O internato - Capítulo 8

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 2353 palavras
Data: 25/05/2025 16:41:48
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 8 – Confronto

Bernardo

Estava sentado no pátio, observando os alunos conversando e rindo felizes, e, de certo modo, sentindo inveja deles. Havia alguns casais ali que se beijavam apaixonados e sorridentes, o que fazia meu coração machucado latejar. Sempre achei exagero quando lia em livros ou ouvia em músicas sobre pessoas sofrendo por alguém. Sempre disse a mim mesmo que aquilo era coisa de gente fraca e tola. Mas olha eu aqui.

Sentado num banco de pedra, ao som da música Só pro meu prazer, do Leoni, ecoando pelos fones de ouvido, e olhando para Fábio e Alice, que se beijavam num banco a alguns metros de mim.

— Tu tá péssimo! — Giovana sentou-se ao meu lado, e eu tirei os fones do ouvido. — O que aconteceu?

— Ele me procurou ontem à noite — contei-lhe. — Disse que está apaixonado por mim e que quer ficar comigo.

Giovana fitou o chão por um instante.

— Isso dói muito. Eu larguei ele lá! Larguei quando ele se declarou pra mim.

Giovana me abraçou apertado enquanto as lágrimas escorriam pelos meus olhos e molhavam seu ombro.

— Eu sei que dói, Bernardo — ela sussurrou em meu ouvido. — Mas é melhor essa dor agora do que a dor de te entregar pra alguém que nunca vai te dar o valor que tu merece.

— Eu nunca senti algo assim antes — falei para ela. — Nunca me apaixonei por ninguém.

— Sinto muito que essa seja tua primeira experiência — falou com sinceridade. — Sinto de verdade.

— Tu já te apaixonou assim? — perguntei a Giovana.

Ela me soltou e colocou o cabelo castanho atrás da orelha. Olhei para seus olhos — estavam vermelhos, como se tivesse chorado junto comigo.

— Tu sabe que eu tenho namorado — respondeu. — Mas antes dele, eu era apaixonada por um guri chamado Matheus. Eu tava no sétimo ano. A gente ficou e ele disse que me amava, mas depois descobri que eu era só mais uma. Um guri de treze anos que me magoou. Chorei muito, mas um dia resolvi seguir em frente. Conheci o Luan e, no início, a gente era só amigo, mas no ano passado a gente se apaixonou. Ele sim me fez sentir bem e desejada. Não me iludiu que nem o Matheus. Nunca esqueci ele e nem a dor que me causou, mas de certa forma aquilo me ensinou que tem guri que diz que ama só pra conseguir o que quer.

Olhei para Giovana com uma mistura de pena e orgulho. Ela foi enganada, mas seguiu em frente, encontrou alguém que a faz feliz. A dor nunca é esquecida, mas ensina. Ensina a não cair em qualquer “eu te amo”.

"Eu preciso de você." Essas foram as palavras que Daniel disse pra mim na noite anterior. Palavras que me atingiram como um soco no estômago e quase me fizeram me jogar nos braços dele mais uma vez. Mas eu deveria fazer como a Giovana: seguir em frente, apesar da dor. Deveria deixá-lo com seus demônios — medo e vergonha. O Daniel nunca vai dar a cara a tapa por mim. Ele é covarde.

O portão da frente foi aberto e uma BMW preta entrou na escola, parando bem próxima da entrada do prédio principal. A porta do motorista se abriu e uma garota morena e bonita saltou. Ela olhou em volta até me encontrar com os olhos cheios de ódio. Amanda caminhou até mim com a raiva estampada no rosto, os saltos fazendo um som oco no asfalto.

— Seu viadinho filho da puta! — Ela me deu um tapa na cara que me fez cair do banco.

— Não encosta nele, sua vaca! — Giovana se levantou e ficou entre mim e a garota, que a olhava com desprezo.

— Sai da frente, guria, ou vai sobrar pra ti também! — Amanda tentou passar, mas Giovana não deixou.

— Já falei pra não encostar nele! — Giovana disse com a voz firme.

— O teu amiguinho transformou o meu namorado num viado igual a ele! — Amanda gritou furiosa.

— Eu não transformei ninguém em nada! — disse, me levantando do chão. — Se ele gosta de chupar caras no banheiro da boate, não é problema meu!

Eu nem planejava dizer aquilo, mas quando percebi, já tinha falado.

— O Daniel nunca foi viado até tu aparecer e fazer a cabeça dele! — Amanda tentou avançar de novo, mas Giovana a segurou. — Foi tu que fez isso com ele! Filho da puta!

— Vai te foder, guria! — rebati. — Se o teu homem teve que ir atrás de outra rola, é porque tu não tava dando conta do recado!

— Eu vou te matar, seu viadinho! — Ela empurrou a Giovana e agarrou meus cabelos, puxando de todo jeito.

Eu podia ter revidado, mas só segurei os braços dela, tentando evitar mais machucados. Amanda sacudiu minha cabeça e caímos os dois no chão — ela por cima de mim, me estapeando com força.

— Eu te odeio, seu viado! — gritava.

— Me solta, sua piranha! — gritei de volta.

Giovana tentava, sem sucesso, tirá-la de cima de mim. Amanda parecia um bicho enfurecido, se esquivando a cada tentativa. Foi então que Fábio se meteu na briga, segurando Amanda e tirando-a de cima de mim, enquanto Alice e Giovana vinham ao meu socorro.

— Me larga que eu vou matar aquele viado! — Amanda se debatia nos braços de Fábio feito uma louca.

— Mas nem pensar! — Fábio respondeu firme.

— Tu tá bem? — Giovana perguntou, assustada.

— Teu nariz tá sangrando! — Alice gritou, alarmada.

Coloquei a mão no nariz e senti o líquido quente escorrendo. Olhei pros dedos: estavam sujos de sangue.

— Agora eu acabo com essa vadia! — Me levantei para revidar, mas fui interrompido por uma voz firme.

— O que está acontecendo aqui?! — O diretor Cornélio apareceu entre nós como se tivesse brotado do chão.

— Esse viadinho...

— Cuidado com a boca, senhorita! — o diretor a cortou com voz estrondosa. — Quero os dois na minha sala. Agora!

Théo

– Tu viu o Bernardo? – indaguei à Giovana, que estava parada na porta do prédio da escola.

– Tá na diretoria – respondeu, parecendo preocupada.

– Na diretoria? – Daniel ficou aturdido.

– É! – Giovana cruzou os braços. – Aparentemente, tua namorada surtou e resolveu agredir ele.

– A Amanda tá aqui? – indagou. – Quando é que ela chegou?

– Faz mais ou menos uns trinta minutos. Apareceu com uma BMW preta, saltou do carro, xingou o meu amigo e começou a agredir ele.

– Aposto que ela gritou pra todo mundo que o Bernardo transformou o Daniel em gay – revirei os olhos. – Aquela guria é bonita e tem grana, mas é barraqueira pra caralho.

– Então tu já tá sabendo? – Giovana indagou.

– Pelo jeito, fui o último a saber – lancei um olhar acusador pro meu irmão. – Mas eu aguento.

– Mas como é que ele tá? – Daniel parecia realmente preocupado com o Bernardo. – Ela machucou ele?

– Talvez tenha quebrado o nariz dele – Giovana respondeu. – Mas, de qualquer forma, o que te importa? Isso tudo é culpa tua!

– Calma aí, Giovana! – intervi. – O Daniel não tem culpa de nada.

– Ah, não? – ela ironizou. – Teu irmão brincou com os sentimentos do Bernardo e fez ele sofrer. E apesar de eu agora odiar aquela piranha da Amanda, ele fez o mesmo com ela. A guria tá magoada e descontou no Bernardo, em vez de dar uns socos na cara dele!

– Não era minha intenção causar nada disso – Daniel murmurou.

– Mas causou! – Giovana disse. – Se quer um conselho, deixa ele em paz. Não machuca mais do que ele já tá machucado.

– Tu tá sendo injusta, Giovana – defendi meu irmão. – O Daniel não tem culpa de nada.

– Sei que é difícil pra ti enxergar a verdade, Théo, mas teu irmão magoou duas pessoas que realmente gostavam dele.

Foi quando a porta da frente se abriu e o Bernardo saiu com uma bolsa de gelo no nariz. A camisa dele estava suja de sangue, ele tava pálido, e com os cabelos completamente desgrenhados. Olhou pro meu irmão e pude sentir ele congelar por um instante, sem saber qual sentimento deixar tomar o controle. Foi quando optou pela raiva.

– O que tu tá fazendo aqui? – ele se dirigiu somente ao Daniel.

– Vim ver se tu tava bem – meu irmão respondeu com a voz doce.

– Já viu – Bernardo respondeu rispidamente. – Agora pode ir embora.

Daniel fez um muxoxo e abaixou a cabeça, triste. Senti raiva do Bernardo. Uma raiva que nunca tinha sentido na vida. Ele tava magoando a pessoa que eu mais amava no mundo. Ele podia ter todas as desculpas do mundo pra fazer o que tava fazendo, mas mesmo assim, não justificava.

– Ele veio ver como tu tá! – disse, com o corpo tremendo. – Ele se preocupa, e tu trata ele como se fosse um cachorro de rua!

– Pelo que tô vendo, ele te contou – Bernardo disse, dando de ombros. – Mas contou como me escorraçou? Contou o que fez quando eu disse que gostava dele?

– Contou – disse, me lembrando da história que o Daniel me contou. – E eu entendo que tu esteja magoado. Mas ele tá aqui, bem na tua frente, pra te pedir desculpas.

Bernardo olhou de mim pro Daniel, e por um momento, pude ver que ele cogitou a ideia de dar uma chance pro meu irmão, mas então a expressão dele, que tinha suavizado, se fechou de novo.

– Eu não posso – respondeu. – Eu resolvi seguir em frente, e aconselho que tu faça o mesmo, Daniel.

Ele passou por nós e seguiu pro dormitório masculino, acompanhado da Giovana.

– Ele tá certo – Daniel disse, enquanto observava ele ir embora. – Eu magoei ele, e ele merece seguir em frente.

– Eu falo com ele – disse ao Daniel. – Enquanto isso, tenta falar com a Amanda. Vai que vocês conseguem se resolver.

Daniel

Bati na porta do quarto, e quem atendeu foi a Isabela.

— Ela não quer falar contigo — disse, já fechando a porta na minha cara.

— Mas eu quero falar com ela — insisti, tentando forçar a entrada.

— Vai embora agora! — Amanda surgiu do banheiro com a maquiagem borrada de tanto chorar.

— Só vou embora depois que tu me explicar que ideia maluca foi essa de bater no Bernardo!

— Isso só pode ser um pesadelo! — ela levou as mãos à cabeça e soltou uma risada irônica. — Tu tá tirando comigo? Tu não era viado até conhecer ele!

— Sei que parece isso, Amanda — falei, ainda me sentindo furioso —, mas eu sempre fui gay.

— Não! — ela começou a chorar. — Tu não era assim!

— Sinto muito, Amanda — me aproximei ao perceber o quanto ela estava fragilizada. — Eu não devia ter te enganado.

— Eu não acredito, Daniel... — ela passava as mãos pelos cabelos, nervosa. — Depois de tudo que a gente passou! Das declarações de amor, das vezes que dormimos juntos! Não posso acreditar que tudo aquilo foi mentira.

— Sinto muito — falei, com vergonha —. Eu não queria mentir pra ti... eu mentia pra mim mesmo. Eu não aceitava o que sou.

— Tu tá enfeitiçado, Daniel — ela respondeu, ainda se recusando a acreditar. — Eu te conheço. Tu não é assim.

— Me desculpa, Amanda — pedi com pesar. — Mas te peço um favor: deixa ele em paz. Ele não tem culpa de eu ter feito isso contigo.

— É claro que tem culpa! — alegou, exaltada. — Antes dele, a gente tava bem.

— Antes dele, eu vivia uma mentira — falei com firmeza. — E eu não quero mais passar por isso. Espero que um dia tu me perdoe.

— Eu nunca vou te perdoar — disse ela, com ódio nos olhos.

Aquelas palavras me acertaram como um tapa na cara. Um tapa bem dado, que abriu meus olhos pra realidade que eu tava vivendo. A Amanda jamais me perdoaria por tê-la feito de idiota durante tanto tempo. Ela me amava — disso eu nunca duvidei —, mas tudo o que eu fiz foi pegar esse amor e pisar em cima. Do mesmo jeito que eu tinha feito com o Bernardo.

— Espero que um dia tu mude de ideia — falei num tom melancólico.

Me virei pra ir embora e passei por Isabela, que nos observava com os olhos semicerrados, cheios de julgamento.

— Caso ainda te importe, a Amanda foi suspensa — ela disse, seca. — Espero que tu esteja contente.

— Não tô, mas ela mereceu pelo que fez — respondi, saindo do quarto e ouvindo o estrondo da porta batendo com força às minhas costas.

Bernardo

— Tu foi suspenso? — Théo indagou enquanto eu arrumava algumas roupas na mochila. — Mas foi aquela vagabunda que te agrediu!

— Mas o diretor chegou bem na hora em que eu disse que ia acabar com ela — respondi, guardando o notebook —. Tô nessa escola há uma semana e já peguei quinze dias de suspensão. O pai vai ficar faceiro, né...

— Que sacanagem eles chamarem teus pais — disse Giovana. — Aquela puta tem sorte de já ser maior de idade.

— O pior é que eu nem sei o que vou falar pra eles — confessei, sentindo um aperto no peito. — Eles nem sabem que eu sou gay, e o diretor vai contar tudo!

— Acho que tu devia contar antes deles entrarem naquela sala — Théo falou, com sensatez. — Melhor do que eles descobrirem pela boca do diretor.

— Concordo com o Théo — disse Giovana. — O momento é uma merda, eu sei, mas é melhor eles ouvirem isso de ti.

Foi quando meu celular tocou, e o nome do meu pai apareceu na tela. Respirei fundo, o coração batendo mais do que bumbo em fanfarra. Não queria atender, porque já imaginava a bronca do Juiz Miguel de Andrade vindo com gosto. Mas, fazer o quê... eu já tava no mato sem cachorro.

— Alô?

— Que história é essa de suspensão?! — A voz do meu pai parecia uma navalha cortando no osso. — Porra, Bernardo! Tu nunca deu problema pra mim e pra tua mãe! Vai começar agora?!

— Mas não foi culpa minha, pai! — tentei me defender, mas ele não quis nem saber.

— Não me interessa de quem é a culpa! — retrucou, furioso. — Tô saindo do tribunal agora e vou te buscar! Quero que esteja pronto quando eu chegar.

— Estarei, pai, mas... a gente precisa conversar antes do senhor ir até a direção.

— Nós vamos ter uma conversinha sim — e desligou na minha cara.

Larguei o telefone na cama e olhei pros meus amigos, que me encaravam com cara de quem tinha visto um fantasma.

– Como ele gritou, acredito que tenham ouvido – disse e eles apenas assentiram – É isso. De hoje não passa.

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Comentários

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Cada vez melhor e mais envolvente. Gostaria que Daniel e Bernardo se acertassem. O técnico empo dirá.

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