O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.7 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 1984 palavras
Data: 22/05/2025 20:43:17

— Pedro…? — a voz fraca me fez olhar de imediato.

Sofia abria os olhos com dificuldade, ainda pálida, deitada no chão da sorveteria. Me abaixei depressa, aliviado por vê-la recobrando os sentidos.

— Ei, calma… você desmaiou — falei, apoiando sua cabeça com cuidado.

Camila já com o celular na mão, olhava assustada.

— Tô ligando pra ambulância!

— Não! — Sofia murmurou, erguendo a mão com esforço. — Não precisa… foi só… eu não comi nada. O plantão foi puxado demais… saí do hospital direto pra cá.

Eu olhei pra ela e depois pra Camila.

— Desliga Camila!

— Mas, Pedro…

— Eu tô falando sério — apontei pra Sofia. — E se ela tá dizendo que é só fraqueza, então a gente trata com comida, não com sirene.

Camila assentiu, guardando o celular, ainda com a expressão apreensiva. Me voltei pra Sofia e segurei sua mão.

— Consegue se sentar?

Ela assentiu lentamente. Ajudei com cuidado, e depois de alguns minutos, consegui colocá-la de pé. Mesmo fraca, ela fez questão de soltar um sorrisinho.

— E ainda dizem que enfermeira sabe cuidar de si mesma, né?

— Tá mais pra paciente teimosa. Bora, eu vou te levar pra comer.

— Pedro, não precisa...

— Precisa sim. Eu já vi gente desmaiar de susto, de calor, de pressão baixa… agora de fome? Não na minha frente.

Minutos depois, estávamos no restaurante O movimento ainda era tranquilo. Pegamos uma mesa ao canto e, assim que nos sentamos, pedi: cuscuz com ovo e carne do sol, pão de queijo, café preto forte e suco de laranja.

Sofia devorava tudo como se a comida fosse a primeira em dias. Aos poucos, a cor ia voltando ao rosto dela. Eu só observava, aliviado.

— Sabe, é louco. Eu passo o dia todo cuidando dos outros, mas quando é comigo… esqueço de mim — ela disse, com a voz ainda baixa, mas mais firme.

— Você não devia sair do hospital direto pra sorveteria. Podia ter dormido, descansado…

— Mas eu quis vir. Eu gosto...gosto de conversar contigo… e também, de alguma forma, acho que me sinto mais segura perto de você.

Engoli em seco com aquelas palavras. O mundo ao redor parecia diminuir, como se o restaurante ficasse silencioso por um segundo. Mas antes que eu pudesse responder, o celular vibrou sobre a mesa. Uma notificação no WhatsApp: vídeo de Arthur.

Abri com o polegar, por impulso. Era um trecho de Someone Like You, da Adele. Só a voz dela e o piano. O trecho começava exatamente ali:

“Never mind, I’ll find someone like you…”

Na mesma hora, a tradução ressoou na minha cabeça:

"Não tem problema, eu vou encontrar alguém como você…"

Fechei os olhos por um segundo. Era isso? Uma despedida disfarçada de música? Uma mensagem silenciosa dizendo que ele estava deixando tudo pra trás — inclusive a gente, mesmo que nunca tivesse sido um “nós” de verdade?

Meu estômago se revirou. O gosto do café perdeu o sentido. Era estranho como algo tão pequeno podia doer tanto. Uma música. Um trecho. Um adeus escondido entre acordes.

Guardei o celular no bolso sem dizer nada. Sofia continuava falando sobre o hospital, sobre como o último plantão tinha sido cheio de confusão, gente entrando machucada por briga de bar, uma gestante em trabalho de parto que quase teve o bebê na recepção. Mas minha cabeça estava longe.

Eu sorria de leve, acenava com a cabeça, fingia estar ali. Mas dentro de mim, um silêncio se espalhava. Era como se algo tivesse sido encerrado. E talvez tivesse mesmo.

Talvez Arthur tivesse encerrado.

— Ei — disse Sofia, sorrindo. — Quando eu melhorar, você ainda vai me ensinar a fazer aquele milk-shake de paçoca?

Assenti com um sorriso discreto.

— Claro. Mas só se prometer comer antes de vir trabalhar.

— Prometo.

Ficamos ali mais um tempo. Eu, lutando contra uma despedida não dita. Ela, se recuperando com pão de queijo e doçura.

E a vida seguia. Meio torta. Meio bonitaDepois que Sofia terminou de comer e já parecia bem melhor, eu insisti pra que ela fosse pra casa descansar. A teimosia dela quase ganhou da minha insistência, mas no fim, ela acabou aceitando pegar um Uber.

— Me avisa quando chegar — eu disse, ajudando-a a entrar no carro.

— Pode deixar— ela respondeu, com um sorrisinho cansado, mas sincero.

Fiquei parado ali por uns segundos, vendo o carro se afastar. Depois, comecei a caminhar de volta pra sorveteria. O sol já ia baixando devagar, tingindo a rua com um tom alaranjado bonito, e uma brisa leve fazia as folhas das árvores balançarem como se soubessem de algum segredo.

Eu caminhava distraído, pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo, quando notei um movimento diferente na esquina da minha rua. Algo novo. Uma fachada que não me lembrava de ter visto antes.

Franzi a testa.

Cheguei mais perto.

Uma pizzaria?

Sim. Agora dava pra ver bem. Uma fachada moderna, com letreiros limpos e uma placa em letras grandes e bem desenhadas: "Toda hora é hora".

Arqueei uma sobrancelha. Que nome era aquele?

Me aproximei mais, curioso, e então reparei nos cartazes colados no vidro: "Inauguração amanhã!" — "Aberto 24 horas!"— "Promoções imperdíveis no dia da abertura!"

— Boa tarde! — disse uma voz simpática ao meu lado.

Virei e dei de cara com uma moça jovem, de uns vinte e poucos anos, usando uma camiseta com o nome da pizzaria e um sorriso fácil no rosto.

— Aqui está — ela me entregou um panfleto colorido com as promoções. — Amanhã é nossa inauguração! Vai ter pizza o dia inteiro com desconto. E sim, a gente vai funcionar 24 horas!

Peguei o panfleto e agradeci, ainda olhando pra fachada como se estivesse tentando entender o que aquilo significava pra mim.

— "Toda hora é hora", hein? — comentei.

— É a ideia! Quem quiser comer pizza às dez da manhã ou às três da madrugada, vai poder.

Sorri de canto.

— Boa sorte, então.

— Obrigada! Aparece viu?

Acenei com a cabeça e continuei meu caminho. A esquina da minha sorveteria estava logo ali, a poucos passos. Assim que dobrei a rua, vi a fachada já familiar, com o letreiro azul claro e o cheiro doce ainda escapando pelas frestas da porta.

Mas por dentro, alguma coisa tinha mudado. Algo pequeno. Talvez fosse só a presença daquela pizzaria nova. Talvez fosse o fato de eu estar me sentindo menos sozinho depois do almoço com Sofia… ou talvez fosse aquela mensagem de Arthur ainda rondando minha cabeça, tentando encontrar um canto onde se acomodar.

Fiquei alguns minutos parado dentro do balcão, ainda processando tudo. A cabeça fervilhava. O cansaço pesava nos ombros, mas a inquietação que me corroía vinha de outro lugar.

Thales.

A imagem dele preso no galpão ainda me vinha à cabeça de vez em quando. E toda vez que vinha, me deixava mais incomodado. Ele não podia ter escapado... a não ser que alguém tivesse ajudado.

Foi então que decidi: precisava ir até a academia. Saber se alguém lá tinha alguma novidade. Se ele ainda aparecia. Se fingia estar bem. Qualquer coisa.

Respirei fundo, tirei o avental da sorveteria e chamei Camila.

— Fica no comando, Camila. Se alguém perguntar por mim, diz que precisei resolver uma coisa. Volto antes de fechar.

— Tudo certo, Pedro. Pode deixar.

Subi na moto após trocar de roupa,ainda com os ecos do desmaio de Sofia na cabeça e os olhos atentos às ruas. Em pouco tempo, cheguei à frente da academia. Estacionei e entrei sem enrolar. A mesma recepcionista de sempre estava ali, digitando algo no computador.

— Oi, boa tarde. O Thales tá por aqui? O personal.

Ela franziu a testa e abriu um sorriso que mais parecia o início de uma fofoca.

— Você não soube?

— Não. Soube o quê?

Ela girou o monitor pra mim e clicou numa conversa no WhatsApp Web. Um áudio começou a tocar:

"Oi. Pode avisar que eu tô pedindo demissão. Preciso resolver uns assuntos pessoais e não sei quando volto. Obrigado por tudo."

Aquela voz. Aquela calma. Como se nada tivesse acontecido.

— Ele mandou isso ontem à noite. Tá todo mundo achando estranho — a recepcionista disse, cochichando agora. — Os outros funcionários tão comentando que ele deve ter aprontado alguma e fugiu. Porque sair assim, do nada…

Fiquei mudo, a mente girando num redemoinho. Ele realmente havia sobrevivido!

E mais do que isso: estava fugindo

Fui até o leg press, mas nem consegui começar. Sentei ali, tirei o celular do bolso e liguei pro meu advogado.

— Já conseguiu soltar os dois?

— Tô quase. Faltam uns ajustes com o juiz substituto, mas...

— Não quero “quase”, doutor. Quero agora. Eles precisam sair logo.

— Vou ver o que posso fazer.

— Vê e resolve. Eu pago o que precisar.

Desliguei. Guardei o celular. Respirei fundo. Mas a verdade era que nada me acalmava naquele momento.

Thales estava vivo. E se estava vivo… alguém o ajudou.

E quem ajuda uma cobra, geralmente morde junto.

Cheguei em casa ainda com a cabeça pesada por causa da academia, da descoberta sobre Thales… e de tudo.Fiquei tão aflito que não fiz quase nada o restante do dia na sorveteria! Agora em casa eu só queria dormir,mas antes que eu pudesse me jogar no sofá e desligar do mundo, a notificação no celular piscou.

Flávio:“Topa jantar hoje? Tô precisando distrair a cabeça, e achei que você também tava.”

Suspirei. Ele tinha razão, eu tava tão aflito que talvez só dormir não fosse resolver, saí talvez aliviasse esse sentimento de fragilidade dentro de mim!

Respondi um “tô dentro” e fui direto pro quarto. Escolhi uma camisa preta de botão, calça jeans escura, perfume amadeirado. Me encarei no espelho com aquela cara de quem tenta parecer inteiro — mesmo estando tudo bagunçado por dentro.

Desci, peguei as chaves do carro. Não queria ir de moto. Queria estar protegido, cercado, preso em alguma bolha. O carro era isso.

Liguei o motor, coloquei o cinto e parti.

O céu estava estranho, cinza demais. As nuvens já ameaçavam chuva desde mais cedo. Liguei o rádio. Aleatório. Só queria um som de fundo.

Mas quando reconheci os primeiros acordes, minha mão apertou o volante com força.

"I got my driver's license last week

Just like we always talked about..."

Não.

A voz da Olivia Rodrigo invadiu o carro como um fantasma do passado. Meu peito começou a doer. Uma dor que queimava de dentro pra fora.

"And you're probably with that blonde girl

Who always made me doubt..."

Arthur.

O nome dele bateu dentro da minha cabeça como um raio. Meus olhos arderam, e antes que eu pudesse evitar, as lágrimas começaram a cair. Sem controle. Desesperadas.

Estacionei o carro no acostamento, numa rua quase deserta. Enterrei o rosto no volante.

Como ele ainda me fazia sentir isso?

Como alguém que destruiu minha infância, minha autoestima, meus anos mais frágeis, ainda podia mexer comigo assim?

Eu estava chorando como uma criança. Como se aquele som trouxesse tudo de volta: o toque dele, o cheiro, os olhares que fingíamos que não existiam, os segredos, a raiva, o medo. E agora… essa maldita saudade.

Mas não.

Não.

— EU NÃO POSSO TE AMAR! — gritei, socando o volante com força.

A chuva começou a cair com tudo. Pesada, grossa, violenta. Trovões explodiram no céu. Mas eu já estava ali, perdido, quebrado.

"I still hear your voice in the traffic

We're laughing over all the noise..."

Gritei a letra com toda a minha alma. Deixei sair tudo. A raiva, a culpa, o amor, o ódio. Tudo se misturava.

— VOCÊ ACABOU COMIGO! VOCÊ ME FEZ ACHAR QUE EU ERA NADA! — berrei, enquanto os trovões abafavam minha voz.

Chuva batendo nos vidros. Música alta. Coração em frangalhos.

Mas não. Eu não podia esquecer o plano.

Arthur vai pagar. Vai pagar por tudo.

Limpei o rosto com as costas da mão, desliguei o rádio. Respirei fundo. O mundo estava desabando lá fora — e dentro de mim também.

Mas eu estava no controle.

Pelo menos, era isso que eu precisava acreditar.

Continua...

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Comentários

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❤Qual­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­­­pas) Por favor, ava­­­lie ➤ Ilink.im/nudos

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Sensacional, ainda acredito que Arthur e Pedro, fiquem juntos, eles estão confusos no momento, mas é preciso que eles se entendam, quem sabe um desabafo sincero cure todas as feridas e nasça um grande amor.

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