Saí dali correndo. Já não aguentava mais. Só pensava em chegar no carro e ir embora o mais rápido e o mais longe possível da Fernanda, daquele lugar, de tudo aquilo. Meu peito ardia de raiva, de frustração, de decepção. E, acima de tudo, de um cansaço que parecia muito maior do que eu podia carregar.
Estava quase no estacionamento quando vi um casal vindo na direção contrária. Seus rostos me pareciam estranhamente familiares. Tentaram acenar, e eu, sem forças ou paciência, fingi que não vi. Acelerei o passo, mas eles me alcançaram.
— Ei, por favor… só cinco minutos. Precisamos conversar com você.
Parei. Respirei fundo. Que diferença faria mais um peso naquela tarde? Apenas assenti com a cabeça. O que mais eu ainda poderia perder?
Eles se apresentaram — Bianca e Fabinho. Ao contrário do que imaginei, não eram desconhecidos querendo fofoca ou confusão. Bianca começou a explicar que os dois eram amigos de infância, vizinhos desde pequenos e que tinham ido juntos para aquela faculdade.
Eu só pensava: Por que estão me contando isso? — até que ela foi direta.
— A gente sabe que você é namorado da Fernanda. A gente viu vocês juntos no dia em que ela veio conhecer a faculdade. E... a gente precisa muito te contar uma coisa séria.
Fiquei em silêncio, mas ela continuou. Sua voz era firme, mas cheia de cuidado:
— A gente sabe exatamente o que você tá sentindo. O Paulo... ele tá na faculdade há nove anos. Ele repete de propósito, só pra continuar à frente do Miss Bixete. E o motivo disso… é bem mais grave do que parece.
Aos poucos, as peças começaram a se encaixar, e o mundo ao meu redor foi ficando mais distante, mais abafado. Bianca revelou que as provas absurdas, as brincadeiras "engraçadinhas", não eram só exageros de veteranos. Era tudo planejado. Ele criava aquelas situações constrangedoras de propósito, para capturar imagens íntimas das calouras — um esquema sujo e antigo, sustentado pelo carisma falso e pelo abuso de poder.
— Todo ano é assim — disse Fabinho. — Ele se finge de irmão mais velho, conquista a confiança das meninas, e convence elas a entrar nesse “concurso”. E o pior é que quase ninguém percebe. Ou finge que não vê.
Bianca me olhou nos olhos e falou baixo:
— A gente tá te contando isso porque um grande amigo nosso passou por isso também. Ele era namorado de uma das meninas. Tentamos ajudá-lo, mas ele ficou tão destruído que largou tudo e foi embora do país. Nunca mais tivemos notícia.
Fiquei em choque. Tonto. O corpo parado, mas a mente girando em espiral. Senti como se estivesse em um pesadelo — um que eu não conseguia acordar.
Bianca então se aproximou um pouco mais e me perguntou:
— A gente tem um plano. Pra acabar com isso de uma vez por todas. Mas precisamos de você. Você tá dentro?
E mesmo sem saber como, sem nem entender direito o que viria pela frente, a única palavra que consegui dizer foi:
— Sim.
Bianca me contou que, desde o dia em que o amigo deles teve a vida destruída por causa do Paulo, ela e Fabinho tinham começado a espioná-lo discretamente. Foram juntando informações aos poucos. Em todos os eventos, ele tinha alguém escondido filmando. Depois, pegava essas gravações e as transferia para um computador que ficava em seu apartamento — um verdadeiro acervo privado de tudo o que acontecia nas etapas do Miss Bixete. Com esse material, vendia os vídeos em grupos obscuros, como se fosse um troféu sórdido da sua manipulação.
Naquele momento, meu foco começou a mudar. O sentimento confuso de dor e decepção deu lugar a uma certeza fria e objetiva: eu queria ver Paulo pagar. Aquilo não era só sobre a Fernanda, nem sobre mim. Era maior. E mais sujo do que eu imaginava.
Bianca continuou, mais séria:
— Se a gente conseguir entrar no apartamento dele e copiar esses arquivos, podemos fazer uma denúncia sólida. Acabar com isso de vez. Colocar o Paulo atrás das grades.
O plano era claro. No dia seguinte, enquanto a última etapa do concurso acontecia e Paulo estivesse no palco fazendo seu show patético, o apartamento dele estaria vazio. Seria o momento ideal para agir. Combinamos de nos encontrar às 22h, num ponto próximo ao prédio onde ele morava.
Depois de alinhar todos os detalhes, voltei para o carro. Tirei a fantasia que ainda usava e tentei dormir. Achei que passaria a noite em claro, com a mente girando, mas estava tão esgotado que adormeci em segundos. Sonhei com Fernanda. Nós dois viajando pela Europa, sorrindo, planejando um futuro juntos… Acordei com aquele tipo de dor silenciosa, que não vem com lágrimas, mas com um vazio. Mesmo sabendo agora de toda a manipulação, mesmo entendendo que ela tinha sido usada como tantas outras, eu sabia, com amargura, que não conseguiria mais olhar para ela sem lembrar de tudo aquilo.
Passei quase o dia inteiro dentro do carro. Evitei o mundo. Fernanda chegou a me mandar uma mensagem, mas respondi apenas com um seco “oi, tudo bem”. Era o máximo que conseguia dizer. Quando a hora marcada se aproximou, fui até o ponto combinado.
Bianca e Fabinho já me esperavam. Estavam tensos, mas decididos.
— Agora vem o desafio real — disse Fabinho. — Descobrir como entrar no apartamento.
Olhei ao redor. O prédio era silencioso, discreto, e o apartamento dele ficava no segundo andar. E então, vi: a porta de vidro da sacada estava entreaberta. A primeira brecha. Mesmo sendo alto para alguém como eu — que nunca tinha escalado nada além de uma cama beliche — algo dentro de mim empurrou o medo pra longe. A vontade de acabar com tudo aquilo me deu uma clareza estranha.
Observei cada ponto de apoio na parede. Um cano, uma grade, uma beirada estreita. Tracei o plano mentalmente, como se meu corpo já soubesse o caminho. Avisei Bianca e Fabinho:
— Fiquem de olho. Se virem alguém, assobiem. Eu vou subir.
Comecei a escalada. Cada movimento exigia mais do que eu tinha. As mãos tremiam. As pernas ardiam. Mas fui, ponto por ponto, até alcançar a sacada. Quando enfim entrei, um silêncio frio me envolveu. Estava na sala do apartamento do Paulo.
A primeira coisa que vi foi o computador, sobre a escrivaninha. A tela estava acesa, transmitindo ao vivo o palco do último dia do concurso. No canto inferior da tela, um número em vermelho: 358 viewers. Paulo estava fazendo uma live. A final estava sendo transmitida para alguém — ou para muitos. Um calafrio percorreu minha espinha.
Assisti por alguns minutos, como se tentasse entender a dimensão daquilo. O evento já estava em andamento. Os veteranos ainda estavam fantasiados, agora com as roupas ainda mais sujas, esgarçadas e sem os braços e pernas das fantasias. Paulo, sempre querendo se destacar, aparecia sem camisa, apenas com uma toalha estampada com ursinhos ridículos amarrada na cintura.
Fiquei parado, observando. O estômago revirava. A raiva crescia. E, mais do que nunca, eu sabia: era agora ou nunca.
Paulo, com seu inseparável microfone em mãos, parecia mais animado do que nunca. Caminhava de um lado ao outro do palco como se fosse o dono do mundo, e com seu tom ensaiado de showman barato, começou a agitar a plateia. Chamou as três finalistas uma por uma, sempre fazendo questão de levá-las até a beira do palco, dançar um pouco com elas, fazer graça para os veteranos que riam como se tudo aquilo fosse uma grande piada privada.
A última a entrar foi Fernanda. Com ela, Paulo fez questão de caprichar ainda mais no teatrinho. Pegou sua mão, girou ela em frente ao público, a abraçou, dançou colado, como se tivessem alguma intimidade que só ele reconhecia. Por dentro, meu sangue fervia. A raiva era tanta que mal conseguia respirar. Era como assistir um pesadelo acontecer diante dos meus olhos e não poder fazer nada — ainda.
Então reparei nas fantasias. As meninas estavam vestidas de “ursinhas”, mas o termo era só um disfarce para algo muito mais vulgar. As roupas eram minúsculas, quase inexistentes. Claramente desenhadas não para representar um personagem, mas para humilhar. Era tudo parte de uma encenação grotesca.
Paulo voltou ao centro do palco com o microfone em riste, pronto para dar seu grande discurso final:
— Agora, meus amigos… chegou a hora da maior prova de todas! A mais desafiadora, a mais lendária da história do Miss Bixete! Só uma vai vencer. Só uma vai mostrar que merece ser nossa Rainha do Palco!
A plateia explodiu em aplausos e gritos. Eu só conseguia olhar para Fernanda. Ela estava completamente entregue àquele momento, como se hipnotizada. Seus olhos brilhavam, mas não de alegria autêntica — era como se ela estivesse sob o efeito de um sonho falso, vendido por alguém que sabia exatamente como manipular a vaidade e o desejo de aprovação.
Ela queria vencer. Queria ser a maior. E mal percebia o preço que estava prestes a pagar.
Foi quando Paulo chamou seu “ajudante”. Um sujeito que parecia uma cópia dele: mesmo porte físico, mesma altura, mesma toalha ridícula com estampa infantil. A única diferença eram os cabelos — longos dreads amarrados no alto da cabeça. Eles se cumprimentaram no palco como dois artistas prontos para o número final de um espetáculo bizarro.
O público ria, batia palmas. Mas eu via outra coisa ali: um ritual de humilhação, prestes a acontecer diante de centenas de olhos — e agora, eu sabia, também diante de pelo menos 358 espectadores online, na live que ainda estava aberta no computador de Paulo.
E o pior… aquilo ainda estava só começando.
Paulo então chamou seu clone para frente do palco, nesse momento, em um movimento sincronizado, ambos arrancaram as toalhas e o que saiu de dentro delas deixou todos boquiabertos, um silêncio tomou conta da plateia, dois membros negros, de uns 25 cm, grossos como latas de refrigerante saltaram rígidos. Com seu microfone ele começou novamente a falar.
Paulo, no centro do palco, segurava o microfone como um troféu. O brilho nos olhos era o de quem sabia que tinha o controle de tudo ali — e que todos iriam aplaudir, não importa o absurdo que dissesse.
— A prova de hoje, meus amigos… vai exigir resistência! Vai exigir adaptação! — ele falava como se estivesse narrando um jogo olímpico.
Nesse momento, dois veteranos surgiram carregando um biombo alto, de madeira fina com um pano no meio, por esse pano se veria somente a sombra do que estivesse atrás, e o colocaram bem no centro do palco. A plateia, confusa, murmurava. Mas muitos já sorriam, como se soubessem o que vinha pela frente. O cenário estava montado. A armadilha pronta.
— Atrás desse biombo — continuou Paulo, agora andando devagar ao redor dele — está o verdadeiro teste. O teste final. A candidata que resistir por mais tempo eu, meu amigo e nossos brinquedinhos aqui, será a grande vencedora! Ela vai provar que tem o que é preciso para ser nossa Rainha do Palco!
Um silêncio estranho se formou por um segundo. Era como se até mesmo os veteranos não soubessem exatamente o que ele quis dizer com “resistir por mais tempo”. Mas, no fundo, muitos já imaginavam.
Paulo ergueu o microfone de novo, olhando diretamente para as meninas.
— E aí, meninas? Quem vai ser a primeira? Quem vai mostrar que merece esse título?
A plateia vibrou.
Eu, do alto do apartamento, assistia a tudo pela live ainda aberta na tela. Sentia o estômago embrulhado. Aquilo tudo era mais do que uma encenação constrangedora. Era uma armadilha cruel. E se aquilo fosse o que eu estava imaginando… era a hora de agir. De uma vez por todas.
As três finalistas se alinharam, mas o clima era visivelmente desconfortável. Duas delas trocavam olhares entre si, inquietas, com os braços cruzados, as expressões fechadas. Uma delas começou a discutir em voz baixa com um dos veteranos, enquanto a outra simplesmente balançava a cabeça, em negação, como quem já tinha passado do limite do que estava disposta a tolerar.
Dava pra ver que elas estavam incomodadas — bravas mesmo. Já tinham entendido que aquela "grande prova final" era mais uma encenação humilhante mascarada de desafio.
Mas Fernanda, não. Ela parecia estar em outra frequência. Como se aquilo tudo fosse parte de um sonho que ela vinha alimentando. Os olhos brilhavam, e a pose era a de alguém prestes a receber uma coroa.
Então, num impulso, deu um passo largo à frente, com um sorriso que beirava a euforia.
— Eu vou! — gritou, com a voz cheia de empolgação. — Elas nem precisam ir! Eu vou ser a primeira. Eu vou provar que sou a melhor!
A plateia reagiu com gritos e aplausos, como se fosse um momento épico. Mas ali, por trás da tela do computador, eu só sentia um nó na garganta. Não sabia se era mais raiva de Paulo ou tristeza por ver Fernanda tão cega, tão manipulada.
Ela estava pulando de cabeça em algo que não entendia… e talvez nem quisesse entender.
Naquele momento, Paulo — com aquele olhar que eu já conhecia bem, uma mistura de arrogância e posse — sorriu como um caçador diante da presa. Caminhou até Fernanda com passos calculados, e a envolveu num abraço que mais parecia uma armadilha.
— Justamente quem eu mais queria — disse, olhando para a plateia e depois direto para ela — vai ser a primeira. A nossa querida Fernandinha...
Enquanto isso, o outro veterano, o de dread, se aproximou e também a envolveu num gesto que não era nem um pouco inocente. Cercaram Fernanda como se ela fosse um troféu.
Ele se inclinou, falou algo no ouvido dela — algo que me arrepiou só de ver o jeito como ela reagiu, com um sorriso hesitante e quase submisso — e então os três caminharam juntos em direção ao biombo colocado no palco.
Como eu já temia, o tecido era fino o suficiente para revelar as silhuetas. As sombras se desenhavam de forma inquietante — um teatro grotesco, exposto à luz dos refletores e aos olhos da plateia, que, ignorando qualquer limite, ainda vibrava, como se aquilo fosse entretenimento.
Lá atrás, Fernanda desaparecia da minha vista. Só restava a sombra dela, envolta pelas duas outras. E naquele instante, pela primeira vez, tive certeza: algo precisava ser feito. E rápido.
Então começou o show, a primeira silhueta a se destacar era claramente paulo, ele se deitou, em sua sombra se via apenas a mão com o microfone e o seu enorme pau preto, duro, em riste apontando para cima. A segunda silhueta foi de fernanda, agora, se via apenas os contornos do seu corpo, a fantasia de ursinha que outrora vestia, já não estava mais ali, ela se posicionou sobre paulo e sua sombra foi engolindo a dele, nesse momento, não me contive e comecei a chorar ali mesmo, olhei para tela e já tinham mais de 1000 pessoas assistindo a minha desgraça.
De repente a terceira sombra aparece, o amigo de dread se encaixa atrás de Fernanda, o que eu nunca imaginei que ela suportaria.
Ainda com os olhos marejados, tentava encontrar forças para sair dali o mais rápido possível. O que havia visto já era mais do que suficiente para confirmar tudo que Bianca e Fabinho tinham me contado. Meu único pensamento agora era salvar aquela live — aquilo era prova. Prova concreta, inegável, capaz de acabar com Paulo de uma vez por todas.
Mas antes que eu conseguisse pensar em como fazer isso, algo ainda mais perturbador aconteceu.
A transmissão que até então mostrava o palco, cortou repentinamente. Uma vinheta surgiu, com uma voz grave, artificial, como de um locutor de rádio dos anos 90:
— "Paulo Produções apresenta... Visão Especial."
Na mesma hora, a imagem da transmissão mudou. A câmera, até então focada no palco, agora mostrava o outro lado do biombo.
Sim, enquanto quem estava no auditório via apenas as sombras difusas, quem assistia à live via tudo, em detalhes cruéis, iluminados e capturados por uma segunda câmera escondida. Uma transmissão exclusiva, feita para esse grupo específico — 1002 pessoas conectadas assistindo àquilo em tempo real, como se fosse entretenimento.
Na tela do computador, Fernanda aparecia sendo penetrada ao mesmo tempo por dois monstros, seus orifícios claramente sofrendo para suportar tamanhas ferramentas. Era como se tivessem montado um cenário clandestino, cuidadosamente planejado para expor, humilhar e vender.
Eu gelei. O que antes era indignação virou fúria.
Sabia, naquele instante, que não podia deixar que aquilo continuasse. Salvar aquela gravação não era mais apenas sobre mim ou sobre Fernanda. Era sobre todas as meninas que já haviam passado por aquilo.
E sobre impedir que acontecesse de novo.
Eles ficaram ali por cerca de 10 minutos e nesse tempo chegaram a trocar de posição algumas vezes.
Me recompus como pude, salvei a gravação em um pendrive e no próprio notebook, conferi duas vezes para ter certeza, e saí do apartamento. Bianca e Fabinho me esperavam lá embaixo, ansiosos. Quando viram meu rosto, entenderam que eu havia conseguido.
Sem perder tempo, fomos direto para a delegacia. Mostramos tudo: a gravação, o sistema de transmissão ao vivo, o conteúdo armazenado. Não havia dúvidas. A gravidade do material fez com que a polícia agisse imediatamente.
Em menos de uma hora, já estavam no local do concurso. Chegaram em plena “apresentação final”. Com o evento paralisado, um oficial subiu no palco com firmeza e anunciou:
— Paulo, você e seus comparsas estão presos. Encontramos provas contundentes em seu apartamento. Vocês vão responder por cada uma dessas acusações.
Um silêncio tomou conta do lugar. Os veteranos saíram de fininho, enquanto Paulo era algemado diante de todos.
No canto do palco, vi Fernanda. Ela me olhava, incrédula, como se não conseguisse aceitar que eu estivesse ali — que eu tivesse feito aquilo. Nos encaramos por alguns segundos. Ela parecia confusa, talvez sentindo que tudo o que acreditou era mentira.
Eu, por outro lado, não hesitei. A encarei com frieza, firmeza e dor. Virei as costas e fui embora.
Quatro anos depois…
Nunca mais vi Fernanda. Apenas ouvi por alto que ela havia se formado, mas não procurei saber detalhes. Passei esses anos completamente focado. Estudei, trabalhei, cresci.
Antes mesmo de pegar meu diploma, já havia aberto minha própria empresa — e ela decolou.
Tudo parecia estar em ordem. Menos uma coisa.
O amor.
Até conhecer Rita. Ela era diferente. Meiga, simples, decidida. Tinha 19 anos e havia acabado de se mudar para minha cidade. Me apaixonei como nunca achei que fosse possível de novo.
Namoramos por alguns meses e, um dia, ela chegou até mim com um sorriso misterioso:
— “Tenho uma surpresa... Fiz vestibular escondido. Passei! Vou estudar naquela federal que você sempre fala. A mais famosa do estado!”
Meu coração travou por um segundo. A faculdade. Aquela faculdade.
Mas me forcei a sorrir. Paulo estava preso. Aquilo havia ficado para trás. Não havia mais nada com que me preocupar.
Ajudei Rita a fazer as malas. A levei até o campus, com um misto de orgulho e nostalgia. Ela saiu para conhecer o local enquanto eu conversava com um funcionário na entrada.
Alguns minutos depois, olhei em direção ao pátio. Rita estava parada, sorrindo, conversando com alguém. Me aproximei um pouco. A pessoa falava com entusiasmo:
— “Então, você vai amar aqui! Já vai começar com o pé direito participando do Miss Bixete!”
Meu estômago revirou.
Quando olhei direito, congelei.
Era Fernanda.
O mesmo sorriso, o mesmo brilho nos olhos… mas agora havia algo mais. Algo que eu não sabia decifrar.