O som dos sinos ressoava pelo vale isolado da fazenda. Era raro. Solene. Sinal de que a Roda dos Pecados seria girada.
Número 27 estava amarrada nua, em cruz, no centro da estrutura metálica rotativa. Cada uma de suas articulações presas com tiras de couro cru. A roda estava marcada com símbolos antigos — cada um representando um tipo de castigo: agulhas, choques, wax play, privação sensorial, fisting brutal, açoites com farpas, sessões de humilhação verbal, lambidas forçadas em botas sujas, privações e tormentos ainda piores...
A fazenda inteira assistia. Beta após beta, cadelinha após cadelinha. Os piores eram obrigados a assistir sentados sobre plugs vibratórios, amordaçados, sem direito de desviar o olhar.
O Senhor Absoluto estava de pé, de braços cruzados. E ao lado dele, Senhora V. — com uma coleira trancada com cadeado — observava, tensa.
— Girem — ordenou ele.
A roda começou a girar lentamente, rangendo em sua madeira maciça e pesada. Quando parou, o símbolo apontava para "C" — Corrente viva.
Um grito rasgou o ar.
Eletrodos foram presos aos mamilos, virilha e coxas de 27. Os choques vieram em ondas, intercalados com comandos cruéis: “implore para mais”, “diga que você é lixo”, “chore como uma cadela estéril”.
Ela resistia. Não por coragem. Mas por vergonha. Por desespero. Por orgulho quebrado.
A roda girou mais sete vezes.
Em uma das rodadas, ela teve que lamber a sola da bota da beta 5 — aquela que ela um dia desprezou — sob o olhar da multidão. Em outra, teve que agradecer por cada cicatriz marcada com faca quente em seu abdômen.
Senhora V. observava tudo em silêncio... mas um tremor involuntário percorreu seus olhos ao ver o sofrimento da 27. Um piscar sutil. Um respiro. Um toque de piedade.
Ele viu.
Quando a roda parou pela última vez, número 27 estava desmaiada, marcada, úmida, vazia.
— Levem-na de volta ao Celeiro. E agora... — disse ele, girando-se lentamente para sua esposa — a segunda parte do espetáculo.
Senhora V. não moveu um músculo.
— Sua função é dominar. Não sentir. Não hesitar. Não vacilar. Você teve compaixão de uma escrava quebrada. Isso é fraqueza. E fraqueza... se corrige.
Ela caiu de joelhos.
— Mestre... perdão.
Ele sorriu.
— Não. Prove.
Duas betas a puxaram pelas correntes e a levaram até o mesmo centro onde a 27 esteve. Senhora V., a sádica que a comprou, a que marcou seu corpo... agora seria punida como uma cadela qualquer.
A multidão de submissos assistia em silêncio. Um momento único. Um símbolo de que não havia poder absoluto — apenas a vontade dele.
— O nome dela agora será V-7, até que eu diga o contrário. Que todos os betas a tratem como igual. E que a cada semana... uma das cadelas que ela marcou, possa escolher o castigo dela.
Senhora V. engoliu seco. Mas não protestou. Apenas murmurou:
— Obrigada, Mestre...
E os sinos da fazenda tocaram novamente.
O reinado do Senhor Absoluto apenas começava.