todas as suas dúvidas e certezas.
Ele respirou fundo, e, pela primeira vez, sentiu que estava pronto para tudo o que viria a seguir. Não era mais sobre o que ele havia perdido ou sobre o que ainda não tinha. Era sobre o que ele tinha naquele momento, sobre a paz que ele sabia que existia quando dois corações se encontravam, sem pretensões, apenas verdadeiramente.
O amor de Roberto nunca o deixaria. Clara havia partido, mas deixara para trás o maior presente: a liberdade de viver um amor sem culpas, sem medos. Lucas sabia que, embora não fosse uma jornada fácil, ele estava pronto para enfrentar os desafios que surgiriam. Ele havia encontrado a paz no abraço de Roberto, no silêncio entre eles, e sabia que, agora, seria suficiente.
Porque o amor, afinal, é isso: é aceitar que, por mais que se perca, se ganhe, se transforme, ele sempre nos encontra novamente. E, talvez, esse fosse o maior presente que Lucas poderia receber."