Minissérie Mais que Amigos - Ponto de Equilíbrio

Da série Mais que Amigos
Um conto erótico de Ana Uergs
Categoria: Heterossexual
Contém 4856 palavras
Data: 21/05/2025 10:26:15

## Explorando Gramado

Após o café da manhã regado a provocações e risadas, os quatro amigos decidiram aproveitar o dia ensolarado para explorar as atrações de Gramado. O plano era visitar o centro da cidade, almoçar em um restaurante tradicional e depois conhecer o famoso Lago Negro.

- Quem dirige hoje? - perguntou Pedro, girando as chaves do carro no dedo indicador.

- Eu posso ir - ofereceu-se Marcos. - Mas com uma condição: nada de Spice Girls na playlist.

Luciana fez uma careta dramática.

- Você está acabando com toda a diversão, amor.

- Estou protegendo nossos tímpanos - rebateu ele, piscando para Pedro que assentiu em concordância silenciosa.

Nara observava a interação com um sorriso nos lábios, seus olhos ocasionalmente encontrando os de Luciana em uma comunicação silenciosa que só elas entendiam. Havia algo excitante em manter aquele segredo bem debaixo dos narizes dos maridos, especialmente depois da noite anterior.

- Vamos nos organizar então - disse Nara, assumindo naturalmente o papel de coordenadora do grupo. - Marcos dirige, Pedro fica no banco do passageiro para ajudar com o GPS, e nós duas vamos atrás.

Luciana sorriu, um brilho malicioso em seus olhos.

- Perfeito. Assim posso mostrar para a Nara todas as fotos que tirei da última conferência em São Paulo.

- Deus me livre - gemeu Pedro. - Duzentas fotos de sapatos e bolsas.

- Não seja ridículo - protestou Luciana, dando um tapinha no braço dele. - Foram trezentas, no mínimo.

Todos riram enquanto terminavam de se preparar para sair. O clima entre eles era leve e descontraído, como se a noite anterior e as revelações do café da manhã tivessem quebrado qualquer tensão residual, deixando apenas a familiaridade confortável de amigos que se conheciam profundamente.

No carro, como combinado, Nara e Luciana sentaram-se no banco traseiro. Assim que os homens se distraíram com a navegação e a escolha da rota, Luciana discretamente deslizou sua mão sobre a de Nara, entrelaçando seus dedos.

- Tudo bem? - sussurrou, tão baixo que apenas Nara poderia ouvir.

Nara assentiu, apertando suavemente a mão dela.

- Melhor impossível.

O trajeto até o centro de Gramado foi preenchido por conversas animadas sobre os planos para o dia, com Marcos e Pedro discutindo entusiasticamente sobre os restaurantes que haviam pesquisado, enquanto Nara e Luciana mantinham seu próprio mundo no banco traseiro, trocando olhares e toques discretos que passavam despercebidos pelos maridos.

Quando chegaram ao centro da cidade, foram imediatamente envolvidos pelo charme europeu de Gramado. As ruas de paralelepípedos, as construções em estilo bávaro, as floreiras transbordando de hortênsias coloridas e o aroma de chocolate que parecia permear o ar criavam uma atmosfera quase mágica.

- Isso é incrível - comentou Nara, olhando maravilhada para a arquitetura ao redor enquanto caminhavam pela avenida principal.

- Parece que estamos em outro país - concordou Pedro, seu braço casualmente ao redor dos ombros da esposa.

Luciana, alguns passos à frente com Marcos, virou-se para olhar para o outro casal, seus olhos encontrando os de Nara por um momento mais longo que o necessário.

- Vamos à chocolateria primeiro? - sugeriu ela, seus olhos brilhando com a mesma empolgação infantil que Nara achava irresistível.

- Claro que você quer começar pelo chocolate - brincou Marcos, beijando o topo da cabeça da esposa. - Como se já não tivéssemos comprado metade da loja ontem.

- Nunca é chocolate demais - declarou Luciana com convicção. - Além disso, quero ver o processo de fabricação. Dizem que podemos assistir à produção ao vivo.

Decidiram seguir a sugestão de Luciana e se dirigiram à famosa chocolateria. O lugar era impressionante, com paredes de vidro que permitiam aos visitantes observar os chocolatiers trabalhando, moldando e decorando as delícias que tornaram Gramado famosa.

Enquanto os homens se distraíam com uma demonstração de temperagem de chocolate, Luciana puxou Nara discretamente para um canto mais isolado da loja, entre prateleiras altas cheias de embalagens coloridas.

- Precisava ficar um minuto a sós com você - sussurrou ela, verificando rapidamente se estavam fora da vista dos maridos.

- Lu, aqui não... - começou Nara, mas sua resistência era fraca, seus olhos já fixos nos lábios da outra.

- Só um beijo rápido - insistiu Luciana, aproximando-se perigosamente. - Ninguém vai ver.

Nara hesitou por um segundo, o coração acelerado com a adrenalina do risco, antes de ceder. Foi um beijo rápido, apenas um roçar de lábios, mas carregado de promessas para mais tarde.

- Vocês estão perdendo a melhor parte! - a voz de Marcos soou de repente, fazendo-as se separarem rapidamente.

Luciana virou-se com a naturalidade de quem estava apenas examinando os produtos na prateleira.

- Estávamos só vendo esses bombons recheados com licor - respondeu ela, pegando uma caixa qualquer. - Parecem deliciosos.

Marcos não pareceu notar nada de estranho, entusiasmado demais com o que acabara de ver.

- Eles estão fazendo esculturas de chocolate! Vocês precisam ver isso.

Enquanto seguiam Marcos de volta para a área de demonstração, Nara e Luciana trocaram olhares cúmplices, o perigo de quase serem descobertas adicionando uma camada extra de excitação ao seu segredo compartilhado.

O restante da manhã passou rapidamente, com o grupo explorando as lojas de artesanato, visitando a famosa igreja de pedra e tirando inúmeras fotos nas ruas pitorescas da cidade. Para o almoço, seguiram a recomendação de Pedro e foram a um restaurante especializado em fondue, uma experiência que combinava perfeitamente com o clima frio da serra.

- Isso é divino - declarou Luciana, fechando os olhos em êxtase enquanto saboreava um pedaço de pão mergulhado no fondue de queijo.

- Concordo - disse Nara, observando a expressão de prazer da amiga com um sorriso discreto, lembrando-se de outras ocasiões em que vira aquela mesma expressão, em contextos muito diferentes.

- Vocês precisam experimentar o vinho que escolhi - comentou Pedro, servindo a bebida nas taças. - É um Sauvignon Blanc perfeito para acompanhar o fondue.

- Lá vem o sommelier - brincou Marcos, mas aceitou a taça com um sorriso agradecido. - Tenho que admitir, Pedro, você acerta na escolha dos vinhos.

- Anos de prática - respondeu Pedro, erguendo sua taça em um brinde. - À nossa amizade.

- À nossa amizade - repetiram os outros três em uníssono, taças se encontrando com um tilintar cristalino.

Nara e Luciana trocaram um olhar significativo por cima das taças, brindando silenciosamente a algo muito mais profundo que amizade.

Após o almoço, decidiram visitar o Lago Negro, uma das atrações naturais mais famosas da região. O lago, cercado por araucárias e flores coloridas, oferecia um cenário de tirar o fôlego, com suas águas escuras refletindo o céu azul e as montanhas ao redor.

- Vamos alugar um pedalinho? - sugeriu Marcos, apontando para os pequenos barcos em forma de cisne disponíveis para os turistas.

- Eu topo! - respondeu Luciana imediatamente, sempre entusiasmada com novas experiências.

Pedro olhou para Nara, que parecia um pouco hesitante.

- O que acha, amor?

Nara mordeu o lábio, pensativa.

- Na verdade, estou um pouco cansada depois do almoço. Acho que prefiro ficar por aqui, talvez dar uma volta pela margem do lago.

- Eu fico com você - ofereceu-se Pedro prontamente.

- Não, não - Nara balançou a cabeça. - Você estava super animado com o pedalinho. Vai com o Marcos, eu realmente prefiro ficar em terra firme.

Luciana, percebendo a oportunidade, interveio:

- Eu também estou um pouco cansada, para ser honesta. Acho que comi fondue demais - ela colocou a mão na barriga, fazendo uma careta exagerada. - Por que vocês dois não vão no pedalinho e nós ficamos aqui, descansando um pouco?

Os homens se entreolharam, claramente tentados pela ideia.

- Têm certeza? - perguntou Marcos, já meio convencido.

- Absoluta - confirmou Luciana, praticamente empurrando o marido na direção do píer. - Vão lá, divirtam-se. Nós vamos sentar naquele café ali na margem e ficar observando vocês.

- Está bem - cedeu Pedro, dando um beijo rápido em Nara. - Mas não sumam, ok?

- Como se pudéssemos ir muito longe - riu Nara, acenando enquanto os homens se afastavam em direção ao aluguel de pedalinhos.

Assim que os maridos estavam a uma distância segura, Luciana pegou a mão de Nara, puxando-a na direção oposta.

- Vem, vi um caminho entre as árvores ali atrás. Parece bem isolado.

Nara hesitou por um momento, olhando para os maridos que já estavam na fila para os pedalinhos.

- Lu, e se eles nos procurarem?

- Dissemos que estaríamos no café - respondeu Luciana com um sorriso travesso. - Eles vão demorar pelo menos meia hora no lago. Temos tempo.

Nara cedeu, deixando-se guiar por Luciana para longe da área mais movimentada. O caminho que Luciana havia avistado era uma pequena trilha que serpenteava entre araucárias altas, afastando-se gradualmente da margem do lago e adentrando uma área mais densa da vegetação.

Depois de alguns minutos de caminhada, chegaram a uma pequena clareira natural, completamente isolada e fora da vista de qualquer outro visitante. O único som era o canto distante dos pássaros e o sussurro do vento nas copas das árvores.

- Perfeito - murmurou Luciana, virando-se para encarar Nara.

Não foram necessárias palavras. Em um movimento fluido, Luciana eliminou a distância entre elas, suas mãos encontrando o rosto de Nara, puxando-a para um beijo apaixonado. Diferente do beijo roubado na chocolateria, este era profundo, desesperado, carregado com toda a tensão acumulada durante o dia.

Nara correspondeu com igual intensidade, suas mãos deslizando para a cintura de Luciana, puxando-a para mais perto, seus corpos se moldando um ao outro com a familiaridade de anos de intimidade compartilhada.

- Estava louca para fazer isso o dia todo - sussurrou Luciana contra os lábios de Nara, suas mãos agora deslizando por baixo do casaco dela, encontrando a pele quente sob o suéter.

- Eu também - admitiu Nara, estremecendo ao sentir os dedos frios de Luciana contra sua pele. - Mas temos que ser rápidas.

Luciana sorriu, aquele sorriso malicioso que Nara conhecia tão bem.

- Rápidas, mas intensas - prometeu ela, empurrando Nara gentilmente contra o tronco de uma araucária.

O beijo se aprofundou, línguas dançando em um ritmo familiar, mãos explorando corpos que conheciam tão bem quanto os próprios. Havia uma urgência em seus movimentos, alimentada tanto pelo desejo quanto pelo perigo de serem descobertas.

Luciana desceu seus beijos pelo pescoço de Nara, mordiscando a pele sensível enquanto suas mãos subiam por baixo do suéter, encontrando os seios cobertos apenas pelo sutiã fino. Nara ofegou quando sentiu os dedos de Luciana beliscando seus mamilos através do tecido, enviando ondas de prazer por todo seu corpo.

- Lu... - gemeu ela, consciente do tempo limitado que tinham. - Precisamos...

- Shh - Luciana a silenciou com outro beijo, uma de suas mãos descendo para desabotoar a calça jeans de Nara. - Deixa eu te tocar. Preciso te sentir.

Nara não conseguiu resistir. Seu corpo ansiava pelo toque de Luciana tanto quanto sua mente sabia que deveriam ser cautelosas. Quando sentiu os dedos habilidosos de Luciana deslizando para dentro de sua calcinha, encontrando sua umidade, todo pensamento racional desapareceu.

- Tão molhada - sussurrou Luciana, seus dedos circulando o clitóris de Nara com precisão, conhecendo exatamente como tocá-la. - Sempre tão pronta para mim.

Nara mordeu o lábio para conter um gemido, suas mãos agarrando os ombros de Luciana enquanto seu corpo respondia ao toque familiar. Era incrível como, mesmo após tantos anos, o desejo entre elas permanecia tão intenso, tão urgente.

Luciana aumentou o ritmo de seus dedos, observando com fascínio as expressões de prazer no rosto de Nara. Conhecia cada sinal, cada pequena mudança que indicava o quanto ela estava próxima.

- Quero ver você gozar.

Foi como se as palavras de Luciana fossem o gatilho que Nara precisava. O orgasmo a atingiu com força surpreendente, ondas de prazer intenso percorrendo seu corpo enquanto ela enterrava o rosto no ombro de Luciana para abafar seu gemido.

Quando as últimas ondas do clímax passaram, Nara abriu os olhos, encontrando o olhar satisfeito de Luciana.

- Sua vez - disse ela, recuperando o fôlego e invertendo suas posições, pressionando Luciana contra a árvore.

Mas Luciana balançou a cabeça, verificando o relógio.

- Não temos tempo - disse ela, embora seus olhos traíssem seu desejo. - Eles já devem estar voltando.

- Não é justo - protestou Nara, suas mãos ainda na cintura de Luciana.

- Quem disse que a vida é justa? - Luciana sorriu, dando um último beijo em Nara antes de se afastar para arrumar suas roupas. - Além disso, agora você me deve uma. Pode pagar com juros mais tarde.

Nara riu, abotoando sua calça e ajeitando o suéter.

- Você é impossível.

- E é por isso que você me ama - respondeu Luciana com uma piscadela, pegando a mão de Nara. - Vamos, antes que eles comecem a nos procurar.

Caminharam rapidamente de volta para a área principal do lago, chegando ao café que haviam mencionado aos maridos apenas alguns minutos antes de avistá-los retornando do passeio de pedalinho, rostos corados pelo esforço e pelo frio.

- Vocês perderam! - exclamou Marcos, aproximando-se animadamente. - A vista do meio do lago é incrível!

- Tiramos várias fotos para vocês - acrescentou Pedro, mostrando a câmera. - Embora não façam justiça ao lugar.

Nara e Luciana trocaram um olhar cúmplice, seus próprios rostos corados por razões muito diferentes.

- Que pena que perdemos - comentou Luciana, seu tom inocente contrastando com o brilho malicioso em seus olhos. - Mas tivemos nossa própria diversão por aqui.

- Ah é? - perguntou Marcos, curioso. - O que vocês ficaram fazendo?

- Só conversando - respondeu Nara rapidamente, talvez rápido demais. - Você sabe, colocando o papo em dia.

Pedro olhou para a esposa com uma expressão levemente intrigada, notando algo diferente em seu comportamento, mas não conseguindo identificar exatamente o quê.

- Bem, espero que tenham descansado - disse ele finalmente. - Porque ainda temos muito para ver hoje.

O grupo continuou seu passeio pelo Lago Negro, com Marcos e Pedro entusiasticamente compartilhando detalhes de sua aventura no pedalinho, completamente alheios ao segredo que suas esposas acabavam de compartilhar entre as árvores.

Para Nara e Luciana, o resto do dia foi preenchido com olhares discretos e toques "acidentais", cada momento carregado com a promessa do que viria mais tarde, quando a noite caísse e novas oportunidades surgissem para explorarem seu amor secreto, bem debaixo dos narizes de seus maridos.

## Noite de Vinho e Revelações

O grupo retornou ao chalé no final da tarde, cansados mas satisfeitos com o dia de exploração. Enquanto Pedro e Marcos se encarregavam de acender a lareira e preparar alguns aperitivos, Nara e Luciana subiram para tomar banho e trocar de roupa.

- Vamos abrir aquele vinho especial que trouxe de Manaus - sugeriu Pedro, remexendo nas sacolas de compras. - Acho que combina perfeitamente com o queijo que compramos hoje.

- Excelente ideia - concordou Marcos, já arrumando a mesa de centro com tábuas de madeira para os petiscos. - Vou preparar aquela pasta de berinjela que vocês adoram.

No andar de cima, Nara entrou no banheiro de seu quarto, deixando a água quente do chuveiro lavar o cansaço do dia. Estava tão absorta em seus pensamentos, relembrando os momentos roubados com Luciana na floresta, que não ouviu a porta se abrir. Só percebeu que não estava mais sozinha quando sentiu mãos familiares deslizando por sua cintura.

- Pedro? - perguntou, virando-se surpresa.

Mas não era Pedro. Era Luciana, completamente nua, seus olhos escuros de desejo.

- Shh - sussurrou ela, colocando um dedo sobre os lábios de Nara. - Marcos está ocupado na cozinha e Pedro desceu para buscar mais lenha. Temos alguns minutos.

- Você é louca - murmurou Nara, mas não fez nenhum movimento para afastá-la. - Se eles nos pegarem...

- Não vão - garantiu Luciana, puxando Nara para um beijo apaixonado sob o jato de água quente. - Além disso, você me deve uma, lembra?

Nara não conseguiu resistir. O perigo, a adrenalina, o desejo acumulado durante o dia - tudo se combinava para tornar o momento irresistível. Suas mãos encontraram os seios de Luciana, acariciando os mamilos já endurecidos enquanto aprofundava o beijo.

- Temos que ser rápidas - sussurrou contra os lábios de Luciana.

- Então não perca tempo - respondeu Luciana, guiando a mão de Nara entre suas pernas.

Nara não precisou de mais incentivo. Seus dedos encontraram a umidade de Luciana, deslizando facilmente entre suas dobras, encontrando o ponto que sabia que a faria perder o controle. Conhecia o corpo de Luciana tão bem quanto o próprio, sabia exatamente como tocá-la para levá-la ao limite no menor tempo possível.

Luciana mordeu o ombro de Nara para abafar seus gemidos enquanto os dedos habilidosos trabalhavam em seu clitóris, circulando, pressionando, no ritmo perfeito que apenas Nara conhecia. Seu corpo respondeu instantaneamente, anos de intimidade compartilhada tornando cada toque preciso e devastador.

- Isso, assim... - ofegou ela, seu corpo tremendo sob as mãos de Nara. - Não para...

Nara aumentou o ritmo, observando com fascínio as expressões de prazer no rosto de Luciana, sentindo seu próprio desejo crescer ao ver o efeito que tinha sobre ela. Quando sentiu as paredes internas de Luciana começarem a pulsar ao redor de seus dedos, soube que ela estava próxima.

- Vem para mim - sussurrou no ouvido de Luciana, mordiscando o lóbulo de sua orelha. - Deixa eu te sentir gozar.

Foi tudo o que Luciana precisou. O orgasmo a atingiu com força avassaladora, seu corpo inteiro convulsionando enquanto ondas de prazer intenso a atravessavam. Nara a segurou firmemente, continuando a estimulá-la através do clímax, prolongando o prazer até o último momento.

Quando finalmente se separaram, ofegantes e trêmulas, ouviram a voz de Pedro chamando do andar de baixo:

- Nara? O vinho já está aberto!

- Já estou indo! - respondeu ela, trocando um último olhar cúmplice com Luciana antes que esta saísse silenciosamente do banheiro, deixando-a para terminar seu banho sozinha.

Minutos depois, os quatro amigos estavam reunidos na sala, ao redor da lareira crepitante, taças de vinho nas mãos e uma atmosfera aconchegante envolvendo o ambiente. Nara e Luciana sentaram-se em lados opostos, uma precaução para não levantar suspeitas, mas seus olhares ocasionalmente se encontravam por cima das taças, carregados de significados ocultos.

- Então - começou Marcos, recostando-se confortavelmente no sofá. - Estamos todos de acordo que amanhã vamos ao parque de diversões?

- Absolutamente - concordou Pedro, servindo mais vinho para todos. - Dizem que a montanha-russa tem uma vista incrível da cidade.

- Desde que eu não tenha que andar nela - comentou Luciana, fazendo uma careta. - Vocês sabem que tenho pavor de altura.

- Eu fico com você nos brinquedos mais tranquilos - ofereceu-se Nara, seu tom casual escondendo perfeitamente o duplo sentido de suas palavras.

A conversa fluiu naturalmente, passando de planos para o dia seguinte para histórias da faculdade, casos médicos interessantes e, inevitavelmente, para relacionamentos. Foi Pedro quem, após sua terceira taça de vinho, trouxe à tona um assunto inesperado.

- Vocês se lembram da Carla? - perguntou ele, referindo-se a uma colega dos tempos da faculdade. - Acabei de ver nas redes sociais que ela se divorciou.

- Sério? - Marcos pareceu surpreso. - Eles pareciam tão felizes nas fotos.

- As redes sociais mentem - comentou Nara, tomando um gole de vinho. - Ninguém posta os momentos ruins.

- Verdade - concordou Luciana, pensativa. - Mas ainda assim, é triste. Eles estavam juntos há quanto tempo? Dez anos?

- Doze - corrigiu Pedro. - Aparentemente, ele a traiu com a secretária. Clichê, eu sei, mas acontece.

Houve um momento de silêncio desconfortável, cada um absorvendo a informação à sua própria maneira. Nara e Luciana evitaram se olhar, subitamente conscientes da ironia da situação.

- Isso me faz pensar - continuou Pedro, seu tom mais sério agora. - Vocês acham que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?

A pergunta caiu como uma bomba na sala. Nara quase engasgou com o vinho, enquanto Luciana ficou visivelmente tensa.

- Como assim? - perguntou Marcos, franzindo o cenho.

- Estou falando filosoficamente - explicou Pedro, aparentemente alheio ao desconforto que sua pergunta havia causado. - É possível amar genuinamente duas pessoas diferentes, de formas diferentes?

Houve outro momento de silêncio, mais pesado desta vez. Foi Nara quem finalmente respondeu, sua voz calma, mas com um leve tremor que apenas Luciana notou.

- Acho que o amor não é algo que possa ser facilmente categorizado ou limitado - disse ela, escolhendo as palavras com cuidado. - Existem diferentes tipos de amor, diferentes intensidades, diferentes conexões.

- Concordo - acrescentou Luciana, encontrando coragem para participar da conversa. - Acho que é possível amar pessoas diferentes de maneiras diferentes, todas genuínas.

Marcos olhou para a esposa com uma expressão curiosa.

- Então você acha que alguém pode estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo?

Luciana hesitou, consciente do terreno perigoso em que estavam entrando.

- Não sei se "apaixonado" é a palavra certa - respondeu finalmente. - Mas acho que o coração humano é complexo demais para ser limitado a amar apenas uma pessoa de cada vez.

- Interessante - murmurou Pedro, observando atentamente as reações de todos. - Pessoalmente, acho que quando você realmente ama alguém, não há espaço para outro amor romântico. Pode haver atração, claro, mas amor verdadeiro? Acho difícil.

Nara sentiu um aperto no peito com as palavras do marido, uma mistura de culpa e desafio. Parte dela queria concordar com ele, validar sua visão de mundo, mas outra parte - a parte que amava Luciana há tantos anos - sabia que a realidade era muito mais complexa.

- Talvez seja diferente para cada pessoa - sugeriu ela, tentando manter a voz neutra. - Alguns conseguem compartimentalizar melhor que outros.

- Ou talvez alguns amores sejam tão únicos, tão especiais, que existem em um espaço próprio, sem competir com outros - acrescentou Luciana, seus olhos encontrando brevemente os de Nara.

Marcos riu, quebrando um pouco a tensão.

- Isso é muito profundo para uma noite de vinho - comentou ele, passando o braço pelos ombros da esposa. - Mas acho que entendo o que você quer dizer. Alguns relacionamentos são realmente incomparáveis.

- Exatamente - concordou Luciana, relaxando um pouco sob o braço do marido, mas seu olhar ainda encontrando o de Nara ocasionalmente.

Pedro observou a interação com uma expressão pensativa, como se estivesse tentando decifrar algo que não conseguia nomear. Finalmente, ergueu sua taça em um brinde.

- Ao amor, em todas as suas formas complexas e misteriosas.

- Ao amor - repetiram os outros três, taças se encontrando com um tilintar cristalino.

A conversa eventualmente mudou para tópicos mais leves, mas algo havia mudado na dinâmica do grupo. Uma porta havia sido aberta, mesmo que apenas uma fresta, para discussões mais profundas sobre a natureza dos relacionamentos e do amor.

Para Nara e Luciana, a conversa havia sido simultaneamente aterrorizante e libertadora. Aterrorizante pela proximidade com seu segredo mais bem guardado, libertadora por permitir que expressassem, ainda que de forma velada, algumas de suas verdades mais profundas.

Quando finalmente decidiram se recolher para a noite, havia uma nova camada de complexidade pairando sobre o grupo. Pedro parecia pensativo, Marcos despreocupado como sempre, enquanto Nara e Luciana carregavam o peso de um segredo que, por um momento, quase veio à tona.

Ao se despedirem no corredor, Luciana abraçou Nara um pouco mais forte que o normal, sussurrando em seu ouvido:

- Encontre-me na varanda dos fundos à meia-noite.

Nara assentiu imperceptivelmente antes de seguir Pedro para o quarto, seu coração dividido entre o amor pelo marido e a promessa de um encontro secreto com a mulher que ocupava a outra metade de seu coração.

## Confissões à Meia-Noite

O relógio digital na mesa de cabeceira marcava 23:55 quando Nara abriu os olhos. Pedro dormia profundamente ao seu lado, o ritmo regular de sua respiração indicando que estava no sono profundo. Com cuidado para não acordá-lo, Nara deslizou para fora da cama, vestindo um robe sobre a camisola fina.

Seus pés descalços não fizeram nenhum ruído enquanto ela se movia pelo corredor escuro, descendo as escadas com a familiaridade de quem já havia feito aquele caminho antes. A casa estava silenciosa, apenas o ocasional estalar da madeira e o vento suave nas árvores lá fora quebrando o silêncio absoluto.

A porta para a varanda dos fundos estava destrancada, como esperava. Ao abri-la, foi recebida pelo ar frio da noite serrana, uma mudança brusca em relação ao calor aconchegante do interior do chalé. Luciana já estava lá, sentada em uma das cadeiras de madeira, envolta em um cobertor grosso, olhando para o céu estrelado.

- Ei - sussurrou Nara, fechando a porta silenciosamente atrás de si.

Luciana virou-se, um sorriso suave iluminando seu rosto na penumbra.

- Pensei que talvez você não viesse - respondeu ela, abrindo o cobertor em um convite silencioso.

Nara não hesitou, acomodando-se ao lado de Luciana na cadeira larga, deixando que o cobertor as envolvesse, criando um casulo de calor compartilhado contra o frio da noite.

- Pedro está dormindo como uma pedra - comentou Nara, recostando-se contra Luciana, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. - E Marcos?

- O mesmo. Acho que o vinho e o dia cheio o nocautearam completamente.

Ficaram em silêncio por alguns momentos, apenas apreciando a proximidade uma da outra, o céu estrelado acima delas, e a vista do vale escuro pontilhado por luzes distantes de outras casas e chalés.

- Aquela conversa hoje... - começou Luciana finalmente, sua voz quase um sussurro. - Sobre amar duas pessoas ao mesmo tempo. Foi intenso.

Nara assentiu, entrelaçando seus dedos nos de Luciana sob o cobertor.

- Por um momento, pensei que Pedro pudesse estar desconfiando de algo.

- Eu também - admitiu Luciana. - Meu coração quase parou quando ele fez aquela pergunta.

- Mas acho que foi apenas uma reflexão filosófica - ponderou Nara. - Ele sempre foi assim, gosta de discussões profundas depois de algumas taças de vinho.

Luciana riu suavemente, o som quase inaudível na quietude da noite.

- Sorte a nossa.

Outro silêncio se estabeleceu entre elas, mais contemplativo desta vez. Foi Nara quem o quebrou, sua voz carregada de uma emoção que raramente permitia-se demonstrar.

- Às vezes me pergunto se o que estamos fazendo é errado - confessou ela, seus olhos fixos nas estrelas. - Se estamos sendo injustas com eles.

Luciana apertou sua mão, compreendendo perfeitamente o peso daquelas palavras.

- Eu também me pergunto isso - respondeu ela, sua voz igualmente carregada. - Amo Marcos, de verdade. Ele é um homem maravilhoso, um marido incrível.

- Assim como Pedro - concordou Nara. - Não consigo imaginar minha vida sem ele.

- Mas também não consigo imaginar minha vida sem você - completou Luciana, virando-se para olhar diretamente nos olhos de Nara. - É como se... como se meu coração tivesse dois compartimentos separados, igualmente importantes, igualmente cheios de amor.

Nara assentiu, reconhecendo a perfeição daquela metáfora.

- Exatamente assim que me sinto. Como se fossem amores diferentes, mas igualmente verdadeiros. Um não diminui o outro.

- Você acha que eles entenderiam? - perguntou Luciana, a vulnerabilidade evidente em sua voz. - Se soubessem?

Era uma pergunta que ambas haviam considerado inúmeras vezes ao longo dos anos, mas nunca haviam discutido abertamente. A possibilidade de seus maridos descobrirem seu relacionamento secreto era simultaneamente aterrorizante e, de alguma forma, libertadora de se imaginar.

- Não sei - respondeu Nara honestamente. - Pedro é compreensivo em muitas coisas, mas isso... isso seria pedir demais, acho.

- Marcos provavelmente teria um ataque - Luciana deu uma risada triste. - Ele é maravilhoso, mas tem uma visão bastante tradicional sobre relacionamentos.

- Como a maioria das pessoas - acrescentou Nara. - O mundo não está preparado para entender que o amor pode existir além das caixinhas convencionais.

Luciana virou-se completamente para Nara, seus rostos agora a centímetros de distância.

- Você se arrepende? - perguntou, a mesma pergunta que ocasionalmente surgia entre elas nos momentos de maior vulnerabilidade. - De termos continuado depois de casadas?

Nara considerou a pergunta por um longo momento, seus olhos nunca deixando os de Luciana.

- Às vezes sinto culpa - admitiu finalmente. - Mas arrependimento? Não. Não consigo me arrepender de algo que me faz tão feliz, que me completa de uma forma que nada mais consegue.

Os olhos de Luciana brilharam com lágrimas não derramadas.

- Eu também não - sussurrou ela. - Por mais complicado que seja, por mais que às vezes me sinta dividida... não consigo imaginar uma vida sem isso que temos.

Nara levou uma mão ao rosto de Luciana, acariciando sua bochecha com ternura.

- Talvez em outra vida, em outro mundo, pudéssemos estar juntas abertamente - disse ela, sua voz suave como a brisa noturna. - Sem segredos, sem culpa.

- Talvez - concordou Luciana, inclinando-se para o toque de Nara. - Mas nesta vida, temos que encontrar felicidade nos momentos roubados, nas noites como esta.

- E isso é suficiente? - perguntou Nara, uma vulnerabilidade rara em sua voz geralmente confiante.

Luciana sorriu, aquele sorriso que era reservado apenas para Nara, cheio de amor e compreensão.

- Tem que ser - respondeu ela simplesmente. - É o que temos.

Não foram necessárias mais palavras. Seus lábios se encontraram em um beijo suave, diferente da urgência apaixonada de seus encontros anteriores. Este era um beijo de compreensão mútua, de aceitação da complexidade de seus sentimentos, de resignação diante das limitações impostas pelo mundo em que viviam.

Quando se separaram, Luciana recostou a cabeça no ombro de Nara, e juntas observaram as estrelas, cada uma perdida em seus próprios pensamentos, mas unidas por um amor que transcendia definições convencionais.

- Devemos voltar - sussurrou Nara eventualmente, notando que o relógio em seu pulso já marcava quase uma da manhã. - Antes que sintam nossa falta.

Luciana assentiu, relutante em deixar aquele momento de paz e honestidade.

- Mais uma noite - murmurou ela, levantando-se e estendendo a mão para Nara. - Amanhã é outro dia.

Nara aceitou a mão oferecida, levantando-se também.

- Outro dia para encontrarmos nossos momentos - concordou ela, inclinando-se para um último beijo antes de voltarem para o interior do chalé.

Separaram-se no corredor do andar superior com um abraço silencioso, cada uma retornando ao quarto onde seu marido dormia, carregando no coração as confissões compartilhadas sob o céu estrelado da serra gaúcha.

Naquela noite, tanto Nara quanto Luciana dormiram com uma nova paz em seus corações, não porque haviam encontrado respostas para as complexidades de seus sentimentos, mas porque haviam aceitado que algumas perguntas simplesmente não têm respostas simples. O amor, em toda sua glória complicada, raramente cabe nas definições que o mundo tenta impor a ele.

E por enquanto, isso era suficiente.

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