Tempo depois... o namoro

Um conto erótico de Ju
Categoria: Trans
Contém 4453 palavras
Data: 23/05/2025 01:13:04
Assuntos: Trans, Travesti, Namoro

Depois daquela noite maravilhosa, na outra semana foi nossa formatura. E após isso, o Leonardo se mudou para outra cidade e, infelizmente, acabamos perdendo contato. Eu comecei a trabalhar em um escritório de advocacia, ao mesmo tempo em que iniciei a minha transição hormonal. Comecei a ser a Juliana.

Sempre busquei me dedicar e trabalhar com extremo afinco, estudando e buscando obter cada vez mais conhecimento. Se para uma pessoa normal o ingresso em um novo emprego já é difícil, o que se pode dizer de uma mulher trans em início de transição? Quase impossível. Então eu sentia que eu tinha que me dedicar ao máximo para que pudesse estabelecer uma boa carreira profissional ao mesmo tempo em que conseguia me satisfazer pessoalmente. Trabalhei anos com força, com dedicação, ouvindo algumas chacotas, outras piadas, mas sem me deixar abater. O dono do escritório, doutor Airton, era uma pessoa muito respeitosa, extremamente consciente, e posso dizer, de certa maneira, também muito amigo. Gostei muito de trabalhar com ele. Aprendi muito com ele. Eu consegui crescer profissionalmente no escritório. Isso somente batalhando e trabalhando dia após dia e noite após noite. Obtive sucesso profissional ao ponto de me tornar sócia do escritório. Fazer parte daquilo. E no auge da minha transição. Meu corpo já estava muito mudado. Meus cabelos ficaram sedosos, meus seios cresceram, minha bunda arrebitou-se, minha cintura se afinou. Eu estava mudada. Modéstia a parte, eu fiquei incrível. E linda.

Em uma tarde de sexta-feira, Doutor Airton me chamou para uma reunião. O meu sócio era o antigo dono do escritório e agora dividia comigo todas as questões de responsabilidade e também os ganhos, logicamente, né?

- Doutora Juliana... Já estou cansado de trabalhar, estou ficando velho, quero aproveitar um pouco o tempo com a família. Vou me aposentar. Vou me organizar e vou passar meu lugar na sociedade para o meu filho. Eu conhecia o filho dele apenas de nome. Nunca o conheci pessoalmente, nem por foto. Apenas ouvi dizer que ele já atuava em outro escritório, em outra cidade, e que agora viria para cá para assumir a sociedade. No começo fiquei um pouquinho ressabiada e assustada. Mas confiei no doutor Airton, afinal tantos anos trabalhando juntos, posso me dar esse direito.

Na segunda-feira seguinte, cheguei cedo ao escritório como de costume. Estava usando uma saia lápis preta, uma blusa branca de seda, colar discreto, salto alto e, claro, meu batom vermelho impecável. Meu cabelo estava preso em um coque elegante, e eu exalava aquela mistura de poder e feminilidade que aprendi a dominar com o tempo — e que ninguém mais conseguia ignorar. Por volta das dez da manhã, a secretária bateu na porta da minha sala com um sorriso:

— Doutora Juliana, o novo sócio acabou de chegar. O doutor Airton está com ele na sala de reuniões e pediu que a senhora vá até lá. Meu coração deu um leve salto. Finalmente conheceria o filho do doutor. Peguei minha caneta, endireitei minha postura e caminhei até a sala com aquele andar confiante que aprendi a cultivar nos saltos. Bati à porta e entrei. — Com licença... — falei. Doutor Airton sorriu, como sempre gentil.

— Juliana, querida, quero te apresentar meu filho... Leonardo. Meu corpo travou. Por um instante, fiquei sem reação. Ele estava de costas, olhando pela janela. Quando se virou, foi como se o mundo parasse. Era ele. Leonardo. Nunca imaginei que ele fosse filho do doutor Airton. E lá estava ele. Mais maduro, ainda mais bonito. O mesmo sorriso, o mesmo olhar profundo. Mas agora vestido com um terno impecável, uma presença forte, imponente. E quando nossos olhos se cruzaram, o choque foi mútuo. A boca dele se entreabriu levemente. Eu percebi na hora: ele me reconheceu. Ele sabia. Mas não disse nada. Nem eu. Ainda não.

— Prazer, doutora Juliana — ele disse, estendendo a mão, firme, porém com os olhos cravados nos meus, como se dissesse tudo com o olhar.

— O prazer é meu... doutor Leonardo — respondi, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Conversamos formalmente ali na sala. Ele seria meu novo sócio, meu parceiro direto no comando do escritório. Iríamos dividir responsabilidades, clientes e decisões. Mas, no fundo, sabíamos: havia muito mais ali. Havia um passado, um beijo, um segredo dividido. E agora... havia uma nova Juliana diante dele. Montada. Completa. Advogada. Linda.

Quando saí da sala, meu coração disparava. A Juliana que ele conheceu só por uma noite, agora era uma mulher poderosa, bem-sucedida... e novamente muito próxima dele. Eu só não fazia ideia de como ele lidaria com tudo aquilo. Mas uma coisa era certa: aquela história ainda estava longe de terminar.

Aquela semana foi uma mistura de emoções e tensão. Desde o momento em que nossos olhos se cruzaram naquela sala de reuniões, senti que alguma coisa dentro de mim despertou. Um turbilhão de memórias, sensações, arrepios. Mas Leonardo... Leonardo foi impecável. Profissional, frio até. Cumprimentava-me com “bom dia, doutora Juliana” e conversava sobre processos, clientes, estratégias. Como se nada tivesse existido entre nós. Como se aquela noite mágica, anos atrás, nunca tivesse acontecido. E eu fingia também. Afinal, sou advogada, sócia, mulher forte. Eu sabia me controlar. Pelo menos por fora. Mas por dentro... meu corpo gritava. Ele passava por mim com aquele perfume que ainda me fazia perder o ar. Sentava-se ao meu lado nas reuniões, cruzava as pernas, olhava os documentos com uma calma absurda. E eu fingia. Fingia que não lembrava do gosto do beijo dele. Da pele. Da voz dele sussurrando no meu ouvido. Na sexta-feira, o expediente estava mais tranquilo. Final de tarde. A maioria dos funcionários já tinha ido embora, e eu ainda estava na minha sala, terminando de revisar uma petição, quando ouvi uma batida leve na porta.

— Posso entrar? — era ele. — Claro doutor — respondi, sem levantar os olhos do notebook. Ele entrou, fechou a porta e ficou em silêncio por um instante. Até que falou, com a voz mais baixa, quase íntima:

— Ju... a gente pode conversar? Meu coração disparou. O “Ju” me desmontou.

— Claro. Pode falar. Ele se aproximou, sentou-se à minha frente, apoiou os cotovelos nos joelhos, olhando nos meus olhos.

— Você tá linda. Incrível. Não é só o cabelo, o corpo... e o jeito. A confiança. Você é tudo o que eu sempre soube que seria. Fiquei em silêncio. Engoli seco. Ele continuou:

— Eu passei a semana inteira fingindo que não te conhecia. Fingindo que não me lembrava. Mas é mentira. Eu lembro de tudo. Daquela noite. Do teu beijo. Da tua voz. Do arrepio quando você apareceu montada. Aquilo ficou na minha memória como uma das coisas mais intensas da minha vida. E quando eu entrei naquela sala e te vi de novo, agora... como a Juliana, linda, poderosa, minha sócia... eu soube que precisava te ver de verdade. Conversar contigo. Sentir o que ainda existe entre nós. Eu respirei fundo. Minha voz saiu suave:

— Você demorou pra dizer isso, doutor Leonardo... Ele sorriu. Aquele mesmo sorriso torto que me conquistou naquela época.

— É que agora não somos mais só dois estudantes. Agora somos sócios. Profissionais. Adultos. Mas, se você quiser... eu queria te chamar pra sair. Só nós dois. Nada de escritório. Nada de papelada. Só eu e você. E talvez... algumas lembranças.

Meu corpo inteiro se aqueceu. Levantei da cadeira, caminhei até ele, parei à frente dele e sorri, com batom vermelho, salto alto e toda a mulher que eu aprendi a ser estampada em mim.

— Claro que eu quero Léo. Pode ser amanhã? A gente tem muita história pra relembrar... e talvez, criar novas. Encerrei a sexta feira com um misto de sentimentos e lembranças e fui para casa.

Acordei no sábado já com o coração disparado. A semana inteira foi uma tortura silenciosa. Trabalhar ao lado do Leonardo como se fôssemos dois estranhos, quando, na verdade, carregávamos um passado marcado por um beijo inesquecível e uma noite que mudou minha vida, era no mínimo sufocante. Mas agora… ele havia me convidado para sair. Depois de anos. Depois de tudo. Passei o dia inquieta, tentando ocupar a cabeça com qualquer coisa: lavei roupa, organizei gavetas, arrumei o armário de lingerie — claro, aproveitando para separar a que eu usaria à noite — e mesmo assim, o tempo parecia não passar. Por volta das quatro da tarde, fui para o banho. Me depilei com calma, sentindo o toque da espuma e da lâmina deslizando na minha pele já sensível. Fiz uma esfoliação no corpo, hidratei cada centímetro com um creme cheiroso e envolvente. Escolhi com cuidado cada peça que iria compor a Juliana daquela noite. Vestia uma lingerie preta rendada, provocante e elegante, com detalhes delicados que marcavam a minha cintura já bem afinada. Por cima, um vestido longo, colado, com fenda lateral e decote profundo. O tecido era preto, acetinado, e abraçava meu corpo como uma segunda pele. Completei com meia arrastão, salto agulha, batom vermelho intenso — o meu favorito — e uma make impecável com olhos marcados e cílios que batiam como asas. Me olhei no espelho e sorri. Eu estava linda. Elegante. Desejável. E eu sabia disso.

Leonardo me buscou às oito. Ele estava num terno impecável, camisa preta por dentro, sem gravata, e com aquele mesmo perfume de anos atrás. Quase me fez perder o equilíbrio no salto. Entramos no carro. Ele me olhou por alguns segundos, com aquele sorriso de canto.

— Juliana… você está absurda. — Achei que merecia causar um pouco — respondi, cruzando as pernas devagar. Ele engoliu seco. Fomos a um restaurante sofisticado, com luz baixa, vinho caro, ambiente envolvente. Durante o jantar, relembramos o passado entre goles e risadas contidas. Ele me olhava como se me devorasse em silêncio, e eu adorava brincar com a minha taça de vinho, passando a língua discretamente no batom vermelho, só para provocar. Depois de sobremesa, no carro, ele disse:

— Você não imagina quantas vezes eu me arrependi de ter deixado aquele beijo ser só um beijo...

Eu sorri e toquei a coxa dele, subindo devagar com os dedos por cima da calça. — A noite ainda é longa, Léo… Chegamos ao apartamento dele. Assim que entramos, ele me prensou contra a porta e me beijou como da primeira vez — intenso, quente, desejoso. Me virei, olhei para ele por cima do ombro e disse: — Quer ver o que tem debaixo do vestido? Lentamente, desfiz o laço lateral. O vestido escorregou pelas minhas curvas, revelando a lingerie e a meia arrastão que agora brilhavam sob a luz amarelada do ambiente. Ele me puxou para perto e começou a me explorar com a boca: no pescoço, nos ombros, nos seios por cima do sutiã, depois por baixo… Eu me ajoelhei na frente dele, tirei o cinto com os dentes, abri a calça, e quando o toquei… vi aquele pau. Nossa, que saudade eu estava desse pau. Ele já estava duro, quente, pulsante. Chupei com desejo, com entrega, alternando ritmos, lambidas, sugadas, usando a boca como se fosse feita pra isso. Ele gemeu forte, pegando minha cabeça com as duas mãos, me guiando. E quando gozou, olhou nos meus olhos, arfando: — Juliana… meu Deus…

Engoli tudo. E lambi os lábios, sorrindo. — Você não viu nada ainda. Ele me puxou pela mão, me levantando com delicadeza. Nos beijamos novamente, agora com mais urgência, com mais fogo. As mãos dele exploravam minhas curvas com fome — cintura, quadril, coxas.

— Vem comigo — ele disse, com a voz rouca, e me levou até o quarto. O ambiente estava semi-escuro, apenas com a luz indireta de um abajur aceso. Tudo era envolvente. A cama arrumada, os lençóis impecáveis, e o clima carregado de tensão. Leonardo me deitou com cuidado, me admirando por um instante, como se estivesse diante de uma obra de arte viva. — Você não tem noção do quanto você me enlouquece, Juliana.

— Tenho sim — respondi, mordendo o lábio e abrindo devagar as pernas, deixando que a fenda da meia arrastão mostrasse ainda mais da minha pele. Ele ajoelhou-se na beira da cama e começou a beijar minhas coxas com uma lentidão deliciosa. Chegou até minha calcinha e a afastou com os dentes, sem quebrar o contato visual comigo. Aquilo me fez estremecer. Passava a língua com maestria no meu cuzinho, alternando entre beijos molhados, pequenas mordidas e carícias com os dedos.

— Eu quero você inteira — ele murmurou. Subiu por cima de mim, colando seu corpo ao meu, me prendendo com firmeza, com desejo. Nos beijamos fundo, enquanto ele encaixava seu quadril entre minhas pernas, e eu enlaçava minha cintura nele, completamente entregue. Ele me virou de bruços, ergueu meu quadril, tirou a própria roupa com pressa, e então senti sua mão firme na minha cintura.

— Pronta?

— Desde aquela noite — sussurrei, arfando. Com cuidado e desejo, ele me penetrou. Aos poucos no começo, me dando tempo para sentir, me abrir, me adaptar. Matar a saudade daquele pau preto maravilhoso. Mas logo começou a se movimentar com mais força, mais intensidade. Cada estocada era profunda, precisa, carregada de tesão. Ele segurava meus quadris, puxava meu cabelo, mordia minha nuca, enquanto eu gemia de prazer, sentindo o corpo inteiro vibrar. Eu me sentia viva. Eu me sentia mulher. E eu me sentia amada naquela entrega. Mudamos de posição. Fiquei deitada de lado, com uma perna erguida, e ele me fudendo por trás, beijando meu pescoço e dizendo entre suspiros:

— Você é perfeita. Linda. Inesquecível. O ritmo foi aumentando. Eu o sentia dentro de mim, forte, firme, preenchendo cada parte do meu corpo e da minha alma. Quando ele gozou, se agarrou a mim, me apertando, enterrando o rosto no meu pescoço, gemendo meu nome como se fosse uma prece. Ficamos ali, suados, ofegantes, colados. O quarto cheio do nosso cheiro, da nossa história, da nossa química que atravessou anos. E enquanto ele me acariciava os cabelos, ainda dentro de mim, sussurrou:

— Juliana… essa noite foi só o recomeço, não foi? Eu sorri e beijei a ponta do nariz dele.

— Foi sim, meu Léo. E dessa vez, não vamos deixar escapar.

Acordei com o cheiro de café fresco invadindo o quarto, misturado ao aroma inconfundível do perfume do Léo que ainda impregnava os lençóis e meu corpo. Abri os olhos devagar, sorrindo, e me estiquei, sentindo aquele leve cansaço gostoso de uma noite bem vivida. Leonardo estava na cozinha, de calça de moletom, sem camisa, o peito largo e forte me hipnotizando logo de manhã. Quando me viu, sorriu com aquele jeito safado que me deixava derretida.

— Bom dia, doutora Juliana — disse, me servindo uma xícara de café com um olhar provocador.

— Dormiu bem?

+— Depois daquela noite? Eu renasci — respondi, me aproximando e lhe dando um beijo demorado, sentindo suas mãos deslizando pela minha cintura coberta apenas por uma de suas camisetas. Tomamos café juntos: frutas, pães, ovos mexidos e muitos olhares maliciosos. A certa altura, ele encostou no balcão, cruzou os braços e me disse:

— O que acha de a gente fugir um pouco hoje? Ir até a praia, só nós dois. Um dia sem relógio, sem obrigações. Só nós, o mar e mais alguns pecados. Sorri largamente, com o coração batendo mais rápido.

— Me dá 30 minutos. Vou em casa buscar umas roupas e já volto. Vesti minhas roupas, dei um último beijo nele e fui correndo até meu apartamento. Separei biquínis, saídas de praia, um vestido branco longo com fenda, meus óculos escuros e claro, algumas lingeries provocantes (nunca se sabe quando a maré vai subir, né?). Voltei e entramos no carro. Durante o caminho, o clima já estava fervendo. Eu cruzava as pernas devagar, deixando a fenda do vestido mostrar um pouco mais da minha coxa coberta por uma meia fina. Ele dirigia com uma das mãos no volante e a outra ora no meu joelho, ora subindo mais um pouco. Em certo momento, me inclinei no banco, sussurrei no ouvido dele:

— Tá difícil de dirigir com tudo isso acontecendo aqui do lado, né, Léo? Ele mordeu o lábio e respondeu:

— Você vai me matar, Juliana...

Chegamos na praia já com o desejo à flor da pele. Almoçamos num restaurante à beira-mar, comida leve, vinho branco e muitas trocas de olhares intensos. Passamos a tarde caminhando pela areia, brincando na água, nos beijando como se o mundo tivesse parado ao nosso redor. O vento bagunçava meus cabelos, o sol dourava minha pele, e ele me olhava como se fosse a coisa mais linda do mundo. E então, quase no pôr do sol, nos afastamos para um canto mais deserto da praia. Ele me encostou contra uma pedra, o som das ondas sendo o fundo perfeito para nossa luxúria.

— Você sabe que eu não vou aguentar esperar até voltarmos pra casa, né?

— Nem eu, Léo.

E ali mesmo ele me beijou com pressa. As mãos ágeis tirando minha calcinha por debaixo da saída de praia. Eu o ajudei com a bermuda. Me ajoelhei na areia e chupei aquele mastro preto com vontade, com tesão, com aquela fome que só ele despertava em mim. Ele gemeu rouco, segurando meu cabelo, sujo de areia, sem se importar. Depois, me virou de costas, me inclinou contra a pedra, e me penetrou com força, num ritmo selvagem, quente, urgente. O sol se punha, pintando o céu de laranja e rosa, e nós dois, completamente entregues ao desejo, transávamos como se o tempo tivesse parado. Quando gozei, ele também chegou ao limite, agarrado a mim, suando, gemendo no meu ouvido. Ficamos assim, respirando juntos, rindo, sujos de areia, de prazer, de amor. — Acho que esse foi o melhor pôr do sol da minha vida — sussurrei. — E vai ter muitos mais, doutora Ju. Porque eu não vou te perder de novo.

Depois daquela tarde quente e inesquecível na praia, tomamos um banho juntos no chuveirão improvisado do quiosque antes de pegar a estrada de volta. O sol já ia se pondo novamente, mas agora do outro lado do caminho, e eu estava com a cabeça encostada no ombro do Léo, ainda com a pele arrepiada, o corpo leve, e o coração cheio. Voltamos pra casa com aquele silêncio confortável entre duas pessoas que se conhecem na pele. Trocamos sorrisos, carícias nos dedos entrelaçados e promessas mudas nos olhares. Quando chegamos, ele me olhou com aquele brilho moleque e disse:

— Vai te arrumar, doutora Juliana. Nosso Grêmio joga hoje. E a gente vai pra Arena. Meus olhos brilharam. Eu amo futebol, sempre amei. E voltar à Arena, com ele ao meu lado, agora sendo quem eu sou de verdade, vestida como eu me sinto bem, me deixou emocionada. Coloquei meu jeans mais justo, um tênis branco, a camisa tricolor por cima de um top preto que deixava um decote discreto — mas suficiente pra deixar o Léo me olhando de lado, com aquele sorriso safado. Um batonzinho claro, cabelo solto. Eu me senti linda. E torcedora. Chegamos na Arena pouco antes do jogo começar. A torcida já pulsava, os cantos ecoavam forte, e nós dois entramos no clima como dois adolescentes apaixonados e empolgados. Gritamos, pulamos, cantamos. Cada lance era uma emoção, e ele me segurava pela cintura toda vez que o Grêmio ameaçava o gol adversário. Quando o tricolor marcou o primeiro gol, ele me levantou do chão e me girou no ar, e eu ri tão alto, tão feliz, que tive vontade de chorar. Era como se uma parte minha, aquela que um dia estava escondida atrás de uma camiseta larga e medo, agora estivesse ali, viva, vibrando, amada, com a camisa do Grêmio colada no corpo de mulher, batom nos lábios, e um homem ao lado que me olhava com orgulho. O Grêmio ganhou. E a gente saiu abraçados, cantando os hinos, rindo, e parando pra tirar fotos como se fosse o início de uma nova vida. Porque era. Ele me levou até a porta do meu prédio. O motor desligado, o silêncio preenchido apenas pela nossa respiração satisfeita.

— Obrigada pelo dia perfeito, Léo. — falei, com os olhos marejando um pouco.

— Obrigado você... por voltar. Por me deixar te redescobrir. Ele se aproximou, acariciou meu rosto, deslizou o polegar pelos meus lábios e me beijou. Um beijo longo, profundo, doce e cheio de promessas. Desses que fazem a gente esquecer que amanhã é segunda-feira. Que o mundo segue. — Boa noite, doutora Juliana... — ele sussurrou, sorrindo contra minha boca. — Dorme bem. Entrei em casa com o coração acelerado, o perfume dele ainda na minha pele, e a certeza de que aquele domingo tinha selado muito mais do que um reencontro. Tinha selado o início de um novo capítulo da minha história.

A segunda-feira amanheceu com aquele céu nublado típico de Porto Alegre. Eu cheguei cedo ao escritório, como sempre, com meu blazer vinho, batom impecável e salto alto ecoando pelos corredores. Ainda sentia o corpo leve da noite anterior, da praia, do beijo na Arena. E por dentro, um friozinho na barriga — aquele que mistura saudade recente e expectativa. Quando entrei na sala de reuniões para nossa rotina semanal de pautas, lá estava ele. Leonardo, já devidamente instalado, de terno escuro, camisa branca aberta no primeiro botão, barba feita e aquele perfume inconfundível. Ele me olhou com um sorriso contido, respeitoso, mas cheio de intenções. Um “bom dia, doutora Juliana” dito com aquele tom de voz grave e gentil que me desmontava por dentro. Conversamos sobre os casos da semana: uma audiência complexa envolvendo uma ação de danos morais; um contrato de fusão entre duas pequenas empresas; a revisão de um parecer sobre responsabilidade civil. Profissionalmente, estávamos sincronizados. E entre um processo e outro, trocávamos olhares, sorrisos, toques sutis nas mãos ao passarmos uma folha ou ao dividirmos um café.

Na terça-feira, atendi um cliente tenso por conta de uma causa trabalhista. Leonardo passou pela porta e ficou observando. Depois, quando o cliente foi embora, ele se aproximou e elogiou minha postura firme:

— Você é incrível, Ju. Sabe conduzir tudo com tanta classe e inteligência… isso me deixa cada vez mais encantado. Corri os dedos pelos meus cabelos e disfarcei o rubor com um sorriso: — Obrigada, doutor Leonardo… fico feliz com seu reconhecimento.

Na quarta, trabalhamos lado a lado até tarde, revisando uma petição extensa. A luz da luminária iluminava o rosto dele enquanto falávamos baixo, cada vez mais próximos. Em um momento, nossas mãos se tocaram sobre o teclado. Ele não puxou a dele, nem eu a minha. Ficamos ali, por alguns segundos, até que ele disse, baixinho:

— Sinto sua falta mesmo quando você está do meu lado.

Na quinta, depois de uma manhã cheia de atendimentos, ele me chamou na sala dele: — Vamos almoçar fora hoje? Só nós dois. Preciso te mostrar um lugar. Aceitei. Almoçamos em um restaurante discreto e bonito, onde conversamos sobre tudo — menos trabalho. Falamos sobre nossas famílias, nossas trajetórias, rimos de lembranças da época da faculdade. Era como se o tempo entre nós tivesse apenas feito crescer o que ficou guardado lá atrás.

E na sexta, o escritório já mais vazio no fim da tarde, eu estava em minha sala, organizando algumas pastas, quando ele bateu na porta.

— Posso entrar?

— Claro, doutor.

Ele fechou a porta atrás de si e veio até minha mesa. Tirou uma caixinha pequena do bolso do paletó, me olhando nos olhos. — Ju… eu não sei como conseguimos retomar isso depois de tantos anos. Mas sei que, desde que você voltou pra minha vida, tudo ficou mais leve, mais bonito, mais verdadeiro. Fiquei sem palavras. Meu coração disparado. Ele se ajoelhou ali, no carpete do nosso escritório, e abriu a caixinha. Era um anel simples, prateado, elegante.

— Doutora Juliana… quer namorar comigo? Eu ri, meio nervosa, meio emocionada, e brinquei:

— No meio do expediente? Que falta de profissionalismo…

Ele riu junto. Me levantei, dei a volta na mesa e me joguei nos braços dele. — Claro que sim, meu amor. Claro que eu quero. Nos beijamos ali mesmo. Intensamente. Verdadeiramente. E pela primeira vez na vida, eu me senti completamente pertencente. Ao meu lugar. À minha identidade. Ao amor que eu tanto esperei.

Eu ainda sentia o coração acelerado com o pedido de namoro que ele tinha acabado de me fazer. Foi simples, direto, com aquele olhar que parecia atravessar minha alma. Eu disse sim com um sorriso bobo nos lábios, e ele segurou minha mão com firmeza, como se dissesse: “Agora é pra valer, doutora Ju.”

Fomos juntos até o estacionamento, e eu decidi dirigir. Ainda estávamos no clima do expediente, mas havia algo diferente no ar. Ele entrou no carro, ajustou o banco, e antes mesmo de eu ligar o motor, ele se virou pra mim e disse, com aquele tom que só ele tem:

— Tu fica ainda mais linda quando tá mandando no escritório... Mas agora eu quero ver a Ju de verdade. Aquela que só eu conheço. Eu ri, corando de leve, tentando manter o foco no trânsito, mas ele não ajudava em nada. Passou o braço por trás do meu banco, aproximou o rosto do meu pescoço e sussurrou:

— Esse teu perfume... essa tua nuca... tua voz quando me chama de "colega de trabalho"... Dá vontade de te jogar na mesa da sala de reuniões e te deixar gemendo por mim.

Mordi o lábio, quase errando a entrada da minha rua. O ar do carro parecia mais quente, e minhas pernas estavam trêmulas. Quando finalmente estacionei, saí apressada e chamei:

— Sobe logo, Léo. Agora!

Subimos como dois adolescentes famintos. Assim que a porta do meu apartamento se fechou, ele me prensou contra ela, me beijando com força, com desejo, com saudade acumulada por anos. Nos beijamos como se o mundo não existisse. Eu tirei os saltos devagar, e ele, com toda calma e adoração, foi desabotoando minha blusa. Me olhava como se cada pedaço do meu corpo fosse uma obra de arte. Quando me viu completamente de lingerie — preta, renda fina, com meia calça presa à cinta — soltou um “caralho” baixinho, como quem vê o paraíso na Terra. Fomos pro quarto tropeçando em roupas.

Me ajoelhei na frente dele, tirei o cinto, abri a calça e olhei pra cima, mordendo os lábios antes de engolir aquele pau que eu amo por inteiro, lenta, provocante, sentindo o poder que eu exercia sobre ele. Ele segurava meus cabelos, gemia baixo, dizendo o quanto me desejava, o quanto sonhou com isso. Depois, ele me deitou na cama, beijou cada centímetro do meu corpo com carinho e fogo. Entrou em mim com força, com amor, com tudo o que a gente guardou desde aquele barzinho na época da faculdade. Nossos corpos se encaixavam como peças de um quebra-cabeça destinado a se encontrar. Gozamos juntos, abraçados, arfando, como se não houvesse amanhã. E ali, entre lençóis bagunçados, batom borrado e respirações entrecortadas, ele sussurrou no meu ouvido:

— Agora tu é minha, doutora Juliana. Toda minha. Minha advogata!

E eu sorri. Porque sim. Eu era. E queria ser.

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