Voltar pra aquela casa era como mastigar vidro, cada passo pelo portão enferrujado rangia lembranças que eu preferia manter enterradas. Não era saudade, era teste de resistência, na verdade a única pessoa dali que me fazia falta era minha mãe, com todas as confusões, com toda a distância, ela ainda era meu ponto de referência, porque meu pai... bem, ele nunca foi meu pai, era ausente, sempre foi e nunca me enxergou de verdade.
Minha passagem ali era temporária, só queria um canto pra dormir uns dias antes de seguir viagem, um pouso provisório no inferno particular que um dia chamei de lar.
E pra minha surpresa quem abriu a porta foi ele, Marcos, o marido da minha mãe, aquele que um dia tentei chamar de pai, mas nunca o ouvi me chamar de filha.
— Pensei que fosse chegar só à noite. — Ele disse, a voz rouca e sem entusiasmo, carregando uma expressão de quem acabou de acordar de um cochilo.
Ignorei o tom, ignorei o rosto, queria ignorar a presença, mas não dava, ele estava ali, com aquela mesma cara de sempre, um homem que tenta ser correto, mas vive colecionando pecados pelas esquinas e o pior é que ele fingia tão bem que a maioria acreditava.
— Consegui pegar um ônibus mais cedo. Cadê minha mãe?
— Viajou ontem, por causa de uma excursão da escola. Ela não te avisou?
Dei um suspiro fundo e passei por ele sem dizer mais nada, sentindo o cheiro misturado de suor fresco e sabonete barato, tinha algo no jeito como ele se perfumava que me incomodava ou talvez me intrigasse, era aquele tipo de aroma que gruda e que deixa um rastro.
A casa estava quase igual, as paredes ainda carregavam aquele tom amarelado pelo tempo, o sofá com a manta mal esticada parecia não ter mudado de posição desde minha última visita, alguns quadros novos substituíram fotos antigas como se quisessem apagar lembranças incômodas, a poltrona nova destoava, moderna demais para aquele ambiente estagnado, como se tivesse sido colocada ali por engano. Mas nada disfarçava o cheiro abafado de poeira e desuso, nem a sensação de que o tempo estagnava entre aquelas paredes.
O peso no ar era denso, quase tátil, um tipo de silêncio que não dava trégua, como se a casa sussurrasse verdades incômodas, era um lar sem aconchego, uma estrutura cheia de ausências.E eu ali dentro, era mais uma intrusa tentando se convencer de que já tinha pertencido àquele espaço um dia.
— Você cresceu, hein. — Marcos soltou, encostado no batente da porta da sala, com os braços cruzados. O olhar dele percorreu meu corpo com um certo cuidado disfarçado, como se tentasse não demonstrar interesse. — Faz o quê? Uns cinco anos desde a última vez?
Assenti com um murmúrio, sem dar muita conversa. Mas percebi naquele instante, como ele havia mudado um pouco, o cabelo agora estava mais grisalho nas têmporas, mas continuava penteado para trás com aquele ar de homem que sabe se arrumar, o rosto marcado pelo tempo só acentuava a firmeza do maxilar e os olhos escuros mantinham o mesmo peso de sempre, um olhar profundo, desconfiado, que parecia saber mais do que dizia.
— Tá diferente... mulher feita agora. — A voz dele veio mais baixa, quase ensaiada, como se estivesse testando as palavras ou a mim.
Eu dei um sorriso curto, irônico. Meu corpo também notava as diferenças, meus seios haviam ganhado forma, minha cintura estava mais fina e meus quadris mais largos, eu não era mais uma adolescente e ele sabia disso.
Eu nunca fui a menina dele e nem ele quis ser meu pai de verdade, desde sempre havia uma barreira invisível entre nós, uma frieza calculada. Ele nunca me chamou de filha, nunca usou esse termo com naturalidade, o que havia entre nós era um convívio silencioso, uma espécie de convivência empurrada goela abaixo, uma educação mecânica, forçada, cheia de ausências e gestos automáticos que eu não engolia nem com reza.
Ainda assim, em algum ponto da minha infância, eu o admirava. Lembro de olhar pra ele quando era menor e achar que um dia ele poderia me acolher de verdade. Tentei acreditar que daria pra ser uma família, que havia uma chance de construção. Por muito tempo, desejei que ele me enxergasse, que me incluísse, que dissesse algo como “vem aqui, filha”. Mas ele nunca soube como dizer ou talvez, nunca quis.
Sempre fui tratada como uma presença incômoda. Uma menina inconveniente que ele tolerava por obrigação, que atravessava sua rotina como um incômodo inevitável. E essa ferida por mais que eu tentasse ignorar, ainda pulsava, quente, dolorida e viva, como se fosse ontem.
Larguei ele com seus pensamentos na sala e subi com minha mochila para o andar de cima, me instalei no meu antigo quarto. As paredes ainda tinham marcas de adesivos arrancados e a cama cheirava a guardado. Não demorei muito e fui para o banheiro no mesmo andar, entrei no chuveiro e deixei a água escorrer pelo corpo, tentando lavar o incômodo que me apertava o peito desde que cruzei aquele portão, mas as memórias não saíam com sabão.
Lembrei das vezes em que ainda adolescente, via Marcos trazer outras mulheres pra casa, elas passavam pelos cômodos como se fossem donas do lugar, entrando no banheiro com suas pernas longas e cinturas marcadas, deixando um perfume doce pairando no ar, eu observava escondida, mordendo a inveja. Na época, eu era só uma menina magricela, peito raso e olhar faminto por aprovação do homem da casa, achava que nunca chegaria àquele nível de feminilidade.
Teve uma noite... Uma daquelas que grudam na pele feito cheiro de cigarro: você finge que esquece, mas volta com força quando menos espera.
Minha mãe tinha saído e eu fiquei sozinha em casa. Marcos chegou tarde, trazendo uma mulher. Eles entraram rindo, como se a casa fosse deles e era. Eu só existia nos cantos. Fui para o quarto, tentei me esconder nos fones de ouvido, mas os sons atravessavam tudo, os passos, a cama rangendo, os gemidos abafados, o som dele, grave, baixo, arrastado. Meus pelos arrepiavam, fiquei parada, quieta, o coração acelerado, a respiração entrecortada. Eu não me toquei, não me permiti, mas não esqueci. A imagem dele suado, o cheiro que ficou pela casa, os olhos da mulher no dia seguinte, tudo aquilo ficou. Não era desejo, eu dizia. Era curiosidade, mas uma curiosidade que latejava entre as pernas, mesmo quando eu fingia não sentir.
Mas agora... agora eu sabia, meus seios preenchiam minhas mãos, meu quadril desenhava curvas que não passavam despercebidas, minha pele reluzia sob o vapor quente do chuveiro como convite, eu havia chegado lá, mesmo que isso fosse apenas para mim.
Saí do banho e sequei o corpo com calma, como se preparasse um ritual, escolhi uma blusinha de alça fina, sem sutiã, que colava nos seios como uma segunda pele, um short justo e leve, com o elástico ajustado à cintura, deixando as coxas à mostra. Não era exatamente uma produção, mas cada escolha tinha intenção, mostrar que eu podia estar à altura daquelas mulheres ou talvez até mais, ou sei lá.
Desci assim, com os cabelos ainda úmidos escorrendo pelas costas o cheiro de sabonete misturado a uma confiança nova, meio que pra provocar, meio que por não me importar.
O ar morno do corredor abraçava meu corpo recém-banhado, enquanto eu descia com passos lentos, consciente de cada centímetro à mostra, a blusinha colava nos seios úmidos, marcando os contornos com descaramento. O short justo subia sutilmente a cada movimento, delineando meus quadris largos e a bunda firme que agora preenchia qualquer olhar com mais do que apenas dúvidas.
Meus cabelos escorriam pelas costas como fios escuros de provocação. A pele ainda quente do banho, exalava um frescor doce e insinuante, a cada passo eu não era só mulher, era prova viva de que tinha crescido, de que agora podia ocupar o mesmo espaço que aquelas mulheres elegantes que entrava na casa.
Quando cheguei Marcos estava na cozinha, mexendo no celular, distraído. Quando me viu, os dedos congelaram sobre a tela por um segundo a mais do que deveriam, ele fingiu desviar o olhar, fingiu, mas seus olhos traíram sua intenção, passeando rápidos pela curva dos meus quadris e subindo com lentidão calculada até os meus seios, marcados sob o tecido fino da blusa colada. Não era surpresa, era constatação, ele viu e gostou do que viu.
Apesar de tudo, eu tinha que reconhecer, Marcos sempre teve um magnetismo silencioso. Não era só bonito, era um tipo de presença que se impunha sem esforço. As mãos grandes, com veias saltadas e pele firme. O cabelo, mesmo começando a mostrar os sinais do tempo, ainda era penteado com vaidade e intenção, os olhos escuros e fundos, guardavam histórias que ele nunca contava, mas deixava transparecer no olhar.
Ele tinha aquele tipo de postura que faz uma sala se calar, comandava sem erguer a voz e talvez por isso tantas mulheres se rendessem a ele. Eu mesma cresci ouvindo minha mãe falar sobre como ele era bonito, como se tivesse ganhado um prêmio. E não era só ela, outras vinham e iam, sempre bem-vestidas, cheirosas, mulheres com corpos de capa de revista e olhares seguros de quem sabia que seria bem comida naquela casa. Mulheres que, por muito tempo, eu observei em silêncio, comparando meu reflexo infantil ao corpo delas.
Mas agora... agora eu era parte desse reflexo. Não como sombra. Como presença.
Sentei no balcão, peguei uma maçã e comecei a comer devagar. Ele se levantou em um suspiro coçando a cabeça e abriu a geladeira.
— Quer suco? — Ele ofereceu.
— Só se tiver vodca junto. — respondi mastigando a maçã.
Esperei uma repreensão. Um sermão moralista sobre bebida, daqueles que um pai daria. Algo como "você é nova demais pra isso" ou no mínimo, "vai colocar uma roupa decente, menina". Um olhar reprovador, uma tentativa de impor autoridade, esperei ouvir um tom de pai na voz dele, mas não veio nada.
Nem uma bronca, nem uma frase atravessada. Apenas um riso fraco. Aquele riso de quem não sabe se deve brincar ou fugir. De quem está mais interessado em observar do que em corrigir. E aquilo me acertou em cheio. Mais uma confirmação de que ele nunca tentou ocupar aquele lugar. Nunca me viu como filha. Nunca quis assumir esse papel.
Eu era só mais uma presença naquela casa, mas com uma sombra diferente, a de quem cresceu desejando ser notada, mesmo que isso significasse entrar na pele das outras. O corpo que ele via agora não era só provocação. Era também cobrança, um espelho de tudo que ele nunca foi pra mim.
O silêncio voltou, denso, carregado, diferente, mas agora eu sentia nele algo novo, uma atenção. Não há atenção esperada de um pai diante da filha que voltou pra casa, era outra coisa, ele me via, finalmente me via, mas não pelo tempo passado, me via porque agora eu era mulher. Porque meu corpo falava o que minha boca nunca ousou dizer.
Os olhos dele passaram por mim como quem tenta disfarçar fome, eu vi e senti. Aquilo não era o olhar de um pai. Era o olhar de um homem acostumado a desejar, a escolher, a consumir. E Marcos sempre foi assim. Nunca escondeu o que era, mulherengo, silencioso, perigoso, minha mãe sabia disso e mesmo assim o aceitava, fingia estabilidade enquanto ele escapava pelas frestas.
Baixei o olhar para os meus próprios seios, agora visíveis e firmes sob a blusa fina. Meu corpo tinha mudado. E ele sabia disso. Não via problema algum em olhar, em desejar.
Voltei a encará-lo. E naquele instante algo virou dentro de mim: ele não me via como filha, nunca viu. E agora, me via exatamente como sempre soube enxergar mulheres. Não havia mais inocência ali, só reconhecimento, de carne, de desejo, de fêmea adulta.
...
A primeira noite foi um nó na garganta. Um emaranhado de pensamentos que não me deixaram fechar os olhos por mais de dez minutos seguidos. Não era só insônia, era confusão, meu corpo deitava, mas minha mente rodava como uma máquina inquieta.
Eu ainda não acreditava no que estava começando a perceber: Marcos... me desejava. Aquilo me revirava por dentro de um jeito que eu não sabia nomear. Nojo, sim, tinha nojo da ideia, da transgressão, da perversidade de tudo aquilo. Mas, por outro lado, tinha algo mais sombrio ainda, orgulho e excitação.
Sim, eu me sentia excitada por saber que ele, aquele homem que por anos representou a figura masculina da minha vida, estava me vendo, me enxergando de um jeito que nunca antes enxergava. Não como criança, não como filha, mas como mulher. E isso... isso era um poder que eu nunca tinha experimentado. Eu o deixava desconcertado, eu provocava algo nele que nem as amantes conseguiam provocar.
Me comparei, claro. Com todas aquelas mulheres que ele levava pra casa enquanto minha mãe viajava, ou mesmo sob o mesmo teto dela. Mulheres feitas, cheirosas, cheias de pose. Mas nenhuma delas carregava o que eu carregava, eu era mais, eu era o tabu, eu era a fruta proibida, a filha, e mesmo assim, ele me desejava talvez por isso mesmo.
A luz da sala ficou acesa até tarde. Ouvi seus passos pesados indo e vindo, a madeira rangendo sob o peso dele, como se a casa também soubesse do que estava se formando. Eu me virava na cama, sentindo o peito apertado, os mamilos sensíveis contra o tecido da blusa, o sexo latejando numa inquietação amarga.
Como podia sentir isso? Como podia me orgulhar de provocar esse tipo de desejo? Eu não sabia. Só sabia que era real. Queimar de vergonha e prazer ao mesmo tempo era uma tortura nova pra mim. E naquela noite silenciosa, enquanto o mundo dormia, eu descobri que o jogo tinha virado e eu não era mais só uma presença incômoda naquela casa. Eu era ameaça. Eu era mulher demais pra passar despercebida.
Na manhã seguinte, acordei com os olhos ainda pesados, o corpo envolto num calor estranho, como se a noite tivesse deixado resíduos na pele. Fiquei ali deitada por alguns minutos, tentando entender o que eu estava sentindo. As lembranças voltaram em flashes: o olhar dele, o silêncio carregado, a certeza silenciosa de que ele me viu de verdade, me viu como mulher.
Levantei e fui direto ao espelho, encarei meu reflexo com atenção. Meus olhos pareciam mais escuros, minha boca entreaberta como se ainda esperasse algo, meu corpo... firme, provocante, vibrando sob a lembrança daquele olhar, aquele olhar que me despiu sem encostar. Que me mediu com fome contida, era errado, era sujo, mas também era... viciante e excitante.
Eu queria mais, queria confirmar que não tinha sido imaginação minha. Queria sentir de novo aquela tensão no ar, aquele silêncio denso que só existe quando o desejo é proibido, e então decidi.
Escolhi um short de moletom justo, velho, com o cós gasto de tanto uso, mas que abraçava minha bunda como se tivesse sido feito pra ela, botei uma regata fina, branca ainda sem sutiã. Cada curva minha ficaria evidente, cada detalhe. Não era mais sobre teste, era sobre prova, eu precisava ver de novo aquele olhar. Precisava saber se ele realmente me via como eu achava que via, como mulher, como tentação.
Desci e encontrei ele no sofá, camisa aberta, tomando café preto.
— Tem pão na mesa. — Ele falou, sem me olhar.
Fui até a cozinha com passos lentos. Sabia que a regata colava nos meus seios, que o short subia quando eu andava. Peguei um pão sobre a mesa e servi café em uma xícara.
Voltei e me sentei de frente pra ele, cruzei as pernas devagar, sentindo o pano enrugar na dobra da virilha. O peito se projetava levemente com o movimento, os mamilos marcando sob o tecido fino. Sabia exatamente o que estava fazendo.
— Vai sair hoje? — perguntei, tentando puxar alguma conversa, qualquer coisa que me desse uma brecha para ele me olhar como ontem.
— Trabalho mais tarde, e você? — respondeu, sem levantar os olhos da xícara de café, como se a presença do meu corpo à frente dele fosse mero detalhe.
— Vou andar pela cidade... rever umas amigas. — menti, com a voz um pouco mais baixa, desconcertada.
Ele assentiu com a cabeça, distraído e continuou tomando o café como se eu fosse só uma sombra na sala. Não me olhou, não comentou minha roupa, nem mesmo tentou disfarçar um olhar curioso, nada, o silêncio dele agora era o mesmo de sempre, frio, indiferente.
Por um segundo, meu coração murchou, será que tudo aquilo que pensei na noite anterior tinha sido só fruto da minha imaginação? A tensão, os olhares, a certeza de que ele me desejava? Será que eu estava fantasiando tudo, criando cenas na cabeça porque queria me sentir poderosa? Ou ele estava apenas fingindo bem demais?
Naquele momento, entre um gole e outro do meu café, eu comecei a duvidar de mim mesma. Talvez eu ainda fosse só a garota inconveniente daquela casa, invisível ou pior louca por querer ser vista de outro jeito.
Passei a manhã rodando pela casa como quem desafia um território. Liguei a televisão em volume médio, mexi nos armários como se procurasse algo, mas, na verdade, queria ser vista. Usei o banheiro do quarto deles só porque sabia que ele perceberia. Deixei a porta do quarto entreaberta enquanto arrumava algumas coisas propositalmente barulhentas, como se cada gaveta aberta e fechada fosse um aviso de presença. Fui até a geladeira pegar uma garrafa d’água e me alonguei de propósito ao fechar a porta, projetando o corpo sem pressa, deixando as pernas bem visíveis.
Depois passei por ele mais uma vez na sala, fingindo que buscava algo na estante, abaixei, subi, virei de lado. Tudo com intenção, mas ele nem se mexeu, continuou vidrado no celular, impassível, como se eu fosse apenas um vento.
Na cozinha, decidi tomar posse de um espaço que antes era só da minha mãe, fui eu quem preparou o almoço. Abri as panelas, lavei os legumes, cortei os temperos com a firmeza de quem não queria só alimentar, mas provocar. Fiz tudo com movimentos lentos, calculados, a blusa colando no peito, a bunda projetada a cada vez que me abaixava pra pegar algo no armário, e mesmo assim... silêncio. Nem um comentário, nem um olhar mais longo, nem um gesto atravessado.
Talvez eu tivesse inventado tudo. Talvez minha mente, faminta por ser notada, tivesse pintado desejos onde só existia rotina, Marcos não me olhava, não reagia, não se incomodava com minha presença, minha roupa, meus gestos calculados e aquilo doía mais do que qualquer rejeição explícita. Porque o silêncio, quando vem depois do desejo, parece zombar da gente. Me perguntei se tudo que senti na noite anterior foi só um reflexo da minha carência, da minha sede de ser vista como mulher por ele, por qualquer um que pudesse provar que eu cresci.
Na hora do almoço, nos sentamos à mesa como dois estranhos que dividem uma cela. Cada garfada carregava mais do que comida: tinha silêncio, tensão e aquelas frases roteirizadas de elogios forçado pela comida.
Ele falava pouco e eu tambem não dava corda.
Depois, lavei a louça devagar, sentindo o calor da água escorrer pelos braços, quando virei para pegar o pano, me deparei com Marcos, Encostado no batente da porta da cozinha, braços cruzados, olhar cravado em mim, mas dessa vez... não havia disfarce. O olhar dele queimava, queimava minha pele, minha bunda empinada sob o short, queimava tudo o que ele fingiu ignorar durante a manhã inteira, e eu soube ali, naquele segundo, que tinha conseguido a confirmação que queria.
Fiquei paralisada por um instante, o pano ainda na mão molhada, senti a pulsação disparar. Ele me devorava com os olhos, como um homem que tentou lutar contra o impulso e perdeu.
— Você podia se vestir melhor dentro de casa. Isso aqui não é república de estudante — ele disse, mas a voz saiu falha, carregada demais.
Respirei fundo, contendo o sorriso de vitória que queria escapar.
— Talvez se você parasse de olhar tanto, não se incomodaria.
Silêncio, mas agora era outro tipo de silêncio, o tipo que confirma tudo sem precisar de palavras.
Ele se aproximou devagar, cada passo dele parecia carregar uma certeza suja e inevitável. E conforme a distância entre nós sumia, o cheiro dele me envolveu, aquele perfume amadeirado, masculino, familiar, mas agora carregado de outra intenção. Aquilo me pegou desprevenida, era como se minha pele reconhecesse antes da mente, Marcos era homem e um homem gostoso, forte e de presença firme, o tipo de presença que você sente no baixo-ventre antes de qualquer toque.
Ele parou bem perto, o olhar sério, tenso, os olhos fixos nos meus, mas o que me deixou tonta foi o volume marcando na calça, evidente, latejante, como se o desejo tivesse deixado de ser segredo. Senti minha calcinha umedecer no mesmo instante, meu corpo reagiu antes de mim.
— O que você quer com isso, Luísa? Por que tá me provocando desse jeito?
A voz dele veio grave, carregada quase rouca, mas vacilava, porque ele já sabia a resposta.
Não respondi, só encarei. Sabia que ele estava lutando contra o impulso e perdendo. O peito dele subia mais rápido, o maxilar tenso, a mão se abrindo e fechando ao lado do corpo como se procurasse onde tocar.
Ele deu um passo para trás, tentando se recompor, mas os olhos diziam outra coisa. Não era recuo, era espera, ele queria, só precisava de um sinal.
— Isso tá errado — disse, a voz falhando, como se até ele duvidasse.
Sorri com malícia, lambendo o lábio inferior devagar:
— Você repete isso pra quantas mulheres antes de meter nelas?
Ele franziu o cenho, ferido, ótimo, que doesse, que ardesse como eu ardia por dentro.
— Eu não sou como elas.
Me aproximei, roçando de leve meu quadril no dele, sentindo o volume escondido sob o jeans.
— Está fingindo que tem freio, mas seu pau já decidiu antes da sua moral. — Falei esbarrando a ponta do dedo no volume.
Ele respirou fundo.
— Não brinca com isso, Luísa. — Ele resmungou com malícia nos lábios.
O jeito como ele disse meu nome me arrepiou inteira, era uma advertência embriagada de desejo, mas não parei, eu queria quebrar tudo, as regras, os papéis, o nome que tínhamos um para o outro.
— Por que não me chama de menina, como sempre faz? Vai Marcos... me põe no meu lugar.
Ele cerrou os punhos, os olhos cravados nos meus como se quisesse me devorar, a tensão entre nós era uma corda esticada, prestes a arrebentar, só precisava de mais um puxão.
Me afastei um pouco e deixei os dedos passarem devagar pelo cós do short, como quem hesita. Mas não hesitei, deixei-o escorregar até as coxas, expondo a calcinha úmida, colada à pele, uma confissão sem palavras.
Os olhos dele desceram, demorados e quando subiram de novo para os meus, havia ali um incêndio represado, um pedido mudo que não precisava de palavras. Foi nesse olhar que eu entendi: ele só esperava que eu dissesse sim com o corpo e eu havia acabado de dizer.
Ele me agarrou pela cintura com as duas mãos quentes e me virou bruscamente, me prensando de frente para a bancada. Meu peito colidiu com a pedra fria da bancada e a boca se abriu num gemido sem som. Eu arqueei as costas por instinto, oferecendo mais, pedindo mais, entregando tudo. As mãos dele seguraram meus quadris com força, marcando território e naquele momento, não existia mais nada entre nós, nem moral, nem passado, só o agora, pulsando entre minhas pernas.
A mão dele veio de novo, mas dessa vez acariciando, deslizou pela curva da minha cintura, passou pela barriga e chegou aos meus seios duros, apertando com a palma cheia. Um gemido baixo escapou da minha garganta. Os dedos desceram, invadindo a renda da calcinha e encontrando o caminho entre os lábios já molhados, ele melou os dedos ali, devagar, explorando meu calor com a ousadia de quem já sabia o que queria.
As mãos dele vieram com força para a minha cintura, firmes, decididas. Desceram pelos meus flancos até encontrarem a borda da calcinha, e ali, com os dedos rudes, puxou o tecido para baixo, fazendo-o escorregar até metade das minhas coxas. Senti a pele exposta estremecer com o contato do ar.
Foi quando ouvi o som, o clique do botão da calça se abrindo, seguido pelo zíper descendo devagar. Meu corpo reagiu antes da minha mente. E, no instante em que percebi o que viria, uma reflexão me atravessou como uma lâmina fria: eu estava prestes a receber o mesmo tratamento que ele dava à minha mãe, sem romance, sem zelo, só tesão, só carne.
A cabeça do pau roçou entre os meus lábios, passando de leve, como se ele estivesse conferindo. Como se quisesse sentir o quanto eu estava molhada. E eu estava. Molhada demais até. Surpreendentemente, vergonhosamente, era como se meu corpo tivesse traído cada linha de moral que eu tentei manter. E ali, naquele segundo suspenso entre o roçar e a penetração, eu me perguntei: por que eu estava assim? Com ele? Naquela casa? Naquela situação?
Mas a pergunta não teve tempo de resposta. Ele me penetrou com um só movimento, fundo, fazendo meu corpo se colar ainda mais na bancada. Um grunhido escapou da minha garganta, rouco, abafado pela palma da minha mão, era cru, era bruto, era o tipo de sexo que não permitia dúvida.
A sensação era intensa, ele era grande, grosso, eu senti meu corpo se adaptar a cada centímetro, esticando, sendo preenchido de um jeito que me fez morder o lábio para não gemer alto. Não queria parecer impressionada. Não queria que ele soubesse o quanto aquilo me marcava, o prazer era gritante, quente, molhado.
As mãos dele apertavam meus quadris, depois subiam e desciam pelas minhas costas, marcando território. Cada investida era mais firme, mais fundo, mais possessiva e eu reagia, empinava, rebolava de volta, querendo mais, sentindo mais. Sentindo ele se enrijecer dentro de mim a cada estocada, o pau latejando, pulsando como se quisesse se fundir ao meu corpo.
A cada novo avanço, ele parecia mais próximo do clímax e mais bruto. Os dedos cravavam na minha carne, os movimentos ficavam mais curtos, mais secos, mais urgentes, e eu segurava o gemido na garganta, mesmo quando o prazer rasgava minha barriga por dentro, sentia a pressão crescer, o prazer se acumular na base da coluna, era delicioso, era animal, era tudo que eu nunca imaginei sentir daquela forma.
Ele gemeu como quem está prestes a perder o controle. Só segurei firme na bancada e empinei mais uma vez, sentindo o pau dele endurecer num nível quase insuperável.
Com um último impulso, ele saiu de dentro de mim e gozou alto, o jato quente atingindo um pouco acima das minhas nádegas, escorrendo lento pelo meu rego, descendo como se quisesse marcar até o fim, parte do sêmen escorreu até a dobra entre minhas coxas, quente, pegajoso, pulsando como um selo.
Fechei os olhos e sorri, um sorriso torto, orgulhoso, vergonhoso.
Virei o rosto por cima do ombro e o vi ainda com a respiração pesada. Ele estava ali, exposto, o corpo ofegante e o rastro do gozo escorrendo como prova do que fizemos. A cena parecia parada no tempo, crua, íntima, indecente. Um homem viciado em sexo, refém do próprio desejo, aponto de comer a própria filha.
Ele soltou um suspiro rouco, satisfeito, como quem acabou de fazer algo que queria. Com um gesto tranquilo, puxou a cueca, guardou o pau dentro da calça e fechou o zíper. Depois virou as costas e saiu da cozinha, sem dizer nada, como quem já tinha feito o que precisava, como quem cumpriu sua função e não devia mais explicações.
Eu queria que ele dissesse algo, qualquer coisa, que me chamasse de louca, de errada, de maluca. Mas ele só virou as costas e foi embora como se eu fosse mais uma, e talvez fosse ou talvez ele só não soubesse o que fazer com alguém como eu.
Eu não chorei, nem sorri. Só respirei fundo e entendi que o que doía não era o ato, era a ausência dele nos momentos em que eu ainda precisava ser filha. Ter transado com ele foi como tatuar uma ausência, marcando a pele, não com amor, mas com aquilo que nunca foi dito.
Fiquei alguns segundos ali, parada, sentindo a porra ainda quente escorrer pelo meu corpo. Depois desci o resto da short e da calcinha até os tornozelos e deixei-as no chão. Cruzei o corredor com passos lentos, vestida apenas da cintura para cima, com a bunda melada exposta, brilhando sob a luz opaca da casa.
Entrei no banheiro meio tonta, como se o corpo ainda estivesse vibrando por dentro. Me apoiei na pia antes de me encarar no espelho. O rosto estava corado, o olhar perdido. Peguei um punhado de papel e comecei a me limpar devagar, os dedos passando entre as coxas, na dobra do rego, sentindo o viscoso ainda quente começar a esfriar.
A porta do banheiro ficou aberta e por um instante, olhei por ela. Me veio um flash: eu, garotinha, espiando pela fresta do corredor enquanto as mulheres que ele trazia usavam esse mesmo banheiro. Eu via seus corpos nus, suas peles brilhando de suor, seus gestos rápidos, como se limpassem mais que o corpo, eu via e não entendia.
E agora, ali, nua da cintura pra baixo, com a bunda suja dele, eu era essa mulher. Aquela que se limpava em silêncio depois de ser fodida. Que não perguntava, não esperava, só aceitava a marca e seguia.
Voltei a olhar no espelho, mas não vi menina que fui, vi uma versão minha que nunca imaginei: suja, entregue, mas estranhamente completa. A mulher que ele comeu e que agora no mesmo nível das outras.
...
O sol da manhã filtrava pelas frestas da cortina quando terminei de arrumar minha mochila. A casa estava silenciosa, como se soubesse que aquela seria minha última manhã ali. Peguei o celular e liguei para minha mãe.
— Oi, minha menina! Dormiu bem? — ela atendeu com aquela voz meio sonolenta, meio animada.
— Mais ou menos... — respondi, tentando parecer leve. — Mãe, tô te ligando pra avisar que vou embora hoje mesmo, mais cedo.
— Ué, que pressa é essa? Já vai me abandonar? Eu vou voltar depois de amanhã não vai me esperar?
— É que o clima aqui não tá dos melhores, sabe como é, eu só quero sair daqui logo.
Ela deu um suspiro longo do outro lado da linha.
— É por causa do Marcos, né? Vocês nunca se deram bem, ele levou outra piranha pra casa?
— Não é só isso... mas também é. — deixei a frase morrer ali, eu odiava explicar e tentar entender esse relacionamento aberto entre os dois.
— Tá tudo bem, filha. A gente se encontra depois com calma. Vamos tomar um café em outro lugar, só nós duas. Me avisa quando você estiver disponível.
— Aviso sim, te amo mãe.
— Também te amo, se cuida viu!
Desliguei com um nó no peito, mas sem arrependimento. Como eu poderia explicar que dessa vez a intrusa era eu? Que não foi uma desconhecida que cruzou o limite, mas a filha da casa, aquela que ele nunca chamou assim. Como dizer que fui eu quem se ofereceu, que fui eu quem provocou, que fui eu quem gozou com o homem que ela ainda chamava de marido? Era um segredo pesado demais pra ser dividido com café e confidência materna. Era o tipo de verdade que virava nó, que empedrava na garganta e transformava qualquer filha em mulher maldita.
Antes de sair do quarto, fiquei parada por alguns segundos olhando pela janela, tentando entender o que de fato, tinha acontecido. Por que eu tinha feito aquilo? Por que dei pra ele? Não era amor, nunca foi, mas tinha sido excitante, tinha sido gostoso. O corpo dele sabia exatamente como me tocar e o meu como responder.
Mas... por que eu não parei? Por que ele não parou?
Talvez porque, no fundo, os dois já tinham cruzado essa linha dê de quando cheguei pelo portão. Só faltava o ato, só faltava a coragem de assumir que aquela casa carregava mais do que lembranças tortas, carregava tensão, desejo e silêncio demais.
Dei de ombros, não tinha mais volta agora. Só seguir em frente. Peguei a mochila e desci as escadas devagar. A casa parecia mais fria naquela luz da manhã, como se o que aconteceu na noite anterior ainda pairasse no ar.
Abri a porta e o encontrei no quintal. Marcos estava sentado no degrau de cimento, o cigarro apagado entre os dedos, o rosto dele parecia mais velho, pesado. Era o tipo de expressão de quem não dormiu e eu sabia que ele não tinha dormido mesmo, lembrava de tê-lo escutado andando pela casa durante a madrugada, os passos arrastados a porta da cozinha abrindo e fechando.
Aquela expressão dele me dizia tudo, era a cara de um homem que tinha atravessado uma linha que nem ele sabia que queria cruzar. Como alguém que acabou de descobrir que traçou a própria filha e agora carregava o peso disso nos ombros.
Ele me viu e tentou dizer algo, mas eu não dei espaço. Parei no meio do quintal, respirei fundo e olhei pra ele.
— Pode dormir tranquilo — falei, sem raiva, mas com firmeza. — Eu não sou sua filha, nunca fui, e agora... você sabe disso melhor que ninguém.
Virei as costas e caminhei até o portão sem olhar para trás. O ferro rangeu quando abri, o mesmo som da minha chegada. Mas agora ele não era um aviso, era uma despedida.
Na calçada, o vento levantou um pouco minha blusa e por um instante senti o frio na pele onde ele encostou. Pensei no que ele era, no que eu fui. Ele nunca me chamou de filha. Mas foi isso que me fodeu no fim das contas.
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