Tati dormia profundamente, virada para o lado, o celular ainda na mesinha.
Fiquei olhando para a tela apagada por alguns segundos, o quarto em silêncio, só o som da respiração dela no fundo. Peguei o aparelho com cuidado e fui para o banheiro, fechando a porta devagar.
Me encarei no espelho por alguns segundos, celular na mão, tela bloqueada.
Sabia que invadir a privacidade da minha namorada era errado. Mas não ia conseguir viver se não fizesse. Só ia pensar nela conversando com João.
Digitei a senha que sempre funcionou, o aniversário dela.
Erro.
Tentei de novo. O mesmo resultado.
Tati havia mudado a senha do seu celular.
Na hora, o coração acelerou. Senti o estômago embrulhar. Por que ela faria isso?
Tentei o aniversário da mãe dela. Depois do pai. O do irmão. Nada.
Já ia desistir, quando tentei o meu aniversário. A tela desbloqueou.
Fiquei parado ali por uns segundos, com o celular destravado na mão. Pelo menos, ela estava pensando em mim quando mudou a senha.
Comecei a vasculhar o celular dela com as mãos trêmulas. Fui direto pro Instagram.
João tinha mesmo bloqueado ela no Instagram, como eu pedi. A conta não tinha foto de perfil, nem status. Só que, antes disso, passou o número dele e Tati o adicionou no WhatsApp.
Comecei a ler a conversa. Senti o sangue subir. A raiva veio tão forte que precisei me controlar para não arremessar o celular na parede.
Tati havia mandado uma foto com um vestidinho branco de costas para o espelho. Ela empinava, se contorcia e fazia bico. Era uma pose ridícula, claramente algo que eu não gostaria de ver minha namorada enviando para outro cara.
João respondeu com uma foto. Era o rosto do João, bem de perto. Barba feita, cabelo bagunçado, aquele sorrisinho idiota de sempre.
“Aff… não era essa foto que a gente tinha combinado 😒”, Tati respondeu.
“A fotinho toda comportada que você mandou não vale isso tudo, né? ”
“Comportada? Eu mostrei o bem mais precioso kkk”
“Você quer uma foto minha sem roupa nenhuma, sendo que a sua você tava vestida… não parece justo”
“Eu não vou mandar nude!”
“Parece que estamos num impasse, então, ninguém vai ter o que quer”
Depois daquela conversa, os dois passaram alguns dias sem se falar.
João tinha esse hábito. Ele dizia que, com certas mulheres, era preciso deixar no ar. Criar espaço. Ficar quieto por um tempo deixa elas querendo mais.
Para o meu desespero, a estratégia havia funcionado com minha namorada. Tati que reviveu a conversa, enviando uma foto no provador de uma loja vestindo um biquíni.
“Pronto. A foto de biquíni que você tava querendo. Que você achou? Devo comprar?”
“Desculpa, eu não sou leviano. Preciso de mais informação para dar uma opinião aprofundada. Manda de costas.”
“Você é louco kkkkk.”“Talvez, mas tem recompensa se você mandar”
Recompensa. Ele estava tratando minha namorada como se fosse um cachorro adestrado. E ela parecia gostar.
Tati mandou a foto. De costas, olhando por cima do ombro, fazendo biquinho. O biquíni mal cobria o que precisava. Aquela bunda enorme deixava a peça quase invisível.
João respondeu com outra imagem. Era ele de cueca, claramente excitado. A sombra deixava pouco espaço para dúvida.
Tati respondeu em seguida:
“👀 Ficou animado, hein? Vou comprar o biquíni então 😏”
“Sim! Se quiser podemos alugar um quartinho com piscina e estrear ele nesse fds…”
João fingia bem. Ele sabia que ela iria viajar comigo, porque eu já havia contado.
“Não vai rolar… vou viajar com meu namorado 😅”
“Não acredito… me traindo assim, na maior cara dura?”
“Como você é besta, menino kkkk”
“Mas pelo menos descobri uma forma de resolver nosso impasse sobre quem manda a foto primeiro…”
“👀 Já sei que vou me arrepender porque deve ser besteira, mas fala…”
“Simples. Se um de nós transar no fim de semana, tem que mandar foto sem nada depois.”
“Meu Deus! Kkkkk você é muito doido”
“Fechado? Quem transar, perde?”
“E eu vou ter que ficar enrolando meu namorado agora? Assim fica fácil demais pra você…”
“Lógico que não. Já tinha um contatinho separado pro fim de semana também…”
“Tá… fechado. Mas não vale trapacear, hein? Se fizer sozinho, também conta”
“Fechado”
Doía demais ver aquela conversa. Minha namorada não estava cansada ou menstruada. Era por causa daquele joguinho estúpido que a gente não estava fazendo amor.
Mas o pior nem era isso.
Descobri o porquê dela não largar o celular na viagem.
O resto da conversa entre eles era parte do jogo. Fotos, insinuações, provocações. Um tentando fazer o outro perder a aposta.
Tati mandava selfies deitada de biquíni na cama do hotel, fazendo carão. Legendas com duplo sentido. João respondia com fotos dele na academia, de toalha, suado, sempre com alguma frase idiota.
Os dois, usando todas as armas à disposição para fazer o outro perder.
Coloquei o aparelho de volta no mesmo lugar, com o cuidado de quem tenta apagar um crime. Voltei para a cama derrotado.
Ela dormia tranquila, como se nada estivesse acontecendo. Deitei ao lado dela em silêncio. O teto era tudo o que eu conseguia encarar.
Não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer. Só sabia que meu relacionamento tinha acabado.
<Continua>
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