Uma Decisão Intensa

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1109 palavras
Data: 21/05/2025 19:06:47

Basta. Chega. A decisão cristalizou-se em mim com uma intensidade avassaladora. Chega de viver por trás dessa máscara de “bom garoto”, chega de sentir essa vergonha infundada por quem eu era ou, mais precisamente, por quem eu ansiava ser. Prometi a mim mesmo, ali, na quietude cúmplice do meu quarto, enquanto a cidade dormia lá fora, que me libertaria das amarras invisíveis que me prendiam a uma vida de medo e negação. Aquela noite foi a crisálida; eu emergiria diferente. E no dia seguinte, eu não seria mais o “Chapeuzinho Vermelho” ingênuo da história infantil, carregando sua cesta de doces sem questionar o caminho. Eu me transformaria, em alma e talvez em atitude, no “Putinho Vermelho” que ansiava por explorar o lado mais excitante e perigoso da floresta, abraçando os desejos que brotavam como sementes há muito reprimidas.

Mal podia esperar pelo encontro, pela promessa de uma aventura sexual que eu secretamente, fervorosamente, sonhava em ter com o Lobo Mau de minha vida. Porque, no fundo, eu já sabia que o Lobo Mau não era o monstro a ser temido, mas sim a encarnação do meu próprio desejo proibido.

Assim que o sol nasceu, pintando o céu com tons pastéis, uma calma estranha, mas incrivelmente resoluta, se instalou em mim. O medo da noite anterior parecia ter evaporado com o orvalho matinal, substituído por uma determinação tranquila. Levantei-me, meu corpo respondendo a uma nova energia. Vesti uma camisa de manga longa de um tom profundo de vinho, quase carmesim, que parecia refletir a cor do meu novo propósito. Calças de moletom confortáveis e pretas, e tênis da mesma cor completavam o visual — simples, discreto, mas com um toque de audácia velada na cor da camisa.

Peguei a cesta de doces, agora sentindo-a como um acessório ridículo, um mero disfarce para a verdadeira intenção que me impulsionava. Saí de casa, a porta fechando-se suavemente atrás de mim, como um portal que se fechava para o meu antigo eu. E, sem hesitação, segui o caminho que levava à orla da floresta, em busca de Johnny, em busca da minha própria libertação.

Cheguei ao lugar marcado, o lugar onde tudo mudou. O coração batia forte no peito, uma pulsação acelerada, mas não era o eco do pânico da véspera. Era o ritmo febril da antecipação, uma excitação crua e poderosa que me percorria das pontas dos pés ao topo da cabeça. Eu estava ali, pronto — não como a vítima relutante de um conto de fadas, mas como a protagonista disposta a reescrever a própria história, livre do receio que havia me acompanhado por tanto tempo. A floresta esperava, e eu estava pronta para me perder (ou me encontrar) em seus caminhos.

O ar sob a copa vasta do grande carvalho era pesado e silencioso, a grama macia sob meus pés parecia reter a respiração. O local, nosso ponto de encontro secreto, estava estranhamente vazio. Não havia sinal de Johnny. Mas eu não vim até aqui para ir embora de mãos vazias. Eu estava determinado a atraí-lo, a forçá-lo a revelar-se. Com uma leve pontada de divertimento autoconsciente — afinal, eu estava prestes a fazer algo bastante ridículo — mergulhei no personagem.

Ajustei a alça da cesta de vime no meu braço esquerdo, sentindo o peso satisfatório dos doces que eu havia preparado especialmente para esta ocasião. Comecei a caminhar lentamente pela área, movendo-me com uma inocência desajeitada e calculada, como um patinho perdido na floresta. Fiz uma pausa, olhei em volta com olhos arregalados, como se estivesse realmente assustado com a grandiosidade das árvores ao redor.

“Oh, céus”, murmurei, minha voz um pouco mais alta do que o necessário, garantindo que o som viajasse pelo silêncio. “Esta floresta é tão grande… e tão… silenciosa. E eu tenho tantos doces gostosos aqui na minha cesta!” Acariciei a tampa da cesta, como se para proteger seu conteúdo. “Quindins dourados e brilhantes, sonhos macios e polvilhados de açúcar de confeiteiro, suspiros etéreos que derretem na boca…” Eu os descrevi com um tom delicioso, sentindo o cheiro doce flutuando no ar. “São tão apetitosos que tenho um medo terrível de que alguém… ou algo… venha e os roube de mim. Uma floresta tão grande e assustadora assim…”

Continuei minha pequena pantomima por mais um instante, virando-me devagar, fingindo um nervosismo crescente, sentindo — ou pelo menos imaginando — olhos me observando das sombras das árvores. A tensão crescia no ar, misturando-se com a doce fragrância dos doces.

De repente, um movimento rápido e furtivo por trás do tronco maciço e enrugado do carvalho me fez sobressaltar — um sobressalto que, apesar de eu estar esperando, foi subitamente real. Meu coração deu um salto no peito. Johnny emergiu das sombras com uma rapidez surpreendente, sua postura instantaneamente teatral, o corpo ligeiramente inclinado para a frente em um simulacro de ataque. Os dentes brancos brilharam num simulacro de rosnado animalesco, imitando um lobo pronto para o bote final.

A visão dele me prendeu a respiração. Ele estava… diferente. Não da maneira que eu esperava uma fantasia completa, mas de um jeito que era mil vezes mais impactante. Usava somente um gorro felpudo de cor marrom que emoldurava seu rosto com uma irreverência selvagem. Uma jardineira jeans azul-marinho que deixava à mostra seus braços incrivelmente fortes, definidos pelos músculos trabalhados, e uma porção generosa de seu peitoral escultural. Nos pés, botas de couro marrons, robustas e desgastadas, completavam o visual de Lobo Mau. Ele exalava uma energia bruta e perigosa. A visão dele ali, meio animal, meio humano, sob a luz filtrada do carvalho, era tão poderosa que por um segundo esqueci de atuar.

“Ai! Não me machuque, senhor Lobo!”, fingi, elevando a voz uma oitava, um pouco trêmula de propósito, mas sentindo a excitação genuína que a figura dele, tão inesperadamente atraente, despertava em mim. A mistura de medo encenado e fascínio real fez minha voz vibrar de uma forma que eu não controlava completamente.

Johnny riu, o som era grave e rouco, que preencheu o silêncio do bosque, um som que me fez arrepiar de prazer. Ele começou a se aproximar lentamente, cada passo deliberado, os olhos azuis fixos nos meus com um sorriso predador que não chegava a ser cruel, mas era cheio de promessa e desafio. Ele era o animal feroz, e eu era a presa indefesa… pelo menos por enquanto.

“A floresta é muito perigosa para garotos bobinhos como o Chapeuzinho, sabia?”, disse ele, a voz baixa e murmurada, carregando o peso de uma ameaça brincalhona. Seus olhos não se desviaram dos meus, avaliando minha reação com uma intensidade que me fez esquecer onde estava. O jogo tinha oficialmente começado, e eu sabia que não terminaria somente com doces.

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Comentários

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Que pena. Como para assim? Não aguento mais essa espera e esse suspense.

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