Uma Preocupação Genuína

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1053 palavras
Data: 24/05/2025 22:35:31

O vidro elétrico desceu com um zunido baixo, revelando seu lindo rosto, emoldurado por cabelos levemente grisalhos, que continha uma expressão de leve, mas genuína, preocupação. Seus olhos azuis me varreram rapidamente, avaliando minha aparência claramente abatida. Eu me encolhi um pouco sob seu olhar, tentando parecer o menos estranho possível, o que era difícil, considerando a dor latejante na minha retaguarda e a exaustão que pesava sobre mim como um manto úmido. Ele sorriu, um sorriso que normalmente seria caloroso e acolhedor, mas que agora parecia um pouco forçado pela seriedade do momento.

“Tudo bem, Chapeuzinho?”, ele perguntou, a voz um pouco mais alta que o normal, como se quisesse me tirar de um transe. “Você parece… cansado. Quer uma carona até o vilarejo?” Ele gesticulou para o banco vazio do passageiro com a cabeça, o distintivo dourado em seu uniforme cáqui brilhando intensamente sob os raios da tarde, um símbolo de ordem e segurança que contrastava vividamente com o caos primal do qual eu acabara de emergir. Apesar do medo residual que me percorria, uma sensação fria e úmida que parecia ter grudado na minha pele, a perspectiva de aliviar a dor no meu cuzinho simplesmente me aconchegando no banco macio por meros quilômetros era uma tentação avassaladora, quase uma promessa de paraíso. Era irresistível, superando qualquer hesitação ou vergonha.

Assenti, com a cabeça, um movimento fraco, grato demais pela oferta inesperada e pela promessa de alívio físico para conseguir articular um agradecimento completo e coerente. Minha garganta parecia seca e as palavras eram difíceis. “Sim, por favor, xerife. Muito obrigado.” Eu murmurei, o som da minha própria voz parecendo estranho aos meus ouvidos. Abri a porta pesada do veículo e me ajeitei com cuidado no banco do passageiro, afundando no estofamento macio e levemente desgastado. Foi um alívio imediato, um pequeno santuário para meus músculos tensos e doloridos, um contraste bem-vindo com a terra fria e úmida e as raízes retorcidas da floresta. Fechei a porta com um som sólido e reconfortante.

Enquanto dirigíamos, o motor do automóvel ronronando suavemente sob nós, ele começou a falar, o tom de sua voz carregado de uma gravidade inesperada que sombreava sua habitual bondade e maneirismos descontraídos. “É perigoso você andar sozinho por essa estrada, Tiago, especialmente por perto da floresta a essa hora do dia…” Ele me lançou um olhar rápido e perscrutador antes de voltar os olhos para a estrada.

Charles fez uma pausa, o silêncio momentâneo preenchido somente pelo som dos pneus no cascalho, enquanto tamborilava os dedos no volante em um ritmo irregular, um sinal de sua própria apreensão. “Tivemos alguns relatos estranhos hoje de manhã”, ele continuou, a voz mais baixa agora, quase confidencial. “Pessoas das casas mais próximas daquela mata, até mesmo o lenhador James, que estava cortando uma árvore na região leste, disseram ter escutado gritos bem altos vindo de lá.” Ele franziu o cenho.

Um arrepio percorreu minha espinha, uma corrente elétrica fria que não se originava do medo das criaturas míticas que o xerife parecia conjurar, mas de uma compreensão gélida, um reconhecimento instantâneo que me fez sentir simultaneamente culpado e aterrorizado. Os gritos que relataram… eram os meus gritos, os sons desesperados de dor e prazer que eu não conseguira conter, gemidos e clamores primitivos que haviam sido arrancados de mim sob a penetração avassaladora e implacável de Johnny.

O xerife continuou, completamente alheio ao meu tormento interno, à tempestade silenciosa que se agitava dentro de mim. “Os cidadãos pediram para eu e os homens irmos investigar, claro, como se eu não tivesse crimes mais importantes para solucionar…”, ele bufou, uma mistura de escárnio e genuína aversão. “Mas quem disse que entro naquele bosque? De jeito nenhum! Nem com um batalhão atrás de mim.”

A autoridade deu uma risada nervosa e seca, um som sem humor que ecoou no espaço fechado do veículo. “Tem espíritos demoníacos por lá, meu rapaz. Monstros que você não quer encontrar. Criaturas horripilantes que saem à noite, ou até mesmo de dia, se forem provocadas. A floresta guarda segredos antigos e sombrios…” Seus olhos, geralmente tão calmos, se arregalaram ligeiramente ao se perderem em alguma lembrança perturbadora. “Juro por Deus, Chapeuzinho, que uma vez vi um lobisomem entre as árvores, com meus próprios olhos. Uma silhueta escura gigante, com olhos que pareciam pegar fogo na penumbra. Aquela floresta não é lugar para os humanos. É território de Satanás!”, ele finalizou com uma convicção inabalável.

Enquanto o homem atraente falava com fervor sobre demônios e assombrações, minha mente não conseguia parar de reproduzir a imagem da criatura real que eu havia encontrado lá dentro. O Lobo Mau era muito mais tangível, musculoso e aterrorizante do que qualquer monstro de contos de fadas ou lendas, uma presença que havia deixado marcas não somente na minha pele, mas na minha alma.

Refleti sobre as muitas histórias que minha avó, com sua voz suave e cheia de mistério, costumava me contar ao pé da lareira, aquelas que enchiam minhas noites de infância de medo paralisante. Eu estive na “floresta sorrateira” há poucas horas, e a única coisa que havia acontecido lá, a foda animal, não tinha nada a ver com as lendas etéreas. Comecei a acreditar, com uma amargura repentina, que talvez todas aquelas histórias fossem somente contos antigos passados de geração em geração, inventados para assustar crianças desobedientes ou simplesmente para justificar o medo inato do desconhecido que reside no coração humano, para dar forma a medos sem nome.

Cheguei em casa arrastando os pés, ainda mancando um pouco, uma dor chata e persistente no baixo ventre e na região anal me forçando a um andar desajeitado e doloroso. Cada passo era um lembrete. Dona Adelaide, sentada na varanda remendando um lençol, ergueu o olhar no momento em que cruzei o portão. Com seus olhos aguçados, que pareciam enxergar através das minhas tentativas de fachada, e sua expressão carinhosa, ela percebeu imediatamente que algo estava errado.

“Querido, o que houve? Você está mancando!”, ela exclamou, largando a costura e vindo ao meu encontro, a preocupação vincando sua testa. Tentei disfarçar a dor, oferecendo um sorriso forçado que mal alcançou meus olhos. “Ah, vovó”, comecei, a mentira escorregando facilmente pela minha língua, como se já estivesse ensaiada, “foi só um tombo que levei no meio da estrada quando estava vindo para cá…”

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