Uma Visita Indesejada

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1115 palavras
Data: 25/05/2025 11:51:45

A aurora chegou, não com a explosão vívida de outros dias, mas trazendo consigo um raio de sol tímido, quase acanhado, que se infiltrava pela fresta das cortinas desgastadas da janela do meu quarto. Acordei com a dor ainda presente, mas, para meu pequeno alívio, menos aguda, menos excruciante do que no dia anterior. O peso da exaustão e do medo me segurava na cama, um torpor que a luz fraca mal conseguia dissipar.

Pouco depois, o rangido familiar e suave da porta se fez ouvir, e minha querida avó entrou. Seus passos eram leves, cautelosos, como sempre. Ela segurava com cuidado uma velha bandeja de metal, trazendo sobre ela uma xícara fumegante de café quente e robusto, acompanhada de uma fatia generosa — talvez até excessiva para o meu apetite daquele momento — da sua famosa torta de pêssego. O aroma adocicado, com notas de canela, preencheu o quarto quase instantaneamente, um conforto familiar e profundamente reconfortante que contrastava com a tensão em meu interior.

“Coma e descanse, meu bem”, ela disse, a voz macia e calorosa, acompanhada de um sorriso terno que não alcançava completamente seus olhos cansados, mas cheios de amor. “Você precisa recuperar suas forças e, até lá, nada de sair por aí!”

Agradeci com um murmúrio baixo, sentando-me com cuidado. Peguei o garfo e comecei a comer a torta lentamente, cada garfada macia e saborosa, um pequeno, mas significativo alívio para a tensão física e emocional em meu corpo. Ela se sentou na beira da cama por um momento, o corpo leve como um pássaro, observando-me com uma atenção carinhosa e silenciosa, permitindo-me degustar a pausa na dor.

“Vou sair agora para vender os doces aqui na vizinhança”, ela informou, levantando-se com um suspiro leve. “Não se preocupe com nada, meu neto. Tente dormir mais um pouco, se puder.”

Enquanto eu a observava sair do quarto, o som de seus passos se afastando, um medo frio e rastejante se instalou em meu estômago, gelando-me por dentro. A consciência de que eu não iria à floresta hoje, que o ritual diário de vender os doces seria quebrado, pairava sobre mim. O Lobo Mau poderia ficar irritado com a minha ausência. E se ele resolvesse vir atrás de mim? A casa parecia tão frágil, tão desprotegida. Ou, pior ainda, e se ele resolvesse fazer algo contra a minha doce e indefesa vozinha, que agora estava sozinha e vulnerável lá fora?

Peguei um livro da estante ao lado da cama, um volume antigo com páginas amareladas, uma tentativa inútil de distrair minha mente dos pensamentos sombrios e da dor latente no meu ânus. As horas se arrastaram lentamente, marcadas somente pela mudança gradual da luz na janela e pelo tique-taque alto do relógio na sala. Cada pequeno ruído da casa — o estalo da madeira, o sopro do vento, o som distante de um pássaro — me deixava em alerta máximo, os músculos tensos, o coração acelerando. O silêncio habitual parecia carregado de presságios.

No meio da tarde, quando a luz do sol já começava a diminuir, tingindo o quarto com tons alaranjados que logo cederiam ao crepúsculo, o som ensurdecedor da porta da frente sendo aberta bruscamente ecoou pela casa silenciosa, um choque violento que me fez sobressaltar na cama. O pânico me possuiu. Chamei pela minha vó, a voz embargada pelo medo, mas nada dela responder. Nenhum som, nenhum sinal. Meu coração disparou no peito, martelando contra as costelas.

Antes que eu pudesse sequer pensar em como reagir, em me levantar ou me esconder, a figura alta e imponente de Johnny estava parada na porta do meu quarto. Ele me encarava, os olhos fixos em mim com uma intensidade fria e predadora que me gelou até os ossos. Seu olhar parecia perfurar-me, exigindo uma resposta para a minha ausência.

“Por que você não foi à floresta hoje, Chapeuzinho?”, ele perguntou, a voz baixa, perigosa e carregada de uma ameaça contida que fez meus pelos se eriçarem.

Reuni toda a coragem que tinha — uma reserva pequena e trêmula — e respondi, a verdade saindo antes que eu pudesse sequer censurá-la, antes que a inteligência superasse a dor e o ressentimento.

“Porque você… você destruiu meu cu, Johnny!”

Ele me encarou por um momento que pareceu eterno, a expressão ilegível, o silêncio pairando pesado entre nós. Então, lentamente, um sorriso, não de alegria, mas cruel e predador, se espalhou por seu rosto. Uma risada rouca e desagradável escapou de seus lábios, um som que reverberou em minha alma.

“Ah, Tiaguinho”, ele disse, a voz voltando ao tom baixo, mas tingida de deboche e algo sinistro. “É bom você se recuperar rápido, então.”

O monstro deu um passo deliberado em direção à cama, e foi nesse exato momento, quando a tensão atingia seu pico e o medo me paralisava, que a voz confusa e completamente alheia da minha avó soou da cozinha, soando como um farol em meio à tempestade.

“Tiago? Quem está aí com você?”

Num piscar de olhos, com uma súbita e assustadora rapidez, Johnny reagiu. Ele se moveu, inclinando-se para a frente, a proximidade comigo tornando-se perigosa, sufocante. Seu rosto estava a centímetros do meu, a voz reduzida a um sibilo gélido e cortante, um som quase inaudível que só poderia ser captado por quem estivesse tão colado a ele quanto eu estava. Era um sussurro venenoso, carregado de uma frieza que parecia penetrar a pele. Seus olhos, antes talvez indiferentes, agora brilhavam com uma intensidade febril e implacável, prendendo os meus, impossibilitando qualquer desvio de foco. “Entre no personagem agora, Tiago”, sibilou, cada palavra um golpe seco. “Faça tudo que eu disser, sem questionar, sem hesitar, ou juro por Deus que quebro o pescoço da sua avó antes que você possa piscar. Entendeu?”

Aquelas palavras não eram somente uma ameaça; eram um juramento brutal, proferido com uma convicção arrepiante. Senti um arrepio avassalador percorrer meu corpo inteiro, começando na base da espinha e congelando cada membro. Era um calafrio que superava qualquer febre que eu já tivesse tido, o frio cortante do medo puro e do choque paralisante. Meu coração disparou no peito, martelando um ritmo frenético contra as costelas.

Mal tive tempo de processar a magnitude daquela ameaça cruel e direcionada à pessoa mais importante da minha vida, mal pude registrar a impossibilidade de qualquer resistência, antes que o rangido suave da porta do quarto chamasse nossa atenção. Ela se abriu devagar, revelando na soleira a figura miúda e inconfundivelmente cálida de Dona Adelaide, envolta em seu avental familiar, os cabelos brancos presos num coque. Seu olhar, normalmente tão sereno, estava marcado por uma genuína preocupação enquanto nos via ali parados, a tensão no ar palpável para mim, mas talvez não para ela ainda.

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